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A Guerra de Canudos foi um dos principais conflitos que marcaram o período entre a queda da monarquia e a instalação do regime republicano no Brasil. Aconteceu de novembro de 1896 a outubro de 1897 no sertão da Bahia, em uma fazenda improdutiva ocupada por Antônio Conselheiro e seus mais de 20 mil seguidores.
Teve caráter messiânico, por conta das pregações do beato, mas envolvia a luta contra a fome, a miséria e a seca nordestina, região desassistida pelo governo federal, que passava, naquele momento, pela transição da monarquia para a república.
A comunidade de Canudos começou a incomodar diversos setores das classes dominantes, como a Igreja, que estava perdendo seus fiéis para o religioso sertanejo; os latifundiários, que temiam novas ocupações de terras improdutivas; e dos governos regional e nacional, que tentaram atacar Canudos quatro vezes, porém sem sucesso. Estes só conseguiram vencer na quarta tentativa, quando Conselheiro já estava morto — por razões desconhecidas —, com o envio de canhões e 5 mil homens que mataram cerca de 25 mil pessoas.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Guerra de Canudos
- 2 - Videoaula sobre a Guerra de Canudos
- 3 - O que foi a Guerra de Canudos?
- 4 - Quais são as causas da Guerra de Canudos?
- 5 - Participantes da Guerra de Canudos
- 6 - Antônio Conselheiro
- 7 - Comunidade de Canudos
- 8 - Destruição de Canudos
- 9 - Consequências da Guerra de Canudos
Resumo sobre a Guerra de Canudos
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As causas da Guerra de Canudos foram: por parte da Igreja, a perseguição de Antônio Conselheiro, o beato que fazia com que ela perdesse fiéis; por parte dos latifundiários, tentar dar um fim à ocupação de terras e lutas pelo fim da miséria no Nordeste; para o governo baiano, a pressão dos dois últimos setores; e para o governo federal, um impedimento de crise à implementação da República, que estava em curso.
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Os participantes da Guerra de Canudos eram: Antônio Conselheiro e seus seguidores, o exército, a Igreja, os latifundiários, o governo da Bahia e o governo federal.
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Antônio Conselheiro foi um peregrino que, a princípio, caminhava pelos sertões da Bahia e Sergipe, principalmente, pregando de maneira messiânica contra a fome, a seca e a miséria, tecendo críticas políticas à forma como estava se dando a transição republicana e dizendo ser um enviado de Deus para acabar com as desigualdades.
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A comunidade de Canudos era composta por 25 mil pessoas que começaram seguindo Conselheiro e depois e se instalaram junto a ele na fazenda improdutiva chamada Belo Monte depois de ocupá-la.
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A destruição de Canudos aconteceu depois de quatro tentativas: duas do governo da Bahia junto à Igreja e aos coronéis; outra pelo exército brasileiro, que não obteve êxito por não saber lidar com as peculiaridades da região; e a quarta e última, quando, tendo sido chamado de fraco na capital, Prudente de Morais decidiu enviar 5 mil homens altamente munidos, além de canhões para o Nordeste, até então desassistido.
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As consequências da Guerra de Canudos foram a destruição completa de tudo o que havia no arraial, milhares de mortes, fome na região, exposição em praça pública do “troféu” da cabeça de Antônio Conselheiro, além de diversas outras violências e barbaridades praticadas pelas forças armadas ao final do confronto.
Videoaula sobre a Guerra de Canudos
O que foi a Guerra de Canudos?
A Guerra de Canudos foi um confronto bélico entre o exército brasileiro e a comunidade liderada pelo religioso Antônio Conselheiro, em Canudos, interior da Bahia. O conflito aconteceu entre 7 de novembro de 1896 e 5 de outubro de 1897. O governo da época, do presidente Prudente de Morais, do Brasil em processo de passagem para o regime republicano, considerou o movimento “rebelde” e assim enviou o exército para combatê-lo, matando mais de 20 mil pessoas e configurando um dos maiores massacres de nossa história.
Quais são as causas da Guerra de Canudos?
As causas da Guerra de Canudos foram:
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A união entre o governo da Bahia e latifundiários contra a comunidade de Canudos. A justificativa corrente era de que não pagavam impostos e não seguiam as leis vigentes, já que eram seguidores de Antônio Conselheiro, um beato religioso que ditava, naquela comunidade ao seu redor, seus próprios ordenamentos, manifestando-se contrário a questões caras à época, como o casamento civil e o pagamento de impostos. Novos olhares historiográficos enxergam que Canudos foi, na verdade, um dos primeiros movimentos organizados de luta pela terra.
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Em muitas de suas pregações, Antônio Conselheiro dizia-se contra as desigualdades sociais e afirmava ser um enviado de Deus para dar fim às injustiças contra o povo, organizando-se com ele. Logo, a luta contra a fome e a seca, que assolavam o Nordeste brasileiro, foi uma das causas.
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Nesse mesmo sentido, suas falas, que beiravam a um cristianismo primitivo, eram malvistas pela Igreja Católica, que não queria perder seu poder e, por isso, chamava ele e seus seguidores de heréticos, aliando-se aos latifundiários e ao governo.
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A república, que estava em processo de implementação no Brasil, também era alvo de críticas do beato. Os grandes donos de terra o acusavam de querer a volta da monarquia. No entanto, ele tratava da forma como o republicanismo estava sendo concretizado. De todo modo, para o presidente eleito Prudente de Morais, ele representava uma ameaça aos seus poderes.
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Euclides da Cunha, escritor de Os Sertões, que foi durante longo período a principal obra para estudar Canudos, foi para o ambiente dos confrontos para averiguar tudo de perto, tendo em vista suas concepções do positivismo e darwinismo social, comuns à época. Porém, depois, passou a explicar o conflito como uma dicotomia entre o litoral e o sertão, em que um era o civilizado e o outro, a barbárie. Em sua opinião final, ambos eram barbarizados.
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Não há tantas fontes sobre Canudos, por isso a historiografia tem dificuldades em encontrar consensos quanto às suas causas. O que há de concordância diz respeito à violência da repressão e à necessidade de não dar ao acontecimento ares místicos e idealizados na figura do líder beato.
Participantes da Guerra de Canudos
Os participantes e grupos sociais da Guerra de Canudos foram:
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Antônio Conselheiro;
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a comunidade que o seguia, na fazenda Belo Monte (mais de 20 mil pessoas);
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o governo, tanto o da Bahia quanto o brasileiro;
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o exército, com milhares de homens;
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a Igreja Católica, que apoiava o ataque aos “hereges”;
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os latifundiários, irritados com a ocupação de terras e com pregações que falavam em igualdade.
Antônio Conselheiro
Antônio Conselheiro era um religioso e foi uma figura mítica na Guerra de Canudos, liderando a comunidade.
Canudos é um movimento considerado messiânico, com aproximações com o sebastianismo — crença difundida em Portugal, após o sumiço do monarca Dom Sebastião, de que ele voltaria como um messias que levaria o país de volta à prosperidade. Tal mito chegou ao Brasil com bastante força e influenciou o beato nordestino, que citava o rei português em seus discursos.
Ele e seus seguidores ocuparam, em 1893, uma fazendo chamada Belo Monte, de terras improdutivas, no interior da Bahia, local de muita seca e desigualdades, já que não era costume entre os governantes dar a devida atenção ao sertão do país. Além disso, a abolição da escravatura era muito recente e havia sido feita de maneira tal que os negros e negras, antes escravizados, ficaram completamente desassistidos, restando-lhes a fome e a miséria.
As fontes históricas revelam que as primeiras aparições para um público maior, já iniciando a típica caracterização difundida do religioso, foram em um jornal sergipano, em 1874, quando ele ainda não era conhecido como Antônio Conselheiro, e sim como Antônio dos Mares, uma figura mítica que andava por terras sertanejas erguendo capelas, igrejas e cemitérios, declamando suas críticas políticas, profecias religiosas e conselhos, os quais, mais tarde, conferiram a ele a alcunha pela qual ficou conhecido.
Tais ações atraíram muita gente, sendo a maioria pessoas muito pobres, que passaram a segui-lo em suas peregrinações, até chegarem ao Arraial de Canudos-BA.
Sua biografia diz que ele nasceu no Ceará, na cidade de Quixeramobim, em 1828, com o nome de batismo Antônio Vicente Mendes. Estudou português, francês e latim e assumiu os negócios da família depois da morte do pai, que era comerciante. Casou-se em 1857.
Alguns historiadores apresentam hipóteses de que ele teria sido também professor e caixeiro-viajante e que suas perambulações iniciaram depois que sua esposa fugiu de casa para viver com um militar. Ele teria, então, jurado vingança e fora assolado por grande sentimento de vergonha, que o fez começar a andar, inicialmente, no sertão de Sergipe. Casou-se novamente e teve um filho com uma artesã, mas os abandonou para continuar caminhando.
Foi indiciado e preso, em 1877, pela morte de sua mulher e a mãe, mas logo solto, pois não existiam provas suficientes contra ele. Continuou as andanças até a ocupação da fazenda, já citada. A multidão de seguidores às voltas dele chegaram a cerca de 25 mil pessoas em 1895, um ano antes da Guerra de Canudos.
Faleceu por razões obtusas, em 22 de setembro de 1897, sendo encontrado pelos militares, que já haviam invadido Canudos e realizado consecutivos combates. Depois de morto, sua cabeça foi cortada para que pudessem estudar como era o “cérebro de um louco”.
Comunidade de Canudos
A comunidade de Canudos era localizada no extremo norte da Bahia, próximo ao estado do Sergipe, conforme mostra o mapa abaixo. Foi fundada em 1893, quando Antônio Conselheiro e seus seguidores ocuparam a fazenda Belo Monte. O terreno ficava às margens do rio Vaza-Barris. O Arraial de Canudos chegou a ter uma população de 25 mil pessoas, que o consideravam como a “terra prometida”.
O que atraía tantos sertanejos pobres para lá eram não só os discursos religiosos de salvação das almas e as críticas políticas, mas também o fato de não haver diferenças dentro da comunidade, já que o que plantavam e os animais que criavam eram divididos entre todos igualmente. Assim, a Igreja perdia fiéis, e os latifundiários perdiam trabalhadores, visto que alguns desses membros da comunidade eram ex-jagunços ou ex-cangaceiros e eram eles que faziam a segurança de todos do arraial.
Destruição de Canudos
Canudos foi destruída depois de várias tentativas. A primeira e a segunda delas foram pelo governo da Bahia, pressionado pela Igreja junto aos coronéis locais, que mandou duas campanhas, que foram derrotadas pela comunidade da fazenda Belo Monte.
A terceira foi enviada pela vice-presidência da república, de Manuel Vitorino, que estava substituindo o então presidente Prudente de Morais. Esta também foi derrotada, e o próprio coronel que comandava a expedição foi executado em uma das batalhas, ferindo a “honra militar”, contrária ao que chamavam de fanáticos. Tal episódio gerou crise para o governo federal, que, na capital, Rio de Janeiro, era chamado de fraco.
As vitórias em Canudos aconteciam porque, além de terem numerosos combatentes — homens adultos e jovens —, esses eram bem treinados, sobretudo para embates na Caatinga (vegetação típica da região onde moravam), diferentemente dos oficiais do exército, que vinham do litoral e não suportavam o clima quente, as árvores cortantes, entre outras características do bioma. O componente religioso, obviamente, era fundamental, afinal acreditava-se que o arraial era a “terra prometida” e que aquela era uma “guerra santa”.
A quarta e última expedição foi massacrante. O presidente, visando a recuperar seu prestígio, ordenou que o ministro da Guerra enviasse milhares de homens. Assim marechal Bitencourt o fez: foram 5000, junto a canhões que bombardearam Canudos, executando dezenas de milhares de pessoas, no dia 5 de outubro de 1897.
Leia também: Lampião — a história do chefe cangaceiro mais famoso da história brasileira
Consequências da Guerra de Canudos
As consequências da Guerra de Canudos foram:
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milhares de mortos;
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aumento da pobreza no Nordeste.
Além disso, houve a exposição em praça pública do cadáver de Antônio Conselheiro, antes que fosse enviado para estudos, conforme vimos anteriormente. A cabeça do beato foi o troféu do exército brasileiro, que não só matou tantas pessoas como ateou fogo a tudo o que havia no arraial, prendeu ou degolou os que não tinham morrido com os canhões, estuprou as mulheres da comunidade e matou até mesmo as crianças.
Porém, Canudos não foi a única revolta do período. A Primeira República ainda enfrentaria:
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greves;
Fontes:
MAIA, Cláudio Lopes (org.). Canudos - Um povo entre a Utopia e a Resistência. Goiânia: CEPEC, 1999.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
Professora de História