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Romance regionalista é um tipo de narrativa produzida por autores do romantismo brasileiro, no século XIX, e por escritores modernistas, no século XX. Enquanto os românticos buscaram enaltecer a cultura regional, os modernistas apontaram os problemas sociais existentes em algumas regiões do Brasil.
Assim, as obras românticas contaram com autores como Bernardo Guimarães, José de Alencar e Visconde de Taunay. Já os livros modernistas foram produzidos por escritores como Erico Verissimo e Graciliano Ramos. No mais, o regionalismo continuou a fazer parte da literatura nacional por meio de autores como Guimarães Rosa e Milton Hatoum.
Leia também: Romance urbano — a narrativa cujo espaço da ação é a cidade
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o romance regionalista
- 2 - Quais as características do romance regionalista?
- 3 - Influências do romance regionalista
- 4 - Autores do romance regionalista
- 5 - Obras do romance regionalista
- 6 - Criação do romance regionalista
- 7 - Contexto histórico do romance regionalista
Resumo sobre o romance regionalista
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O romance regionalista romântico mostra os costumes da sociedade rural do século XIX.
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O romance regionalista modernista abandona a idealização romântica e realiza crítica sociopolítica.
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Um dos principais representantes do regionalismo romântico foi Visconde de Taunay, com sua obra Inocência.
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Um dos principais representantes do regionalismo modernista foi Graciliano Ramos, com sua obra Vidas secas.
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O romance regionalista surgiu durante o Segundo Reinado, no século XIX, com o livro O ermitão de Muquém, de Bernardo Guimarães.
Quais as características do romance regionalista?
O romance regionalista romântico retrata paisagens e personagens típicos de determinadas regiões do país. Assim, ao invés de narrar acontecimentos ocorridos nos centros urbanos, ele se volta para o meio rural, de forma a mostrar os costumes dos habitantes do interior. Por isso, seus protagonistas são, por exemplo, vaqueiros e sertanejos.
Ao colocar em evidência a sociedade rural, ele mostra a leitoras e leitores os valores morais das pessoas que vivem no campo. Esses valores seriam distintos dos da sociedade urbana. Desse modo, o chamado “homem do campo” é considerado mais severo e conservador em seus princípios.
Esse tipo de romance tem cunho nacionalista, já que objetiva criar um sentimento de identidade nacional ao mostrar a diversidade cultural do país. Apesar de ser mais realista do que o romance urbano, também apresenta idealização do amor e da mulher, porém, em um ambiente mais patriarcal, em que as mulheres são controladas pelos homens.
A descrição nesse tipo de obra tem um papel importante: mostrar a “cor local”, isto é, as características geográficas e culturais de determinada região. Além disso, o romance regionalista retrata o homem do campo como um indivíduo forte, capaz de resistir às dificuldades do meio em que vive. É um homem rude e muitas vezes ignorante, mas corajoso.
Mais tarde, na década de 1930, o regionalismo é retomado na literatura por meio do romance de 30 do modernismo brasileiro. No entanto, os autores do período abandonaram a idealização romântica para mostrar, de forma bem realista, os problemas enfrentados por habitantes de certas regiões do país, como o Nordeste.
Nas obras desses autores, espaço e personagens se misturam, pois a influência do meio se torna muito importante. Nesse aspecto, os escritores também dialogaram com o naturalismo, já que retomaram o determinismo. Assim, com uma linguagem simples e enredos dinâmicos, fizeram crítica sociopolítica.
Esses dois períodos literários foram marcantes na literatura regional brasileira. Contudo, romances de caráter regionalista continuam a ser produzidos no país. Tais obras apresentam característica regional no que se refere ao espaço da narrativa e aos elementos culturais.
Assim, a crítica considera as obras regionalistas do pós-moderno Guimarães Rosa como sendo universais, mas tem certa dificuldade em definir o regionalismo contemporâneo, “de modo que parece não haver um consenso — por vezes, nem sequer uma discussão — a respeito do problema, que se torna ainda mais abrangente se forem levadas em consideração obras produzidas posteriormente ao contexto em que se insere Guimarães Rosa”.|1|
Leia também: Campo geral — análise dessa novela de Guimarães Rosa
Influências do romance regionalista
O século XIX, no Brasil, foi marcado pelo sentimento nacionalista, surgido após a proclamação da Independência, em 1822. Artisticamente, o romantismo foi o principal movimento que empreendeu a busca por uma identidade nacional. Além disso, a maior parte da população brasileira, no Segundo Reinado, era rural.
Influenciados por esse contexto sociopolítico, alguns autores românticos se dedicaram à criação de romances regionalistas. Mais tarde, esse empreendimento romântico acabou influenciando os autores modernistas, porém estes realizaram uma releitura do regionalismo brasileiro. Assim, a idealização foi substituída pela crítica social e política.
Autores do romance regionalista
→ Autores do romantismo
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Bernardo Guimarães (1825-1884)
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Franklin Távora (1842-1888)
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José de Alencar (1829-1877)
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Maria Firmina dos Reis (1822-1917)
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Visconde de Taunay (1843-1899)
→ Autores do modernismo
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Erico Verissimo (1905-1975)
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Graciliano Ramos (1892-1953)
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Jorge Amado (1912-2001)
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José Lins do Rego (1901-1957)
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Rachel de Queiroz (1910-2003)
→ Autores pós-modernos ou contemporâneos
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João Guimarães Rosa (1908-1967)
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Ronaldo Correia de Brito
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Milton Hatoum
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Antônio Torres
Obras do romance regionalista
A seguir, os principais romances regionalistas da literatura romântica brasileira:
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Bernardo Guimarães:
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O ermitão de Muquém (1869);
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A escrava Isaura (1875).
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Franklin Távora:
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O Cabeleira (1876).
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José de Alencar:
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O gaúcho (1870);
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Til (1871);
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O sertanejo (1875).
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Maria Firmina do Reis:
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Úrsula (1859).
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Visconde de Taunay:
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Inocência (1872).
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Da literatura modernista brasileira:
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Erico Verissimo:
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O tempo e o vento (1949-1961).
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Graciliano Ramos:
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Vidas secas (1938).
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Jorge Amado:
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Capitães da areia (1937);
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Gabriela, cravo e canela (1958);
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Tieta do agreste (1977).
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José Lins do Rego:
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Menino de engenho (1932);
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Fogo morto (1943).
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Rachel de Queiroz:
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O quinze (1930).
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E da literatura pós-modernista ou contemporânea do Brasil:
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Antônio Torres:
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Essa terra (1976).
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João Guimarães Rosa:
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Grande sertão: veredas (1956).
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Milton Hatoum:
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Cinzas do Norte (2005).
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Ronaldo Correia de Brito:
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Galileia (2008).
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Leia também: Romance histórico — tipo de narrativa que mistura ficção com fatos históricos
Criação do romance regionalista
O romance regionalista brasileiro surgiu com a chegada do romantismo. Desse modo, o primeiro romance regionalista de nossa literatura foi o livro O ermitão de Muquém, de Bernardo Guimarães. Esse romance, apesar de ter sido publicado, pela primeira vez, em 1869, fora escrito em 1858.
Contexto histórico do romance regionalista
O romance regionalista do romantismo brasileiro está inserido no contexto histórico do Segundo Reinado (1840-1889). Nesse período, fatos como a Lei Eusébio de Queirós, a Guerra do Paraguai e a decadência da monarquia influenciaram a visão dos autores da época.
Já o romance de 30 surgiu durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas (1882-1954), que implantou no Brasil o chamado Estado Novo. Nesse contexto, as obras apresentavam um forte caráter político e ideológico. Alguns autores, como Graciliano Ramos, inclusive, foram perseguidos pelo regime.
Nota
|1| Juliana Santini, citada por: PELINSER, André Tessaro; ALVES, Márcio Miranda. A permanência do regionalismo na literatura brasileira contemporânea. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 59, 2020.
Créditos da imagem
[1] Editora L&PM (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura