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Cultura indígena

Cultura indígena brasileira é vasta e diversificada, e os povos indígenas foram grandes influenciadores da formação da identidade cultural brasileira.

Indígenas enfileirados com seus trajes típicos.
Apesar de vasta, a cultura indígena tem elementos comuns entre as tribos.
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A cultura indígena brasileira é vasta e diversificada, ao contrário do que pensa o senso comum. Os historiadores estimam que, no início do século XVI, havia quatro agrupamentos linguísticos principais: tupi-guarani, , caribe e aruaque. Essas famílias linguísticas compartilhavam o mesmo idioma e culturas semelhantes.

Antes da colonização, os índios que habitavam o território (hoje denominado Brasil) tinham uma cultura similar em alguns pontos, tais eram: organização social baseada no coletivismo; ausência de política, Estado e governo; ausência de moeda e de trocas mercantis; religiões politeístas baseadas em elementos da natureza; e ausência da escrita.

A visão europeia sobre os povos indígenas foi, desde a colonização, etnocêntrica, a qual considera o modo de vida indígena inferior por não conter elementos considerados, pelos europeus, símbolos de civilização e progresso. No entanto, a antropologia e a sociologia contemporâneas já desmistificaram essas análises preconceituosas, estabelecendo que as diferenças culturais entre os povos não são motivos para estabelecer-se uma hierarquia cultural.

Saiba mais: Escravidão indígena no Brasil colonial – início e fim

Tópicos deste artigo

Como era a cultura indígena

Os povos indígenas, apesar de terem pertencido a vários grupos diferentes com pontuais diferenças de comportamento e cultura, tinham elementos comuns que consolidavam uma cultura indígena como um todo. Eles tinham religião, hábitos, costumes e comportamentos similares, a divisão do trabalho também era parecida entre todos os povos, e o modo de vida deles era baseado na caça, na pesca e na coleta, acrescida da agricultura de algumas plantas, como a mandioca.

A religião indígena, baseada em conjuntos de mitos sobre seres espirituais, era variada, entretanto era comum a crença em entidades espirituais que habitavam o mundo material. Também se acreditava em potências espirituais encarnadas por animais e na existência de pessoas que poderiam estabelecer contato com o mundo espiritual (pajés), sendo homem ou mulher.

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Tupã era o ser sobrenatural supremo que controlava a natureza e, como é comum nas religiões a identificação dos seus deuses com os seus povos, era representado pela figura de um índio poderoso. Além desse deus, existia a figura mística do Abaçaí, que, para alguns povos, tratava-se um espírito maléfico que perturbava a vida dos índios.

Os povos Tupinambá desenvolveram mitos de criação do mundo e acreditavam em sua possível destruição futura, por meio de dilúvios que matariam todos. Eles também acreditavam em entidades como Maire-Monan, que teria ensinado a agricultura à humanidade para que esta pudesse alimentar-se melhor.

Os pajés, que são as pessoas que podem entrar em contato com as entidades espirituais, utilizam a sabedoria aprendida com os espíritos para aconselhar as pessoas e fazer rituais de cura. Os rituais, chamados pajelanças, poderiam ser feitos em festividades, como forma de agradecimento e de pedido, e para efetuar curas medicinais. Eles envolviam, em alguns casos, música e dança. Era comum o pajé utilizar-se da inalação de grandes quantidades de fumaça de tabaco para que, em transe narcótico, pudesse fazer contato com os espíritos.

Os índios utilizam adornos corporais e pinturas com materiais extraídos da natureza, como a tintura de urucum, os colares de peças naturais, e os botoques e adornos feitos com base na arte plumária (que utiliza plumas e penas de aves). Há uma importante simbologia por trás dos adornos e das pinturas corporais, que podem identificar o sexo, a idade, a aldeia e a posição social do índio, estabelecendo uma espécie de identidade cultural dos povos indígenas.

Pinturas feitas em pernas de índios de tribo amazônica próxima da cidade de Manaus.
Pinturas feitas em pernas de índios de tribo amazônica próxima da cidade de Manaus.

Também é comum a produção de artesanatos para ornamento, de utensílios, como cestas de palha e cuias, e, nas tribos antigas, de arcos, flechas e lanças utilizadas para a caça e para a guerra.

Veja também: Índios tupinambás trazidos à França no século XVI para serem estudados

Características da cultura indígena

Se considerarmos apenas as culturas desenvolvidas por povos indígenas brasileiros, já temos uma grande gama cultural. É característica comum das várias etnias indígenas brasileiras a valorização e o contato com a natureza, sendo que o modo de vida tribal, antes da ocupação violenta do homem branco no território brasileiro, permitia a caça, a coleta e a agricultura familiar como modos de subsistência dos povos indígenas.

As religiões animistas (aquelas que colocam como seres sobrenaturais e divinos elementos da natureza, como o Sol, a Lua e as florestas) compunham o imaginário religiosos dos povos indígenas. Antes da chegada dos portugueses, a maioria das tribos indígenas era guerreira, e essas disputavam os territórios entre si quando uma tribo migrava de um lugar para outro já habitado.

Veja também: Religião – conjunto de crenças e práticas sociais

Outra característica comum das diversas tribos indígenas era a fabricação de utensílios religiosos e de decoração com base em argila, madeira, bambu e penas de aves, além da confecção de pinturas corporais utilizadas em processos de caça e de guerra ou em festivais religiosos.

Crianças indígenas com pinturas tradicionais no rosto e colares típicos.
Crianças indígenas com pinturas tradicionais no rosto e colares típicos.

Costumes indígenas

As sociedades indígenas prezam muito por duas coisas: respeito e ligação com a natureza e respeito à sabedoria dos anciãos. É ainda comum nas tribos indígenas o pensamento de uma vivência sustentável — retirando da natureza somente aquilo que é necessário para a manutenção da vida. As pessoas mais velhas são consideradas mais sábias, o que garante a elas certa autoridade dentro da tribo.

Os povos falantes do tupi estabeleciam uma divisão do trabalho baseada no gênero e na idade. Idosos e crianças não trabalhavam, exceto espantando pássaros e outros animais das plantações. As meninas adolescentes ajudavam no cuidado das crianças mais novas. Homens adultos fabricavam utensílios de caça, pesca e guerra, também fabricavam canoas, guerreavam, caçavam e preparavam a terra para o cultivo. Já as mulheres adultas eram as responsáveis pelas atividades agrícolas, pela coleta, pela fabricação de utensílios domésticos, pela preparação de alimentos e pelo cuidado das crianças.

Os índios, antes da colonização, viviam de maneira autônoma, sem a presença de elementos políticos e governamentais e de Estado. A gestão era coletivista, baseada na cooperação entre os membros de uma mesma tribo e em alianças e guerras entre tribos diferentes.

Veja também: Índios tupinambás trazidos à França no século XVI para serem estudados

Alimentação indígena

A alimentação indígena costumava ser baseada no consumo de frutas, legumes, verduras, raízes, caules, peixes e carnes de caça. Frutos como o caju e o açaí eram comuns na alimentação de povos de algumas localidades, como o Norte e o Nordeste brasileiros. Os índios do Norte também consumiam muito o guaraná como fonte de energia para as atividades diárias e para a guerra. A mandioca era a principal fonte de carboidrato deles, por isso era amplamente cultivada. A tapioca e a farinha de mandioca eram maneiras de estocar a mandioca para a utilização posterior.

Hoje em dia, apesar de manterem muitos hábitos alimentares, os indígenas que permaneceram tiveram que se adaptar aos hábitos alimentares da sociedade brasileira contemporânea. A caça, a pesca e a coleta, que eram possíveis quando as florestas eram preservadas, já não são mais suficientes para alimentar a pequena população indígena, devido ao desmatamento.

A introdução forçada dos indígenas no modo de vida urbano e rural (desenvolvido pelos brasileiros pós-colonização) modificou drasticamente a vida indígena dentro e fora das aldeias, entre 1500 e os dias atuais.

Dança indígena

A dança e a música tiveram e ainda têm um papel religioso dentro da cultura indígena. Geralmente a dança é realizada em rituais e festividades religiosos entoados em agradecimento ou como forma de pedidos às divindades.

Podendo ser realizada individualmente ou em grupo, geralmente a dança indígena possui uma execução de passos que requer a formação de duplas ao menos em algum momento dela. Geralmente, as danças são realizadas por pessoas com o corpo pintado, pois a pintura corporal também é um elemento da simbologia religiosa indígena.

Algumas danças de rituais xamânicos (liderados pelos xamãs, pessoas capazes de fazer uma ponte entre o mundano e o sagrado, como os pajés) entoadas por índios de tribos amazônicas utilizam também máscaras.

Podemos destacar como principais danças indígenas as listadas a seguir:

  • Acyigua: feita pelo pajé e pelo melhor caçador da tribo para resgatar a alma de um guerreiro indígena morto. Ela advém da tradição indígena Guarani.

  • Atiaru: praticada por homens e mulheres da tribo, ela objetiva afastar os maus espíritos do local.

  • Toré: entoada por várias tribos e com diferentes variações. Geralmente é feita em círculos por todos da tribo, ao ar livre, com passos definidos pela batida de um chocalho feito de cabaça e pedras.

  • Kuarup: dança típica de povos do alto Xingu, o kuarup, que é dançado por todos os membros da tribo, visa fazer uma homenagem aos membros que já morreram.

Índios brasileiros da etnia Pataxó durante ritual de dança.
Índios brasileiros da etnia Pataxó durante ritual de dança.

Saiba também: Jogos dos povos indígenas

Influências da cultura indígena no Brasil

Historiadores apontam que, em 1500, existiam cerca de quatro milhões de indígenas habitando as terras brasileiras. Hoje, a Funai estima que um milhão de indígenas vive no país, espalhados em 250 etnias, que, em suas aldeias, ocupam cerca de 13% do território |1|. Essa pequena parcela ocupada somente se mantém devido à demarcação de terras indígenas.

Apesar do genocídio praticado contra os índios desde 1500 (em especial no período das bandeiras, durante a Ditadura Militar e em conflitos de terras atuais em estados, como Mato Grosso, Amazonas e Pará) e da desvalorização dos povos indígenas, o nosso país herdou inúmeros elementos da cultura indígena.

O Brasil é um país extremamente miscigenado e pluricultural. Além da influência de povos africanos, orientais e europeus, os povos indígenas deixaram elementos importantes para a nossa cultura, sobretudo em relação aos hábitos alimentares. A culinária nortista, por exemplo, é rica em elementos da cultura indígena, como a maniçoba e a utilização do tucupi em pratos típicos. Frutos como o caju e a acerola eram consumidos pelos indígenas, e os seus respectivos nomes tiveram origem nas línguas tupi. O açaí, o guaraná e a tapioca, que consumimos amplamente nos dia de hoje e são, inclusive, explorados pela indústria alimentícia, são oriundos dos hábitos alimentares indígenas.

Saiba mais: Cultura brasileira – hábitos, costumes e influências

Como e com quem se aprende a cultura indígena no Brasil

A melhor maneira de aprender a cultura indígena é pelo contato direto com povos indígenas ou por meio de estudos antropológicos desenvolvidos por indigenistas (pesquisadores que se dedicam a entender a cultura indígena).

Podemos destacar como fundamentais os trabalhos desenvolvidos por Darcy Ribeiro, antropólogo a indigenista brasileiro que atuou por quase 10 anos no Serviço de Proteção ao Índio, atual Fundação de Amparo ao Índio (Funai); e por Claude Lévi-Strauss, antropólogo belga que desenvolveu trabalhos de observação da cultura indígena brasileira por décadas e lecionou Antropologia na Universidade de São Paulo (USP).

Darcy Ribeiro ajudou a fundar o Museu do Índio, que é uma instituição sediada no Rio de Janeiro e com polos em Cuiabá (Centro Cultural Ikuiapá) e em Goiânia (Centro Audiovisual do Museu do Índio). O Museu do Índio contém o maior acervo de artefatos indígenas do Brasil.

Acesse também: Dia do Índio – 29 de abril

Curiosidades

  • O caoim era uma bebida típica feita pelos tupi-guarani à base de mandioca. Em um ritual, vários membros da tribo mascavam a mandioca crua e cuspiam o bolo de mandioca misturada com saliva em uma moringa de barro que era enterrada. A fermentação da mistura resultava em uma bebida alcoólica apreciada em festas.

  • Os índios brasileiros não conheciam a metalurgia antes da chegada dos europeus ao território brasileiro.

  • Antes da chegada dos portugueses, havia tribos indígenas canibais no Brasil. Alguns relatos dão conta de que tais tribos sobreviveram até o início do século XX na Amazônia.

  • Várias palavras comuns no nosso cotidiano são de origem indígena. São exemplos: maracujá, guaraná, mandioca, caju, acerola, moringa, tambaqui, pirarucu e oca.

  • O consumo de mandioca, de peixes típicos de rios brasileiros, como o pirarucu, o cará e a caranha, e de frutas brasileiras, como a acerola, o maracujá e o guaraná, está em nossas mesas hoje graças à presença marcante da cultura indígena na formação cultural do Brasil.

Notas

|1| Dados obtidos na matéria: GOUSSINSKY, E. Brasil é líder disparado no genocídio de índios na América Latina. Disponível em: https://noticias.r7.com/prisma/nosso-mundo/brasil-e-lider-disparado-no-genocidio-de-indios-na-america-latina-24042018. Acesso em: 13/04/2019.

Fontes

GOUSSINSKY, E. Brasil é líder disparado no genocídio de índios na América Latina. Disponível em: https://noticias.r7.com/prisma/nosso-mundo/brasil-e-lider-disparado-no-genocidio-de-indios-na-america-latina-24042018.

MOTOOKA, D. et al. História – Ensino médio. Coleção Ser Protagonista, vol. único, parte II. São Paulo: SM, 2014.

 

Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Cultura indígena"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cultura-indigena.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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