PUBLICIDADE
Crase é o nome que se dá à união da preposição “a” com o artigo definido “a(s)”, ou com o “a” inicial dos pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo”, ou, ainda, com o “a” inicial dos pronomes relativos “a qual” e “as quais”.
Ao acento indicador de crase dá-se o nome de acento grave. No entanto, existem algumas regras para usar a crase e alguns macetes para nunca deixar de fazer o seu uso correto. É o que veremos a seguir.
Leia também: Regência verbal – um processo que se relaciona à crase
Tópicos deste artigo
- 1 - Quando usar a crase?
- 2 - Quando não usar a crase?
- 3 - Casos facultativos de uso da crase
- 4 - Dicas/macetes para o uso correto da crase
- 5 - Exercícios resolvidos sobre crase
Quando usar a crase?
Quando o complemento de um verbo que exija a preposição “a” for um substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”:
Vamos à loja para comprar outros enfeites.
Observe: Vamos a + a loja = Vamos à loja.
Quando o complemento de um nome que exija a preposição “a” for um substantivo feminino antecedido de artigo feminino “a”:
Ela se mostrou favorável à medida proposta pela vereadora.
Observe: Ela se mostrou favorável a + a medida = Ela se mostrou favorável à medida.
Quando os pronomes demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)” e “aquilo” exercem a função de complemento de termo que exija a preposição “a”:
-
Somos contrários àqueles que defendem o radicalismo.
-
Devo obedecer àquilo em que acredito.
-
Estou referindo-me àquelas semanas em que não pude vir trabalhar.
Portanto:
-
Somos contrários a + aqueles = Somos contrários àqueles.
-
Devo obedecer a + aquilo = Devo obedecer àquilo.
-
Estou referindo-me a + aquelas = Estou referindo-me àquelas.
Atenção! O pronome demonstrativo pode estar implícito (oculto). Nesse caso, ocorre a crase:
Não me refiro a essa, mas à da direita.
Observe: Não me refiro a essa, mas a (aquela) da direita = Não me refiro a essa, mas àquela da direita.
Quando os pronomes relativos “a qual” e “as quais” exercem a função de complemento de termo que exija a preposição “a”:
-
A peça à qual assisti não valeu um centavo do que paguei.
-
As tarefas às quais nos dedicamos cotidianamente são sempre essenciais.
Assim:
-
Assisti a + a peça = Assisti à peça.
-
Dedicamo-nos a + as tarefas = Dedicamo-nos às tarefas.
No entanto, o pronome “a qual” se refere ao termo anterior “peça”, no primeiro exemplo, e o pronome “as quais” se refere ao termo anterior “tarefas”, no segundo exemplo. Nesse caso, o acento grave é colocado sobre o “a” dos pronomes relativos “a qual” e “as quais”. Portanto: “A peça à qual assisti” e “As tarefas às quais nos dedicamos”.
Leia também: A ou há?
Em locuções adverbiais femininas com substantivos no singular ou plural, como: à tarde, à vontade, às vezes, às pressas, às quatro horas etc.:
-
Vocês estão em minha casa, podem ficar à vontade.
-
Não vale a pena decidir às pressas o que fazer nas férias.
Exceção à regra é a locução “a distância”, se não estiver determinada:
-
Estávamos observando tudo a distância.
-
Estávamos observando tudo à distância de cinco metros.
Nas locuções conjuntivas “à medida que” e “à proporção que”:
À medida que amadurecemos, passamos a dar valor ao silêncio.
Antes de palavra masculina (inclusive no plural), caso haja uma palavra feminina implícita:
Necessitamos, com urgência, ir à abastecimentos.
Isto é: Necessitamos, com urgência, ir à (central de) abastecimentos.
Quando não usar a crase?
Antes de verbos:
Meu primo começou a cumprir pena socioeducativa.
Antes de pronome pessoal:
Não tenho que dar satisfações a ela.
Veja também: Pronomes de tratamento – um tipo específico de pronome pessoal
Antes de palavras masculinas:
-
Era um sentimento muito semelhante ao amor.
-
Era um sentimento muito semelhante a amor.
Portanto, a próxima frase está incorreta:
Era um sentimento muito semelhante à amor.
Atenção! Pode ocorrer crase diante de palavra masculina quando ela for precedida de palavra feminina implícita na frase:
Era uma pintura à Leonardo da Vinci.
Entende-se:
Era uma pintura à (maneira de) Leonardo da Vinci.
Entre palavras idênticas repetidas, como nas expressões: cara a cara, boca a boca etc.:
Depois do afogamento, foi preciso fazer respiração boca a boca.
Antes das palavras “casa” (no sentido de “lar”) e “terra” (em sentido oposto a “bordo”):
-
Vou a casa no próximo fim de semana.
-
Ao chegar a terra, o marinheiro foi até o local marcado.
No entanto, se essas duas palavras (“casa” e “terra”) forem qualificadas, ocorrerá a crase:
-
Vou à casa de minha irmã no próximo fim de semana.
-
Ao chegar à terra dos renegados, o marinheiro foi até o local marcado.
Antes de palavra feminina de caráter genérico:
-
Não cheguei a conclusão alguma.
-
Não peço nenhum favor a pessoas de caráter duvidoso.
Antes de nome de cidade ou vila:
-
Chegar a Fortaleza é como voltar para casa.
-
Fiz referência a Jericoacoara em minha tese de doutorado.
Antes de nomes de pessoas famosas:
O artigo estava relacionado a Marie Curie.
Antes dos seguintes pronomes: “ninguém”, “essa”, “toda”, “cada”, “qualquer”, “tudo”:
Ela devia dar satisfações a toda a gente, a cada pessoa prejudicada.
Antes do artigo indefinido “uma”:
Não se deve dar crédito a uma pessoa que mente.
Antes de numerais:
Eles foram comparados a duas crianças mimadas.
Antes de expressões adverbiais de modo com substantivo no plural:
-
A trancos e barrancos, conseguiu chegar até o fim da maratona.
-
Os funcionários resolveram tudo a pauladas.
Depois da palavra “candidata”:
Luciana foi candidata a prefeita nas últimas eleições.
Casos facultativos de uso da crase
Antes de pronomes possessivos femininos:
Não dão valor à nossa opinião.
ou
Não dão valor a nossa opinião.
Antes de nome próprio feminino:
Fizemos referência a Joana.
ou
Fizemos referência à Joana.
José de Nicola e Ulisses Infante defendem que, nesse caso, o uso do artigo “a” é facultativo. Segundo eles, uma forma de verificar isso é substituir, na frase, o termo que exige a preposição “a” por um termo que exige outro tipo de preposição. Veja um exemplo:
Não falamos da Joana
ou
Não falamos de Joana.
Isso, de acordo com esses gramáticos, demonstra que o uso do artigo é facultativo; consequentemente, o uso da crase também.
Já Luiz Antonio Sacconi defende que só “acentuamos o ‘a’ antes de nomes de pessoas quando se tratar de indivíduo que faça parte do nosso círculo de amizades, indivíduos aos quais damos tratamento íntimo: a Marisa, a Bete, a Rosa etc. Ex.: Refiro-me à Marisa, e não à Bete”. No entanto, apesar disso, ele considera esse uso facultativo.
Antes de locuções adverbiais femininas indicativas de instrumento, em regra, não se deve utilizar a crase:
Não se pode resolver os conflitos a bala.
No entanto, muitos gramáticos entendem que o uso do acento grave, nesses casos, é facultativo:
Não se pode resolver os conflitos à bala.
Antes dos seguintes nomes de lugar: Europa, Ásia, África, França, Inglaterra, Espanha, Holanda, Escócia e Flandres. Assim:
Não podemos mais voltar à Escócia.
ou
Não podemos mais voltar a Escócia.
Na locução prepositiva “até a”, antes de substantivo feminino:
Chegaram até a praia e desistiram de nadar.
ou
Chegaram até à praia e desistiram de nadar.
Dicas/macetes para o uso correto da crase
O principal macete para você descobrir se deve ou não usar a crase é substituir a palavra feminina que vem depois da possível crase por uma palavra masculina equivalente:
Eu cheguei à escola de Marcelo.
Façamos então a substituição:
Eu cheguei ao colégio de Marcelo.
Note que, ao fazer essa alteração, é possível perceber a presença do artigo definido masculino “o” antes do substantivo “colégio”, o que indica a presença do artigo definido feminino “a” antes do substantivo “escola”.
Assim, temos:
-
Eu cheguei a + a escola de Marcelo = Eu cheguei à escola de Marcelo.
-
Eu cheguei a + o colégio de Marcelo = Eu cheguei ao colégio de Marcelo.
Outro macete, semelhante ao primeiro, é substituir o artigo definido feminino “a” pelo artigo indefinido feminino “uma”. Se é possível utilizar esse segundo artigo, é porque a presença de um artigo feminino é necessária na frase:
Assisti à luta de boxe no último domingo.
Façamos a substituição:
Assisti a uma luta de boxe no último domingo.
Desse modo, temos:
-
Assisti a + a luta de boxe = Assisti à luta de boxe.
-
Assisti a + uma luta de boxe = Assisti a uma luta de boxe.
Outra maneira de ter certeza da ocorrência ou não da crase, no caso de verbos que indicam movimento, como “ir”, “chegar” etc., é substituir esses verbos por outros que indiquem procedência, como “vir”, “partir” etc., ou mesmo localização, como “estar”, “ficar” etc.:
Chegamos a Fortaleza na manhã de sábado.
Então substituímos por:
Partimos de Fortaleza na manhã de sábado.
E também por:
Ficamos em Fortaleza na manhã de sábado.
Perceba que, nas duas substituições, nota-se apenas a presença de preposição, mas não de artigo. Portanto, em “Chegamos a Fortaleza na manhã de sábado”, não pode ocorrer crase.
Veja também: Uso da vírgula – como usar esse importante sinal de pontuação
Exercícios resolvidos sobre crase
Questão 1 (Enem)
O cartaz de Ziraldo faz parte de uma campanha contra o uso de drogas. Essa abordagem, que se diferencia das de outras campanhas, pode ser identificada
a) pela seleção do público-alvo da campanha, representado, no cartaz, pelo casal de jovens.
b) pela escolha temática do cartaz, cujo texto configura uma ordem aos usuários e não usuários: diga não às drogas.
c) pela ausência intencional do acento grave, que constrói a ideia de que não é a droga que faz a cabeça do jovem.
d) pelo uso da ironia, na oposição imposta entre a seriedade do tema e a ambiência amena que envolve a cena.
e) pela criação de um texto de sátira à postura dos jovens, que não possuem autonomia para seguir seus caminhos.
Resolução
Alternativa “c”. Se, no cartaz, o acento grave tivesse sido usado em “Não à droga!”, o sentido do texto seria: “Quem escolhe seu caminho é você” mais a frase complementar “Não à droga!”, isto é, dizer “não” à droga. No entanto, sem o uso do acento grave, temos outro sentido: “Quem escolhe seu caminho é você”, “não a droga!”, ou seja, a droga não escolhe o caminho do interlocutor.
Questão 2 - Leia a primeira estrofe do poema “A voz dos animais”, da poetisa Francisca Júlia:
O peru, em meio à bulha
De outras aves em concerto,
Como faz de leque aberto?
— Grulha.
A justificativa para o uso do acento grave no trecho em destaque é:
a) Em “à bulha”, ocorre a fusão entre a preposição “a” e o artigo definido “a”.
b) A palavra “bulha” é substantivo masculino precedido de preposição.
c) A palavra “bulha” é verbo conjugado na terceira pessoa do singular precedido de preposição.
d) A palavra “bulha” é uma palavra feminina de caráter genérico precedida de preposição.
e) O termo “à bulha” é uma locução adverbial de instrumento.
Resolução
Alternativa “a”. No primeiro verso, o uso do acento grave justifica-se porque o “a” da locução prepositiva “em meio a” junta-se ao artigo definido “a” de “a bulha”. Se trocarmos o substantivo “bulha” por seu sinônimo masculino “tumulto”, teríamos “em meio ao tumulto”, o que comprova a fusão necessária entre preposição e artigo.
Questão 3 - Marque a alternativa em que o uso da crase é facultativo:
a) Os cuidados com a higiene devem estar presentes em nosso dia a dia.
b) A livraria da esquina vende livros usados com preços a partir de cinco reais.
c) O filme À meia-noite levarei sua alma é um clássico de terror brasileiro.
d) Na manhã de segunda-feira, fui até a faculdade e tranquei a minha matrícula.
e) Àqueles que não acreditaram em mim, agora ofereço meu total desprezo.
Resolução:
Alternativa “d”. Antes de substantivo feminino, é facultativo o uso da crase na locução prepositiva “até a”.