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O apagão de 2001 é o nome atribuído a uma das mais graves crises energéticas pelas quais o Brasil passou. A escassez de chuvas e a falta de planejamento e ação rápida, aliadas ao aumento da demanda por eletricidade e à alta dependência das hidrelétricas, fizeram com que houvesse uma sobrecarga no sistema elétrico do país, o que gerou um sério risco de apagão. A principal medida adotada para a contenção da crise foi o racionamento de energia, que incluiu estados das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil entre junho de 2001 e março de 2002.
Residências particulares, edifícios comerciais e públicos, e indústrias, todos estavam inclusos no plano e sujeitos às regras de economia de energia. Além do impacto direto sobre as contas do consumidor final, a crise do apagão obrigou muitas pessoas a mudarem seus hábitos. O período trouxe como consequência transformações significativas no sistema elétrico, mas que não afastaram definitivamente as crises e a possibilidade de apagão.
Leia também: Dicas para economia de energia elétrica
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o apagão de 2001
- 2 - O que foi o apagão de 2001?
- 3 - Causas do apagão de 2001
- 4 - Duração do apagão de 2001
- 5 - Medidas para conter o apagão de 2001
- 6 - Consequências do apagão de 2001
- 7 - Principais blecautes ocorridos no Brasil
Resumo sobre o apagão de 2001
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Apagão de 2001 é como ficou conhecida a crise energética que afetou o país naquele ano. Diversos pontos do território nacional estavam sob o risco de interrupção forçada do fornecimento de energia, por isso, o termo apagão.
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A escassez de chuvas e a falta de planejamento do governo federal, aliadas à dependência do país para com a hidreletricidade, foram fatores causadores da crise.
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A principal medida adotada para evitar efetivamente um apagão foi o racionamento, que incluiu indústrias, estabelecimentos comerciais e residências particulares das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste principalmente.
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O racionamento durou de 1º de junho de 2001 a 1º de março de 2002.
O que foi o apagão de 2001?
Apagão é um termo empregado para designar a interrupção repentina do fornecimento de energia em uma determinada localidade, e é, muitas vezes, confundido com o racionamento de energia elétrica.|1|
O racionamento foi adotado no Brasil, entre meados do ano de 2001 e o início de 2002, e abrangeu estados e municípios das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do país, incluindo o Distrito Federal. Em função disso, a crise energética de 2001 é comumente chamada de apagão de 2001 ou crise do apagão.
O racionamento adotado era de 20% do consumo, utilizando como comparativo o total de kWh consumido no mesmo período do ano precedente (no caso, 2000). As medidas foram aplicadas para o comércio, a indústria e as residências particulares, deixando de fora os estabelecimentos que prestam serviços considerados essenciais para a população, como é o caso dos hospitais. Aqueles que não seguissem as medidas, estariam sujeitos a cortes ou multas.
Veja também: O que é bioenergia?
Causas do apagão de 2001
Os fatores que se encontram na raiz do problema gerador do apagão de 2001 tiveram início nos anos precedentes, mais precisamente no final da década de 1990. À medida que eles foram se agravando, alertas foram enviados ao governo da época para que se tomasse as devidas providências.
A primeira causa apontada para o apagão de 2001 foi a crise hídrica, caracterizada pela escassez de chuvas e diminuição do nível dos reservatórios de água que abastecem as cidades e também as centrais hidrelétricas responsáveis pela geração de energia. Dessa forma, a crise hídrica potencializou a instalação de uma crise energética no país, uma vez que não havia fontes alternativas a serem utilizadas para suprir a demanda de abastecimento à época.
No início dos anos 2000, o Brasil era quase completamente dependente das hidrelétricas para o abastecimento interno de energia, as quais representavam uma parcela de 89% da matriz energética do país. Embora a força das águas ainda seja a principal fonte que abastece os estabelecimentos e residências hoje, a sua participação na matriz energética caiu para 67%, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A falta de chuvas em determinadas porções do território, aliada à maior demanda energética, fez com que o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Nordeste, principalmente, ficasse bastante abaixo da capacidade considerada segura para a manutenção das suas atividades. Ao final do período chuvoso no início de 2001, em ambas as regiões, os reservatórios das hidrelétricas se encontravam com níveis 17% abaixo do que era então considerado ideal. Sudeste e Nordeste estavam funcionando com 34% e 33% da sua capacidade respectivamente.|2|
Questões estruturais também se somam às causas do apagão de 2001. Além da já referida dependência das hidrelétricas, o país vinha passando por um processo de privatização do controle de empresas estatais, o que incluía centrais de distribuição de energia elétrica. Das transferências finalizadas, destacam-se as ocorridas nos estados da região Sudeste, como Rio de Janeiro e Espírito Santo.|2|
No ano de 1998, portanto, três anos antes do racionamento, havia sido criado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para gerenciar o Sistema Integrado Nacional (SIN), atualmente responsável pela integração de vários subsistemas de geração e transmissão de energia que conectam todas as regiões do país, fazendo o uso de fontes variadas. Quando a crise energética era tida como uma forte possibilidade, não havia ainda redes de transmissão o suficiente para atender as regiões deficitárias, e as termelétricas, que hoje são acionadas em momentos de necessidade, estavam em fase de construção.
Dessa forma, duas das principais causas do apagão de 2001 foram, diante dos problemas de ordem estrutural e natural, a falta de planejamento por parte do governo federal para uma crise, que já estava sendo prevista pelo setor elétrico, e o atraso na tomada de medidas.
Duração do apagão de 2001
A necessidade de racionamento foi anunciada no dia 18 de maio de 2001, mas as medidas de fato entraram em vigor duas semanas depois, primeiro para as indústrias e o comércio, no dia 1º de junho, e, três dias mais tarde, para as residências particulares. O período que ficou conhecido como do apagão de 2001 se estendeu até 1º de março de 2002, durando, portanto, nove meses.
Medidas para conter o apagão de 2001
Sob o comando de Fernando Henrique Cardoso (FHC), então presidente do Brasil, exercendo o seu segundo mandato, o governo federal criou a Câmara de Gestão da Crise Energética (GCE), que reuniu os principais quadros governamentais de diversos setores além do elétrico, como da economia e de segurança nacional, para acompanharem os desdobramentos da situação de desabastecimento no país e para a tomada conjunta de decisões e adoção de medidas necessárias.
O racionamento de energia foi a principal medida empregada para que fosse possível afastar o risco de apagões generalizados. A adoção dessa prática, que teve início no mês de junho de 2001, atingiu desde o consumo elétrico das indústrias, empresas e residências até a iluminação pública e realização de eventos noturnos, como shows e jogos de futebol. Recomendava-se principalmente a economia nos chamados horários de pico, após as 17 horas, quando há um aumento na demanda por eletricidade e sobrecarga do sistema.
A meta estabelecida era da economia de 20% do consumo de energia com relação ao mesmo período de 2000. Como forma de incentivo, as residências que conseguissem consumir abaixo do estipulado receberiam um bônus na sua conta de energia. Aqueles que, por outro lado, ultrapassassem a meta fixada, ficando entre 50% e 200% além dela, seriam multados e poderiam até mesmo sofrer cortes de energia que durariam três dias, o dobro disso no caso de reincidência.|2|
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Consequências do apagão de 2001
O apagão de 2001 trouxe consequências diretas para a população brasileira, para o sistema elétrico nacional, para a economia e também para a conjuntura política da época.
Para que fosse possível aplicar as medidas de racionamento, com o impulso da ampla comunicação e das campanhas de incentivo promovidas pelo governo federal, a população adotou novos hábitos (banhos mais curtos e/ou frios, desligar luzes e equipamentos) e fez uma série de modificações em suas residências, de forma a substituir eletrodomésticos e itens que consumiam mais energia. Entre eles estavam o chuveiro elétrico, trocado pelo chuveiro a gás, e as lâmpadas incandescentes, que deram lugar às lâmpadas frias.
Estabelecimentos comerciais adotaram medidas como o desligamento de equipamentos que pudessem acarretar maiores gastos; a iluminação das ruas em diversas cidades e prédios públicos, incluindo na capital federal, era desligada periodicamente; e eventos noturnos foram proibidos. As medidas surtiram resultados positivos já no primeiro mês.
Outra marca significativa deixada pelo racionamento de 2001 foi na economia, que tinha acabado de sair de uma conjuntura de hiperinflação e crise cambial na década de 1990.|3| Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que o prejuízo econômico foi de R$ 45,2 bilhões, 60% dos quais recaíram sobre o consumidor na forma de tarifas energéticas.|4|
Às vésperas da eleição presidencial, que ocorreria no ano de 2002, a crise instaurada enfraqueceu a imagem de FHC perante a população brasileira e teve também papel no andamento do pleito do ano seguinte, em que o partido do então presidente não seguiu para a reeleição.
Mudanças estruturais significativas foram feitas de lá pra cá no sistema elétrico brasileiro, sendo as principais delas a efetivação da construção de termelétricas e a diminuição da dependência quanto à energia hidrelétrica com maior variação da matriz elétrica do país. Apesar disso, é importante ressaltar o papel ainda dominante das hidrelétricas na geração de energia no Brasil, o que não afastou o risco de crises energéticas, novos racionamentos e até mesmo apagões.
Principais blecautes ocorridos no Brasil
A crise energética que resultou no racionamento de energia em 2001 foi uma das mais graves da história do país, mas não é exclusiva no que tange à ocorrência de blecautes e à necessidade de racionamento. Vejamos, na sequência, os principais blecautes que se passaram no Brasil.
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Amapá, em 2020: 13 dos 16 municípios amapaenses tiveram o fornecimento de energia interrompido repentinamente em novembro de 2020. O apagão afetou 90% da população e teve duração de 22 dias entre oscilações. A causa apontada foi um incêndio nos transformadores da rede que abastece o estado.
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Estados do Norte e Nordeste do Brasil, em 2018: um total de 14 estados de ambas as regiões e 70 milhões de pessoas ficaram no escuro no dia 21 de março de 2018, o que foi ocasionado por uma falha em uma linha de transmissão da Usina de Belo Monte.
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Nordeste, em 2013: um incêndio em uma propriedade rural em Canto do Buriti, no Piauí, deixou os estados da região sem energia no dia 28 de agosto de 2013.
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Distrito Federal, Nordeste e parte do Norte, no dia 26 de outubro de 2012.
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Região Nordeste, entre 3 e 4 de fevereiro de 2011.
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Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste, parte da região Nordeste e também o país vizinho, Paraguai, em 2009, em decorrência de uma falha na Usina de Itaipu.
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Estados do centro-sul do Brasil e o Distrito Federal, em janeiro de 2002, quando ainda estavam em vigor as medidas de racionamento.
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Apagão de 1999 que atingiu 11 unidades da federação na porção centro-sul do país e já serviu de alerta para uma crise energética futura. Foi considerado um dos maiores blecautes do Brasil com, posteriormente, o blecaute de 2009.
Notas
|1| CARRANÇA, Thais. Apagão ou racionamento: 10 termos para entender a crise do setor elétrico. BBC News Brasil, 28 jun. 2021. Disponível aqui.
|2| ROCKMANN, Roberto; MATTOS, Lúcio. Curto-circuito – quando o Brasil quase ficou às escuras (2001 – 2002). Ed. do autor, 2021. 478p. (eBook)
|3| MARTINS, Raphael. Racionamento atrapalhou retomada da economia em 2001; saiba se problema pode se repetir. G1, 29 jun. 2021. Disponível aqui.
|4| VALOR ONLINE. Apagão de energia elétrica custou ao país R$ 45 bilhões, conclui TCU. G1, 16 jul. 2009. Disponível aqui.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia