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Ciclo da Borracha

O Ciclo da Borracha foi um período da história brasileira, entre o final do século XIX e o início do século XX, em que a extração do látex na Amazônia se tornou lucrativa.

Tigela coletando o látex de uma árvore como representação do Ciclo da Borracha.
O látex é a matéria-prima da borracha, que foi comercializada no Norte do Brasil no final do século XIX e na primeira metade do século XX.
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O Ciclo da Borracha foi um ciclo econômico brasileiro ocorrido no final do século XIX e início do século XX na região Norte do Brasil, local rico em extração de látex, matéria-prima da produção de borracha. Esse ciclo atendeu às necessidades do mercado externo, em especial o norte-americano, que abria espaço para a indústria automobilística, e a borracha era um produto essencial nesse ramo.

Esse ciclo se divide em duas etapas: a primeira, ocorrida ainda no século XIX, foi motivada pela Segunda Revolução Industrial, enquanto a segunda ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, atendendo as demandas do conflito. No Brasil, o Ciclo da Borracha promoveu relativo desenvolvimento aos estados nortistas e uma oportunidade para os nordestinos que fugiam da seca em sua terra de origem.

Leia também: Mineração no Brasil Colônia

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Ciclo da Borracha

  • O Ciclo da Borracha foi um ciclo econômico que aconteceu no Brasil entre os séculos XIX e XX baseado na produção do látex, matéria-prima da borracha.

  • Tal qual os ciclos anteriores, o Ciclo da Borracha atendia às demandas do mercado externo.

  • Esse ciclo se dividiu em dois períodos: o primeiro, que se iniciou em meados do século XIX por conta da Segunda Revolução Industrial, e o segundo, durante a Segunda Guerra Mundial.

  • Os nordestinos que sofriam com a estiagem encontraram no Ciclo da Borracha um motivo para se deslocarem para o Norte brasileiro em busca de melhores condições de vida.

  • A cultura nortista recebeu investimentos oriundos do comércio da borracha ao serem construídos museus e teatros.

Contexto histórico do Ciclo da Borracha

Datada de meados do século XIX, a Segunda Revolução Industrial expandiu a industrialização para várias nações europeias, como França, Bélgica, Itália e Alemanha, além dos Estados Unidos, na América.

A indústria automobilística se fortaleceu, principalmente nos Estados Unidos, quando Henry Ford fundou sua fábrica de carros. Uma das matérias-primas utilizadas para essa produção era a borracha, para a confecção dos pneus. O aumento significativo na fabricação de carros exigiu maior produção de borracha.

A borracha é oriunda do látex, que era encontrado em abundância na Floresta Amazônica. A demanda pela borracha fez com que o interesse pelo látex aumentasse. Assim, a região amazônica que integra o território brasileiro, principalmente próximo à fronteira com a Bolívia, se tornou alvo dos interesses econômicos do momento para a extração desse produto tão desejado para o mercado externo. Isso provocou uma grande movimentação de pessoas atraídas pelo comércio do látex.

Muitos nordestinos viram o êxito da extração do látex como oportunidade para melhoria das suas condições de vida e se mudaram para a região amazônica.

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Como foi o Ciclo da Borracha na Amazônia?

Historicamente, classifica-se o Ciclo da Borracha em dois períodos. O primeiro compreende os anos de 1877 até 1910, atendendo às demandas das nações europeias e dos Estados Unidos, que atravessavam a Segunda Revolução Industrial. O segundo ciclo se refere aos anos de 1942 até 1960, quando o látex brasileiro serviu de matéria-prima para a produção da borracha usada em materiais bélicos durante a Segunda Guerra Mundial.

Primeiro Ciclo da Borracha

O primeiro Ciclo da Borracha se deu entre os anos de 1877 e 1910. Antes disso, o látex produzido na Amazônia brasileira já era exportado, mas em números não tão significativos. Essa realidade mudou a partir de 1880, quando a demanda por borracha nos países industrializados exigiu maior produção do látex, matéria-prima da borracha.

A região amazônica tinha em grande quantidade a árvore Hevea brasiliensis, da qual se extrai o látex. A demanda internacional fez com que a região se tornasse alvo da procura por esse insumo.

Os trabalhadores empregados na extração do látex migravam principalmente da região Nordeste, fugindo da seca e buscando melhores condições de vida no Norte. Essa mão de obra não era qualificada, e se exigia força física para extrair o látex da árvore. Além disso, as condições de trabalho não eram das melhores.

Desde 1903, o governo brasileiro tinha interesse na Amazônia, quando adquiriu da Bolívia o território onde atualmente é o estado do Acre. Em 1907, houve a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que auxiliou no transporte dos produtos amazônicos, como o látex.

O ciclo entrou em crise em 1910, quando as colônias europeias na Ásia começaram a plantar a Hevea brasiliensis, a árvore que dá origem ao látex. Dessa forma, abriu-se uma forte concorrência para a produção brasileira, que perdeu espaço no mercado externo.

Segundo Ciclo da Borracha

O segundo Ciclo da Borracha se deu entre os anos de 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. A borracha foi um produto muito utilizado na fabricação de pneus para os aviões usados no conflito e outros artefatos.

O Japão, que pertencia ao Eixo, invadiu a Malásia, um dos maiores produtores de látex da Ásia, e impediu que os norte-americanos utilizassem essa matéria prima para a manutenção da produção de borracha. Os Estados Unidos fizeram um acordo com o Brasil para que o látex extraído em solo brasileiro fosse utilizado pelos norte-americanos durante a guerra.

Essa nova busca pelo látex fez com que milhares de brasileiros se deslocassem até o Norte do país para a sua extração. O Nordeste, durante os anos 1940, sofria com uma prolongada estiagem, e os nordestinos viram nesse novo Ciclo da Borracha uma oportunidade para melhorar suas condições de vida e enriquecer com o comércio do produto.

O segundo ciclo acabou logo após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e a partir do predomínio da borracha sintética no mercado externo, que desvalorizou o látex.

Confira nosso podcast: Pau-brasil: história e exploração

Importância do Ciclo da Borracha

O Ciclo da Borracha foi importante porque ocasionou o povoamento do Norte brasileiro, em especial regiões da Floresta Amazônica. O lucro obtido pelo comércio do látex levou ao desenvolvimento econômico e cultural das capitais dos estados nortistas. Além disso, também houve o avanço das estradas de ferro pelo Norte do Brasil para transportar o látex até os portos, onde era exportado para o mercado europeu e norte-americano.

Mesmo com o fim dos dois Ciclos da Borracha, os investidores que decidiram permanecer na Amazônia atuaram em outras áreas, como a agropecuária, o comércio e a exploração de minérios como o ferro e a bauxita.

Fim do Ciclo da Borracha

Desde o período colonial, o Brasil tem como função, dentro da divisão internacional do trabalho, comercializar matérias-primas para o mercado externo. Isso gera uma dependência econômica do país em relação ao que esses mercados instalados na Europa e/ou Estados Unidos necessitam para atender suas demandas internas e ao que o Brasil tem disponível para atendê-las. Em vários momentos de nossa história, já se observou que essa dependência pode valorizar ou desvalorizar as matérias-primas exportadas.

A concorrência também foi outro empecilho para o comércio prolongado de nossos produtos. O Ciclo da Borracha repetiu outros ciclos econômicos na história econômica do Brasil. A produção era exportada gerando lucros para os seus comerciantes, mas a entrada de outros países que concorressem com o nosso produto no exterior gerava problemas econômicos. O fim dos dois Ciclos da Borracha se deu dessa forma. No primeiro, a concorrência com o látex asiático, e no segundo, o predomínio da borracha sintética em contraposição à que era fabricada por meio do látex.

Consequência do Ciclo da Borracha

Fachada do Teatro Amazonas, em Manaus, construído no contexto do Ciclo da Borracha.
O Teatro Amazonas, em Manaus, foi construído por meio dos investimentos advindos do comércio da borracha no começo do século passado.

O Ciclo da Borracha deixou várias consequências nas regiões Norte e Nordeste. Com o dinheiro oriundo do comércio da borracha, inúmeras cidades e vilarejos se formaram, e cidades já existentes, como Belém, capital paraense, se desenvolveram por conta dos investimentos gerados por esse ciclo.

Vários nordestinos migraram para o Norte do país fugindo da seca ou buscando melhores condições de vida para si e seus familiares, e ali permaneceram.

Curiosidades sobre o Ciclo da Borracha

  • O nome científico da árvore de onde se extrai o látex é Hevea brasiliensis.

  • O nome do profissional que extrai látex é seringueiro.

  • A borracha é obtida pela coagulação do látex.

  • O Ciclo da Borracha favoreceu o rápido desenvolvimento das cidades de Manaus e Belém.

  • A maior parte da exportação brasileira na época do contexto do Ciclo da Borracha era derivada da região amazônica.

Exercícios resolvidos sobre o Ciclo da Borracha

Questão 1

(UFPA) Borracha e borracheiro, segundo o dicionário Houaiss, podem significar:

“Borracha: substância elástica e impermeável, resultante da coagulação do látex de vários vegetais, esp. de árvores dos gên. Hevea e Ficus, com propriedades diversas e inúmeros usos industriais, segundo os vários tipos de tratamento a que é submetida; caucho, goma-elástica.”

“Borracheiro:

1) aquele que produz, industrializa ou vende borracha (‘substância’);

2) Regionalismo: Brasil. Indivíduo que repara e/ou vende pneus;

3) Regionalismo: Norte do Brasil. m.q. seringueiro (‘trabalhador’).”

Houaiss (Dicionário da Língua portuguesa. Verbetes Borracha e borracheiro. Versão digital, SP: Instituto Antônio Houaiss, Editora Objetivo, 2009).

Os verbetes acima esclarecem os significados do termo “borracha” no Brasil. Um desses significados põe em evidência o Norte do país, em que a palavra tem um emprego diferenciado historicamente porque

A) o Norte do Brasil teve um contato mais próximo com a produção do látex e, nessa região, a palavra borracheiro passou a significar mais do que a produção da borracha em si, definindo também o seu produtor (trabalhador), o seringueiro.

B) o Brasil, como um todo, conheceu a borracha como um produto que se industrializa, pois esse produto era extraído da Amazônia e industrializado no Centro-Sul. Assim, no Norte o significado da borracha ligou-se ao campo do trabalho e no Sul vinculou-se ao da produção.

C) o Norte do Brasil percebe a goma elástica de maneira mais ampla e correta, pois, distinguindo-se do resto do Brasil, os nortistas conhecem o processo de produção e trabalho com o látex, diferentemente do que ocorre com os nordestinos e sulistas.

D) o Centro-Sul do Brasil visualiza a borracha em seus produtos como os pneus; já o povo do Norte e Centro-Oeste percebem o produto em todo o seu processo produtivo, desde a extração do látex até a sua produção e comercialização.

E) o Centro-Sul do Brasil é o reduto da produção e do trabalho com o látex, por isso o significado da palavra é mais amplo. Já no Norte e Nordeste apenas se sabe que a borracha tem utilidades como a fabricação do pneu, o que justifica o uso mais simplificado da palavra.

Resolução:

Alternativa A

Por causa do Ciclo da Borracha, surgiu a figura do borracheiro, o trabalhador que retira o látex da seringueira para ser comercializada no mercado externo.

Questão 2

(Ibmec) Sobre o fracasso do chamado Ciclo da Borracha, na região amazônica, são feitas as seguintes afirmativas:

I. faltou mão de obra especializada, afinal a migração nordestina não foi capaz de atender a demanda;

II. a produção desenvolvida pelos ingleses em áreas como a Malásia e o Ceilão resultou em um produto com custo menor, dificultando a comercialização do nosso látex;

III. a ocorrência da Primeira Guerra Mundial paralisou o comércio internacional, dificultando as exportações brasileiras.

Assinale:

A) se apenas a afirmativa I for correta.

B) se apenas a afirmativa II for correta.

C) se apenas a afirmativa III for correta.

D) se as afirmativas I e II forem corretas.

E) se as afirmativas II e III forem corretas.

Resolução:

Alternativa B

O Ciclo da Borracha no Brasil enfrentou dificuldades no mercado externo por causa da concorrência oriunda da produção inglesa, que, por causa do preço mais baixo, controlava o mercado desse produto.

 

Por Carlos César Higa
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Carlos César Higa Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

HIGA, Carlos César. "Ciclo da Borracha"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/ciclo-borracha.htm. Acesso em 14 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(PSC/2003) A borracha brasileira propiciou o desenvolvimento industrial de vários países, mas na Amazônia foi responsável apenas por um pequeno período faustoso, no qual, segundo se diz, “uma minoria chegou a acender charuto com dinheiro”. Dentre as alternativas, a que melhor caracteriza este pequeno período, do ponto de vista econômico, foi:

a) A criação de indústrias de base produzindo equipamentos que diminuíram a atividade predatória e aumentaram a produtividade.

b) A valorização da terra e a corrida aos cartórios para assegurar a posse dos coronéis de barranco.

c) O aumento do poder aquisitivo dos seringueiros proveniente da prática do aviamento.

d) A diversificação da economia geradora do crescimento autossustentado.

e) A introdução da navegação a vapor e o investimento na compra destas embarcações pelo capital nacional.

Exercício 2

(PSC/2005) “Enquanto restrito à crítica de grupos econômicos localizados (…) a greve dos estivadores poderia ser tolerada e até mesmo incentivada por certos setores da sociedade (...) [mas] o vigor com que entabulavam suas reivindicações e a capacidade de articulação interna demonstrada pelos trabalhadores, ensejava receios de uma ampliação desmedida do movimento paredista que, suscitando apoios e solidariedades de outras categorias e mostrando-se um caminho alternativo dos trabalhadores para a conquista de melhorias efetivas, poderia por em xeque a própria estrutura social”. (PINHEIRO, Maria Luiza U. A cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no Porto de Manaus -1889-1925. pp.163/4).

A autora se refere à greve dos estivadores de Manaus, deflagrada em 1889. A relação entre a situação descrita no texto e fatos ocorridos na época é expressa corretamente por:

a) A mecanização dos portos e a queda vertiginosa no crescimento da indústria de pneumáticos reduziram a necessidade dos estivadores, que foram dispensados e reivindicaram suas recontratações.

b) Os estivadores articulavam-se para combater a concorrência de mão de obra com os migrantes nordestinos que, ao chegarem a Manaus, em vez de seguirem para os seringais, empregavam-se nos serviços de estiva.

c) A principal reivindicação dos grevistas era o reajuste do pagamento de suas diárias, depreciadas pelo aumento da jornada de trabalho, não sendo portanto suficientes para acompanhar a alta do custo de vida.

d) A Associação Comercial do Amazonas deu apoio incondicional aos estivadores temendo que uma greve prolongada pusesse seus negócios em risco.

e) Atos de repressão violenta levaram à greve geral e à radicalização do movimento dos estivadores que receberam o apoio do Sindicato dos Carroceiros e da Federação Marítima.