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O manifesto é uma modalidade textual em que predomina a argumentação em defesa de um ponto de vista. Ele é utilizado quando grupos de grande relevância na sociedade demonstram insatisfação com algumas atitudes de outros pares ou do governo, como o descaso com a falta do cumprimento de certas obrigações.
É muito comum vermos sindicatos, políticos ou artistas lançarem manifestos. Sobre estes últimos, os artistas, seus manifestos apresentam algumas peculiaridades: eles podem ter cunho político, mas o foco incide, na maioria das vezes, sobre alguma questão estética relacionada à qualquer manifestação artística (audiovisual, pintura, escrita etc.).
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre manifesto
- 2 - Videoaula sobre manifesto (gêneros textuais)
- 3 - Como se faz um manifesto?
- 4 - Características e estrutura do manifesto
- 5 - Tipos de manifesto
- 6 - Exemplos de manifesto
Resumo sobre manifesto
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O manifesto é um texto dissertativo-argumentativo em que determinado grupo expõe certa opinião ou tomada de decisão sobre algum assunto.
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Por ser um texto dissertativo, apresenta a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.
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Para fazê-lo, é preciso definir o tema, o público-alvo e os argumentos a serem utilizados para convencer esse público.
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Pode ser classificado em político ou artístico.
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O tipo artístico possui estrutura mais flexível e geralmente tem como foco a discussão estética de determinado período.
Videoaula sobre manifesto (gêneros textuais)
Como se faz um manifesto?
O manifesto tem como função principal proporcionar o amplo debate sobre um tema de interesse de ampla audiência. Ele pode ser redigido por partido político, governo ou órgão governamental, sindicato, representantes de determinada categoria etc. Nele, as instituições ou pessoas expõem suas opiniões sobre o assunto em debate.
Assim, o manifesto deve ser pensado inicialmente acerca de uma discussão de grande relevância e interesse. Deve-se perguntar então: o que estou reivindicando? Qual é a minha opinião sobre o tema? Com base nesses questionamentos, é possível começar a pensar em um desenvolvimento mais robusto.
Em segundo lugar, o manifesto é um texto dissertativo e direcionado a um público (classe de professores, juristas, trabalhadores do campo etc.). Dessa forma, é preciso ser bem claro quanto ao público-alvo (é possível chamá-lo por meio de vocativos ou fazer algumas referências ao grupo) e utilizar os recursos argumentativos (conectivos) para persuadir e convencer uma possível parcela que ainda não escolheu um lado no debate.
Como se trata de um texto dissertativo-argumentativo, a sua estrutura é a tradicional: introdução, desenvolvimento e conclusão. Lembre-se, no entanto, que o manifesto precisa expor uma temática, definir um público-alvo e utilizar argumentos e informações acerca do assunto com objetivo de convencer o leitor. Tudo isso deve ser feito de forma concisa e não prolongada.
Características e estrutura do manifesto
O manifesto é um texto de cunho argumentativo, e, sendo assim, ele se organiza da seguinte forma:
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Título: geralmente o título especifica que se trata de um manifesto e qual o seu público-alvo. Exemplos de títulos: “Manifesto dos professores de Gurupi/TO”, “Manifesto nacional dos motoristas de ônibus” etc.
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Introdução: apresentação do tema com contextualização e início do diálogo com o público-alvo. Por exemplo, o manifesto pode ser iniciado lembrando os professores das promessas de reajustes salariais não cumpridas ao longo dos anos.
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Desenvolvimento: após uma chamada inicial aos maiores interessados no debate, o texto deve fundamentar seus argumentos com dados, informações e autoridades capazes de reforçar o ponto de vista defendido. Nesse momento, é possível trazer pesquisas que comprovem as ideias listadas ou mesmo especialistas com estudos sobre a questão. O objetivo aqui é trazer o leitor para o lado daqueles que manifestam.
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Conclusão: é o fechamento. Nela, o manifesto pode listar algumas reivindicações ou proposições capazes de resolverem o problema/impasse que vem gerando indignação e que resultou no texto escrito.
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Local, data e assinatura: o manifesto é finalizado com a especificação do local onde ele foi redigido, a data em que foi assinado e a assinatura do(s) autor(es).
Tipos de manifesto
Por conta do seu caráter de participação social, o manifesto atinge diversas áreas e campos da nossa sociedade. Assim, ele pode ser classificado em:
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Manifesto político: é talvez o mais conhecido e utilizado. Ele pode ser fruto de um partido político em divergência com outros atores políticos; também pode ser uma reivindicação de alguma classe ou grupo social acerca de algum tema. Nós temos diversos exemplos de manifestos políticos, entre eles, alguns mais conhecidos são: o “Manifesto comunista”, de Karl Marx; o manifesto feminista de 1967, “SCUM Manifesto”; e o “Manifesto dos mineiros”, feito em 1930, no Brasil.
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Manifesto artístico: direcionado exclusivamente para a arte, possui uma estrutura um pouco mais flexível, mas não deixa de cumprir a função essencial do gênero: trazer para debate público o descontamento de um setor da sociedade. Os manifestos artísticos mais conhecidos são: o “Manifesto futurista”, de Marinetti; o “Manifesto antropofágico”, de Oswald de Andrade; e o “Manifesto surrealista”, de André Breton.
Exemplos de manifesto
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Manifesto político
MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum. Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia. Trecho do manifesto em defesa da democracia Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/30/luciano-huck-manifesto-defesa-democracia.htm |
No trecho anterior, podemos identificar a retomada de um acontecimento histórico no Brasil (as Diretas Já) para justificar a necessidade de outro movimento que defenda a democracia. O texto esclarece que o seu público são aqueles, de direita, esquerda ou centro, que defendem a lei, a ordem, a política, a ética e diversos outros fatores que possibilitaram e que sustentam a democracia brasileira.
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Manifesto artístico
MANIFESTO FUTURISTA 1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e do destemor. 2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia. 3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco. 4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia. 5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita. 6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificência para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais. 7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem. 8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente. 9. Nós queremos glorificar a guerra — única higiene do mundo — o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher. 10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária. 11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos[2] aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta. É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o “futurismo”, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. Já é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de belchiores. Nós queremos libertá-la dos inúmeros museus que a cobrem toda de inúmeros cemitérios. Manifesto futurista |
O manifesto futurista foi feito em forma de lista com uma síntese das principais ideias defendidas pelo movimento. Nele, é possível ver que o futurismo defendia uma arte livre das amarras do passado e ligada às transformações do presente e do futuro (as máquinas e a velocidade são marcas constantes no texto). Assim, as reivindicações do manifesto futurista são, em sua maior parte, estéticas. O manifesto futurista buscou uma transformação estética por meio das mudanças sociais do início do século XX.
Por Rafael Camargo de Oliveira
Professor de Redação