O conceito de revolução é entendido, comumente, como uma transformação radical de determinada estrutura política, social, econômica, cultural ou tecnológica, isto é, tudo o que diz respeito à vida humana. Tal conceito é fundamental para se entender os períodos históricos moderno e contemporâneo. Acontecimentos como Revolução Inglesa, Revolução Industrial, Revolução Francesa, Revolução Russa, Revolução Chinesa, etc., dão prova da importância desse conceito.
Cabe ressaltar, entretanto, que nem sempre a palavra revolução foi utilizada para designar fenômenos de transformação radical da esfera humana, isto é, da relação entre os homens. Ao contrário, originalmente, revolução nada mais significava que translação – fazia parte, portanto, da linguagem astronômica.
A palavra revolução deriva do latim revolutio/revolvere, que significa “dar voltas”, “completar voltas”. A utilização do termo propagou-se no âmbito da astronomia com a publicação do De revolutionibus orbium coelestium, de Copérnico, em 1543, que descrevia a volta que os planetas completavam em torno do Sol. Revolução, portanto, era o termo técnico correspondente ao que, usualmente, hoje se denomina “translação”.
Até a segunda metade do século XVII, o conceito de revolução ainda estava restrito ao âmbito celeste. Com a reviravolta provocada pela Reforma Protestante e as guerras civis religiosas dela derivadas, houve a sequência de grandes transformações na estrutura socioeconômica e política de algumas nações, em especial, a Inglaterra. De 1640 a 1688, a Inglaterra passou por acontecimentos bastante turbulentos. De monarquia absoluta passou para guerra civil, de guerra civil para ditadura republicana, desta para, novamente, monarquia – mas com o modelo parlamentarista. Esses acontecimentos passaram a ser denominados como Revolução Inglesa.
No caso da Revolução Inglesa, ainda há uma semelhança com a revolução astronômica dos planetas, pois, tal como estes voltam ao seu ponto de partida, os ingleses também restauraram a monarquia, ainda que transformada. Então, ainda havia no fim do século XVII o uso do termo revolução política como metáfora, como analogia à revolução dos astros.
O conceito de revolução só começou a ser identificado como sinônimo de ruptura, de continuidade de transformações, com a Revolução Francesa. A Revolução Francesa implodiu as bases do Antigo Regime europeu e lançou as bases políticas para o protagonismo da burguesia. O problema é que essas bases, que estavam calcadas nas ideias iluministas de igualdade, liberdade, direto à propriedade, etc., também pressupunham uma evolução contínua. Revolucionários mais radicais, como os jacobinos, vislumbravam um “destino” a ser cumprido pela Humanidade como um todo.
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Esse destino pressupunha que a “História”, no sentido de história universal, da qual comungam todos os homens, poderia “ser feita”, isto é, os homens poderiam alcançar um patamar de perfeição (social, política etc.) por meio de uma revolução permanente. Essa ideia de todo o mundo ser “revolucionado” tomou conta dos séculos XIX e XX. A onda revolucionária da primeira metade do século XIX, que ficou conhecida como Primavera dos Povos, consolidou a concepção que temos de Revolução.
A rápida propagação dos efeitos da Revolução Francesa foi obra de Napoleão Bonaparte, que pretendeu “libertar” os povos da Europa do jugo absolutista por meio da guerra. Somada à propagação dos ideais da Revolução Francesa, estava também a propagação dos nítidos avanços técnicos da Revolução Industrial. O desenvolvimento da indústria pesada (siderurgia e metalurgia), meios de transporte (locomotivas a vapor), instrumentos de comunicação (telégrafo) e tudo o mais que veio em seguida provocaram uma sensação contínua de que o tempo se acelerava e as distâncias se encurtavam.
Essa percepção da aceleração do tempo por meio das inovações tecnológicas perdura até hoje e acaba se contaminando com a percepção da atividade política, que, ao nosso olhar moderno, precisa também estar em constante aperfeiçoamento para conduzir a Humanidade a uma espécie de “Paraíso terrestre”. O problema é que ideologias totalitárias que prometeram esse tipo de “paraíso”, seja sob a forma de uma sociedade sem classes, seja o triunfo imperial de um povo, como o comunismo (soviético, chinês, cambojano etc.) e o nazismo, respectivamente, veem a revolução como o único caminho possível para o futuro. O resultado disso, como a história nos mostra, não tem sido dos mais estimulantes.
Por Me. Cláudio Fernandes