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Para saber quando usar a crase, devemos entender que esse fenômeno linguístico consiste na fusão da preposição “a” com: o artigo feminino “a”, os pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela” e “aquilo”, e o pronome relativo “as quais”. Para indicar a contração, utilizamos o acento grave [ ` ]. Além disso, em algumas locuções adverbiais femininas, também ocorre a crase.
Leia também: 100 frases de exemplo de uso da crase
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre quando usar a crase
- 2 - Como saber quando usar crase?
- 3 - Macetes de quando usar crase
- 4 - Principais regras do uso da crase
- 5 - Exercícios sobre o uso da crase
Resumo sobre quando usar a crase
- A crase é a fusão entre a preposição “a” e o artigo feminino “a”, indicada pelo acento grave.
- Se um nome ou verbo exige preposição “a” e seu complemento é iniciado pelo artigo “a”, ocorre crase.
- Quando o complemento é iniciado pelo pronome demonstrativo “aquele”, “aquela” ou “aquilo”, a preposição “a” se funde ao pronome: “àquele”, “àquela”, “àquilo”.
- O pronome relativo “a qual”, se complemento de nome ou verbo que exige preposição “a”, também leva o acento grave.
- Locuções adverbiais femininas, como “às vezes”, também utilizam o acento grave.
Como saber quando usar crase?
A crase é a contração ou fusão entre a preposição “a” e o artigo feminino “a”. Quando isso ocorre, o “a” resultado da fusão leva o acento grave [ ` ]. Esse acento, portanto, indica que ocorreu a crase. Também pode ocorrer a contração entre o artigo feminino “a” e os pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela” e “aquilo”.
Dito isso, para saber quando usar a crase, é preciso identificar, na frase ou oração, o nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seu complemento, ou identificar o verbo e seu complemento. Se o nome ou o verbo for seguido pela preposição “a” e o complemento desse nome ou desse verbo for iniciado com o artigo feminino “a”, ocorre crase.
Veja estes exemplos:
O cantor tinha aversão à idolatria.
Ivo estava alheio à multidão.
Relativamente à votação, não tenho comentários.
Preferiu não assistir à partida de basquete masculino.
Na primeira frase, o substantivo “aversão” exige a preposição “a”, e seu complemento “idolatria” é precedido pelo artigo feminino “a”. Na segunda, o adjetivo “alheio” exige a preposição “a”, e seu complemento “multidão” é precedido pelo artigo feminino “a”. Na terceira, o advérbio “relativamente” exige a preposição “a”, e seu complemento “votação” é precedido pelo artigo feminino “a”.
Por fim, na última frase, o verbo “assistir” exige a preposição “a”, e seu complemento “partida” é precedido pelo artigo feminino “a”. Portanto, não usar crase significa dizer e escrever:
O cantor tinha aversão a a idolatria.
Ivo estava alheio a a multidão.
Relativamente a a votação, não tenho comentários.
Preferiu não assistir a a partida de basquete masculino.
E isso não é permitido na língua portuguesa, segundo a gramática normativa.
Macetes de quando usar crase
→ Macete 1
Substitua a palavra feminina que vem depois da possível crase por uma palavra masculina.
Por exemplo, na frase a seguir, substituímos “festa” por “evento”:
Juliano compareceu ao evento.
Perceba que a preposição “a” se juntou com o artigo masculino “o”. Isso indica que, se “evento” for substituído por uma palavra feminina, ocorrerá a crase:
Juliano compareceu à festa.
→ Macete 2
Substitua o artigo definido feminino “a”, que faria parte da crase, pelo artigo indefinido “uma”.
Como exemplo, no enunciado abaixo, substituímos “a” por “uma”:
Juliano compareceu a uma festa.
Isso comprova que, após a preposição, há mesmo um artigo feminino:
Juliano compareceu à festa.
→ Macete 3
Substitua os verbos que indicam movimento por verbos que indicam procedência ou localização.
Por exemplo, na oração a seguir, substituímos “ir” por “vir” e “estar”:
Juliano veio da festa.
Juliano estava na festa.
Isso comprova que, após a preposição “de” e “em”, há mesmo o artigo feminino “a”:
Juliano foi à festa.
Agora observe que, no próximo exemplo, há ocorrência de preposição e ausência de artigo:
Juliano estava em Beirute.
Consequentemente:
Juliano foi a Beirute.
Principais regras do uso da crase
→ Regra 1: Após verbo seguido da preposição “a”, cujo complemento é substantivo iniciado pelo artigo feminino “a”:
Lucas agradeceu à amiga por toda a ajuda.
Lucas agradeceu às amigas por toda a ajuda.
Desse modo, temos:
Lucas agradeceu a (preposição) + a (artigo feminino singular) amiga por toda a ajuda.
Lucas agradeceu a (preposição) + as (artigo feminino plural) amigas por toda a ajuda.
→ Regra 2: Após nome (substantivo, adjetivo, advérbio) seguido da preposição “a”, cujo complemento é substantivo iniciado pelo artigo feminino “a”:
A sua obediência à nova regra foi imediata.
A sua obediência às novas regras foi imediata.
A sua vida é análoga à vida de seu irmão.
A sua vida é análoga às vidas de seus antepassados.
Paralelamente à guerra, havia iniciativas de paz.
Paralelamente às guerras, há iniciativas de paz.
Portanto:
A sua obediência a (preposição) + a (artigo feminino singular) nova regra foi imediata.
A sua obediência a (preposição) + as (artigo feminino plural) novas regras foi imediata.
A sua vida é análoga a (preposição) + a (artigo feminino singular) vida de seu irmão.
A sua vida é análoga a (preposição) + as (artigo feminino plural) vidas de seus antepassados.
Paralelamente a (preposição) + a (artigo feminino singular) guerra, havia iniciativas de paz.
Paralelamente a (preposição) + as (artigo feminino plural) guerras, há iniciativas de paz.
→ Regra 3: Após verbo ou nome (substantivo, adjetivo, advérbio) seguido da preposição “a”, cujo complemento é iniciado pelo pronome demonstrativo “aquele”, “aquela” ou “aquilo”:
Ele se dedicou àquele negócio durante toda a vida.
Ele se dedicou àqueles negócios durante toda vida.
Sua devoção àquela arte é comovente.
Sua devoção àquelas esculturas é comovente.
Suas ações são contrárias àquilo que ela defende.
Semelhantemente àquilo que ela defende são suas ações.
Desse modo, temos:
Ele se dedicou a (preposição) + aquele (pronome demonstrativo singular masculino) negócio durante toda a vida.
Ele se dedicou a (preposição) + aqueles (pronome demonstrativo plural masculino) negócios durante toda vida.
Sua devoção a (preposição) + aquela (pronome demonstrativo singular feminino) arte é comovente.
Sua devoção a (preposição) + aquelas (pronome demonstrativo plural feminino) esculturas é comovente.
Suas ações são contrárias a (preposição) + aquilo (pronome demonstrativo invariável) que ela defende.
Semelhantemente a (preposição) + aquilo (pronome demonstrativo invariável) que ela defende são suas ações.
Vale ressaltar que, se o pronome demonstrativo estiver implícito, ainda assim ocorre a crase:
Não está próximo a essa casa azul, mas à da esquina.
Ou seja:
Não está próximo a essa casa azul, mas àquela da esquina.
Ou ainda:
Não está próximo a essa casa azul, mas está próximo àquela casa da esquina.
→ Regra 4: No pronome relativo “a qual”, quando ele for complemento de verbo ou nome (substantivo, adjetivo, advérbio) seguido da preposição “a”:
As metas às quais aspirava finalmente foram cumpridas.
Uma atitude à qual mostrava respeito era a autocrítica.
As garantias às quais estava acostumada chegaram ao fim.
Essa foi a decisão à qual ele contrariamente se posicionou.
Assim, temos:
Aspirava à meta (à qual)...
Aspirava às metas (às quais)...
Mostrava respeito à atitude (à qual)...
Estava acostumada às garantias (às quais)...
Ele se posicionou contrariamente à decisão (à qual)...
→ Regra 5: Em locuções adverbiais femininas, como:
- à tarde;
- à noite;
- às vezes;
- às pressas;
- à vontade;
- às cinco horas;
- à esquerda;
- à direita;
- à espera etc.
Exceção é a locução “a distância”, quando não especificada:
Ouvi os gritos a distância.
Ouvi os gritos à distância de trinta metros.
→ Regra 6: Nas locuções conjuntivas “à medida que” e “à proporção que”:
À medida que nos aproximávamos, sentimos aterrorizantes calafrios.
À proporção que nos aproximávamos, sentimos aterrorizantes calafrios.
→ Regra 7: Diante de palavra masculina APENAS SE ela for precedida de uma palavra feminina implícita:
Chegamos à homicídios antes das quatro da manhã.
Ou seja:
Chegamos à (delegacia de) homicídios antes das quatro da manhã.
Exercícios sobre o uso da crase
Questão 1 (Unimontes)
APRENDA A SE CONCENTRAR
Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um homem mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um livro inteiro. Para completar, comia rápido, dormia pouco e não conseguia se dedicar ao casamento conturbado, por falta de tempo. Identificou-se? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz dessa história era ninguém menos que Thomas Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870, e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo. O relato, que está em uma edição de 1910 do jornal New York Times, conta que, quando Edison finalmente percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Fechou-se em seu escritório e focou em um problema de cada vez. A partir daí, produziu.
[...]
BLANCO, Gisela. Aprenda a se concentrar. Revista Superinteresante, São Paulo, p. 48-55, julho de 2012. Texto adaptado.
Observe o trecho: “Adorava trocar mensagens e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo”.
Assinale a alternativa em que o uso do sinal indicativo de crase obedece à mesma regra que foi aplicada no termo destacado acima.
A) Os especialistas referem-se à concentração como uma capacidade que pode ser aprimorada.
B) Para os neurologistas, boa parte da capacidade de concentração está relacionada às características do nosso DNA.
C) À primeira vista, pode ser considerado um fracasso o fato de distrair-se com facilidade.
D) Alguns psicólogos atribuem à concentração o fato de ser uma característica cultural.
Resolução:
Alternativa C
Nas locuções adverbiais femininas “às vezes” e “à primeira vista”, ocorre a crase.
Questão 2 (Unimontes)
O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade
Leonardo Boff
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar polos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da África do Sul em 1994, se propôs e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid, que desumanizava as grandes maiorias negras do país, condenando-as a não pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.
E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão aí, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade. Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceito alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu, que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.
[...]
Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/07/o-significado-de-mandela-para-o-futuro-ameacado-dahumanidade/, acesso em: 10 mar. 2014. Adaptado.
“Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceito alheio à nossa cultura individualista [...].”
No trecho acima, a modalidade padrão da língua portuguesa possibilita que o uso do acento grave seja facultativo.
Nas alternativas que se seguem, será obrigatório o uso do acento grave, indicativo de crase, se se substituir a expressão em destaque acima por
A) a uma cultura individualista.
B) a toda cultura individualista.
C) a cultura individualista.
D) a qualquer cultura individualista.
Resolução:
Alternativa C
É obrigatório o uso do acento grave, indicativo de crase, apenas na alternativa C: “Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceito alheio à cultura individualista [...]”.
Fontes
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 45. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 9. ed. São Paulo: Scipione, 1992.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.