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Identidade cultural

Identidade cultural é caracterizada por valores, crenças e práticas que definem um grupo social e o diferenciam de outros.

Quadro com o conceito de identidade cultural.
A identidade cultural é uma fabricação em constante evolução, mais do que uma essência estática.
Crédito da Imagem: Brasil Escola
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A identidade cultural é um conceito dinâmico que engloba características, valores, crenças e práticas que definem um grupo social, diferenciando-o de outros. Elementos como língua, religião, tradições e símbolos são centrais na formação da identidade cultural, funcionando como marcadores que conectam indivíduos a grupos específicos. Esses elementos são historicamente construídos e continuamente reinterpretados em resposta às mudanças sociais.

No Brasil, a identidade cultural é marcada pela confluência das matrizes indígenas, africanas e europeias, resultando em uma formação híbrida desde o período colonial. Globalmente, a identidade cultural passou por transformações significativas desde o Iluminismo até a pós-modernidade. Com a globalização, as identidades tornaram-se fragmentadas e híbridas, refletindo tanto processos de homogeneização quanto resistências locais.

Leia também: Afinal, o que é cultura?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre identidade cultural

  • A identidade cultural é composta por características, valores, crenças e práticas que definem um grupo social e o diferenciam de outros.
  • A identidade cultural no mundo de hoje é caracterizada por fluidez, fragmentação e multiplicidade. 
  • A identidade cultural não é fixa ou essencial, mas um processo contínuo de construção e transformação, uma fabricação em constante evolução.
  • A identidade cultural é definida em relação ao outro por meio de diferenças culturais e constantemente negociada no contato com outras culturas.
  • Existe a concepção da identidade cultural como unificada e estável, baseada em experiências históricas comuns (essencialismo).
  • As identidades culturais contemporâneas são fragmentadas e marcadas pela fluidez conforme as transformações históricas e sociais.
  • No Brasil, movimentos culturais do século XX (modernismo e tropicalismo) valorizaram expressões populares e regionais, desafiando a identidade cultural hegemônica.

Videoaula sobre identidade cultural

O que é identidade cultural?

A identidade cultural pode ser entendida como um conjunto de características, valores, crenças e práticas que definem um grupo social e o diferenciam de outros. A identidade cultural não é fixa ou essencial, mas sim um processo contínuo de construção e transformação. Ela é formada no contexto da representação, ou seja, emerge das narrativas históricas, culturais e sociais que moldam a percepção de si mesmo e do outro. Para autores como Stuart Hall, a identidade cultural é mais bem compreendida como uma fabricação constante evolução, ao invés de uma essência estática.

Existem pelo menos duas formas de conceber a identidade cultural. A primeira concepção a vê como uma essência unificada e estável, baseada em experiências históricas comuns e códigos culturais compartilhados. Essa visão foi fundamental para a construção do Estado nacional moderno e em lutas pós-coloniais, como as dos movimentos pan-africanistas do século passado.

A segunda concepção, mais complexa, entende a identidade como um "tornar-se", algo fluido e dinâmico, que está sujeito às transformações históricas e culturais. Nesse sentido, as identidades são posicionamentos que refletem tanto continuidades quanto rupturas.

Além disso, a globalização impactou profundamente na redefinição das identidades culturais. Os processos globais têm fragmentado as identidades nacionais e promovido novas formas híbridas de identificação. Assim, a identidade cultural não é apenas um reflexo do passado, mas também uma resposta às dinâmicas contemporâneas de poder, globalização e representação.

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Características da identidade cultural

As identidades culturais possuem algumas características fundamentais que as tornam dinâmicas e multifacetadas. Primeiramente, elas são historicamente construídas, ou seja, resultam de processos históricos específicos que moldam as experiências coletivas de grupos sociais. Desse modo, as identidades não são inatas ou naturais, mas forjadas na interação entre o indivíduo e a sociedade, sendo profundamente influenciadas por fatores políticos, econômicos e sociais.

Outra característica importante da identidade cultural é a sua natureza relacional. As identidades culturais são definidas em relação ao "outro", ou seja, pela diferença em relação a outras culturas. Esse aspecto dialógico implica que as identidades não existem isoladamente; elas são constantemente negociadas no contato com outras culturas e influências externas. Essa interação pode levar tanto à preservação quanto à transformação das identidades.

Por fim, as identidades culturais são marcadas pela sua fluidez e hibridismo. Na modernidade tardia, as identidades tornaram-se fragmentadas devido à globalização e às mudanças sociais. Em vez de serem fixas ou homogêneas, elas assumem múltiplas formas em diferentes contextos históricos e geográficos. Esse caráter híbrido reflete a capacidade das culturas de se adaptarem às novas condições sem perder completamente suas raízes.

Leia também: Cultura de massa — a produção pensada na comercialização em larga escala

Elementos da identidade cultural

Os elementos que compõem a identidade cultural incluem língua, religião, tradições, símbolos e histórias compartilhadas. Esses elementos funcionam como marcadores que ajudam os indivíduos a se identificarem com um grupo específico e se distinguirem de outros. Os elementos da identidade cultural não são apenas dados, eles são continuamente construídos ou reinterpretados no contexto das mudanças sociais e históricas.

A língua desempenha um papel central na formação da identidade cultural ao fornecer uma base para a comunicação e a expressão coletiva dos valores culturais. Da mesma forma, os rituais religiosos e as tradições comunitárias servem como práticas simbólicas que reforçam o senso de pertencimento dentro de um grupo social específico.

Além disso, símbolos como bandeiras, músicas ou monumentos nacionais funcionam como representações visuais ou auditivas da identidade coletiva. Eles ajudam a perpetuar memórias históricas compartilhadas e criam um senso de continuidade entre o passado e o presente. Esses elementos são fundamentais para sustentar o sentimento de unidade dentro de uma cultura nacional ou local.

Formação da identidade cultural

A formação da identidade cultural é um processo dinâmico influenciado por fatores históricos, sociais e políticos. A formação da identidade cultural envolve tanto continuidades quanto rupturas: enquanto certos elementos culturais são preservados ao longo do tempo, outros são transformados ou substituídos em resposta às mudanças nas condições externas.

A interação entre o indivíduo e o coletivo é essencial nesse processo. Através da socialização em contextos familiares, educacionais e comunitários, os indivíduos internalizam os valores e normas culturais do grupo ao qual pertencem. No entanto, essa internalização não é passiva; ela envolve negociação constante entre as influências externas, as tradições locais e as escolhas que o sujeito faz.

Outro aspecto importante é o papel das narrativas históricas na formação da identidade cultural. Essas narrativas fornecem um senso de continuidade ao conectar o presente com o passado coletivo do grupo. Essas narrativas também podem ser reescritas para refletir novas realidades políticas ou sociais, mostrando que a formação da identidade depende sempre de fatores contingentes.

Manifestação da identidade cultural

Discos do Bob Marley, um ícone musical que faz parte da identidade cultural de muitos.
A formação da identidade cultural está vinculada ao funcionamento de uma indústria cultural que fabrica ícones na música, cinema, dança etc.[1]

As manifestações da identidade cultural podem ser observadas em diversas esferas da vida social: na arte, na música, na literatura, nos rituais religiosos e nas práticas cotidianas dos grupos sociais. Essas expressões servem como formas visíveis de representar os valores compartilhados por uma comunidade.

Por exemplo, nas sociedades pós-coloniais dos países caribenhos, práticas culturais como o reggae ou o rastafarianismo emergiram como expressões poderosas da identidade afro-caribenha. Essas manifestações artísticas não apenas refletem as experiências históricas do colonialismo e da escravidão mas também reimaginam essas experiências para criar novas formas de pertencimento coletivo.

Além disso, as manifestações culturais frequentemente operam como formas de resistência contra hegemonias externas ou internas. Elas oferecem aos grupos marginalizados ferramentas para afirmar sua singularidade em contextos nos quais suas identidades foram historicamente suprimidas ou distorcidas.

Importância da identidade cultural

A identidade cultural desempenha um papel crucial na construção do senso de pertencimento dos indivíduos dentro de uma comunidade maior. Ela oferece um quadro simbólico através do qual as pessoas podem compreender seu lugar no mundo social e histórico.

Além disso, ela contribui para a coesão social ao fornecer aos membros do grupo uma base comum para interagir uns com os outros. Isso é particularmente importante em contextos multiculturais ou pós-coloniais, nos quais diferentes grupos precisam negociar suas diferenças enquanto mantêm certa unidade coletiva.

Por fim, a preservação das identidades culturais também tem implicações políticas significativas. Em tempos de globalização acelerada, em que culturas dominantes muitas vezes ameaçam apagar tradições locais menores ou menos poderosas economicamente falando, proteger essas identidades torna-se uma forma vital de resistência político-cultural frente a forças homogeneizantes globais.

Leia também: Apropriação cultural — prática de um grupo dominante utilizar elementos culturais de um grupo subalterno

Identidade cultural no Brasil

A identidade cultural no Brasil é marcada por um processo histórico de formação híbrida, resultado da confluência de diferentes matrizes culturais: indígenas, africanas e europeias. Desde o período colonial, a imposição da cultura europeia, especialmente portuguesa, que dominava e oprimia os povos originários e os africanos escravizados, gerou uma dinâmica de dominação e resistência. Enquanto os colonizadores buscavam homogeneizar a cultura sob os valores europeus, as populações indígenas e africanas resistiram por meio da preservação de suas práticas culturais, muitas vezes adaptando-as às condições impostas.

No século XIX, com a Independência do Brasil e a formação do Estado-nação, houve uma tentativa de consolidar uma identidade nacional unificada. Essa construção foi profundamente influenciada pelas ideias de mestiçagem e sincretismo cultural, que exaltavam a mistura das três matrizes como a base da "brasilidade". No entanto, essa narrativa oficial muitas vezes mascara as desigualdades raciais e sociais subjacentes. A cultura afro-brasileira, por exemplo, foi marginalizada enquanto elementos selecionados dela eram apropriados para compor a identidade nacional.

No século XX, movimentos culturais e intelectuais como o modernismo e o tropicalismo buscaram valorizar as expressões culturais populares e regionais como parte integrante da identidade brasileira. Esses movimentos desafiaram as narrativas hegemônicas ao destacar a diversidade cultural do país. No entanto, mesmo com avanços na valorização da pluralidade cultural, ainda persiste o desafio de superar as desigualdades que marcam as relações entre os diferentes grupos culturais no Brasil. A identidade cultural brasileira continua sendo um processo em constante construção e renegociação.

Identidade cultural no mundo

Festival de Holi, no Nepal, um exemplo de identidade cultural.
Festivais e tradições populares são elementos que formam a identidade cultural de um grupo social. Na imagem, Festival de Holi, no Nepal.

A história da identidade cultural no mundo é marcada por profundas transformações na forma como os indivíduos e as sociedades compreendem a si mesmos e suas relações com o mundo. Durante o Iluminismo, que floresceu nos séculos XVII e XVIII, surgiu a concepção do "sujeito iluminista", centrado na razão, consciência e autonomia. Esse sujeito era visto como unificado e dotado de uma identidade fixa, que permanecia inalterada ao longo da vida. Essa visão refletia os ideais de racionalidade e universalidade, colocando o homem como o centro do universo, em oposição às explicações religiosas predominantes até então.

No entanto, com o avanço da modernidade nos séculos XIX e XX, essa concepção começou a ser questionada. O "sujeito sociológico" emergiu como uma nova forma de entender a identidade, destacando que ela não era fixa ou essencial, mas construída socialmente. Nesse contexto, a identidade passou a ser vista como resultado das interações entre o indivíduo e a sociedade, moldada por valores culturais, símbolos e normas compartilhados. Essa transição foi influenciada por pensadores como Marx, Freud e Saussure, que introduziram conceitos sobre os fatores econômicos, psíquicos e linguísticos na formação das identidades.

Com a chegada da pós-modernidade no final do século XX, autores como Stuart Hall argumentam que se instalou uma "crise de identidade", caracterizada pela fragmentação do sujeito moderno. O seu argumento é que as identidades tornaram-se múltiplas e mutáveis, refletindo as rápidas transformações provocadas pela globalização. A ideia de um "sujeito pós-moderno" emergiu, representando indivíduos com identidades híbridas que assumem diferentes formas dependendo do contexto histórico e cultural. A globalização intensificou esse processo ao conectar culturas diversas e gerar tanto homogeneização quanto resistência local.

Créditos da imagem

[1] Kraft74 / Shutterstock

Fontes

ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12ª. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.

HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Orgs.) A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MENDES, Rafael Pereira da Silva. "Identidade cultural"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm. Acesso em 20 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


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