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O amor acaba: crônicas líricas e existenciais, de Paulo Mendes Campos, é um livro de crônicas publicado após a morte do autor. A seleção dos 74 textos foi feita pelo jornalista Flávio Pinheiro. Eles tematizam o cotidiano com humor, senso crítico e muito lirismo. A crônica que dá título ao livro trata o amor de forma não idealizada ao constatar o seu inevitável fim.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
- 2 - Análise da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
- 3 - Crônica “O amor acaba”
- 4 - Trechos da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
- → Trecho da crônica “A aurora”
- → Trecho da crônica “Receita de domingo”
- → Trecho da crônica “Folclore de Deus”
- → Trecho da crônica “Por que bebemos tanto assim?”
- → Trecho da crônica “Anatomia do tédio”
- → Trecho da crônica “Olhar de mulher”
- → Trecho da crônica “Sobrevoando Ipanema”
- → Trecho da crônica “Congo”
- → Trecho da crônica “Sono e insônia”
- 5 - Vida de Paulo Mendes Campos
Resumo sobre a obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
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O amor acaba é uma obra do escritor mineiro Paulo Mendes Campos.
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O autor fez parte da terceira geração do modernismo brasileiro (ou pós-modernismo).
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O livro contém 74 crônicas poéticas e existenciais.
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Elas apresentam temas do cotidiano com humor, ironia e lirismo.
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Os textos falam do amor, da beleza e da morte, entre outros assuntos.
Análise da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
→ Crônicas da obra O amor acaba
O livro O amor acaba é composto pelas seguintes crônicas:
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“A aurora”
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“Receita de domingo”
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“O amor acaba”
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“Folclore de Deus”
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“Ser brotinho”
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“O cego de Ipanema”
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“O medo”
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“Por que bebemos tanto assim?”
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“Réquiem para os bares mortos”
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“Anatomia do tédio”
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“A arte de ser infeliz”
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“A Luxúria”
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“Rondó de mulher só”
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“Lindas e feias”
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“Da mulher nua à mulher vestida”
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“Achando o amor”
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“De Gonzaga para Marília”
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“Olhar de mulher”
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“Bom gosto e vulgaridade”
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“Um homenzinho na ventania”
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“Prosa primitiva”
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“De repente”
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“Sobrevoando Ipanema”
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“Lua de mel”
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“O homem liberto”
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“Canto fúnebre do carioca”
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“Despertar de José”
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“Cuidado com os velhos”
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“Maturidade”
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“Um domingo”
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“Fim de semana em Cabo Frio”
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“O cão na catedral”
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“Três sujeitos íntimos”
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“Juventude de hoje, ontem e amanhã”
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“A puberdade abstrata”
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“Poesia do Natal”
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“Os reis magos”
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“Pequenas ternuras”
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“O inimigo”
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“Dentro da noite”
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“Gente boa e gente inútil”
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“Música, doce música”
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“O acidente”
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“Le monocle de mon oncle”
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“O vendedor de gravidade”
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“A Idade da Comunicação”
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“Congo”
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“Encenação da morte”
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“A emulação do desastre”
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“Memorando de um dia”
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“Metamorfose às avessas”
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“Para Maria da Graça”
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“Nutrição: notas de um diletante”
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“Perfil a lápis”
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“Como disse o homem”
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“Últimos apelos”
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“Depoimento”
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“Desquitados que se amam”
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“Aparição”
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“Em face dos mortos”
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“O reino das lembranças”
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“Uma casa kafkiana”
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“Sono e insônia”
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“Buro(câncer)cracia”
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“A vida, a morte, o amor, o dinheiro”
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“Imagens”
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“Fascinação da bagatela”
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“Amanhecer e anoitecer”
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“Versos em prosa”
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“Discurso à beira do caos”
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“Declaração de males”
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“Tens em mim tua vitória”
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“Na praia”
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“Coriscos”
→ Características da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
Pertencente à terceira geração do modernismo, conhecida também como pós-modernismo, Paulo Mendes Campos ficou bastante conhecido pelas suas crônicas. Elas apresentam temáticas do cotidiano com humor e lirismo. Os textos do escritor também são marcados pela síntese e presença de elementos intertextuais.
O livro O amor acaba, cujo subtítulo é “crônicas líricas e existenciais”, possui 74 crônicas de Paulo Mendes Campos. Ele foi publicado após a morte do autor. Assim, os textos, cuja linguagem mescla coloquialismo com discurso erudito, foram selecionados pelo jornalista Flávio Pinheiro.
Veja também: A hora da estrela — outra obra que faz parte da terceira geração modernista
Crônica “O amor acaba”
A crônica que dá título ao livro “O amor acaba” foi publicada, pela primeira vez, na revista Manchete, em 16 de maio de 1964. Seu tema principal é o amor, e nela, o cronista afirma que esse sentimento “acaba”. Portanto, o autor é realista e nada romântico. Assim, o fim do amor se torna mais um acontecimento cotidiano, já que, todos os dias, ele acaba de diversas maneiras.
Além disso, Paulo Mendes Campos utiliza o ponto-final apenas no fim da crônica, de forma a sugerir definitivamente o fim do amor:
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; [...] às vezes o amor acaba como se fosse melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
CAMPOS, Paulo Mendes. O amor acaba. In.: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Trechos da obra O amor acaba: crônicas líricas e existenciais
→ Trecho da crônica “A aurora”
Abençoado seja o Sol. Abençoado seja o dia. Abençoado seja o descanso. Abençoados sejam os pássaros diurnos e noturnos. Abençoadas sejam as criaturas de todo o mundo. Abençoado o fogo; a terra; o ar; a água. Abençoada seja a aurora. Que me perdoa de meus pecados.
CAMPOS, Paulo Mendes. A aurora. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Receita de domingo”
Noite pesada. À luz da lâmpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo está errado, que o mundo devia, mas não é composto de domingos. Então, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante não nos repartam em uma existência de egoísmos.
CAMPOS, Paulo Mendes. Receita de domingo. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Folclore de Deus”
Mas Deus é também o grande boêmio: ele passou por tua noite quando bebias teu penúltimo copo de vinho; talvez não o viste, mas todos os teus sentidos se alertaram, e bebeste um gole inquieto e enxugaste teus lábios com o dorso da mão e sentiste saudade de tua casa.
CAMPOS, Paulo Mendes. Folclore de Deus. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Por que bebemos tanto assim?”
Chesterton foi um louco que perdeu tudo, menos a razão; é claro, por isso mesmo, que a criatura humana é o princípio da degradação de todas as coisas sobre a Terra. O álcool é inocente. Só um típico alcoólico anônimo seria incapaz de entender a inocência do álcool e a inescrutável malícia dos homens.
CAMPOS, Paulo Mendes. Por que bebemos tanto assim? In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Anatomia do tédio”
O psicólogo Maynard Shelly, da Universidade de Kansas, conceitua o tédio como estímulo inadequado; o problema do tédio é que nós nos adaptamos ao grande número das formas de estímulos. Os filmes que excitavam ou chocavam na década de 40 não provocam mais nada, talvez provoquem tédio. Daí, o sexo e a violência. Quando a economia baqueia, quando falta gasolina, o tédio piora. E, com ele, a onda de crimes.
CAMPOS, Paulo Mendes. Anatomia do tédio. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Olhar de mulher”
[...]: quem ama o feio tem senso estético; quem ama o bonito tem senso social. Por isso mesmo, os concursos de beleza não deveriam ser julgados por um júri limitado, mas pela multidão; o membro do júri corre o risco de projetar na escolha o seu próprio senso estético (caso o possua), mas a multidão não errará nunca, escolhendo fatalmente a mulher encantadora, a mulher que fala ao erotismo da maioria de uma cidade, de um país, de uma raça.
CAMPOS, Paulo Mendes. Olhar de mulher. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Sobrevoando Ipanema”
Mas, em sua viagem, ela absorvera alguma coisa mais simples do que a água e mais pura do que o peixe de cada dia, alguma coisa que está na cor e não é a cor, está na forma dos objetos e não é a forma, está no oceano, na luz solar, no vento, nas árvores, no marechal, na sombra que se desloca, mas que não é a sombra, o marechal, o vento, a luz solar, o oceano. Alguma coisa infinitamente sensível e unânime, que se esvai ao ser tocada, alguma coisa indefinidamente acima da compreensão das gaivotas.
CAMPOS, Paulo Mendes. Sobrevoando Ipanema. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Congo”
No Congo, violência, vingança, o ídolo vetusto que se estraçalha, o pântano de sangue, o voo do corvo, o rio da raiva, a garra do belga, a madrugada de carvão, a cova de Cristo, a luz de Lumumba. Na Bélgica, a suavidade dos canais, meu amor.
CAMPOS, Paulo Mendes. Congo. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
→ Trecho da crônica “Sono e insônia”
Só os ricos poderiam dormir. Mas não dormem. Alguns porque, ainda mais intensamente, foram lançados no círculo infernal da competição; outros, sensíveis, porque não estão em boa paz com as suas consciências; outros…
CAMPOS, Paulo Mendes. Sono e insônia. In: _____. O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Vida de Paulo Mendes Campos
Paulo Mendes Campos nasceu em 28 de fevereiro de 1922, na cidade de Belo Horizonte. Mais tarde, atuou como bibliotecário na Diretoria de Saúde Pública de Minas Gerais. Tentou investir em várias carreiras. Iniciou estudos em Odontologia, Aviação, Direito e Veterinária, mas não concluiu nenhum deles.
O autor escreveu para diversos periódicos, como os jornais O Diário, Folha de Minas, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e a revista Manchete. No Rio de Janeiro, dirigiu o Departamento de Obras Raras da Biblioteca Nacional, além de ter feito traduções e também ter escrito para a televisão. Faleceu em 1 de julho de 1991, no Rio de Janeiro.
Créditos de imagem
[1] Grupo Companhia das Letras (reprodução)
[2] Wikimedia Commons (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura