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Lendo estes dois trechos dos poemas a seguir,
1. Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior... Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
(O beijo - Olavo Bilac)
2. Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(Do amoroso esquecimento - Mario Quintana)
Observamos que, em (1), entre o primeiro e o quarto versos, verifica-se uma coincidência de sons e de grafia, e, entre o segundo e o terceiro versos, também, não é mesmo? Esses versos apresentam uma correspondência de sons finais, pois, a partir da última vogal tônica, todos os fonemas são iguais.
Já em (2), é possível notar que os versos apresentam uma semelhança de vogais a partir da última vogal tônica. Essa identidade ou semelhança de sons é chamada de rima. As rimas podem ser classificadas em perfeita e imperfeita. Estudaremos suas particularidades a seguir.
Rima perfeita
Como foi dito anteriormente, a rima é uma semelhança entre sons, não de letras. Assim, quando um poema possuir rima perfeita em seus versos, os sons apresentam uma identidade entre eles, mesmo que a grafia seja diferente, ou seja, na rima perfeita, há a identidade total entre sons vocálicos e consonantais.
Exemplo:
Ilustríssimo, caro e velho amigo,
Saberás que, por um motivo urgente,
Na quinta-feira, nove do corrente,
Preciso muito de falar contigo.
(Relíquia íntima – Machado de Assis)
Perceba que os fragmentos em negrito são repetidos no trecho do poema para a criação da rima entre os sons das vogais e das consoantes.
Agora, veja este outro exemplo:
Tu és o cálix;
Eu, o orvalho!
Se me não vales,
Eu o que valho?
(Saudade – João de Deus)
Note que os trechos destacados possuem a semelhança de sons (a rima) mesmo que a terminação esteja grafada de duas maneiras diferentes.
Rima imperfeita
Diferentemente da perfeita, a rima imperfeita é caracterizada pela identidade de sons de dois tipos:
a) Semelhança entre as vogais acentuadas “e” e “o” semiabertas com semifechadas:
Exemplo:
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
(Como eu te amo – Gonçalves Dias)
Perceba a diferença entre os sons das vogais “o” no primeiro e no quarto versos do poema. No primeiro, a vogal é semiaberta e, no quarto verso, é semifechada.
b) Semelhança entre os sons de vogal oral com vogal nasal:
De que ele, o sol, inunda
O mar, quando se põe,
Imagem moribunda
De um coração que se foi...
(João de Deus)
Veja que as vogais destacadas nos segundo e quarto versos possuem uma semelhança de sons, entretanto, uma vogal é nasal (põe) e a outra vogal é oral (foi).
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras