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Franz Kafka

Franz Kafka é um escritor tcheco pertencente ao modernismo, muito conhecido pelo teor fantástico em sua literatura. Sua obra mais conhecida é A metamorfose.

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Franz Kafka, escritor tcheco, nasceu em 3 de julho de 1883. Era judeu e tinha uma relação conflituosa com seu pai, uma figura opressora que esteve, indiretamente, presente nas narrativas do escritor. Formado em Direito, trabalhou, durante 14 anos, no Instituto de Seguro de Acidentes de Trabalho, mas teve sua aposentadoria antecipada em 1922, devido à tuberculose. Assim, não pôde dedicar-se exclusivamente à escrita.

As obras do escritor possuem traços expressionistas e estão abarcadas pelo modernismo. Portanto, é possível verificar, em suas narrativas, a deformação da realidade, a presença de alegorias, o anticonvencionalismo, o nonsense e o pessimismo. Seus principais livros são A metamorfose, O processo e O castelo. Seu melhor amigo, Max Brod, foi o grande responsável pela divulgação das obras do autor, que morreu em 3 de junho de 1924.

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Biografia de Franz Kafka

Franz Kafka nasceu em 3 de julho de 1883, em Praga. Teve uma infância solitária, pois os pais passavam o dia inteiro na loja dos Kafka, e o menino era cuidado por uma governanta, uma cozinheira e uma empregada doméstica. Sua mãe era submissa, e seu pai era um homem de negócios, autoritário, que não apoiava a propensão de seu filho para a literatura e teve grande influência na obra do escritor — o conflito com o pai, um opressor, foi refletido em algumas de suas narrativas.

Desde o início de sua vida, o escritor teve contato com tchecos e alemães, por isso dominava os dois idiomas. Assim, Hermann Kafka (1852-1931) matriculou seu filho na Escola Alemã para Meninos, que ficava perto de sua casa. O escritor estudou nessa instituição de 1889 a 1893, sendo aprovado com distinção. De 1893 a 1901, Kafka frequentou a Escola Secundária Alemã. Nela ele teve uma formação humanista e completou os três primeiros anos com distinção. Em seguida, seu rendimento decaiu, passando, inclusive, a apresentar dificuldade em matemática.

Entre 1901 e 1906, ele estudou na Universidade Alemã de Praga. Optou por fazer Química, mas transferiu-se para o Direito duas semanas depois. Durante o curso, buscou estudar também filosofia e história da arte. Devido à forte perseguição antissemita, Kafka, como judeu, teve certa dificuldade em entrar para o serviço público. Então profissões liberais, como a de médico e advogado, eram a melhor opção. Ele recebeu o diploma de Direito em 18 de junho de 1906.

Foto de Franz Kafka, feita por Sigismund Jacobi (1860-1935), provavelmente em 1906.
Foto de Franz Kafka, feita por Sigismund Jacobi (1860-1935), provavelmente em 1906.

Trabalhou na Companhia de Seguros Assicurazioni Generali, por um breve período, de 1º de outubro de 1907 a 31 de julho de 1908, e, durante 14 anos, de 30 de agosto de 1908 a 1º de julho de 1922, trabalhou no Instituto de Seguro de Acidentes de Trabalho, que, parcialmente estatal, empregava pouquíssimos judeus. Ali Kafka teve uma carreira bem-sucedida, com promoções. No entanto, recebeu uma aposentadoria antecipada, devido a seus problemas de saúde. Kafka, assim como tantos escritores, não pôde dedicar-se exclusivamente à literatura, o que lhe provocava muita angústia.

Em 1902, o escritor conheceu Max Brod (1884-1968). Este era seu melhor amigo e, por isso, foi a principal fonte para a posterior construção de sua biografia, além de ter sido o principal responsável pela divulgação da sua obra. Assim, ignorou o último desejo do amigo, que, em testamento, pedia para ele destruísse suas obras não publicadas. Max Brod fez o oposto e, após a morte de Kafka, começou a publicar seus textos.

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Kafka, sempre em companhia de Max Brod, seu grande amigo, viajou de férias para Riva (Itália), em setembro de 1909; para Paris, em outubro de 1910; fez uma excursão de Lugano a Paris, via Milão, no final de agosto e início de setembro de 1911; e viajou para Weimar, final de junho e início de julho de 1912.

Sua vida amorosa foi um tanto conturbada. Felice Bauer (1887-1960) foi sua primeira noiva e morava em Berlim. De 1912 a 1917, ele enviou mais de 500 cartas e cartões-postais para ela, mas poucas vezes encontraram-se nesse tempo. Em 1919, ele conheceu Julie Wohryzek (1891-1944), sua segunda noiva, mas o pai de Kafka opôs-se ao casamento devido a diferenças sociais.

O escritor passou duas férias, 1905 e 1906, em Zuckmantl, para tratar de sua fraqueza física e exaustão. Em sua primeira estadia nesse spa, preferido pelos judeus por nele não sofrerem discriminação, de 3 a 27 de agosto de 1905, teve sua primeira experiência sexual, com uma das hóspedes do local. Já em 1906, permaneceu ali de 23 de julho a 29 de agosto.

Tornou-se vegetariano pouco antes de 1910 e optava por terapias naturais e não convencionais, em sanatórios como o Jungborn, na Alemanha, em 1912. A maior parte da vida, Kafka viveu com os pais, no centro histórico de Praga — a Cidade Velha. Mais tarde, mudou-se para a casa de uma de suas irmãs. Nunca conseguiu ter uma casa própria, mas teve algumas residências temporárias entre 1914 e 1917.

Após ser diagnosticado com tuberculose, ele tentou recuperar-se em Siřem, 1917; em Želízy, de 1918 a 1919, onde conheceu sua segunda noiva Julie Wohryzek; em Merano, no Norte da Itália, de abril a junho de 1920; em Matliary, 1921; em Planá, 1922, onde pretendia continuar a escrever O castelo, mas teve um colapso nervoso; e em Berlim, 1923, onde foi morar com Dora Diamant (1903-1952), em situação financeira precária.

Contudo, Max Brod levou Kafka de volta a Praga em março de 1924. Em abril, o escritor internou-se no sanatório de Wienerwald, na Áustria; na clínica do Prof. Hajek, em Viena; e no sanatório do Dr. Hoffmann, em Kierling, onde viveu as últimas seis semanas de sua vida. Morreu em 3 de junho de 1924.

Estilo literário de Franz Kafka

As obras de Franz Kafka possuem marcas do expressionismo e, comumente, são associadas, pelos críticos, ao modernismo. Basicamente, apresentam as seguintes características:

  • Deformação da realidade
  • Realismo fantástico
  • Ausência de idealizações
  • Presença de alegorias
  • Caráter subversivo
  • Anticonvencionalismo
  • Fragmentação
  • Fluxo de consciência
  • Angústia existencial
  • Antitradicionalismo
  • Atmosfera de opressão
  • Nonsense
  • Irracionalismo
  • Pessimismo

Leia também: Modernismo no Brasil – movimento literário dividido em três fases

Obras de Franz Kafka

Capa do livro A metamorfose, de Franz Kafka, publicado pela editora Companhia das Letras. [1]
Capa do livro A metamorfose, de Franz Kafka, publicado pela editora Companhia das Letras. [1]
  • Descrição de uma luta (1912)
  • Contemplação (1912)
  • O foguista (1913)
  • A metamorfose (1915)
  • Um médico rural (1918)
  • Na colônia penal (1919)
  • Um artista da fome (1922)
  • O processo (1925)
  • O castelo (1926)
  • O desaparecido ou Amerika (1927)
  • Diários (1948)
  • Carta ao pai (1952)
  • Cartas a Milena (1952)
  • Cartas a Felice (1967)
  • A metamorfose

Os três livros de Kafka consagrados pela crítica são A metamorfose, O processo e O castelo. O primeiro, ou seja, A metamorfose, é sua obra mais conhecida no mundo inteiro. Nesse livro, o protagonista Gregor Samsa acorda transformado em uma espécie de inseto, o que provoca no leitor a sensação de estranheza diante do nonsense, já que, em nenhum momento, há uma explicação para a metamorfose do personagem:

“Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido em segmentos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas se mantinha com dificuldade. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos.”|1|

 

Fato é que essa transformação tira Gregor Samsa da mesmice, de seu cotidiano repetitivo. Contudo, no início, é de estranhar-se o fato de que ele não se desespera diante de tão inusitada situação, aceita a transformação como algo inevitável, apesar de duvidar, em certo momento, daquela realidade, que lhe permite ver a sua família por outro ângulo, já que, agora, ele passa a ser um estranho para ela.

A metamorfose, em um primeiro momento, é vista pelo protagonista apenas como sendo um imprevisto que o faz sair da rotina de caixeiro-viajante. Aliás, diante dela, ele se preocupa muito mais com a sua ausência no trabalho do que com esse drama incomum. A obra, portanto, faz uma crítica ao mundo capitalista, em que o ser humano é valorizado só quando é produtivo, não passando de um ser utilitário.

Entretanto, ao metamorfosear-se, Gregor Samsa deixa de ser um indivíduo produtivo e passa a ser um problema sem solução. Não sendo mais produtivo, o protagonista transforma-se em algo incômodo e descartável. Antes, ele mantinha a família e, por isso, era uma figura de destaque ali. Com a mudança, ele perde esse tipo de poder econômico, pois uma barata não tem importância no mundo capitalista do trabalho. Assim, Gregor Samsa perde seu papel social:

“Por vezes pensava em, assim que a porta se abrisse de novo, voltar a tomar nas mãos os assuntos da família, exatamente conforme fazia no passado; em seus pensamentos, depois de muito tempo, voltavam a surgir o chefe e o gerente, voltava a se lembrar dos caixeiros e dos aprendizes, do contínuo tão estúpido, de dois ou três amigos de outras firmas, [...]. Logo depois voltava a não ter a mínima disposição para se preocupar com sua família, apenas sentia ódio pelos maus tratos a que era submetido [...].”

 

Nessa obra, o gerente, seu superior, é a figura do opressor a quem todos devem subserviência. Opressora também é toda a situação, já que o caixeiro é obrigado a  manter-se confinado para não incomodar ninguém, enquanto a sua família cria uma nova dinâmica, na qual ele é relegado à invisibilidade. Sua irmã assume o protagonismo, torna-se útil, assim como seu pai, que volta ao mundo do trabalho.

Sem um papel na sociedade, Gregor Samsa transforma-se em um pária.
Sem um papel na sociedade, Gregor Samsa transforma-se em um pária.

Por outro lado, a metamorfose figura-se como uma libertação desse mundo de rotinas opressoras, do emprego do qual Gregor Samsa queria livrar-se. O inseto é, possivelmente, a metáfora do marginal, do artista, daquele que escapa das regras sociais impostas e, por isso, é rejeitado. Esse não pertencimento à engrenagem social provoca uma mudança interior no protagonista.

Veja também: Conto fantástico – gênero literário muito explorado por Kafka

Frases de Franz Kafka

A seguir, destacamos algumas frases do autor, retiradas do livro Carta ao pai, tradução de Modesto Carone:

“O que é vivo não comporta cálculo.”

“Nem toda criança tem a resistência e o destemor de ficar procurando até chegar à bondade.”

“Só conseguia ser grato como um mendigo, nunca através da ação.”

“Não é fácil encontrar um meio-termo.”

“Nem eu era livre nem, no melhor dos casos, ainda não o era.”

“Estudei pouco e não aprendi nada.”

“Tive uma preocupação tão profunda com a afirmação espiritual da minha existência que tudo o mais me foi indiferente.”

“Estou convencido de que casar, fundar uma família, acolher todos os filhos que vierem,

mantê-los neste mundo inseguro e guiá-los um pouco, é o máximo que um homem pode em geral conseguir.”

“Na mão eu não tenho nada, todos os pássaros estão voando e, no entanto, eu preciso escolher o nada.”

“A vida é mais que um jogo de paciência.”

Nota

|1| Tradução de Marcelo Backes.

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (Reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Franz Kafka"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/franz-kafka.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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