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A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, teve como um dos principais itens da plataforma de campanha as críticas contra a gestão anterior de Fernando Henrique Cardoso em relação aos investimentos em infraestrutura, que podem ser exemplificados na modernização de portos, recuperação do transporte ferroviário e na produção de energia. O Apagão ocorreu no ano que antecedeu as eleições presidenciais, o que desgastou a popularidade do governo FHC, algo prontamente utilizado durante a campanha petista.
Os dois mandatos de Lula tiveram de concreto para o setor as obras financiadas pelo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento Econômico) e o PAC 2, além do projeto Luz Para Todos, que alcançou relativo sucesso em direcionar os investimentos em geração de energia para as áreas que não contam com redes de transmissão e que dependem de geradores a diesel e outros mecanismos de improvisação para atender às necessidades básicas de populações ribeirinhas e rurais, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Ainda assim, as falhas constantes nos últimos anos estão causando preocupação, pois a posição de destaque que o Brasil tem alcançado no cenário internacional, por diferentes razões, depende e muito do setor energético. Um país que busca essa reafirmação em uma nova realidade definida pela multipolarização econômica precisa rever suas estratégias de geração de energia. Mesmo após o Apagão, o sistema de transmissão de energia elétrica sofre com problemas de manutenção e integração entre os locais de geração e os centros consumidores. Em anos de estiagem, as hidroelétricas operam próximo ao limite, obrigando o país a recorrer às usinas termoelétricas movidas por combustíveis fósseis, como o óleo diesel e o gás natural, o que torna a energia elétrica muito mais cara.
Os anos mais secos são esporádicos e não correspondem à principal causa para o problema da geração de energia. Na verdade, são muitos os fatores que se relacionam e que têm capacidade de provocar uma nova crise no setor. Como exemplo, podemos ressaltar duas das características mais importantes da economia brasileira dos últimos anos. Uma delas foi o crescimento da chamada classe C, o que representa a ascensão social de muitos indivíduos, capazes de aumentar o seu padrão de consumo e, consequentemente, de consumo de energia. Outra característica recente é a inserção do Brasil no grupo dos BRICS, formado pelos países com maior potencial para crescimento econômico. A consolidação de uma economia estável e capaz de continuar crescendo, e o consequente estímulo às demandas internas de consumo exigem investimentos mais precisos para o setor energético.
Também merece atenção o fato do Brasil sediar, em breve, os dois maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. Entre tantas dificuldades que precisam ser superadas para a organização dos jogos, como a construção de estádios e a ampliação da rede hoteleira, a eficiência na produção e transmissão de energia é fundamental, pois o bom funcionamento de estádios, aeroportos e demais serviços turísticos dependem desse segmento.
Em meio a tantas discussões e num momento em que o país apresentou um baixo crescimento econômico, a presidente Dilma anunciou um projeto de redução das contas de luz, que pode chegar a 18%, no caso dos consumidores residenciais, e de 32% para o setor industrial. Essa medida faz parte de um pacote de ações do governo para fomentar o crescimento econômico do país e manter o mercado consumidor nacional aquecido. Com a energia mais barata, o empresariado pode economizar seus gastos e promover novos investimentos. Já o consumidor residencial pode continuar usufruindo dos seus aparelhos domésticos e, teoricamente, utilizar o dinheiro economizado nas contas de luz para gastar em outros bens e serviços. Assim como a queda das taxas de juros, o corte no valor das contas de luz representa uma das maiores apostas do governo atual para destravar a economia brasileira.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP