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Leia os trechos dos poemas a seguir:
(1) Poema dos olhos da amada
Rio de Janeiro, 1959
Vinicius de Moraes, Paulo Soledade
Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...
(…)
(2) A esposa
Rio de Janeiro, 1933
Vinicius de Morais
Às vezes, nessas noites frias e enevoadas
Onde o silêncio nasce dos ruídos monótonos e mansos
Essa estranha visão de mulher calma
Surgindo do vazio dos meus olhos parados
Vem espiar minha imobilidade.
(…)
Podemos notar que os versos que compõem cada poema e suas respectivas estrofes possuem uma métrica (medida poética) diferente. Veja:
Ó / mi/ nha a / ma
Que o / lhos / os/ teus
São/ cais/ no/ tur
Chei / os/ de a/ deus
São/ do/ cas/ man
Tri/ lhan/ do /lu
Que/ bri/ lham/ lon
Lon/ ge /dos/ breus
Em (1), cada verso possui quatro sílabas poéticas, ou seja, todos são versos tetrassílabos.
Às/ ve/zes/, ne/ssas/ noi/tes/ fri/as/ e e/ne/voa/das (12 sílabas poéticas)
On/de o/ si/lên/cio/ nas/ce/ dos/ ruí/dos/ mo/nó/to/nos/ e/ man/sos (16 sílabas poéticas)
E/ssa es/tra/nha/ vi/são/ de/ mu/lher/ cal/ma (10 sílabas poéticas)
Sur/gin/do/ do/ va/zio/ dos/ meus/ o/lhos/ pa/ra/dos (12 sílabas poéticas)
Vem/ es/piar/ mi/nha i/mo/bi/li/da/de. (9 sílabas poéticas)
Já em (2), nota-se que a medida de cada verso é diferente.
Esses tipos de métrica dentro das estrofes conferem a elas uma determinada classificação:
a) estrofes simples: são aquelas que possuem versos com apenas uma medida.
Exemplo:
Soneto do amigo – Vinicius de Moraes
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
(…)
Veja que todos os versos dessa estrofe são decassílabos (possuem dez sílabas poéticas cada), caracterizando, assim, uma estrofe simples.
En/fim/, de/pois/ de/ tan/to er/ro/ pas/sa//do
Tan/tas/ re/ta/lia/ções/, tan/to/ pe/ri//go
Eis/ que/ res/sur/ge/ nou/tro o/ ve/lho a/mi//go
Nun/ca/ per/di/do/, sem/pre/ reen/con/tra//do.
b) estrofes compostas: são aquelas que combinam versos maiores ou menores.
Exemplo:
(2) A esposa
Rio de Janeiro, 1933
Vinicius de Morais
Às vezes, nessas noites frias e enevoadas
Onde o silêncio nasce dos ruídos monótonos e mansos
Essa estranha visão de mulher calma
Surgindo do vazio dos meus olhos parados
Vem espiar minha imobilidade.
Perceba novamente como são diferentes as medidas dos versos dessa estrofe:
Às/ ve/zes/, ne/ssas/ noi/tes/ fri/as/ e e/ne/voa/das (12 sílabas poéticas)
On/de o/ si/lên/cio/ nas/ce/ dos/ ruí/dos/ mo/nó/to/nos/ e/ man/sos (16 sílabas poéticas)
E/ssa es/tra/nha/ vi/são/ de/ mu/lher/ cal/ma (10 sílabas poéticas)
Sur/gin/do/ do/ va/zio/ dos/ meus/ o/lhos/ pa/ra/dos (12 sílabas poéticas)
Vem/ es/piar/ mi/nha i/mo/bi/li/da/de. (9 sílabas poéticas)
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras