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Bons dias! — Machado de Assis

“Bons dias!” é um livro de crônicas do escritor realista Machado de Assis. A obra reúne textos que foram publicados na “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, em 1888 e 1889.

Capa do livro “Bons dias!”, de Machado de Assis, publicado pela editora Unicamp.[1]
Capa do livro “Bons dias!”, de Machado de Assis, publicado pela editora Unicamp.[1]
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Bons dias! é o título do livro que reúne as crônicas que Machado de Assis, sob o pseudônimo de Boas Noites, publicou na Gazeta de Notícias nos anos de 1888 e 1889. Assim, a obra contém crônicas de caráter narrativo e argumentativo, que tratam de diversos assuntos no campo político, social e cultural.

Os textos são caracterizados por um tom irônico e realista e mostram o Brasil às vésperas do século XX, quando a monarquia e a escravidão chegavam ao seu fim, para dar lugar à república. Nesse contexto, Machado de Assis refletiu sobre o seu tempo, sem perder o olhar racional e crítico sobre a sociedade brasileira.

Leia também: Dom Casmurro – uma das narrativas mais conhecidas de Machado de Assis

Tópicos deste artigo

Resumo da obra Bons dias!

  • Bons dias! é um livro de crônicas do escritor realista Machado de Assis.

  • Elas foram publicadas, inicialmente, na Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro, entre 1888 e 1889.

  • As crônicas narrativas possuem um irônico narrador-personagem que se confunde com o autor.

  • Os textos da obra são assinados com o pseudônimo de Boas Noites e tratam de questões políticas, sociais e culturais.

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Videoaula sobre Bons dias!

Análise da obra Bons dias!

  • Personagens da obra Bons dias!

As crônicas possuem variados personagens, reais e fictícios, mas o principal personagem é o autor delas, pois Machado de Assis as assinava com o pseudônimo (e talvez o correto seja mesmo dizer “heterônimo”) de Boas Noites.

  • Tempo da obra Bons dias!

O tempo das crônicas são os anos de 1888 e 1889.

  • Espaço da obra Bons dias!

As crônicas são, principalmente, sobre fatos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro.

Leia também: Sagarana – livro de narrativas de Guimarães Rosa

  • Enredo da obra Bons dias!

A obra não possui um enredo, mas enredos, já que muitas crônicas são narrativas. Como exemplo, temos a crônica do dia 04 de maio de 1888, em que o narrador-personagem escreve:

“… Desculpem, se lhes não tiro o chapéu: estou muito constipado. Vejam; mal posso respirar. Passo as noites de boca aberta. Creio até que estou abatido e magro. Não? Estou: olhem como fungo. E não é de autoridade, note-se; ex autoritate qua fungor não, senhor; fungo sem a menor sombra de poder, fungo à toa...”

Na sequência, ele diz que desejava ir ao Senado, ocupar um lugar e ver a cerimônia de “abertura das câmaras”. Contudo, por recomendações médicas, não pôde realizar o planejado. Além disso, queria também conversar com o senador Castro Carreira (1820-1903). Assim, ele reproduz o diálogo que pretendia ter com o político cearense.

Já a crônica de 27 de dezembro de 1888 também se inicia com a típica ironia machadiana, mas aqui ela é uma característica do personagem Boas Noites: “Cuidava eu que era o mais precavido dos meus contemporâneos. A razão é que saio sempre de casa com o Credo na boca, e disposição feita de não contrariar as opiniões dos outros”.

Então, menciona o Visconde de Abaeté (1798-1883), o qual, segundo o narrador, “nos últimos anos”, se alguém dizia que ele estava abatido, o visconde concordava, e se, “vinte passos adiante”, outra pessoa declarava que ele estava “rijo e robusto”, ele concordava também. Desse modo, satisfazia a todos e não perdia tempo.

“Visconde de Abaeté”, fotografia de Karl Ernest Papf (1833-1910).
“Visconde de Abaeté”, fotografia de Karl Ernest Papf (1833-1910).

Em seguida, o narrador conta que, dias atrás, quando algumas pessoas saíam de uma “conferência republicana”, foram atacadas, e houve tumulto. As vítimas recorreram aos apitos para chamar a polícia. Um pouco antes, “dois soldados brigaram com o cocheiro ou condutor de um bond”, e os passageiros também recorreram aos apitos para chamar a polícia.

A partir de então, começa a falar sobre esses apitos, pois nunca imaginou “que toda a gente andasse aparelhada desse instrumento”. Ao concluir que “cada cidadão trazia um apito no bolso”, o narrador imagina uma situação em que um homem, ao sair de casa, diz para a esposa, de nome Florência, que esqueceu a carteira ou pede para a mulher ver “se há charutos na caixa”.

Contudo, o narrador diz que nunca imaginou esta frase: “— Florência, depressa, dá cá o apito!”. Todavia, diante da utilidade do instrumento, decide comprar um. Então, começa a falar de um tal carrasco de Minas Gerais e refletir sobre o seu ofício, de forma que a crônica deixa de ser narrativa e se transforma em argumentativa.

Em 13 de janeiro de 1889, Boas Noites declara que “se fosse gatuno, recolhia-me à casa, abria mão de vício tão hediondo, e ia estudar o hipnotismo. Uma vez amestrado, saía à rua com um ofício honesto, e passava o resto dos meus dias comendo tranquilamente sem remorsos nem cadeia”.

Ele declara que gastou “dias metido no estudo desta ciência nova”, e imagina uma situação em que hipnotizaria o Visconde de Figueiredo (1843-1917) e lhe pediria “as notas que tiver aí no bolso, o relógio, os botões de ouro e qualquer outra prenda de estimação”. Em seguida, ordenaria: “Agora mando que se esqueça de tudo”. E esse seria só o início dos seus “estudos práticos”

Passa então a dizer como se comportaria no “caso das meninas envenenadas de Niterói”. Conclui seu texto com a narração de sua própria morte, quando São Pedro, “chaveiro do céu”, não lhe abriria as portas por mais que lhe dissesse que os seus atos “eram puras experiências científicas”.

Ele usaria suas técnicas hipnóticas, e “São Pedro, mestre dos mestres na língua eclesiástica, obedeceria prontamente à minha intimação hipnótica, e agitaria os braços. Mas como, então, não via nada, eu passaria para o lado de dentro; [...], ele acordaria e me perdoaria em nome do Senhor, desde que transpusera o limiar do céu”.

Por fim, na crônica de 13 de agosto de 1889, o narrador conta o diálogo que teve com um “homem gordo”, isto é, um tal Lulu Sênior, o qual lhe diz para ser “candidato à Câmara temporária”. Para Lulu Sênior, é preciso ser magro para trabalhar na câmara, já as suas “formas atléticas pedem evidentemente o Senado”.

O narrador diz não ter ideias, “nem políticas nem outras”. Contudo, o interlocutor vê nisso uma vantagem, pois “não as ter é meio caminho andado”. O importante, segundo ele, é ter amigos. E afirma que “toda a questão é ir ao encontro do sentimento do eleitor, isto é, que ele te faz um favor votando; não escolhe um representante dos seus interesses”.

Desse modo, as crônicas do livro Bons dias!, tanto as narrativas quanto as argumentativas, são repletas de ironia e tratam de questões políticas, sociais e culturais. Fazem, portanto, um retrato do Brasil do século XIX, em que a monarquia chegava ao fim para dar lugar à república.

  • Narrador da obra Bons dias!

O narrador das crônicas narrativas é seu autor, isto é, o personagem Boas Noites, que se confunde com Machado de Assis. É, portanto, um narrador-personagem extremamente crítico, que analisa os fatos e os costumes de seu tempo.

  • Características da obra Bons dias!

As 49 crônicas do livro Bons dias! falam de diversos assuntos relacionados aos anos de 1888 e 1889. A primeira delas é datada de 05 de abril de 1888, já a última, de 29 de agosto de 1889. Umas são narrativas, outras, argumentativas. De qualquer forma, apresentam traços realistas, a inconfundível ironia machadiana, além do diálogo com o leitor.

Machado de Assis

Machado de Assis, em 1904.
Machado de Assis, em 1904.

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis) nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Era filho do brasileiro Francisco José de Assis (1806-1864) e da açoriana Maria Leopoldina Machado da Câmara (1812-1849). De origem pobre, ele e seus pais eram agregados na Quinta do Livramento, que pertencia à madrinha do escritor.

Mais tarde, o romancista, poeta, contista e cronista trabalhou como aprendiz de tipógrafo, revisor de textos e funcionário público. Além disso, introduziu o realismo no Brasil com sua obra Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881. Além disso, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente, antes de falecer em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a vida e a obra desse grande autor brasileiro, leia o texto: Machado de Assis.

Contexto histórico de Bons dias!

Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico de escravizados no Brasil. Já em 1871, a Lei do Ventre Livre devia garantir a liberdade de todo filho de mulher escravizada nascido a partir de então. Mais tarde, em 1885, a Lei dos Sexagenários libertou todos os escravizados com mais de 60 anos de idade. Finalmente, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que pôs fim na escravidão no Brasil.

Esse importante fato histórico anunciava também o fim da monarquia brasileira, que deixou de existir em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República. É, portanto, nesse contexto de mudanças políticas e sociais que estão inseridas as crônicas do livro Bons dias!, publicadas, inicialmente, na Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro.

Crédito da imagem

[1] Editora Unicamp (reprodução)


Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Bons dias! — Machado de Assis"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/bons-dias.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

De estudante para estudante


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