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Ao adentrarmos à República Oligárquica, observamos que as instituições políticas eram amplamente dominadas por uma elite proprietária de terras localizada na parte rural do país. Observando essa configuração, incorremos no fácil equívoco de se concluir que as elites pensavam de um mesmo modo e, por tal razão, se alternavam no poder sem maiores contendas. Analisando as práticas da época, notamos que a natureza excludente do cenário político era capaz de nutrir a rivalidade no interior das próprias elites.
No governo do Marechal Hermes da Fonseca, por exemplo, a chamada política de salvações impôs a deposição dos governos estaduais e locais que não estivessem declaradamente apoiando o governo central. Em estados como Alagoas, Pernambuco e Bahia, notamos que a interferência acabou surtindo efeito. Contudo, outros estados acabaram resistindo a ação autoritária do presidente através da organização de levantes e outros episódios de conflito.
No Ceará, Franco Rabelo recebeu o apoio de Hermes da Fonseca contra o tradicional domínio da família Acioly no estado. Mediante a ação do governo central, os antigos detentores do poder acionaram a figura política e religiosa do Padre Cícero, mais conhecido como “Padim Ciço”, para mudar os destinos da intervenção oficial. Nessa época, o clérigo em questão tinha um forte apelo entre as camadas populares cearenses, principalmente da região de Juazeiro do Norte, sendo considerado um homem santo.
Em um tempo em que a miséria e a demagogia imperavam com grande força entre a população mais humilde, a conclamação do Padre Cícero para a guerra acabou sendo prontamente respondida por uma grande quantidade de sertanejos armados. Naquela situação, o uso das armas não exprimia a defesa de uma perspectiva política. Muitos daqueles sertanejos, ao cumprirem o chamado do afamado padre, acreditavam estar executando uma reivindicação de ordem divina.
Ao fim dos combates, deflagrados em 1914, o presidente acabou sendo obrigado a se subordinar ao retorno dos Acioly ao governo cearense. Valendo-se da fé alheia, a antiga oligarquia interrompeu a ação da “política salvacionista” autoritariamente implantada naqueles tempos. Por meio dessa situação, podemos perceber que o regime oligárquico não pode ser visto e analisado como um bloco hegemônico. Por sua forte natureza imobilista, o tempo das oligarquias abria campo para tais contendas internas.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola
Rebeliões na República Velha - Brasil República
História do Brasil - Brasil Escola