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Romance histórico é um tipo de romance com abordagem histórica. Assim, ele possui uma narrativa fictícia com fatos históricos. O criador desse tipo de obra, no século XIX, foi o escocês Walter Scott. No Brasil, José de Alencar foi um dos primeiros romancistas a escreverem esse tipo de livro. Já Luiz Antonio de Assis Brasil é um dos principais autores do novo romance histórico.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre romance histórico
- 2 - Quais as características do romance histórico?
- 3 - Autores do romance histórico
- 4 - Obras do romance histórico
- 5 - Criação dos personagens no romance histórico
- 6 - Criação do romance histórico
- 7 - Contexto histórico do romance histórico
- 8 - Romance histórico no Brasil
- 9 - Romance histórico pós-moderno
Resumo sobre romance histórico
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É uma narrativa de ficção que recorre a fatos históricos na estruturação de seu enredo.
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O principal autor de romances históricos foi o escocês Walter Scott, considerado o criador desse tipo de romance.
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Guerra dos mascates, de José de Alencar, foi um dos primeiros romances históricos brasileiros.
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A partir dos anos 1970, no Brasil, o novo romance histórico contou com autores como Luiz Antonio de Assis Brasil.
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O novo romance histórico é caracterizado, principalmente, pelo questionamento da história oficial.
Quais as características do romance histórico?
O romance histórico é uma narrativa ficcional que apresenta uma abordagem histórica. Isso quer dizer que elementos históricos são destaque no enredo. Normalmente, esse tipo de romance traz uma crítica social relacionada a determinado período histórico. Pode retratar o tempo em que vive seu autor ou um tempo passado.
Esse tipo de obra faz uma reflexão acerca de uma realidade histórica entremeada com elementos ficcionais. O romance histórico é, dessa forma, sobretudo uma ficção. Assim, personagens ficcionais se misturam a personagens históricos “ficcionalizados” na estrutura da narrativa.
Há, portanto, um diálogo entre a ficção e a realidade e, muitas vezes, entre o passado e o presente. Assim, o narrador revela o reflexo de certo período histórico sobre os personagens, os quais, em maioria, são integrantes da classe média, ou seja, a burguesia. Afinal, esse tipo de romance apresenta um caráter popular e mais realista.
Autores do romance histórico
Segundo o filósofo húngaro György Lukács (1885-1971), estes são os principais autores do romance histórico:
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Walter Scott (1771-1832) — escocês
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Alessandro Manzoni (1785-1873) — italiano
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James Fenimore Cooper (1789-1851) — estado-unidense
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Prosper Mérimée (1803-1870) — francês
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Alexander Pushkin (1799-1837) — russo
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Nikolai Gogol (1809-1852) — russo
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Charles Dickens (1812-1870) — inglês
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William Thackeray (1811-1863) — britânico
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Gustave Flaubert (1821-1880) — francês
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Liev Tolstói (1828-1910) — russo
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Conrad Ferdinand Meyer (1825-1898) — suíço
Já no Brasil, podemos citar estes autores:
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José de Alencar (1829-1877)
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José Antônio do Vale Caldre e Fião (1821-1876)
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Luís Alves Oliveira Belo (1849-1915)
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Erico Verissimo (1905-1975)
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Jorge Amado (1912-2001)
Obras do romance histórico
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Waverley (1814), de Walter Scott
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O espião (1821), de James Fenimore Cooper
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Os noivos (1827), de Alessandro Manzoni
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Crônica do reino de Carlos IX (1829), de Prosper Mérimée
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Taras Bulba (1835), de Nikolai Gogol
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A filha do capitão (1836), de Alexandre Pushkin
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A feira das vaidades (1847), de William Thackeray
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A divina pastora (1847), de José Antônio do Vale Caldre e Fião
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O corsário (1851), de José Antônio do Vale Caldre e Fião
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Um conto de duas cidades (1859), de Charles Dickens
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Salammbô (1862), de Gustave Flaubert
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As minas de prata (1862), de José de Alencar
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Guerra e paz (1865), de Liev Tolstói
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O amuleto (1873), de Conrad Ferdinand Meyer
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Guerra dos mascates (1873), de José de Alencar
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Alfarrábios (1873), de José de Alencar
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Os farrapos (1877), de Luís Alves Oliveira Belo
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Terras do sem fim (1943), de Jorge Amado
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O tempo e o vento (1949-1961), de Erico Verissimo
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Criação dos personagens no romance histórico
No romance histórico, Walter Scott colocou em evidência o cidadão comum, mediano, e seus conflitos, condizentes com o tempo em que vive. Desse modo, os personagens no romance histórico são estruturados com características que os tornam parte do período histórico em que estão inseridos.
Além disso, os personagens desse tipo de romance também podem ser personagens reais da história de determinado país. Cada autor, assim, pode utilizar personagens fictícios e históricos em seu enredo. Por exemplo, em Salammbô, livro de Flaubert, o estadista Amílcar Barca, pai de Salammbô, é um personagem que existiu de fato.
Criação do romance histórico
De acordo com Lukács, o principal estudioso do romance histórico, esse subgênero literário tem origem no século XIX, com os romances de Walter Scott.
Contexto histórico do romance histórico
No início do século XVIII, os ingleses decidiram fortalecer os laços políticos com a Escócia. Desse modo, em 1707, durante o reinado da rainha Ana (1665-1714), o Ato de União permitiu a criação de um novo Parlamento, em Londres, com a presença de ingleses e escoceses. Estava criado o Reino da Grã-Bretanha.
Contudo, a Escócia se manteve presbiteriana, com moeda própria e sistema judicial independente. A união com a Inglaterra, ainda, desagradou à parte do povo escocês, que lutava por manter a independência política do país. Apesar disso, a economia da Escócia, a princípio, fortaleceu-se após o tratado com a Inglaterra.
Décadas depois, durante o reinado de George III (1738-1820), a Grã-Bretanha se viu envolvida na Guerra de Independência dos Estados Unidos, que durou de 1775 a 1783. Mais tarde, com o Ato de União de 1800, a Irlanda se juntou à Grã-Bretanha, e foi criado assim o Reino Unido, que logo iniciou um conflito bélico contra Napoleão Bonaparte (1769-1821). Nesse contexto, nasceu Walter Scott, o inventor do romance histórico.
Assim, o surgimento desse tipo de romance, segundo o professor da Unicamp Carlos Eduardo Ornelas Berriel, deveu-se à “criação dos primeiros exércitos de massas”:
Com a criação dos primeiros exércitos de massas, com a ação política de Napoleão, que convulsiona e renova as condições de vida de povos inteiros, a história irrompe irresistivelmente na vida dos indivíduos, fazendo nascer as condições concretas para que os homens concebam sua existência como algo fundado historicamente e vejam na história uma influência profunda sobre seu cotidiano.|1|
Romance histórico no Brasil
No Brasil, o romance histórico surgiu durante o romantismo. Assim, fez parte do projeto romântico, que pretendia fortalecer o sentimento de nacionalidade nos brasileiros após a independência do Brasil, em 1822. Tal romance, portanto, mostra fatos da história nacional com base em uma perspectiva heroica.
O maior nome desse tipo de romance, no século XIX, foi José de Alencar. Em suas obras, o contexto histórico foi utilizado não só em romances exclusivamente históricos, como Alfarrábios, mas também em obras indianistas, como Iracema, e mesmo regionalistas, como O gaúcho.
Na contemporaneidade, a produção de romances históricos não traz mais o caráter ufanista romântico. Agora, os fatos históricos entram no romance para serem questionados ou ironizados. Esse é o caso do romance Galvez, imperador do Acre, em que o narrador de Márcio Souza mostra um Galvez nada heroico.
Confira no nosso podcast: A figura do malandro na literatura brasileira
Romance histórico pós-moderno
Segundo Carlos Alexandre Baumgarten,|2| doutor em Teoria Literária, o precursor do chamado novo romance histórico foi O reino deste mundo (1949), do escritor cubano Alejo Carpentier (1904-1980). Quanto ao Brasil, foi a partir dos anos 1970 que o novo romance histórico passou a assumir as seguintes características:
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questionamento da história oficial;
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distorção dos elementos históricos;
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protagonismo de personagens históricos;
São obras desse período:
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A ferro e fogo (1972-1975), de Josué Guimarães
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Galvez, imperador do Acre (1977), de Márcio Souza
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A prole do corvo (1978), de Luiz Antonio de Assis Brasil
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Mad Maria (1980), de Márcio Souza
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Em liberdade (1981), de Silviano Santiago
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A estranha nação de Rafael Mendes (1983), de Moacyr Scliar
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Os varões assinalados (1985), de Tabajara Ruas
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A cidade dos padres (1986), de Deonísio da Silva
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Cães da província (1987), de Luiz Antonio de Assis Brasil
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Agosto (1990), de Rubem Fonseca
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Boca do inferno (1990), de Ana Miranda
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Videiras de cristal (1990), de Luiz Antonio de Assis Brasil
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O retrato do rei (1991), de Ana Miranda
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A majestade do Xingu (1997), de Moacyr Scliar
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A república dos bugres (1999), de Ruy Tapioca
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O proscrito (2004), de Ruy Tapioca
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A máquina de madeira (2012), de Miguel Sanches Neto
Além de obras estrangeiras, como:
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A arpa e a sombra (1978), do cubano Alejo Carpentier
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Os cães do paraíso (1983), do argentino Abel Posse
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Roma (2007), do estado-unidense Steven Saylor
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A sétima porta (2008), do estado-unidense Richard Zimler
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Queda de gigantes (2010), do britânico Ken Follett
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A profecia de Istambul (2010), do português Alberto Santos
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O mercador de livros malditos (2011), do italiano Marcello Simoni
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A rainha Ginga (2014), do angolano José Eduardo Agualusa
Notas
|1| BERRIEL, Carlos Eduardo Ornelas. “Sobre o romance histórico”. In: LUKÁCS, György. O romance histórico. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011.
|2| BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O novo romance histórico brasileiro: o caso gaúcho. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 37, n. 2, p. 75-82, jun. 2001.
Por Warley Souza
Professor de Literatura