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Liev Tolstói

Liev Tolstói é o principal representante do realismo russo. Seus romances mais importantes são “Guerra e paz” e “Anna Karenina”.

Retrato de Liev Tolstói.
Liev Tolstói foi um importante autor do realismo russo.
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Liev Tolstói é um escritor russo nascido em 9 de setembro de 1828. De família aristocrata, ficou órfão de pai e mãe ainda na infância. Mais tarde, iniciou a Faculdade de Direito, mas abandonou o curso logo depois, e participou da Guerra da Crimeia. Seu sucesso como escritor ocorreu já com a publicação de suas três primeiras obras, uma trilogia composta pelos livros Infância, Adolescência e Juventude. No entanto, suas obras mais conhecidas são Guerra e paz e Anna Karenina.

O escritor converteu-se ao cristianismo na década de 1870. No entanto, possuía ideias próprias, de forma que fez severas críticas às igrejas cristãs e foi excomungado pela igreja ortodoxa russa em 1901. A sua visão particular do cristianismo, contudo, conseguiu vários adeptos. Assim, Tolstói, o principal representante do realismo russo, escreveu obras marcadas por doutrinação moral, nacionalismo crítico e temática social, antes de falecer, em 20 de novembro de 1910.

Leia mais: Realismo no Brasil – movimento literário que teve Machado de Assis como expoente

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Biografia de Tolstói

Liev Tolstói nasceu em 9 de setembro de 1828, na Rússia. Descendente de aristocratas, perdeu a mãe, uma condessa, quando tinha um ano de idade. Seu pai era um conde e faleceu quando ele tinha em torno de nove anos. Desse modo, o menino e seus irmãos acabaram de ser criados por uma tia. Em 1844, Tolstói ingressou na Universidade de Kazan para estudar línguas orientais.

Decidiu, também, estudar Direito, porém, em 1847, abandonou a universidade, sem terminar o curso. Nos anos seguintes, participou da Guerra da Crimeia (1853-1856) e obteve sucesso com a publicação, entre 1852 e 1856, de sua trilogiaInfância, Adolescência e Juventude. Construiu escolas para os filhos dos camponeses. No entanto, por isso, sofreu perseguição da polícia czarista, que não admitia liberdade na educação escolar.

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Casado em 1862, teve 13 filhos. Após finalizar o romance Anna Karenina, Tolstói, no final da década de 1870, entrou em crise existencial e acabou encontrando a fé cristã. No entanto, fez duras críticas à igreja ortodoxa russa e foi excomungado em 1901. O autor defendia que as igrejas cristãs eram corruptas e destoavam do verdadeiro cristianismo.

Assim, fez uma releitura da figura de Cristo e traçou as bases de seu cristianismo:

  • não se zangar;
  • não desejar;
  • não fazer juramentos;
  • não resistir ao mal;
  • amar os inimigos.

A filosofia de Tolstói acabou influenciando personalidades como Mahatma Gandhi (1869-1948). Tolstói, portanto, transformou-se em um anarquista pacifista e passou a atacar o serviço militar, o voto e os tribunais.

Após sua conversão, a família do escritor não compartilhou de suas novas ideias, que acabaram conseguindo seguidores e discípulos. A filosofia religiosa de Liev Tolstói prejudicou seu casamento. Esteve do seu lado apenas a sua filha Aleksandra, herdeira do escritor, o qual, devido a problemas de saúde, morreu na estação ferroviária de Astapovo, após um exaustivo dia de viagem, em 20 de novembro de 1910.

Características literárias de Liev Tolstói

Liev Tolstói é um escritor do realismo russo. Devido a isso, e também a peculiaridades do autor, suas obras são marcadas pelas características apresentadas a seguir.

  • Nacionalismo crítico
  • Doutrinação moral
  • Temática do adultério
  • Narrativa psicológica
  • Temática sociopolítica
  • Crítica de costumes
  • Personagens trágicos
  • Crítica à aristocracia
  • Foco nos detalhes
  • Fluxo de consciência
  • Sátira e ironia
  • Caráter didático
  • Crítica às religiões cristãs
  • Contradição: ceticismo e dogmatismo

Leia também: Naturalismo – movimento literário fundamentado nas correntes cientificistas

Obras de Tolstói

Capa do livro “Guerra e paz”, de Liev ou Leon Tolstói, publicado com o selo Nova Fronteira, da Ediouro Publicações. [1]
Capa do livro “Guerra e paz”, de Liev ou Leon Tolstói, publicado com o selo Nova Fronteira, da Ediouro Publicações. [1]
  • Novelas e romances

  • Infância (1852)
  • Adolescência (1854)
  • Juventude (1856)
  • Felicidade conjugal (1859)
  • Os cossacos (1863)
  • Guerra e paz (1869)
  • Anna Karenina (1877)
  • A morte de Ivan Ilitch (1886)
  • A sonata a Kreutzer (1889)
  • O diabo (1889)
  • Ressurreição (1899)
  • Falso cupom (1904)
  • Hadji Murat (1904)
  • Contos

  • A invasão (1852)
  • Contos de Sebastopol (1855-1856)
  • A tempestade de neve (1856)
  • A manhã do proprietário (1856)
  • Lucerne (1857)
  • Albert (1858)
  • Três mortes (1859)
  • A boneca de porcelana (1863)
  • Deus vê a verdade, mas a espera (1872)
  • O prisioneiro no Cáucaso (1872)
  • O caçador de ursos (1872)
  • Pelo que os homens vivem? (1881)
  • Memórias de um louco (1884)
  • Uma faísca não percebida queima a casa (1885)
  • Dois velhos (1885)
  • Onde o amor está, Deus está (1885)
  • Ivan, o tolo (1885)
  • Almas do mal (1885)
  • Sabedoria das crianças (1885)
  • Os três eremitas (1886)
  • Promovendo um diabo (1886)
  • De quanta terra um homem precisa? (1886)
  • O grão (1886)
  • Arrependimento (1886)
  • O filho de Deus (1886)
  • Uma oportunidade perdida (1889)
  • Françoise (1892)
  • Uma conversa entre pessoas ociosas (1893)
  • Ande pela luz enquanto há luz (1893)
  • Mestre e homem (1895)
  • Caro demais (1897)
  • Padre Sérgio (1898)
  • Esarhaddon, rei da Assíria (1903)
  • Trabalho, morte e doença (1903)
  • Três perguntas (1903)
  • Divino e humano (1906)

Guerra e paz

Guerra e paz é a obra mais famosa de Tolstói. O livro é um romance histórico que tem como pano de fundo a invasão napoleônica. Napoleão Bonaparte (1769-1821) é um dos personagens, além do czar Alexandre I (1777-1825). Ao lado desses personagens históricos, estão os fictícios.

Assim, a ação inicia-se em 1805, com a apresentação, aos leitores, da aristocracia russa, como a família do conde Ilia Rostov, pai de Natacha e do soldado Nicolau; e o marido de Lisa, o príncipe André Bolkonski, que busca glória ao ingressar no exército, mas revê os seus valores ao ser ferido:

“Ainda que cinco minutos antes André tivesse podido dizer algumas palavras aos soldados que o transportavam, agora calava-se, os olhos fixos em Napoleão. Afiguravam-se-lhe tão medíocres naquele momento os interesses que preocupavam o imperador, o próprio herói que lhe parecia tão insignificante, com a sua vaidade mesquinha e a alegria da vitória, quando comparava tudo isto ao espetáculo daquele céu imenso, [...].

No livro segundo, Nicolau volta para casa, em Moscou, em 1806. A velha condessa pretende “casar bem” os filhos, mas Natacha recusa Denissov, e Nicolau pretende casar-se por amor com sua pobre e órfã prima Sônia. Pedro Bezukov recebe uma herança e  casa-se com a adúltera Helena. Imerso em conflitos existenciais, Bezukov busca atingir um superior estado moral. Natacha está apaixonada por André, viúvo, pois Lisa morre durante um parto. Contudo, Pedro apaixona-se por Natacha:

“Esta voz doce, terna, em que vibrava uma nota profunda, surpreendeu Natacha.

— Deixemos isso minha amiga, dir-lhe-ei tudo, mas só uma coisa lhe peço; é que de hoje para o futuro me considere seu amigo. Se precisar de auxílio, de conselho, se algum dia sentir a necessidade de abrir o seu coração a alguém, agora não, quando puder olhar com clareza para dentro de si mesma, lembre-se de mim. — Pegou-lhe na mão e beijou-a. — Sentir-me-ei muito feliz, se for capaz...

Pedro perturbou-se.

— Não me fale assim, eu não o mereço! — exclamou Natacha, fazendo menção de retirar-se. Pedro, contudo, reteve-a. Sabia haver ainda qualquer coisa para lhe dizer. Pronunciadas que foram porém as suas palavras, ele próprio se surpreendeu.

— Não, não, não diga isso: tem a vida toda diante de si murmurou ele.

[...]”

Natacha, no terceiro livro do romance, decide terminar sua relação com André, mas fica doente, e é amparada por Pedro, além de fortalecer-se em sua religiosa. Já seu irmão Nicolau começa a envolver-se com Maria Bolkonskaia, uma ameaça para Sônia. Enquanto isso, o país está em guerra contra Napoleão:

 “Esta patrulha fazia parte do número das patrulhas [...] com a missão de dar caça aos salteadores e especialmente deitar a mão aos bandidos que, segundo a opinião nessa altura dominante no alto comando francês, haviam incendiado Moscovo. Depois de atravessar várias ruas, a patrulha deitou ainda a mão a cinco russos suspeitos, um boticário, dois seminaristas, um camponês, um lacaio, e a um certo número de salteadores. Mas, de todos os suspeitos, Pedro parecia o mais perigoso. Quando os conduziram à prisão militar, estabelecida num casarão junto da muralha de Zubovo, foi isolado dos outros e submetido a uma vigilância rigorosa.”

“O imperador Napoleão”, obra de Jacques-Louis David (1748-1825).
“O imperador Napoleão”, obra de Jacques-Louis David (1748-1825).

No último livro, diante de uma Rússia invadida pelo exército de Napoleão, Pedro decide assassinar Bonaparte. Para isso, assume a falsa identidade de um servo, mas é capturado. Como prisioneiro de guerra, conhece o honesto Platão Karataiev, um não aristocrata, um trabalhador que inspira o herói a viver na simplicidade. Assim, no epílogo, Pedro é libertado e, após a morte de Helena, pode casar-se com Natacha, enquanto a Rússia é reconstruída depois da insana guerra:

“Se a finalidade das guerras do princípio do século foi a grandeza da Rússia, esta podia ter sido alcançada sem qualquer das guerras precedentes e sem a invasão. Se essa finalidade era a grandeza da França, tinha sido possível alcançá-la sem a Revolução e sem o Império. Se fosse a propagação de certas ideias, a imprensa tinha-a podido realizar muitíssimo melhor do que os soldados. Se era o progresso da civilização, temos de concordar que há meios mais eficazes que a destruição das pessoas e das riquezas.”|1|

Veja também: Angústia: romance de Graciliano Ramos

Frases de Tolstói

A seguir, vamos ler algumas frases|2| de Liev Tolstói, retiradas de seu livro de não ficção O que é arte?:

“A arte é, como a palavra, um dos instrumentos de união entre os homens.”

“A humanidade se acha inclinada a ir de uma concepção mais baixa, parcial e obscura da vida a outra mais alta, geral e clara.”

“Aquele que reflete sinceramente, vê que a arte das classes superiores não poderá ser nunca a arte de uma nação inteira.”

“A arte é um instrumento moral da vida humana e, como tal, não pode se destruir por completo.”

“O fato de que, acostumado a uma arte, eu me torne incapaz de compreender outra, não me dá direito a afirmar que a que eu admiro é a única verdadeira, e que a que eu não compreendo é uma arte falsa e má.”

“A arte não é um ofício, mas a transmissão do sentimento que o artista experimenta.”

“Os artistas do futuro não pertencerão, como agora, a uma determinada classe do povo; todos os que sejam capazes de criação artística, serão artistas.”

“A arte e a ciência têm relação tão estreita como os pulmões e o coração.”

“A ciência verdadeira mostra aos homens os conhecimentos que devem ter mais importância para eles.”

“A arte não é uma alegria, nem um prazer, nem uma diversão; a arte é uma grande coisa.”

“O trabalho da arte cristã consiste em realizar a união fraternal dos homens.”

Notas

|1| Tradução de José Garibaldi Viegas Falcão.

|2| Tradução, das frases em espanhol para o português, de Warley Souza.

Crédito da imagem

[1] Ediouro (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Liev Tolstói"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/liev-tolstoi.htm. Acesso em 24 de abril de 2024.

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