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Crase

Crase é um fenômeno linguístico em que ocorre a contração da preposição “a” com o artigo definido “a(s)”. O acento que indica essa contração é chamado de acento grave.

Crase escrito em fundo amarelo.
O uso da crase costuma ser uma grande dificuldade aos estudantes.
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Crase é o nome que se dá à união da preposição “a” com o artigo definido “a(s)”, ou com o “a” inicial dos pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo”, ou, ainda, com o “a” inicial dos pronomes relativos “a qual” e “as quais”.

Ao acento indicador de crase dá-se o nome de acento grave. No entanto, existem algumas regras para usar a crase e alguns macetes para nunca deixar de fazer o seu uso correto. É o que veremos a seguir.

Leia também: Regência verbal – um processo que se relaciona à crase

Tópicos deste artigo

Quando usar a crase?

Quando o complemento de um verbo que exija a preposição “a” for um substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”:

Vamos à loja para comprar outros enfeites.

Observe: Vamos a + a loja = Vamos à loja.

Quando o complemento de um nome que exija a preposição “a” for um substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”:

Ela se mostrou favorável à medida proposta pela vereadora.

Observe: Ela se mostrou favorável a + a medida = Ela se mostrou favorável à medida.

Quando os pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo” exercem a função de complemento de termo que exija a preposição “a”:

  • Somos contrários àqueles que defendem o radicalismo.

  • Devo obedecer àquilo em que acredito.

  • Estou referindo-me àquelas semanas em que não pude vir trabalhar.

Portanto:

  • Somos contrários a + aqueles = Somos contrários àqueles.

  • Devo obedecer a + aquilo = Devo obedecer àquilo.

  • Estou referindo-me a + aquelas = Estou referindo-me àquelas.

Atenção! O pronome demonstrativo pode estar implícito (oculto). Nesse caso, ocorre a crase:

Não me refiro a essa, mas à da direita.

Observe: Não me refiro a essa, mas a (aquela) da direita = Não me refiro a essa, mas àquela da direita.

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Quando os pronomes relativos “a qual” e “as quais” exercem a função de complemento de termo que exija a preposição “a”:

  • A peça à qual assisti não valeu um centavo do que paguei.

  • As tarefas às quais nos dedicamos cotidianamente são sempre essenciais.

Assim:

  • Assisti a + a peça = Assisti à peça.

  • Dedicamo-nos a + as tarefas = Dedicamo-nos às tarefas.

No entanto, o pronome “a qual” se refere ao termo anterior “peça”, no primeiro exemplo, e o pronome “as quais” se refere ao termo anterior “tarefas”, no segundo exemplo. Nesse caso, o acento grave é colocado sobre o “a” dos pronomes relativos “a qual” e “as quais”. Portanto: “A peça à qual assisti” e “As tarefas às quais nos dedicamos”.

Leia também: A ou há?

Em locuções adverbiais femininas com substantivos no singular ou plural, como: à tarde, à vontade, às vezes, às pressas, às quatro horas etc.:

  • Vocês estão em minha casa, podem ficar à vontade.

  • Não vale a pena decidir às pressas o que fazer nas férias.

Exceção à regra é a locução “a distância”, se não estiver determinada:

  • Estávamos observando tudo a distância.

  • Estávamos observando tudo à distância de cinco metros.

Nas locuções conjuntivasà medida que” e “à proporção que”:

À medida que amadurecemos, passamos a dar valor ao silêncio.

Antes de palavra masculina (inclusive no plural), caso haja uma palavra feminina implícita:

Necessitamos, com urgência, ir à abastecimentos.

Isto é: Necessitamos, com urgência, ir à (central de) abastecimentos.

Mulher fazendo sinal de joia para representar o uso da crase.
Há algumas regras para o uso da crase.

Quando não usar a crase?

Antes de verbos:

Meu primo começou a cumprir pena socioeducativa.

Antes de pronome pessoal:

Não tenho que dar satisfações a ela.

Veja também: Pronomes de tratamento – um tipo específico de pronome pessoal

Antes de palavras masculinas:

  • Era um sentimento muito semelhante ao amor.

  • Era um sentimento muito semelhante a amor.

Portanto, a próxima frase está incorreta:

Era um sentimento muito semelhante à amor.

Atenção! Pode ocorrer crase diante de palavra masculina quando ela for precedida de palavra feminina implícita na frase:

Era uma pintura à Leonardo da Vinci.

Entende-se:

Era uma pintura à (maneira de) Leonardo da Vinci.

Entre palavras idênticas repetidas, como nas expressões: cara a cara, boca a boca etc.:

Depois do afogamento, foi preciso fazer respiração boca a boca.

Antes das palavras “casa” (no sentido de “lar”) e “terra” (em sentido oposto a “bordo”):

  • Vou a casa no próximo fim de semana.

  • Ao chegar a terra, o marinheiro foi até o local marcado.

No entanto, se essas duas palavras (“casa” e “terra”) forem qualificadas, ocorrerá a crase:

  • Vou à casa de minha irmã no próximo fim de semana.

  • Ao chegar à terra dos renegados, o marinheiro foi até o local marcado.

Antes de palavra feminina de caráter genérico:

  • Não cheguei a conclusão alguma.

  • Não peço nenhum favor a pessoas de caráter duvidoso.

Antes de nome de cidade ou vila:

  • Chegar a Fortaleza é como voltar para casa.

  • Fiz referência a Jericoacoara em minha tese de doutorado.

Antes de nomes de pessoas famosas:

O artigo estava relacionado a Marie Curie.

Antes dos seguintes pronomes: “ninguém”, “essa”, “toda”, “cada”, “qualquer”, “tudo”:

Ela devia dar satisfações a toda a gente, a cada pessoa prejudicada.

Antes do artigo indefinido “uma”:

Não se deve dar crédito a uma pessoa que mente.

Antes de numerais:

Eles foram comparados a duas crianças mimadas.

Antes de expressões adverbiais de modo com substantivo no plural:

  • A trancos e barrancos, conseguiu chegar até o fim da maratona.

  • Os funcionários resolveram tudo a pauladas.

Depois da palavra “candidata”:

Luciana foi candidata a prefeita nas últimas eleições.

Mulher fazendo sinal de negativo para representar os erros de uso da crase
Para não usar a crase de maneira incorreta, é preciso atenção.

Casos facultativos de uso da crase

Antes de pronomes possessivos femininos:

Não dão valor à nossa opinião.

ou

Não dão valor a nossa opinião.

Antes de nome próprio feminino:

Fizemos referência a Joana.

ou

Fizemos referência à Joana.

José de Nicola e Ulisses Infante defendem que, nesse caso, o uso do artigo “a” é facultativo. Segundo eles, uma forma de verificar isso é substituir, na frase, o termo que exige a preposição “a” por um termo que exige outro tipo de preposição. Veja um exemplo:

Não falamos da Joana

ou

Não falamos de Joana.

Isso, de acordo com esses gramáticos, demonstra que o uso do artigo é facultativo; consequentemente, o uso da crase também.

Já Luiz Antonio Sacconi defende que só “acentuamos o ‘a’ antes de nomes de pessoas quando se tratar de indivíduo que faça parte do nosso círculo de amizades, indivíduos aos quais damos tratamento íntimo: a Marisa, a Bete, a Rosa etc. Ex.: Refiro-me à Marisa, e não à Bete”. No entanto, apesar disso, ele considera esse uso facultativo.

Antes de locuções adverbiais femininas indicativas de instrumento, em regra, não se deve utilizar a crase:

Não se pode resolver os conflitos a bala.

No entanto, muitos gramáticos entendem que o uso do acento grave, nesses casos, é facultativo:

Não se pode resolver os conflitos à bala.

Antes dos seguintes nomes de lugar: Europa, Ásia, África, França, Inglaterra, Espanha, Holanda, Escócia e Flandres. Assim:

Não podemos mais voltar à Escócia.

ou

Não podemos mais voltar a Escócia.

Na locução prepositivaaté a”, antes de substantivo feminino:

Chegaram até a praia e desistiram de nadar.

ou

Chegaram até à praia e desistiram de nadar.

Homem fazendo sinal de positivo e negativo para representar o uso opcional da crase
Às vezes, o uso da crase é uma opção.

Dicas/macetes para o uso correto da crase

O principal macete para você descobrir se deve ou não usar a crase é substituir a palavra feminina que vem depois da possível crase por uma palavra masculina equivalente:

Eu cheguei à escola de Marcelo.

Façamos então a substituição:

Eu cheguei ao colégio de Marcelo.

Note que, ao fazer essa alteração, é possível perceber a presença do artigo definido masculino “o” antes do substantivo “colégio”, o que indica a presença do artigo definido feminino “a” antes do substantivo “escola”.

Assim, temos:

  • Eu cheguei a + a escola de Marcelo = Eu cheguei à escola de Marcelo.

  • Eu cheguei a + o colégio de Marcelo = Eu cheguei ao colégio de Marcelo.

Fica a dica escrito em fundo branco para representar a ideia de dicas sobre a crase
Para saber quando usar a crase, há alguns truques.

Outro macete, semelhante ao primeiro, é substituir o artigo definido feminino “a” pelo artigo indefinido feminino “uma”. Se é possível utilizar esse segundo artigo, é porque a presença de um artigo feminino é necessária na frase:

Assisti à luta de boxe no último domingo.

Façamos a substituição:

Assisti a uma luta de boxe no último domingo.

Desse modo, temos:

  • Assisti a + a luta de boxe = Assisti à luta de boxe.

  • Assisti a + uma luta de boxe = Assisti a uma luta de boxe.

Outra maneira de ter certeza da ocorrência ou não da crase, no caso de verbos que indicam movimento, como “ir”, “chegar” etc., é substituir esses verbos por outros que indiquem procedência, como “vir”, “partir” etc., ou mesmo localização, como “estar”, “ficar” etc.:

Chegamos a Fortaleza na manhã de sábado.

Então substituímos por:

Partimos de Fortaleza na manhã de sábado.

E também por:

Ficamos em Fortaleza na manhã de sábado.

Perceba que, nas duas substituições, nota-se apenas a presença de preposição, mas não de artigo. Portanto, em “Chegamos a Fortaleza na manhã de sábado”, não pode ocorrer crase.

Veja também: Uso da vírgula – como usar esse importante sinal de pontuação

Exercícios resolvidos sobre crase

Questão 1 (Enem)

 

O cartaz de Ziraldo faz parte de uma campanha contra o uso de drogas. Essa abordagem, que se diferencia das de outras campanhas, pode ser identificada

a) pela seleção do público-alvo da campanha, representado, no cartaz, pelo casal de jovens.

b) pela escolha temática do cartaz, cujo texto configura uma ordem aos usuários e não usuários: diga não às drogas.

c) pela ausência intencional do acento grave, que constrói a ideia de que não é a droga que faz a cabeça do jovem.

d) pelo uso da ironia, na oposição imposta entre a seriedade do tema e a ambiência amena que envolve a cena.

e) pela criação de um texto de sátira à postura dos jovens, que não possuem autonomia para seguir seus caminhos.

Resolução

Alternativa “c”. Se, no cartaz, o acento grave tivesse sido usado em “Não à droga!”, o sentido do texto seria: “Quem escolhe seu caminho é você” mais a frase complementar “Não à droga!”, isto é, dizer “não” à droga. No entanto, sem o uso do acento grave, temos outro sentido: “Quem escolhe seu caminho é você”, “não a droga!”, ou seja, a droga não escolhe o caminho do interlocutor.

Questão 2 - Leia a primeira estrofe do poema “A voz dos animais”, da poetisa Francisca Júlia:

O peru, em meio à bulha
De outras aves em concerto,
Como faz de leque aberto?
— Grulha.

A justificativa para o uso do acento grave no trecho em destaque é:

a) Em “à bulha”, ocorre a fusão entre a preposição “a” e o artigo definido “a”.

b) A palavra “bulha” é substantivo masculino precedido de preposição.

c) A palavra “bulha” é verbo conjugado na terceira pessoa do singular precedido de preposição.

d) A palavra “bulha” é uma palavra feminina de caráter genérico precedida de preposição.

e) O termo “à bulha” é uma locução adverbial de instrumento.

Resolução

Alternativa “a”. No primeiro verso, o uso do acento grave justifica-se porque o “a” da locução prepositiva “em meio a” junta-se ao artigo definido “a” de “a bulha”. Se trocarmos o substantivo “bulha” por seu sinônimo masculino “tumulto”, teríamos “em meio ao tumulto”, o que comprova a fusão necessária entre preposição e artigo.

Questão 3 - Marque a alternativa em que o uso da crase é facultativo:

a) Os cuidados com a higiene devem estar presentes em nosso dia a dia.

b) A livraria da esquina vende livros usados com preços a partir de cinco reais.

c) O filme À meia-noite levarei sua alma é um clássico de terror brasileiro.

d) Na manhã de segunda-feira, fui até a faculdade e tranquei a minha matrícula.

e) Àqueles que não acreditaram em mim, agora ofereço meu total desprezo.

Resolução:

Alternativa “d”. Antes de substantivo feminino, é facultativo o uso da crase na locução prepositiva “até a”.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Crase"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/crase.htm. Acesso em 04 de outubro de 2024.

Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(IBGE-Adaptada) Assinale a opção em que o “a” sublinhado nas duas frases deve receber acento grave indicativo de Crase:

a) Fui a Lisboa receber o prêmio. / Paulo começou a falar em voz alta.

b) Pedimos silêncio a todos. Pouco a pouco, a praça central se esvaziava.

c) Esta música foi dedicada a ele. / Os romeiros chegaram a Bahia.

d) Bateram a porta, fui atender. / O carro entrou a direita da rua.

e) Todos a aplaudiram. / Escreva a redação a tinta.

Exercício 2

(TRT/9ªREGIÃO – 2010 – FCC) A erupção de um vulcão provocou perdas …… economia europeia bem superiores …… trazidas pelos atentados terroristas de 2001, fato que obrigou a ONU …… criar um plano internacional de redução dos riscos de acidentes.

As lacunas da frase acima estarão corretamente preenchidas, respectivamente, por:

a) a – aquelas – a

b) a – àquelas – à

c) à – aquelas – a

d) à – aquelas – à

e) à – àquelas – a