Saber fazer bom uso da vírgula é fundamental para garantir a correção gramatical de um texto e também evitar problemas de interpretação.
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O uso da vírgula serve para marcar o deslocamento de um termo na frase, por meio de uma pausa que altera a entonação. Na fala, a intenção de exprimir afirmação, exclamação ou interrogação é marcada pela variação no modo de emitir um som, porém, na escrita, é a pontuação que serve para representar graficamente essa entonação que ajuda a construir o sentido desejado.
Veja também: Três mitos sobre o uso da vírgula que você precisa saber
A ordem canônica de uma frase em língua portuguesa é sujeito, verbo e complementos. Quando essa sequência é respeitada, não se coloca vírgula alguma. Então, resumidamente, não se separa por vírgula sujeito e predicado, nem verbo e complementos.
Observe o exemplo:
João |
comprou |
um carro para a esposa. |
(sujeito) |
(verbo) |
(complementos) |
Na frase anterior não se admite vírgula tanto depois de “João” quanto depois de “comprou”, pois o uso estaria ferindo as duas regras básicas recém descritas.
Em uma frase pequena, como a do exemplo, é muito mais fácil notar os elementos sintáticos, ou seja, quem é o sujeito, o predicado, o objeto direto e/ou indireto. No entanto, em períodos mais longos, é preciso atentar em não inserir uma vírgula com a intenção de fazer uma pausa e acabar infringindo as regras.
Sabendo quais são os casos em que o emprego da vírgula não é admitido, resta entender quando essa pontuação é exigida.
Se ao primeiro exemplo for acrescentado um adjunto adverbial em posição padrão, ou seja, ao final da oração, temos:
João comprou um carro para a esposa ontem.
Como há apenas um adjunto adverbial, a vírgula é facultativa, estando adequados:
No entanto, se mais um adjunto adverbial for acionado, é preciso fazer pelo menos uma quebra:
Em razão de os adjuntos adverbiais terem grande mobilidade dentro da oração, podem ocupar uma posição que não é a padrão. Isso é representado pelo uso da vírgula, que insere uma pausa:
Posto que os adjuntos adverbiais também podem apresentar-se como orações adverbiais, geralmente o uso da vírgula é recomendado para separar a oração subordinada adverbial da oração principal, mas é dispensável se estiver em sua posição padrão, quer dizer, depois da principal:
Também se faz uso da vírgula para separar tempo e localidade nas datas, normalmente em correspondências, como em:
A vírgula serve para intercalar elementos que exercem a mesma função sintática, quando não estão unidos por conjunções, como na frase de Machado de Assis:
“Achava os homens declamadores, grosseiros, cansativos, pesados, frívolos, chulos, triviais.”
Entretanto quando as conjunções e, ou e nem repetem-se numa enumeração, geralmente se separa os elementos coordenados, como nesta outra frase do mesmo escritor:
“Nem tu, nem eu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta história poderia imaginar.”
Quando acontece de uma conjunção coordenada sair da posição padrão, isto é, o início da oração:
Todos deveriam fazer alguma atividade física diariamente; isso não quer dizer, entretanto, que todos devem ser superatletas.
Às vezes, intercalamos uma informação ou um pensamento. Esses fragmentos destacam-se da oração e devem ser separados por vírgula:
Todos, penso eu, deveriam empenhar-se para atingirmos o resultado.
Uma oração explicativa gera uma quebra em relação à oração principal e, consequentemente, é isolada por vírgulas. Nesse caso, o uso da vírgula é fundamental para a desambiguação do sentido, uma vez que, sem essa separação, a oração passa a ser restritiva, como é possível perceber a seguir:
O vocativo, seja qual for sua posição na frase, deve ser separado por vírgula:
“D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário?”
Assim como o aposto, sempre isolado, mesmo que no início da sentença:
Expressões como além disso, por exemplo, ou melhor, inclusive, isto é, ou seja, a saber, aliás, com efeito são isoladas por vírgula:
José Saramago morreu no dia 18 de julho, aliás, junho.
A língua dá a possibilidade de omitir um verbo que já apareceu na oração anterior, isso se chama elipse. Sua ausência fica assinalada pelo uso da vírgula:
Luíza sai para o trabalho às 7h nos dias de semana; no sábado, às 9h.
Questão 1 (Fuvest) Em qual dessas frases a vírgula foi empregada para marcar a omissão do verbo?
a) Ter um apartamento no térreo é ter as vantagens de uma casa, além de poder desfrutar de um jardim.
b) Compre sem susto: a loja é virtual; os direitos, reais.
c) Para quem não conhece o mercado financeiro, procuramos usar uma linguagem livre do economês.
d) A sensação é de estar perdido: você não vai encontrar ninguém no Jalapão, mas vai ver a natureza intocada.
e) Esta é a informação mais importante para a preservação da água: sabendo usar, não vai faltar.
Solução: b. A vírgula está no lugar do verbo ser, seguindo o paralelismo da oração anterior: a loja é virtual; os direitos são reais.
Questão 2 (Fuvest) Escolha a alternativa em que o texto é apresentado com a pontuação mais adequada:
a) Depois que há algumas gerações, o arsênico deixou de ser vendido, em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio, ou envenenamento criminoso, mas aumentou e — quanto... o número de ratos.
b) Depois que há algumas gerações o arsênico, deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou: e quanto! o número de ratos.
c) Depois que, há algumas gerações, o arsênico deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou — e quanto! — o número de ratos.
d) Depois que há algumas gerações o arsênico deixou de ser vendido em farmácias — não diminuíram os casos de suicídio, ou envenenamento criminoso, mas aumentou; e quanto — o número de ratos.
e) Depois que, há algumas gerações o arsênico deixou de ser vendido em farmácias, não diminuíram os casos de suicídio ou envenenamento criminoso, mas aumentou; e quanto, o número de ratos!
Solução: c. Única sentença que emprega corretamente a vírgula sem alterar o sentido.
Por Paula Piva
Professora de Gramática
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
PIVA, Paula. "Uso da vírgula"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/uso-da-virgula.htm. Acesso em 16 de agosto de 2022.
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