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Conto fantástico

Conto fantástico é uma narrativa curta que apresenta personagens e/ou fatos inexplicáveis. O principal autor desse gênero literário é o americano Edgar Allan Poe.

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Conto fantástico é o nome que se dá a uma narrativa curta que apresenta personagens que extrapolam os limites da realidade e/ou fatos igualmente estranhos e inexplicáveis. Esse tipo de literatura está associado a autores estrangeiros, tais como:

  • Franz Kafka

  • Edgar Allan Poe

  • Gabriel García Márquez

  • Jorge Luis Borges

Já no Brasil, os autores que dialogaram com o fantástico em suas obras são:

Leia também: Sagarana – o livro de contos de Guimarães Rosa

Tópicos deste artigo

O que é conto?

O conto é uma narrativa (tipo de texto em que se conta uma história). Ele pode relatar um acontecimento verídico ou ficcional e ser contado de forma oral ou escrita. As narrativas são ações de personagens que ocorrem em determinado espaço e tempo. Elas são contadas por um narrador.

Contar histórias é uma prática milenar.
Contar histórias é uma prática milenar.

Na literatura, existem outros gêneros de narrativa além do conto, como a novela e o romance. Esses três gêneros possuem as mesmas características apontadas. O que vai fazer a distinção entre eles é o tamanho, as dimensões da obra. Nessa perspectiva, o conto é uma narrativa menos extensa; o romance, uma narrativa mais extensa; já a novela ocupa lugar intermediário no que se refere às suas dimensões.

Segundo a ensaísta Nelly Novaes Coelho:

“Desde as origens, o conto é definido, formalmente, pela brevidade: uma narrativa curta e linear, envolvendo poucas personagens; concentrada em uma única ação, de curta duração temporal e situada num só espaço. Dessa necessidade de brevidade, deriva a grande arte do conto que, mais que qualquer outro gênero em prosa, exige que o escritor seja um verdadeiro alquimista na manipulação da palavra.”

No entanto, não há um consenso em relação a essa definição, que, para alguns estudiosos e escritores, parece não ser satisfatória; pois, como afirmou o escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), o conto é de

difícil definição, tão esquivo nos seus múltiplos e antagônicos aspectos, e, em última análise, tão secreto e voltado para si mesmo, caracol da linguagem, irmão misterioso da poesia em outra dimensão do tempo literário”|1|.

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Literatura fantástica

A literatura fantástica traz elementos que contrariam a noção de realidade. Portanto, apresenta personagens e/ou fatos impossíveis, isto é, em desacordo com as leis que comandam os fenômenos naturais. Como exemplo, podemos citar o livro A metamorfose (1915), de Franz Kafka, em que o protagonista Gregor Samsa transforma-se em um inseto, algo naturalmente impossível.

“A metamorfose”, de Franz Kafka, é um clássico da literatura fantástica.
“A metamorfose”, de Franz Kafka, é um clássico da literatura fantástica.

Para o filósofo Tzvetan Todorov, na literatura fantástica, “é necessário que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo dos personagens como um mundo de pessoas reais, e a vacilar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados”|2|. Essa vacilação pode permanecer ou ser eliminada quando o leitor decide que os acontecimentos têm relação com a realidade ou são ilusões.

Não há concordância sobre quando surgiu a literatura fantástica. A maioria dos estudiosos defende que seu surgimento ocorreu entre os séculos XVIII e XIX. Segundo Silva e Lourenço|3|: “O fantástico teve suas origens em romances que exploravam o medo, o susto, porém, ao longo dos séculos, foi se transformando até chegar ao século XX como uma narrativa mais sutil”.

Assim, além de Kafka, outros escritores, em algum momento de suas carreiras, enveredaram pela literatura fantástica, como: o português José Saramago (1922-2010), com Ensaio sobre a cegueira (1995); a britânica Mary Shelley (1797-1851), com Frankenstein; o escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), com O médico e o monstro (1886); e o britânico Oscar Wilde (1854-1900), com O retrato de Dorian Gray (1890).

Leia também: História em quadrinhos – textos que, muitas vezes, utilizam-se do fator fantástico

Características do conto fantástico

O conto fantástico é uma narrativa curta, cujos personagens ou fatos estão associados a elementos sobrenaturais ou sem explicação, já que contrariam as leis naturais. Karin Volobuef|4| “afirma que tal gênero abandonou a sucessão de acontecimentos surpreendentes, assustadores e emocionantes para adentrar esferas temáticas mais complexas. Devido a isso, a narrativa fantástica passou a tratar de assuntos inquietantes para o homem atual: os avanços tecnológicos, as angústias existenciais, a opressão, a burocracia, a desigualdade social”|5|.

Dessa forma, esse gênero de literatura, em primeiro lugar, provoca estranheza nos leitores. Em seguida, pode despertar a emoção durante a leitura ou a reflexão, caso o texto, apesar de extrapolar a realidade, trouxer alguma crítica a ela — o que podemos ver no conto fantástico, de Machado de Assis, O País das Quimeras.

Nessa obra, o narrador conta a história de Tito, um poeta pobre e romântico que abre mão de seus versos por dinheiro. Eles são comprados por um “sujeito rico, maníaco pela fama de poeta”. Além disso, Tito está apaixonado, mas não é correspondido. O poeta vê-se entre dois caminhos possíveis — morrer ou partir —, quando surge “uma criatura celestial, vaporosa, fantástica, trajando vestes alvas, nem bem de pano, nem bem de névoas, uma coisa entre as duas espécies, pés alígeros, rosto sereno e insinuante, olhos negros e cintilantes, cachos louros do mais leve e delicado cabelo, a caírem-lhe graciosos pelas espáduas nuas, divinas”.

As fadas fazem parte da mitologia céltica.
As fadas fazem parte da mitologia céltica.

A fada tem asas, pega o poeta nos braços, o teto rasga-se, e eles iniciam o voo: “Tito, que se havia distraído algum tempo da ocupação das musas no estudo das leis físicas, contava que, naquele subir continuado, breve chegariam a sentir os efeitos da rarefação da atmosfera. Engano dele! Subiam sempre, e muito, mas a atmosfera conservava-se sempre a mesma, e quanto mais ele subia melhor respirava”.

Por ser um conto fantástico, as leis da natureza não são respeitadas, tudo é possível. Assim, chegam ao País das Quimeras: “País para onde viaja três quartas partes do gênero humano, mas que não se acha consignado nas tábuas da ciência”. Nessa ironia, percebemos que o narrador zomba do fato de que a maioria das pessoas não encara a realidade, ou seja, vive no País das Quimeras, do sonho, da fantasia.

Dessa forma, o narrador, com o pretexto de relatar o que acontecia no País das Quimeras, acaba fazendo uma crítica às futilidades do “nosso mundo”, como se pode ver neste trecho: “Mais adiante era uma sala onde muitos quiméricos, à roda de mesas, discutiam os diferentes modos de inspirar aos diplomatas e diretores deste nosso mundo os pretextos para encher o tempo e apavorar os espíritos com futilidades e espantalhos. Esses homens tinham ares de finos e espertos”.

Após conhecer o País das Quimeras, Tito, de repente, percebe que tudo vai se desfazendo diante de seus olhos — afinal, aquilo não é concreto, é um mundo abstrato —, e o poeta começa a cair, até chegar à Terra. Como se pode observar, a sua queda é contrária às leis da natureza:

“É a Terra! disse Tito consigo. Creio que não haverá expressão humana para mostrar a alegria que sentiu aquela alma, perdida no espaço, quando reconheceu que se aproximava do planeta natal. Curta foi a alegria. Tito pensou, e pensou bem, que naquela velocidade quando tocasse em terra seria para nunca mais levantar. Teve um calafrio: viu a morte diante de si, e encomendou a alma a Deus. Assim foi, foi, ou antes, veio, veio, até que — milagre dos milagres! — caiu sobre uma praia, de pé, firme como se não houvesse dado aquele infernal salto.”

Por fim, ao terminar o conto, mais uma vez, o narrador critica aqueles que fogem da realidade: “Desde então Tito possui um olhar de lince, e diz, à primeira vista, se um homem traz na cabeça miolos ou massa quimérica. Devo declarar que poucos encontra que não façam provisão desta última espécie [ou seja, que traz na cabeça massa quimérica, fantasia]. Diz ele, e tenho razões para crer, que eu entro no número das pouquíssimas exceções”. Portanto, o narrador declara-se exceção, pois é racional e não empreende a fuga da realidade, isto é, ele é realista.

Autores no mundo

Edgar Allan Poe é o principal nome da literatura fantástica no mundo.
Edgar Allan Poe é o principal nome da literatura fantástica no mundo.

Os principais nomes da literatura mundial que produziram um ou mais contos fantásticos são:

  • Edgar Allan Poe, americano: o livro Histórias extraordinárias é composto de contos publicados entre 1833 e 1845.

  • Gabriel García Márquez, colombiano e Nobel de Literatura: o conto “Maria dos Prazeres”, do livro Doze contos peregrinos (1992).

  • Jorge Luis Borges, argentino: o conto “O outro”, de sua obra O livro de areia (1975).

  • F. Scott Fitzgerald (1896-1940), americano: o conto “O curioso caso de Benjamin Button”, em Seis contos da era do jazz (1922).

  • Oscar Wilde, britânico: o conto “O fantasma de Canterville”, em O crime de lorde Arthur Savile e outras histórias (1887).

Além desses escritores, há também aqueles que produziram contos infantis em que o fantástico está presente, como: os irmãos Grimm — Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) — e Hans Christian Andersen (1805-1875). Andersen é autor, entre outros contos, de A pequena sereia. Já os irmãos Grimm são autores de O rei sapo, além de outras narrativas curtas.

Veja também: 2 de Abril — Dia Internacional do Livro Infantil

Autores no Brasil

No Brasil, alguns autores utilizaram elementos fantásticos em suas obras. Podemos citar Erico Verissimo, em seu romance Incidente em Antares (1971); Machado de Assis, em seu livro Memórias póstumas de Brás Cubas (1881); Mário de Andrade, em sua obra Macunaíma (1928); e Monteiro Lobato (1882-1948), em seus livros infantis.

No entanto, o principal autor de uma literatura fantástica no Brasil é o contista mineiro Murilo Rubião, a quem Antonio Olinto (1919-2009) considerou surrealista e comparou a Franz Kafka. Seus livros são:

  • O ex-mágico (1947)

  • A estrela vermelha (1953)

  • Os dragões e outros contos (1965)

  • O pirotécnico Zacarias (1974)

  • O convidado (1974)

  • A Casa do Girassol Vermelho (1978)

  • O homem do boné cinzento (1990)

No conto de Murilo Rubião — “Teleco, o coelhinho” —, do livro Os dragões e outros contos, o narrador está na praia quando alguém lhe pede um cigarro. Esse alguém é um coelhinho cinzento. O narrador convida Teleco, o coelhinho, a morar com ele. Teleco tem a “mania de metamorfosear-se em outros bichos”. Então, transforma-se em uma girafa, e pergunta: “Não lhe importará a companhia de alguém tão instável?”.

O narrador responde que não, e vão morar juntos. Até que um dia, Teleco, metamorfoseado em canguru, leva uma mulher para viver com eles. Tereza afirma que o canguru chama-se Barbosa e é um homem. Assim, o conto segue rumo a um final trágico e poético.

Teleco apresenta-se como coelho para o narrador, mas não é possível saber qual é a sua verdadeira identidade.
Teleco apresenta-se como coelho para o narrador, mas não é possível saber qual é a sua verdadeira identidade.

Nesse conto, o fantástico está presente, pois, em nenhum momento, é dada uma explicação racional para a metamorfose de Teleco, já que ela não é possível. A leitura dá-se na aceitação de que um coelhinho pode falar e transformar-se em outros bichos. Nesse ponto, há uma diferença entre literatura fantástica e de ficção científica, já que, na segunda, há explicações para os acontecimentos estranhos (mesmo que, muitas vezes, elas não possam ser comprovadas).

Assim, segundo Kateřina Novotná, mestre em estudos românicos:

“Vários críticos (geralmente da literatura fantástica) incluem nele [no maravilhoso] também a ficção científica. No entanto, as características da FC [Ficção Científica] estão em oposição direta com o maravilhoso [...]”. E ainda: “Obviamente, é muito simplista dizer que a FC é uma narrativa baseada na ciência, mas não deixa de ser verdade. Sem a ciência, a narrativa seria só uma ficção como qualquer outra. Ao mesmo tempo, a ciência sem ficção seria só o manual científico.”

Exemplo de conto fantástico

O conto “Sombra — uma parábola” (1835), do livro Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe, é o registro de um narrador-personagem, da Antiguidade, que parece escrever conscientemente para leitores do futuro. Ele narra sobre uma “orgia-velório”, em que surge uma sombra que não é divina nem humana. A parábola, isto é, a narrativa alegórica, finaliza-se quando os convivas percebem que, na voz dessa sombra, há uma “multidão de seres” mortos.

Dessa maneira, o fantástico dessa história de terror, típica de Poe, reside no fato de que não há explicações sobre o que é a Sombra, apesar de concluirmos que ela é a Morte personificada. Um dos motivos que nos levam a essa conclusão é a epígrafe que encabeça o conto: “Sim! Embora eu caminhe pelo vale da Sombra” (Salmo de Davi), que, no texto bíblico, é o “vale da sombra da morte”.

No conto de Poe, a Sombra é a personificação da Morte.
No conto de Poe, a Sombra é a personificação da Morte.

Então, vamos ler o conto|6|, na íntegra:

Vós que me ledes por certo estais ainda entre os vivos; mas eu que escrevo terei partido há muito para a região das sombras. Porque de fato estranhas coisas acontecerão, e coisas secretas serão conhecidas, e muitos séculos passarão antes que estas memórias caiam sob vistas humanas. E, ao serem lidas, alguém haverá que nelas não acredite, alguém que delas duvide e, contudo, uns poucos encontrarão muito motivo de reflexão nos caracteres aqui gravados com estiletes de ferro.

O ano tinha sido um ano de terror e de sentimentos mais intensos que o terror, para os quais não existe nome na Terra. Pois muitos prodígios e sinais haviam se produzido, e por toda a parte, sobre a terra e sobre o mar, as negras asas da Peste se estendiam. Para aqueles, todavia, conhecedores dos astros, não era desconhecido que os céus apresentavam um aspecto de desgraça, e para mim, o grego Oinos, entre outros, era evidente que então sobreviera a alteração daquele ano 794, em que, à entrada do Carneiro, o planeta Júpiter entra em conjunção com o anel vermelho do terrível Saturno. O espírito característico do firmamento, se muito não me engano, manifestava-se não somente no orbe físico da Terra, mas nas almas, imaginações e meditações da Humanidade. Éramos sete, certa noite, em torno de algumas garrafas de rubro vinho de Quios, entre as paredes do nobre salão, na sombria cidade de Ptolemais. Para a sala em que nos achávamos a única entrada que havia era uma alta porta de feitio raro e trabalhada pelo artista Corinos, aferrolhada por dentro. Negras cortinas, adequadas ao sombrio aposento, privavam-nos da visão da lua, das lúgubres estrelas e das ruas despovoadas; mas o ressentimento e a lembrança do flagelo não podiam ser assim excluídos.

Havia em torno de nós e dentro de nós coisas das quais não me é possível dar conta, coisas materiais e espirituais: atmosfera pesada, sensação de sufocamento, ansiedade; e, sobretudo, aquele terrível estado de existência que as pessoas nervosas experimentam quando os sentidos estão vivos e despertos, e as faculdades do pensamento jazem adormecidas. Um peso mortal nos acabrunhava. Oprimia nossos ombros, os móveis da sala, os copos em que bebíamos. E todas se sentiam opressas e prostradas, todas as coisas exceto as chamas das sete lâmpadas de ferro que iluminavam nossa orgia. Elevando-se em filetes finos de luz, assim que permaneciam, ardendo, pálidas e imotas. E no espelho que seu fulgor formava sobre a redonda mesa de ébano a que estávamos sentados, cada um de nós, ali reunidos, contemplava o palor de seu próprio rosto e o brilho inquieto nos olhos abatidos de seus companheiros. Não obstante, ríamos e estávamos alegres, a nosso modo — que era histérico —, e cantávamos as canções de Anacreonte — que são doidas —, e bebíamos intensamente, embora o vinho purpurino nos lembrasse a cor do sangue. Pois ali havia ainda outra pessoa em nossa sala, o jovem Zoilo. Morto, estendido a fio comprido, amortalhado, era como o gênio e o demônio da cena. Mas ah! Não tomava ele parte em nossa alegria! Seu rosto, convulsionado pela doença, e seus olhos, em que a Morte havia apenas extinguido metade do fogo da peste, pareciam interessar-se pela nossa alegria, na medida em que, talvez, possam os mortos interessar-se pela alegria dos que têm de morrer. Mas embora eu, Oinos, sentisse os olhos do morto cravados sobre mim, ainda assim obrigava-me a não perceber a amargura de sua expressão. E mergulhando fundamente a vista nas profundezas do espelho de ébano, cantava em voz alta e sonorosa as canções do filho de Teios. Mas, pouco a pouco, minhas canções cessaram e seus ecos, ressoando ao longe, entre os reposteiros negros do aposento, tornavam-se fracos e indistintos, esvanecendo-se. E eis que dentre aqueles negros reposteiros, onde ia morrer o rumor das canções, se destacou uma sombra negra e imprecisa, uma sombra tal como a da lua quando baixa no céu, e se assemelha ao vulto dum homem: mas não era a sombra de um homem, nem a de um deus, nem a de qualquer outro ente conhecido. E, tremendo um instante entre os reposteiros do aposento, mostrou-se afinal plenamente sobre a superfície da porta de ébano. Mas a sombra era vaga, informe, imprecisa, e não era sombra nem de homem, nem de deus, de deus da Grécia, de deus da Caldeia, de deus egípcio. E a sombra permanecia sobre a porta de bronze, por baixo da cornija arqueada, e não se movia, nem dizia palavra alguma, mas ali ficava parada e imutável. Os pés do jovem Zoilo, amortalhado, encontravam-se, se bem me lembro, na porta sobre a qual a sombra repousava. Nós, porém, os sete ali reunidos, tendo avistado a sombra no momento em que se destacava dentre os reposteiros, não ousávamos olhá-la fixamente, mas baixávamos os olhos e fixávamos sem desvio as profundezas do espelho de ébano. E afinal, eu, Oinos, pronunciando algumas palavras em voz baixa, indaguei da sombra seu nome e lugar de nascimento. E a sombra respondeu: “Eu sou a SOMBRA e minha morada está perto das catacumbas de Ptolemais, junto daquelas sombrias planícies infernais que orlam o sujo canal de Caronte”. E então, todos sete, erguemo-nos, cheios de horror, de nossos assentos, trêmulos, enregelados, espavoridos, porque o tom da voz da sombra não era de um só ser, mas de uma multidão de seres e, variando suas inflexões, de sílaba para sílaba, vibrava aos nossos ouvidos confusamente, como se fossem as entonações familiares e bem relembradas dos muitos milhares de amigos que a morte ceifara.

Notas

|1| Tradução de Davi Arriguci Jr. e João A. Barbosa.

|2| Tradução de Maria Clara Correa Castello.

|3| Luis Cláudio Ferreira Silva e Daiane da Silva Lourenço, ambos da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

|4| Karin Volobuef é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

|5| Apud Luis Cláudio Ferreira Silva e Daiane da Silva Lourenço.

|6| Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado.

    

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Conto fantástico"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-conto-fantastico.htm. Acesso em 30 de dezembro de 2024.

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