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Marginalização

A marginalização é um processo que posiciona indivíduos entre a inclusão e a exclusão social. Pode se manifestar nas formas econômica, social, espacial, cultural e digital.

Mãe e filho em janela de uma casa de madeira, em alusão à marginalização.
A marginalização perpetua ciclos de pobreza e desesperança.[1]
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A marginalização é um processo social complexo que empurra determinados indivíduos ou grupos para a periferia da sociedade, limitando seu acesso a recursos e oportunidades essenciais para uma vida digna. Diferente da exclusão social, que se foca nas barreiras ao acesso a direitos básicos, a marginalização destaca a posição relativa de um grupo dentro da estrutura social, caracterizando-se pela vulnerabilidade e precarização.

Catadores de resíduos, traficantes de drogas e pessoas sem-terra são exemplos de grupos marginalizados. As causas da marginalização envolvem a desintegração social, a precarização do trabalho, desigualdades sociais, e políticas discriminatórias.

A marginalização pode ser de variados tipos e resulta em consequências severas tanto para os indivíduos quanto para a sociedade, perpetuando ciclos de pobreza e ampliando a desigualdade social. Além disso, a privação de grupos significativos da participação social e econômica pode exacerbar sintomas de transtornos de humor, como depressão e ansiedade, contribuindo para um ciclo vicioso de pobreza e desesperança.

Leia também: Minorias sociais — quais são os grupos mais excluídos do processo de socialização?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre marginalização

  • Marginalização é o processo social que empurra indivíduos ou grupos para a periferia da sociedade, limitando seu acesso a recursos e oportunidades essenciais para uma vida digna.
  • A marginalização é marcada pela vulnerabilidade e precarização, levando indivíduos ou grupos da vulnerabilidade para a desfiliação dos contratos sociais.
  • Catadores de resíduos, traficantes de drogas e pessoas sem-terra são exemplos de grupos marginalizados devido à precarização do trabalho e à fragilidade das relações sociais.
  • As causas da marginalização incluem desintegração social, precarização dos empregos, recuo da solidariedade e políticas de drogas discriminatórias.
  • O encarceramento em massa nos EUA é visto como um sistema de controle social que marginaliza afro-americanos e latinos, criando uma nova casta sujeita a segregação racial.
  • Existem vários tipos de marginalização, incluindo econômica, social, espacial, cultural e digital, cada uma com suas próprias características e mecanismos subjacentes.

O que é marginalização?

Marginalização é um processo social pelo qual determinados indivíduos ou grupos são empurrados à periferia da sociedade, sendo privados de acesso a recursos e oportunidades essenciais para uma vida digna.

A marginalização é caracterizada pela vulnerabilidade e pela precarização, em que os indivíduos se encontram em uma posição de fragilidade em relação ao resto da sociedade. Os processos de marginalização, em muitos casos, levam indivíduos ou grupos da vulnerabilidade para a desfiliação dos contratos sociais.

Portanto, a marginalização é uma conexão frágil e periférica com a sociedade que pode ser (ou não) um estágio no processo que leva à exclusão completa. Esse fenômeno pode ser observado em diversas formas, incluindo a marginalização sexual, racial, social e a criminal.

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Marginalização e exclusão social são a mesma coisa?

A marginalização é diferente da exclusão social porque, enquanto esta focaliza as barreiras sociais impostas ao acesso a direitos básicos, aquela destaca a posição relativa de um grupo dentro da estrutura social.

Desse modo, indivíduos ou grupos marginalizados podem ter algum grau de acesso a recursos ou oportunidades, mas esse acesso é limitado e insuficiente para permitir uma participação plena e igualitária na sociedade. Além disso, em vez de ser concebido como um “à margem” da sociedade, o excluído é visto como um “para fora” do social.

A diferença é que a exclusão social marca uma ruptura total ou parcial dos laços sociais que integram um indivíduo ou grupo na sociedade. A marginalização, por outro lado, é um processo pelo qual indivíduos ou grupos são empurrados para as margens da sociedade, onde sua participação é limitada e periférica.

Veja também: Qual é o conceito de justiça social?

Exemplos de marginalização

Os exemplos de marginalização se caracterizam pela vulnerabilidade, resultante da precarização do trabalho e da fragilidade das relações sociais. A marginalização é um processo que pode levar à desfiliação, ou seja, uma desconexão mais profunda e completa da sociedade. São exemplos: catadores de resíduos, traficantes de drogas, pessoas sem-terra.

→ Catadores de resíduos

As pessoas em situação de rua, por exemplo, costumam trabalhar como catadores de resíduos. Esses trabalhadores enfrentam a marginalização e as violações de direitos diariamente. Apesar dos avanços legais, eles continuam a ser exemplos de marginalização porque não são plenamente sujeitos dos direitos humanos, ilustrando a tensão entre inclusão e exclusão social.

→ Traficantes de drogas

Os traficantes muitas vezes emergem de contextos de marginalização socioeconômica. Em muitas comunidades empobrecidas, as oportunidades de emprego formal são escassas, e a educação de qualidade é inacessível, deixando poucas opções para a mobilidade social.

Nesse cenário, o tráfico de drogas pode aparecer como uma das poucas vias disponíveis para a obtenção de renda, apesar dos altos riscos envolvidos. A participação no tráfico de drogas, então, é frequentemente um sintoma da marginalização socioeconômica, refletindo a falta de acesso a oportunidades legítimas.

Além disso, indivíduos envolvidos no tráfico de drogas enfrentam marginalização legal e social. Eles são frequentemente estigmatizados e excluídos de participar plenamente na sociedade devido ao seu envolvimento com atividades ilegais. As políticas de criminalização e encarceramento em massa, especialmente em comunidades de baixa renda e minorias étnicas, exacerbam essa marginalização, criando um ciclo de exclusão social e econômica.

→ Pessoas sem-terra

Membros do MST em uma fazenda em texto sobre marginalização.
Membros do MST durante ocupação de uma fazenda.[2]

Pessoas sem-terra, por outro lado, são frequentemente marginalizadas devido a estruturas econômicas e políticas que negam seu acesso à terra e aos recursos necessários para a subsistência. No Brasil, a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários deixa um grande número de pessoas incapazes de acessar a terra para agricultura ou moradia, essencial para sua sobrevivência e bem-estar.

Movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil, surgem como resposta a essa marginalização, buscando reforma agrária e justiça social para as populações despossuídas. As pessoas sem-terra enfrentam marginalização não apenas econômica, mas também política, pois suas demandas e direitos são frequentemente ignorados ou reprimidos por estruturas de poder.

Quais são as causas da marginalização?

As causas da marginalização na sociedade são diversas e complexas, resultantes de uma combinação de fatores históricos, sociais, econômicos e políticos. Muitos especialistas examinam a marginalização principalmente através da lente da desintegração social e da precarização do trabalho. As principais causas da marginalização incluem:

  • o aumento do desemprego;
  • a precarização das condições de trabalho;
  • as desigualdades sociais;
  • a desintegração social;
  • o recuo da solidariedade;
  • o avanço de políticas de drogas discriminatórias e práticas de aplicação da lei.

Nos Estados Unidos, muitos especialistas defendem que o encarceramento em massa funciona como um sistema de controle social que cria uma nova casta de indivíduos, predominantemente afro-americanos e latinos, que são marginalizados e sujeitos a uma forma de segregação racial. Esse fenômeno ligado à marginalização é causado por vários fatores.

A legislação e políticas de drogas, especialmente a chamada “guerra às drogas”, têm como alvo comunidades negras e latinas, desproporcionalmente. As leis severas de drogas e as práticas de aplicação da lei resultam em taxas de encarceramento desproporcionalmente altas para essas comunidades.

Fotografia antiga de jovens detentos em um campo de trabalho, em texto sobre marginalização.
Detentos juvenis, em 1903, forçados a trabalhar pelas Leis de Jim Crow.

Em consequência, uma vez que os indivíduos são rotulados como criminosos, eles enfrentam uma vida de exclusão e discriminação. Em cada estado americano, diferentes leis podem restringir os ex-detentos de votar, de obter emprego, de acessar habitação pública e assistência social, e de receber benefícios educacionais. Efetivamente, essas barreiras marginalizam essas pessoas e as impedem de reintegrar-se plenamente na sociedade.

Por fim, o encarceramento em massa cria um ciclo vicioso onde as pessoas que são liberadas da prisão enfrentam tantas barreiras sociais e econômicas que muitas vezes acabam retornando ao sistema prisional. Isso perpetua a marginalização e a exclusão social. A marginalização é agravada pelo fato de que é muitas vezes invisível para o resto da sociedade, que pode não estar ciente da extensão da discriminação e exclusão enfrentadas pelos ex-detentos.

Tipos de marginalização

Existem vários tipos de marginalização, cada um com suas características e mecanismos subjacentes. A marginalização econômica, por exemplo, refere-se à exclusão de indivíduos do mercado de trabalho e da participação econômica ativa, muitas vezes resultante de políticas neoliberais que priorizam os interesses financeiros do mercado em detrimento do bem-estar social.

A marginalização social, por outro lado, envolve a segregação e isolamento de grupos dentro da sociedade, frequentemente baseada em raça, classe, casta ou gênero. A exclusão social refere-se à falta de integração de indivíduos ou grupos em aspectos fundamentais da vida social, como educação, saúde e participação política.

Os especialistas também discutem sobre a marginalização espacial, que se manifesta na segregação urbana e na formação de bolsões de pobreza, onde os desfavorecidos são confinados a áreas degradadas das cidades. Por fim, existe a marginalização cultural, que acontece quando as práticas culturais, línguas ou tradições de grupos são desvalorizadas ou suprimidas, impedindo-os de expressar sua identidade.

A exclusão digital é uma das formas mais evidentes de marginalização na era da informação. O acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) no Brasil, por exemplo, é distribuído de maneira desigual, seguindo padrões de desigualdade social, econômica, política e cultural.

Indivíduos sem acesso à internet e às tecnologias digitais são excluídos de oportunidades educacionais, econômicas e sociais que são cada vez mais mediadas pelo digital. Isso gera prejuízos ao livre desenvolvimento da personalidade e resulta na ofensa à integridade psíquica, uma vez que a participação plena na sociedade contemporânea frequentemente requer competências digitais.

Portanto, os tipos de marginalização variam de acordo com a natureza econômica, social, cultural ou espacial da exclusão. Todos os tipos limitam, de formas diferentes, a capacidade das pessoas de participar ativamente na sociedade.

→ Marginalização infantil

A marginalização infantil é particularmente preocupante, pois afeta as capacidades futuras das crianças. A privação de nutrição, educação e cuidados na infância limita severamente as capacidades futuras das crianças, perpetuando ciclos de pobreza e exclusão. No Brasil, a desnutrição infantil e o acesso limitado a educação de qualidade são exemplos claros dessa forma de marginalização, afetando desproporcionalmente crianças em comunidades pobres e rurais.

Saiba mais: Cotas raciais — como funcionam e por que são tão importantes

Marginalização no Brasil

Criança no alto de uma favela, em texto sobre marginalização.
A marginalização afeta a população segregada nas favelas brasileiras.

No Brasil, a marginalização, com suas profundas desigualdades sociais e econômicas, é concentrada na população com menos renda, afetando especialmente as pessoas segregadas em favelas. Além disso, a marginalização no Brasil é racial e sexista, evidenciada pela desigualdade de oportunidades para a população negra, especialmente as mulheres.

A marginalização no Brasil, no aspecto penal, foi agravada por uma série de políticas neoliberais que favorecem o encarceramento em massa dos pobres e marginalizados. A marginalização no Brasil se acelerou com a adoção de políticas punitivas, inspiradas pelo modelo norte-americano, que resultaram em um aumento significativo do encarceramento, afetando desproporcionalmente jovens, pobres e negros.

Essa estratégia de “guerra aos pobres” não apenas falha em abordar as raízes da criminalidade, mas também agrava a marginalização de comunidades inteiras. A marginalização no Brasil atinge principalmente pessoas que são estigmatizadas como violentas, perigosas ou simplesmente problemáticas.

Além de tudo isso, a falta de investimento em educação de qualidade para todos resulta em baixos níveis de escolaridade entre as populações marginalizadas, limitando suas oportunidades de emprego e ascensão social.

Essas limitações são agravadas pelas mudanças na economia global, que vêm desindustrializando o Brasil e marginalizando trabalhadores menos qualificados dos setores em declínio, isto é, que não acompanharam a rápida evolução tecnológica e não têm acesso ou habilidades para participar da economia digital.

Consequências da marginalização

As consequências da marginalização são a vulnerabilidade social e a desfiliação do contrato social, isto é, um estado de isolamento e desconexão da sociedade, que é acompanhado por uma pobreza persistente e pela dificuldade de reintegração na sociedade.

Essas consequências são vastas e muito prejudiciais, não apenas para os indivíduos marginalizados, mas também para a sociedade como um todo. Elas levam a um aumento da vulnerabilidade a comportamentos de risco, violência e o envolvimento com o sistema de justiça criminal.

Além disso, a marginalização compromete a coesão social e enfraquece o tecido da comunidade, criando um círculo vicioso de pobreza e desesperança. A longo prazo, a marginalização pode resultar em desigualdades intergeracionais, onde as desvantagens são transmitidas de pais para filhos.

Outra consequência da marginalização é o desenvolvimento humano limitado. A incapacidade de desenvolver plenamente as capacidades individuais restringe o potencial de desenvolvimento humano da sociedade. Ela perpetua ciclos de pobreza e amplia a desigualdade, limitando as oportunidades de gerações futuras.

Por outro lado, a exclusão de grupos significativos da participação social e econômica pode levar a um aumento significativo, dependendo do indivíduo, dos sintomas de transtornos de humor, principalmente depressão e ansiedade, além de estresse agudo, pós-traumático e episódios de pânico.

Créditos das imagens

[1] cabuscaa/ Shutterstock

[2] Joa Souza/ Shutterstock

Fontes

ALEXANDER, Michelle. The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness. The New Press, 2010.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: Uma Crônica do Salário. Editora Vozes, 1998.

SOUZA, Jesssé. A ralé brasileira: quem é você e como vive. Editora UFMG, 2009.

LOÏC WACQUANT. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Loïc Wacquant, 2003, Revan.

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MENDES, Rafael Pereira da Silva. "Marginalização"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/marginalizacao.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

De estudante para estudante


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