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A greve dos 300 mil foi um grande greve de trabalhadores que aconteceu em São Paulo entre os dias 25 de março e 23 de abril de 1953. Essa greve mobilizou trabalhadores de diferentes áreas, sendo iniciada por trabalhadores do ramo têxtil, acompanhados por metalúrgicos, vidraceiros, marceneiros e gráficos.
Essa greve foi realizada durante o segundo governo de Getúlio Vargas, sendo motivada pelo aumento inflacionário, isto é, pelo aumento do custo de vida, pelo rígido controle do governo sobre os movimentos sindicais e pelas poucas ações do governo no combate à pobreza. Essa greve possibilitou um aumento salarial de 32% para os trabalhadores.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a greve dos 300 mil
- 2 - O que foi a greve dos 300 mil?
- 3 - Causas da greve dos 300 mil
- 4 - Início da greve e exigências dos trabalhadores
- 5 - Quais foram as consequências da greve dos 300 mil?
Resumo sobre a greve dos 300 mil
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A greve dos 300 mil aconteceu em São Paulo entre março e abril de 1953.
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Foi iniciada pelos trabalhadores de uma fábrica de tecidos chamada Matarazzo.
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Os trabalhadores estavam insatisfeitos com o aumento no custo de vida e com o rígido controle do governo sobre os sindicatos.
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O movimento grevista contou com a adesão de trabalhadores de várias áreas: metalúrgicos, vidraceiros, marceneiros, gráficos e trabalhadores da indústria têxtil.
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Essa greve foi encerrada com um aumento salarial de 32% para os trabalhadores.
O que foi a greve dos 300 mil?
A greve dos 300 mil foi um dos acontecimentos mais marcantes na história do movimento de trabalhadores no Brasil. Essa grande paralisação de trabalhadores aconteceu na cidade de São Paulo em março de 1953, portanto durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Esse governo de Vargas ficou marcado por uma série de grandes debates que mobilizaram a sociedade.
Causas da greve dos 300 mil
Uma das questões que causavam críticas ao governo de Vargas era o aumento do custo de vida no Brasil. O salário-mínimo, uma criação de Getúlio Vargas, não conseguia acompanhar o aumento no custo de vida, e a situação de pobreza da classe trabalhadora no Brasil havia se acentuado nos últimos anos.
Entre os anos de 1943 e 1951, o custo de vida já havia aumentado cerca de 100%, enquanto o salário-mínimo tinha aumentado apenas 14%. Os custos com alimentação, moradia e transporte deixavam uma parcela acentuada da população brasileira em uma situação financeira bastante delicada.
O governo Vargas tinha apoio da classe trabalhadora, mas o fracasso em conter o aumento da inflação e a lentidão em melhorar ao salário da população resultaram em grandes mobilizações de trabalhadores. Esse descontentamento da população, no entanto, não era apenas com o governo de Vargas, mas vinha se acumulado havia anos.
O governo Dutra também não tinha contido o aumento inflacionário e ainda havia tornado bastante rigorosa a legislação trabalhista a fim de impedir a realização de greves. Na prática, a legislação era tão rígida que havia uma enorme dificuldade de os movimentos trabalhadores organizarem greves. Além disso, os sindicatos eram controlados de perto pelo governo.
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Início da greve e exigências dos trabalhadores
Esse cenário de aumento do custo de vida e dificuldade de realização de greves fez com que os trabalhadores se organizassem em associações de trabalhadores à parte da estrutura sindical oficial. Essa organização dos trabalhadores aconteceu, em grande medida, com apoio do Partido Comunista Brasileiro, o PCB.
A organização dos trabalhadores fora das estruturas dos sindicatos oficiais e a crescente insatisfação levaram a uma série de movimentos grevistas durante o governo de Getúlio Vargas, mas em março de 1953, a situação foi levada para um novo estágio.
Em 18 de março de 1953, cerca de 60 mil trabalhadores realizaram protesto nas ruas de São Paulo. Esse protesto ficou conhecido como Marcha das Panelas Vazias e tinha como objetivo exigir um aumento de salário para os trabalhadores. A falta de medidas efetivas em benefício dos trabalhadores levou ao início de uma nova greve uma semana depois.
No dia 25 de março, foi a vez dos trabalhadores de uma fábrica de tecidos chamada Matarazzo. Esses trabalhadores exigiam que houvesse um aumento de 60% no seu salário, desejavam estabilidade no emprego e queriam que o governo se empenhasse mais na luta contra a pobreza.
Essa mobilização incentivou outros grupos de trabalhadores a se unirem, e logo a greve contou com a adesão de trabalhadores da área têxtil, além de metalúrgicos, vidraceiros, marceneiros e gráficos. Assim, cerca de 300 mil trabalhadores cruzaram os braços na cidade de São Paulo. As negociações entre trabalhadores e patrões se arrastavam desde antes da greve, mas com a deflagração do movimento elas se intensificaram. A greve foi declarada ilegal, mas os trabalhadores resistiram e permaneceram firmes no movimento.
As classes patronais recusavam-se a ceder 60% de aumento salarial e ofereciam apenas 15%. Os trabalhadores em greve não aceitaram a oferta patronal e receberam uma proposta do Tribunal Regional do Trabalho que visava mediar a situação para encontrar uma solução. A proposta oferecida foi de 23% de aumento salarial.
A proposta não foi aceita pela maioria dos trabalhadores, e a ameaça de repressão violenta ganhou força. Em abril, o movimento grevista anunciou que aceitaria os 23% caso os trabalhadores presos fossem libertos e exigia que os dias parados fossem pagos, que demissões retaliatórias fossem interrompidas e que não houvesse acordos individuais, apenas coletivos.
A rejeição desses termos por parte das classes patronais fez com que a greve fosse mantida, e seu encerramento só aconteceu em 23 de abril de 1953, quase 30 dias depois de ser iniciada. No final, foi alcançado um acordo que previa aumento salarial de 32%.
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Quais foram as consequências da greve dos 300 mil?
A greve dos 300 mil foi uma das maiores mobilizações de trabalhadores da história brasileira, e, apesar de terem conquistado 32% de aumento salarial, cerca de 400 trabalhadores foram demitidos de seus empregos após o término da greve. Esses trabalhadores demitidos assumiram posições de relevância durante o movimento e foram considerados figuras muito “perigosas” para serem mantidas como funcionários.
De qualquer forma, esse ocorrido conferiu força ao movimento de trabalhadores do Brasil, pois uma importante instituição sindical surgiu a partir disso. Ao fim da greve, foi criado o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), uma organização que atuava politicamente em benefício dos trabalhadores. Essa instituição foi bastante importante para a luta dos trabalhadores no Brasil até o ano de 1964, se enfraquecendo com a repressão da Ditadura Militar.
Outra consequência desse movimento foi o surgimento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese. O surgimento dessa instituição atendeu uma demanda dos trabalhadores pela criação de algum órgão que fosse responsável por fazer estudos confiáveis acerca do aumento da inflação e do custo de vida.
Outras greves aconteceram no Brasil ao longo de 1953, forçando Getúlio Vargas a nomear João Goulart ao Ministério do Trabalho. Jango, como era conhecido, tinha bom diálogo com os sindicalistas, o que facilitava as negociações destes com o governo. Em 1954, Jango foi o responsável por sugerir um aumento de 100% no salário-mínimo como forma de mitigar os efeitos do aumento do custo de vida.
Por Daniel Neves Silva
Professor de História