PUBLICIDADE
A Revolta da Vacina foi um levante popular que aconteceu em 1904 e foi motivado pela insatisfação da população com a campanha de vacinação obrigatória. Essa insatisfação foi gerada por falta de informação e aconteceu em um momento de agitação no Rio de Janeiro, resultado das reformas conduzidas na cidade por Rodrigues Alves e Pereira Passos.
Leia também: Revolta da Chibata — levante conduzido por marinheiros negros no Rio de Janeiro em 1911
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Revolta da Vacina
- 2 - Contexto da Revolta da Vacina
- 3 - Causas da Revolta da Vacina
- 4 - Estouro da Revolta da Vacina
- 5 - Consequências da Revolta da Vacina
Resumo sobre a Revolta da Vacina
-
A Revolta da Vacina foi um motim popular, em 1904, contra a vacinação obrigatória empreendida por Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.
-
Na época, o Rio de Janeiro, que era capital do Brasil, enfrentava diversas epidemias, o que motivou a realização de reformas na cidade, inclusive uma campanha sanitarista.
-
Oswaldo Cruz foi nomeado líder para tratar os problemas sanitários, e três doenças se tornaram alvo: febre amarela, varíola e peste bubônica.
-
Contra a varíola, Oswaldo Cruz ordenou a vacinação obrigatória, o que levou a população à revolta.
-
Do dia 10 até 16 de junho de 1904, intensos protestos aconteceram, até que o presidente mobilizou o exército e decretou estado de sítio.
-
As consequências da revolta incluíram 31 mortos e 461 pessoas degredadas para o Acre. Em contrapartida, a varíola foi erradicada do Rio de Janeiro.
Contexto da Revolta da Vacina
No começo do século XX, o Rio de Janeiro era a capital e a maior cidade do Brasil. A cidade tinha passado por eventos significativos nas últimas décadas, como a Proclamação da República e a Revolta da Armada. No ano de 1904, mais um desses eventos significativos marcou essa cidade.
Nesse período, o Rio de Janeiro tinha por volta de 800 mil habitantes e a fama de ser uma cidade onde as pessoas padeciam de diferentes doenças. O crescimento desordenado e a grande circulação de pessoas, somados à falta de estrutura da cidade e saneamento precário, fizeram com que diferentes epidemias se espalhassem por lá todos os anos.
Doenças como varíola, tuberculose, malária, febre amarela, cólera, entre outras, espalhavam-se facilmente, causando a morte de milhares de pessoas anualmente. Inúmeros dados estatísticos comprovam isso|1|.
-
Em 1850-51, 1/3 da cidade contraiu febre amarela (90 mil dos 270 mil habitantes). Desses, mais de 4 mil morreram.
-
Em 1873, 3.659 pessoas morreram de febre amarela e, em 1876, 3.476 pessoas morreram pela mesma doença.
-
Em 1891, mais de 11 mil pessoas morreram de diferentes doenças: febre amarela, varíola, tuberculose e malária.
A medicina da época mostrou-se incapaz de solucionar o problema das doenças que tanto afetavam a capital do Brasil. Muitos médicos cogitavam que o grande número de epidemias no Rio de Janeiro tinha relação com os miasmas, os odores pútridos que circulavam pelos ares da cidade. Os médicos culpavam os pântanos como emissores dos miasmas e falavam que os morros os impediam de se dissiparem.
Além disso, muitos médicos falavam que a aglomeração de pobres na região central e os seus “maus hábitos” contribuíam para deixar aquela região da cidade como uma das mais castigadas pelas doenças. Assim, muitas áreas pantanosas no Rio de Janeiro foram aterradas e ideias de expulsar os pobres do centro do Rio de Janeiro ganharam força.
Causas da Revolta da Vacina
→ Rodrigues Alves e a reforma do Rio de Janeiro
A ideia de reforma do Rio de Janeiro ganhou força com Rodrigues Alves, presidente eleito em 1902. Ele prometeu realizar a reforma da capital inspirando-se no exemplo da reforma de Paris. Para isso, ele nomeou Francisco Pereira Passos como prefeito do Rio de Janeiro.
A reforma do Rio de Janeiro foi concentrada na região central, local que possuía ruas estreitas e grande concentração populacional por conta dos cortiços, construções residenciais que abrigavam milhares de pessoas. Esses locais eram habitados exclusivamente por pobres, incluindo ex-escravos e seus descendentes.
Esse empreendimento colocou em prática todo o autoritarismo do presidente e do prefeito. Dezenas de prédios foram demolidos para que novas avenidas fossem construídas, assim como novos prédios, como o Theatro Municipal. A prefeitura também fez exigências que afetaram comerciantes e usou a polícia para reprimir manifestações culturais, como as festas de Carnaval.
A reforma arquitetônica do Rio de Janeiro forçou os moradores pobres do centro a se mudarem para locais mais precários no centro, mas muitos foram obrigados a se mudar para os morros da cidade. Além disso, junto da reforma arquitetônica, a cidade passou por uma grande operação sanitarista, que ficou a cargo da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) e seu chefe, o sanitarista Oswaldo Cruz.
→ Campanha sanitarista de Oswaldo Cruz
Quando Oswaldo Cruz foi nomeado para lidar com os problemas sanitários do Rio de Janeiro, três doenças foram eleitas os alvos principais: febre amarela, varíola e peste bubônica. Para a febre amarela, a DGSP realizou a formação de brigadas de mata-mosquitos, que tinham como função passar de residência em residência atrás de focos do mosquito responsável pela transmissão da doença.
Os mata-mosquitos adentravam casas à força atrás dos focos e para fazer a higienização. Eles também poderiam exigir a reforma de uma construção, assim como sua interdição. Por fim, os mata-mosquitos ainda levavam todos os doentes para hospitais localizados em Caju (bairro no Rio de Janeiro) e Niterói. Os que contraíam doenças contagiosas mais graves, como a varíola, eram levados para outros hospitais.
Para combater a peste bubônica, foi iniciada uma campanha de extermínio de ratos no Rio de Janeiro. A população foi incentivada a capturar e entregar os ratos para a DGSP e, em troca, receberia uma compensação financeira. Logo, muitos moradores fizeram criadores de ratos para garantir uma renda extra.
No caso da varíola, a campanha foi bem controversa e desagradou a população, levando-a a se rebelar. Oswaldo Cruz propôs a vacinação obrigatória contra a varíola, e a população, insatisfeita com isso, foi às ruas.
Leia também: 4 doenças que levaram a grandes epidemias na história
Estouro da Revolta da Vacina
Em junho de 1904, foi proposta a lei que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. A lei não agradava muito à população, principalmente pelo amplo desconhecimento e desinformação. A insatisfação popular se manifestou pela formação de instituições que atuavam contra a obrigatoriedade da vacina.
Essa insatisfação popular seguiu até que, no dia 9 de novembro, a imprensa divulgou que uma nova lei seria debatida: essa lei criava restrições para as pessoas que não se vacinassem. Assim, os não vacinados não poderiam, por exemplo, casar-se. Isso foi o estopim para que a população fosse às ruas para protestar contra a vacina.
Os locais que concentraram os protestos foram o centro e a região portuária. Do dia 10 até o dia 16, protestos intensos aconteceram em vários locais e houve destruição de bondes, lampiões da iluminação pública e até do chão das ruas. Manifestantes e polícia trocaram tiros e até paralelepípedos foram lançados contra as forças de repressão.
Consequências da Revolta da Vacina
O presidente Rodrigues Alves mobilizou o exército para conter a situação, e só depois do decreto do estado de sítio, no dia 16, a situação ficou sob controle. No meio dos protestos, militares insatisfeitos, sob a liderança do marechal Hermes da Fonseca, tentaram realizar um golpe contra o presidente. Ele chegou a cogitar fugir, mas permaneceu na capital, e os golpistas foram derrotados.
O saldo da Revolta da Vacina foi:
-
31 mortos;
-
110 feridos;
-
461 degredados para o Acre.
A campanha de vacinação conseguiu erradicar a varíola do Rio de Janeiro.
Créditos da imagem
[1] Domínio público / Acervo do Instituto Moreira Salles
Notas
|1| BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Brasil Republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 215-272.
Fontes
BENCHIMOL, Jaime Larry. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Brasil Republicano: o tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p. 215-272.
CARVALHO, José Murilo de. O povo contra a vacina. In.: FIGUEIREDO, Luciano (org.). História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 352-358.
Por Daniel Neves Silva
Professor de História