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A escrava Isaura é um romance regionalista do escritor mineiro Bernardo Guimarães. Nessa obra, de caráter abolicionista, Isaura, uma escrava branca, é assediada incessantemente por Leôncio, seu dono por herança e proprietário de uma fazenda. No entanto, a jovem não cede aos desejos do vilão e consegue fugir.
Ela então se apaixona por Álvaro, um jovem rico e abolicionista, a única pessoa capaz de livrar a heroína do perverso Leôncio. Desse modo, essa obra folhetinesca traz as características típicas do Romantismo, como a idealização da mulher e a existência de um amor que precisa vencer um grande obstáculo para enfim se realizar.
Leia também: Romance urbano — o tipo de narrativa que possui centro de ação na cidade
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre A escrava Isaura
- 2 - Análise da obra A escrava Isaura
- 3 - Bernardo Guimarães — o autor de A escrava Isaura
- 4 - Contexto histórico de A escrava Isaura
Resumo sobre A escrava Isaura
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A escrava Isaura é um romance do escritor mineiro Bernardo Guimarães.
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A obra foi publicada, pela primeira vez, em 1875, e conta a história de Isaura, uma escrava branca.
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A narrativa se passa durante o Segundo Reinado, em uma fazenda no interior do Rio de Janeiro, além de Recife.
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O livro é narrado por um narrador que transita entre a onisciência e a observação.
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A obra é um romance regionalista do Romantismo brasileiro.
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O romance possui a idealização do amor e da mulher, além de apresentar traços abolicionistas.
Análise da obra A escrava Isaura
→ Personagens da obra A escrava Isaura
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Álvaro: namorado de Isaura.
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André: pajem.
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Belchior: jardineiro.
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Comendador Almeida: pai de Leôncio.
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Ester: esposa do comendador.
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Geraldo: amigo de Álvaro.
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Henrique: irmão de Malvina.
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Isaura: protagonista.
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Juliana: mãe de Isaura.
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Leôncio: “dono” da escrava Isaura.
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Malvina: esposa de Leôncio.
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Martinho: estudante e sócio em uma taverna.
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Miguel: pai de Isaura.
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Rosa: uma escrava.
→ Tempo da obra A escrava Isaura
Segundo o narrador, a história se passa “nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II”, ou seja, no Segundo Reinado. Como sabemos, o reinado de D. Pedro II durou de 1840 a 1889.
→ Espaço da obra A escrava Isaura
O principal espaço da narrativa é uma fazenda, a qual é localizada no município de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. Mas parte da história também se passa em Recife.
→ Enredo da obra A escrava Isaura
O livro, publicado em 1875, começa com a informação de que Isaura está tocando ao piano e cantando uma canção com sua bela voz. Malvina, esposa de Leôncio, elogia a cantora, mas ressalta a tristeza da cantiga. Isaura conta que a canção a faz se lembrar da própria mãe, a qual a escrava nunca conheceu. A protagonista
era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel da esposa do comendador.
O pai da protagonista é um homem branco, o feitor Miguel, “um bom português”. Após a morte da mãe, Isaura foi criada pela esposa do comendador, como se fosse sua filha, e recebeu a educação dada a uma mulher rica e branca da época.
Apesar disso, a dona da fazenda não deu a carta de alforria a Isaura, pois não tinha
ânimo de soltar este passarinho que o céu me deu para me consolar e tornar mais suportáveis as pesadas e compridas horas da velhice.
Portanto, com a morte de sua “dona”, ela acaba ficando à mercê do cruel Leôncio, o filho do comendador, pelo qual é perseguida constantemente. Henrique, irmão de Malvina, também mostra interesse por Isaura e tenta roubar seus beijos. Mas a moça resiste bravamente.
Além disso, Isaura é ainda cortejada pelo jardineiro Belchior, assim descrito:
[...] de cabeça enorme, tronco raquítico, pernas curtas e arqueadas para fora, cabeludo como um urso, e feio como um mono.
O narrador diz que a
natureza esquecera de lhe formar o pescoço, e a cabeça disforme nascia-lhe de dentro de uma formidável corcova, que a resguardava quase como um capuz.
Malvina percebe o interesse do marido por Isaura e exige que ele dê “um destino qualquer a essa escrava”, que a liberte, a venda ou “faça o que quiser”. Mas quando Miguel, pai de Isaura, leva o dinheiro para comprar a liberdade da filha, Leôncio não aceita vender a liberdade de Isaura. Enciumada, Malvina decide ir embora com o irmão para o Rio de Janeiro.
Ela deixa Leôncio livre para tentar, de todas as formas, fazer com que Isaura ceda aos seus desejos. Como a jovem resiste às suas vontades, ele a castiga ao
[...] pô-la trabalhando entre as fiandeiras, [...]. Dali teria de ser levada para a roça, da roça para o tronco, do tronco para o pelourinho, e deste certamente para o túmulo, se teimasse em sua resistência às ordens de seu senhor.
Além disso, Isaura precisa conviver com o ódio de Rosa (escrava que já foi amante de Leôncio), além de ser assediada também pelo pajem André. No entanto, Miguel consegue fugir com a filha, e os dois passam a viver em Recife, onde ela usa o nome falso de Elvira, enquanto o pai, o nome Anselmo. Ali, ela conhece Álvaro, um jovem rico e abolicionista. Os dois se apaixonam um pelo outro.
Porém, Martinho, sócio em uma taverna, descobre que Isaura é uma escrava e ela é denunciada em troca de uma recompensa. Assim, Leôncio leva a escrava Isaura de volta à fazenda. Ele obriga a jovem a se casar com Belchior, com o apoio de Malvina. No entanto, Álvaro chega antes de o casamento se realizar.
O herói informa que Leôncio já não é mais dono da escrava Isaura. Isso porque a fazenda e tudo que nela está passou a ser propriedade de Álvaro, uma vez que Álvaro adquiriu dos credores de Leôncio a enorme dívida do vilão. Assim, Álvaro declara: “Saiba ainda, demais, que hoje sou eu o principal, se não o único credor seu”|1|.
Então, após perder tudo, Leôncio decide se matar e rebenta o crânio com um tiro de pistola. Dessa forma, o romance traz um herói, uma heroína e um cruel vilão, que deve ser vencido para que o par romântico possa, enfim, viver livremente a sua história de amor e ser feliz.
→ Narrador da obra A escrava Isaura
A história é contada por um narrador onisciente, aquele que tem um conhecimento profundo do íntimo dos personagens. No entanto, na maioria das vezes, ele se mostra também como observador e até interage com o leitor e o convida a seguir em sua companhia pelos espaços da narrativa.
→ Características da obra A escrava Isaura
O livro é composto por 22 capítulos e possui uma estrutura de aspecto cronológico, isto é, os fatos são narrados linearmente, com alguns flashbacks. Essa obra do Romantismo brasileiro tem as características do romance regionalista. Portanto, retrata paisagens e personagens típicos do interior do Brasil.
E, assim, valoriza os costumes regionais e o modo de vida do homem do campo, o qual possuía valores morais mais conservadores do que os habitantes dos centros urbanos. Além disso, o romance A escrava Isaura, além de idealizar o amor e a mulher, apresenta traços abolicionistas.
Veja também: Iracema — outra importante obra do Romantismo
Bernardo Guimarães — o autor de A escrava Isaura
Bernardo Guimarães nasceu em 15 de agosto de 1825, em Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Ele estudou na Faculdade de Direito de São Paulo e se formou no ano de 1852. Bernardo Guimarães fez parte de uma geração de escritores que se interessava pelas obras do escritor inglês Lord Byron (1788–1824).
Após abandonar a vida boêmia de estudante, trabalhou como juiz em Catalão, no estado de Goiás. Também foi redator do jornal A Atualidade, no Rio de Janeiro, e professor em Minas Gerais, onde se casou e teve filhos. Depois de ficar famoso com a publicação de seu romance A escrava Isaura, o autor faleceu em 10 de março de 1884, em Ouro Preto.
Contexto histórico de A escrava Isaura
A obra A escrava Isaura foi produzida e ambientada durante o Segundo Reinado (1840–1889). Nesse período, ocorreram fatos importantes, como:
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a Lei Eusébio de Queirós, que, em 1850, proibiu o tráfico de escravos;
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a Guerra do Paraguai, conflito que contribuiu para o desgaste da monarquia.
Assim, até a Abolição da Escravatura em 1888, os abolicionistas lutaram para conquistar direitos para os escravizados, como a Lei do Ventre Livre, de 1871, e a Lei dos Sexagenários, de 1885. Portanto, o debate acerca da libertação dos escravizados esteve em voga durante a segunda metade do século XIX.
Crédito de imagem
[1] Editora Autêntica (reprodução)
Nota
|1| GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. Porto Alegre: L&PM, 2011.
Por Warley Souza
Professor de Literatura