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O cangaço foi um movimento de banditismo ocorrido no final do século XIX e início do XX na região Nordeste do Brasil. Os bandos eram formados por habitantes da região semiárida nordestina que, organizados, praticavam diversos delitos, como roubo a cidades, sequestros, assassinatos e estupros. O movimento foi combatido violentamente pelo governo brasileiro da época.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o cangaço
- 2 - O que foi o cangaço?
- 3 - Qual a origem da palavra “cangaço”?
- 4 - Origem e história do cangaço
- 5 - Quais são as características do cangaço?
- 6 - Atuação dos cangaceiros no sertão
- 7 - Lampião e Maria Bonita
- 8 - Morte de Lampião
- 9 - Alguns dos principais cangaceiros
- 10 - Consequências do cangaço
Resumo sobre o cangaço
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O cangaço foi um movimento de banditismo ocorrido no Nordeste do Brasil entre o final do século XIX e início do século XX.
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Existem duas visões que explicam o cangaço na historiografia brasileira: a primeira o classifica como forma de resistência social e luta contra a opressão; a segunda o classifica como crime organizado, sem qualquer orientação política e social.
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Os grupos cangaceiros eram formados por habitantes da região do semiárido nordestino e viviam da prática de diversos delitos, como o roubo a cidades, sequestros, assassinatos e estupros.
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Em diversas cidades brasileiras do Nordeste, existem memoriais da resistência, museus que conservam a memória da luta local contra a invasão de grupos cangaceiros.
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O casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita são um dos casais mais conhecidos da história do Brasil.
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O grupo cangaceiro mais famoso foi o liderado por Lampião, considerado o “rei do cangaço”. Seus integrantes foram perseguidos e mortos em 1938 por forças policiais do governo, tendo sido os principais líderes decapitados.
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Na cultura popular, o cangaço é representado na literatura de cordel, no cinema e nas artes plásticas, que conservam a memória das vestimentas típicas.
O que foi o cangaço?
O cangaço foi um movimento de banditismo social ocorrido na região semiárida do Nordeste brasileiro, entre o período final do Segundo Reinado (1840-1889), aproximadamente a década de 1860, e a década de 1930. O termo “banditismo social” foi desenvolvido pelo historiador britânico Eric Hobsbawn na década de 1960, que o explica como um fenômeno de revolta social de comunidades camponesas no contexto da transição para o capitalismo agrário.
É importante destacar que existem diferentes visões sobre o cangaço na historiografia brasileira:
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Alguns trabalhos, como o da historiadora Maria Christina Russi da Matta Machado e do geógrafo Wilson Alvares dos Santos, apresentam o cangaço como um movimento social causado pela seca, pela opressão da população pobre camponesa nordestina e pelo contexto político e econômico da região. Essa compreensão caracteriza a corrente que, fruto da historiografia da década de 1960, apresenta o cangaço como um fenômeno social, formado por bandoleiros que faziam parte da população pobre e a defendiam da opressão dos coronéis.
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Outros trabalhos, como a do historiador Luiz Bernardo Pericás, apresenta o movimento como um fenômeno de crime organizado, responsável por roubos, assassinatos, estupros, sequestros e extorsões, sem qualquer finalidade política ou contestatória. Essa compreensão caracteriza a corrente que, fruto da historiografia dos anos 2000, apresenta os cangaceiros como criminosos que não lutavam para a manutenção ou mudança de nenhuma ordem política, interessados apenas no cometimento de crimes em seus próprios interesses.
Qual a origem da palavra “cangaço”?
A palavra “cangaço” tem origem no termo “canga”, que era uma peça de madeira utilizada para prender o carro de bois aos animais que o puxavam.
A referência está na forma como o objeto é utilizado: no veículo, os bois levavam sobre o pescoço um equipamento (canga) muito pesado; os cangaceiros utilizavam diversos apetrechos atados às suas vestimentas, nos quais carregavam armas, munição, água, pinga, alimentos e até itens de higiene. Mesmo antes do movimento social, o linguajar popular chamava de “cangaceiros” indivíduos que carregavam produtos pesados e diversos atados ao corpo. Então, o termo foi transposto aos membros do movimento, dada a forma de transportar seus pertences.
Origem e história do cangaço
Historiadores e especialistas apontam as origens do cangaço ao período final do Segundo Reinado, aproximadamente nas décadas de 1860 a 1890.
Nessa época, a região semiárida do Nordeste brasileiro era governada pelos coronéis, políticos da região que também eram grandes e ricos fazendeiros. Em paralelo, as condições naturais de seca e falta de alimentos levavam uma grande parte da população à fome e miséria. Dentro desse cenário, surgem os grupos cangaceiros, que através de atos de crime e violência ganhavam a vida.
Durante o final da Primeira República, diversos governos combateram a ação dos cangaceiros no Nordeste. Apesar disso, os mais importantes grupos foram capturados e mortos apenas no Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.
Quais são as características do cangaço?
Os grupos do cangaço eram nômades e praticavam diversos delitos, como o roubo em diversas cidades, assassinatos, sequestros e estupros. Existiram pelo menos dois tipos diferentes de cangaceiros:
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Cangaceiros satisfatórios: eram organizados e contratados pelos fazendeiros e faziam trabalhos milicianos sob suas ordens.
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Cangaceiros independentes: praticavam o banditismo e agiam por conta própria.
Atuação dos cangaceiros no sertão
O primeiro grupo cangaceiro se organizou por volta de 1828, liderado por Lucas Evangelista, que agiu na região de Feira de Santana (Bahia) até ser capturado e morto em 1848.
Outro dos primeiros grupos foi o liderado por Jesuíno Brilhante, que a partir de 1870 praticou diversos crimes na região da cidade de Patu, entre os estados de Rio Grande do Norte e Paraíba.
O mais famoso desses grupos foi o liderado por Virgulino Ferreira, conhecido como Lampião, considerado o “rei do cangaço”, atuante entre as décadas de 1920 e 1930 em todos os estados do Nordeste.
O último dos grupos cangaceiros foi o liderado por Corisco, também conhecido como “Diabo Louro”, ex-membro do grupo de Lampião, morto em 1940. O último membro do grupo de Lampião, no entanto, morreu com 97 anos de idade em 2014, seu nome era José Alves de Matos.
Lampião e Maria Bonita
Lampião era o nome de cangaceiro de Virgulino Ferreira da Silva, nascido em Serra Talhada, Pernambuco. Há controvérsias quanto a sua data de seu nascimento: sua certidão de batismo aponta 4 de junho de 1898, mas o próprio Lampião informou a um entrevistador cearense chamado Leonardo Mota que nascera em 12 de fevereiro de 1900. O nome deriva da habilidade de Lampião em atirar, pois o cangaceiro era tão hábil com um rifle que ao atirar repetidamente o cano da arma aquecia, adquirindo uma coloração parecida com a de um lampião aceso.
Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, era uma mulher casada quando conheceu Lampião. Em 1929, Maria Bonita se tornou amante de Lampião e fugiu com o cangaceiro, ingressando no seu bando. Apesar da estrutura machista do movimento e da sociedade da época, Maria Bonita era respeitada dentro do bando. Juntos, tiveram uma filha, chamada Expedita Gomes de Oliveira Ferreira, que supostamente foi separada dois pais devido às regras do bando e criada por um casal amigo.
Confira nosso podcast: As verdades sobre como era a vida das mulheres do cangaço
Morte de Lampião
Em uma fazenda chamada Angicos, na cidade de Poço Redondo, Sergipe, o grupo cangaceiro de Lampião foi cercado por tropas do governo em 1938, que portavam armas de maior tecnologia, como metralhadoras portáteis. Diante da infiltração silenciosa dos policiais e da superioridade das armas, o bando foi morto em cerca de 20 minutos.
Na época, o grupo contava com cerca de 34 membros, dos quais 11 morreram nos primeiros minutos, inclusive Lampião. Poucos membros do grupo conseguiram escapar e sobreviveram, enquanto o restante foi decapitado e teve seus bens apreendidos pelos policiais. As cabeças dos cangaceiros mortos foram expostas em praça pública, na cidade de Piranhas, Alagoas.
Alguns dos principais cangaceiros
Além dos nomes de Lampião e Maria Bonita, em seu bando estavam outros famosos cangaceiros, como Quinta-Feira, Mergulhão, Luís Pedro, Elétrico e Alecrim. Existiram outros bandos famosos, como os de Lucas Evangelista, considerado o primeiro cangaceiro, o de Jesuíno Brilhante, atuante na década de 1870, e o de Corisco, considerado o último grupo cangaceiro da época. A seguir, veja uma lista com os apelidos e nomes de alguns dos principais cangaceiros:
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Lampião (Virgulino Ferreira);
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Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira);
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Quinta-Feira (Jorge Horácio Villar);
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Mergulhão (Antonio Juvenal da Silva);
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Luiz Pedro;
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Elétrico (Manoel Miguel dos Anjos);
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Alecrim (Pedro Vieira da Silva);
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Lucas da Feira (Lucas Evangelista);
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Jesuíno Brilhante (Jesuíno Alves de Melo Calado);
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Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto).
Consequências do cangaço
O cangaço teve diversas consequências. Do ponto de vista cultural, se tornou um grande tema no imaginário nordestino e brasileiro, assunto da literatura de cordel, de peças teatrais, filmes, músicas e artes plásticas. Do ponto de vista político, representou a falta de controle institucional dos governos nordestinos para com sua própria população, por isso o movimento foi combatido tão violentamente pelo governo. Diversas cidades, como Mossoró (no Rio Grande do Norte), possuem memoriais da resistência, museus que retratam as histórias de resistência das populações às invasões de diversos grupos cangaceiros.
Crédito de imagem
[1] Pacífico Medeiros / MTur Destinos / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
MACHADO, M. C. R. da M. Aspectos do fenômeno do cangaço no Nordeste Brasileiro – I a V. Revista de História, v. 46, 47 e 49 n. 93, p. 139-175, 1973. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/131939.
SANTOS, Wilson Alvares dos. Cangaço: um movimento social. Revista Caribeña de Ciencias Sociales, p. 1-8, 2018. Disponível em: https://dspace.unila.edu.br/bitstream/handle/123456789/4026/cangaco-movimento-social.pdf.
PERICÁS, Luiz Bernardo. Os Cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. São Paulo: Editora Boitempo, 2011.
Por Tiago Soares Campos
Professor de História