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A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que envolve elementos de dança, arte marcial, música, jogo e religiosidade.
O surgimento da expressão foi protagonizado pelos negros escravizados como forma de resistência à opressão dos senhores e de preservação de suas identidades culturais. A roda, os instrumentos musicais, o canto e os movimentos corporais compõem a performance em capoeira.
Por meio das contribuições de mestres da capoeira, como Bimba e Pastinha, a prática é dividida em duas principais categorias: Angola e regional. Enquanto a primeira, mais tradicional, busca resgatar a herança africana, a segunda recebe influências de artes marciais e ocupa os espaços das academias.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a capoeira
- 2 - Origem e história da capoeira
- 3 - Mestre Bimba e a capoeira
- 4 - Tipos de capoeira
- 5 - Características da capoeira
- 6 - Fundamentos da capoeira
- 7 - Golpes de capoeira
- 8 - Música de capoeira
- 9 - Instrumentos da capoeira
Resumo sobre a capoeira
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A capoeira começou a ser praticada no Brasil Colônia, durante o período da escravidão no Brasil.
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Os protagonistas dessa prática foram os negros escravizados, que criaram a capoeira como mecanismo de autodefesa e preservação de suas identidades culturais.
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A capoeira é composta pela roda de praticantes e tocadores, os instrumentos, os cantos e os movimentos corporais.
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Os tipos de capoeira são Angola e regional.
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Os mestres Bimba e Pastinha são personalidades importantes no desenvolvimento da capoeira.
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Movimentos de fuga, ataque, contra-ataque, balões e esquiva e movimentos acrobáticos são alguns dos golpes de capoeira.
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A música também é um elemento essencial da capoeira e pode possuir diferentes toques e temas.
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Entre os instrumentos da capoeira estão o berimbau, atabaque, agogô, reco-reco, pandeiro, ganzá e caxixi.
Origem e história da capoeira
A origem da capoeira está associada ao contexto da escravidão no Brasil, e os primeiros registros históricos são do século XVIII. Os negros africanos escravizados desenvolveram a prática como forma de autodefesa e resistência à opressão dos senhores.
Pesquisadores apontam que o início da expressão se deu no período de formação dos quilombos, comunidades de escravizados que fugiam das violências a que eram submetidos.
O termo capoeira significa “o mato que nasce depois do desmatamento”. O nome está relacionado à forma como se dava a prática em seu início, realizada nas regiões de mato. O surgimento da expressão ocorreu na zona rural, e somente depois ela chegou aos espaços urbanos.
Além da intenção de desenvolver algo como defesa corporal, a capoeira foi criada como mecanismo de resistência cultural, em um processo de manutenção da identidade dos povos africanos que foram submetidos à escravidão.
John Moritz Rugendas é autor de um dos primeiros registros da capoeira, o quadro Jogar capoeira ou Danse de la guerre, de 1835.
A capoeira era considerada proibida, pois não era bem-vista pelos senhores. Nesse sentido, as práticas no mato eram formas de manter a expressão viva sem que os proprietários das fazendas descobrissem.
As cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife foram os principais centros urbanos que se tornaram palco da difusão da capoeira.
Antônio Moraes da Silva menciona em sua obra Dicionário da Língua Portuguesa, de 1823, que a luta da capoeira havia sido praticada nesse período também por pessoas mestiças e indígenas.
A repressão a quem fazia capoeira se estendeu por muito tempo na história brasileira. Após a Proclamação da República, o Código Penal de 1890 incluiu a capoeiragem em ruas e praças públicas como uma prática proibida.
Houve também o fenômeno da formação das maltas de capoeira. Elas eram caracterizadas por grupos organizados de pessoas que utilizavam a capoeira para promover desordem com diferentes objetivos, incluindo ações políticas.
As autoridades consideravam a modalidade como desordem, violência e baderna. Além das maltas, houve uma perseguição racista contra a capoeira que se uniu ao processo de repressão contra outras manifestações, como o candomblé e o samba.
Já no século XIX, em sua primeira metade, a capoeira passou a ser praticada por outros grupos, tais como escravizados libertos, militares, portugueses, imigrantes europeus e membros da elite social.
A esportivização da capoeira enquanto luta brasileira foi impulsionada pelas obras O Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira (1907) e Ginástica Nacional (Capoeiragem): metodizada e regrada (1928).
Tendo permanecido como uma prática proibida por muito tempo, a legalização da capoeira ocorreu na década de 1930.
Mestre Bimba e a capoeira
Nesse contexto da descriminalização da capoeira, Manoel do Reis Machado, o mestre Bimba, surgiu como uma personagem histórica da capoeira baiana.
Ele foi responsável por realizar mudanças na forma como se praticava a capoeira. Bimba incorporou técnicas e movimentos de outras modalidades de luta.
Entre suas contribuições está a criação do ritual da formatura, a aproximação da capoeira com a linguagem acadêmica, bem como a sistematização do ensino da capoeira. A prática deixou de ser majoritariamente realizada na rua e passou a ocupar as academias.
Um dos marcos da legalização da capoeira no Brasil foi a autorização que Bimba teve no ano de 1937 para ensinar a capoeira no Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia.
Foi com o trabalho do mestre que a capoeira se dividiu em duas principais modalidades, a regional, criada por Bimba, e a Angola, tipo mais tradicional.
Importante: Além de Bimba, entre grandes nomes baianos da capoeira estão: Pastinha, Traíra, Cobrinha Verde, Onça Preta, Pivô, Nagé, Samuel Preto e Daniel Noronha.
Tipos de capoeira
Os dois principais tipos de capoeira são Angola e regional.
→ Capoeira Angola
A capoeira Angola é uma modalidade da prática que objetiva resgatar a herança africana. Ela foi caracterizada por meio dos trabalhos de mestres baianos como Pastinha.
Apesar de ser expressa tal como a capoeira era praticada originalmente, ela foi reconhecida enquanto um tipo específico assim que mestre Bimba criou a regional.
Com isso, enquanto uma atua na preservação de elementos tradicionais das identidades africanas, a outra se associa à sistematização do ensino da capoeira e sua relação com as artes marciais.
A forma de jogar esse tipo de capoeira é mais lenta e feita próximo ao chão. A música nesse tipo também é caracterizada por toques lentos e originários da prática da capoeira.
→ Capoeira regional
A capoeira regional foi criada por Mestre Bimba na Bahia. Essa modalidade começou a ser desenvolvida em 1918.
Foi por meio da capoeira regional que a prática corporal da capoeira passou a ocupar outros espaços, como as academias, e ter novas percepções sociais além da marginalização.
Os movimentos desse tipo são mais acrobáticos, realizados em pé e com a definição de regras específicas. Isto é, passa a ser consolidado um processo de “esportivização” da capoeira com o desenvolvimento desse estilo.
Veja também: Caratê — uma arte marcial tradicionalmente japonesa
Características da capoeira
A capoeira reúne diferentes tipos de elementos do campo da musicalidade, luta, religiosidade, dança e costumes. Ela se consolidou enquanto forma de preservar as culturas ancestrais de seus praticantes, bem como de resistir à opressão vivenciada no contexto da escravidão. A capoeira é caracterizada pela da roda de praticantes e tocadores, pelos cantos, pelos instrumentos e pelos movimentos corporais.
Fundamentos da capoeira
Entre os fundamentos da capoeira, estão:
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disciplina e respeito à tradição;
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ritmo do berimbau;
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preservação da calma e da vigilância durante a prática.
Golpes de capoeira
Os golpes de capoeira são formados pelos seguintes movimentos, que são caracterizadas pelo uso dos membros e da cabeça:
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movimentos simples e de manobra;
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movimentos de fuga, ataque, contra-ataque, balões e esquiva;
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floreios e defesas;
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movimentos de entrada, saída, de pedido e chamadas;
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movimentos acrobáticos.
Música de capoeira
A música de capoeira é um elemento essencial para a construção da prática corporal e de seu desenvolvimento. Os diferentes toques executados nos diversos instrumentos, junto ao coro e o compasso das palmas, compõem a musicalidade dessa manifestação cultural.
→ Toques das músicas de capoeira
Os toques se distinguem a depender do mestre e tipo de capoeira. Entre os toques da capoeira regional estão:
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Hino da Capoeira Regional;
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Benguela;
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Cavalaria;
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Santa Maria;
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Pequeno;
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Idalina;
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Amazonas.
No estilo regional, os toques são mais rápidos, ao contrário da categoria Angola, que conta com um ritmo mais lento.
→ Temas das músicas de capoeira
Entre os temas das letras musicais cantadas na capoeira estão as vivências das pessoas escravizadas e as divindades do candomblé. Veja exemplos:
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“Eu vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou/A manteiga não é minha/A manteiga é de ioiô” (ladainha de cotidiano, lembrando dos escravos que trabalhavam na cozinha).
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“Oi sim sim sim/Oi não não não” (ladainha de roda, cantada para quando a luta está empatada).
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“Salomé, Salomé/Eu já vi homem barbado apanhar de mulher” (ladainha de roda, cantada para quando tem algum homem perdendo de uma mulher).
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“Sai sai Catarina/Saia do mar, venha ver Idalina” (ladainha religiosa em homenagem a Iemanjá).
Instrumentos da capoeira
A prática da capoeira pode ser realizada com diversos instrumentos. Veja sobre alguns deles a seguir:
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Berimbau: é um instrumento essencial da capoeira, composto por um arco de madeira com uma corda de aço, verga e cabaça. O dobrão e a baqueta são responsáveis pelo toque do berimbau, junto ao caxixi. Os tipos de berimbau da capoeira Angola são: gunga (grave), médio e viola (agudo). Esse instrumento é de origem dos povos bantos, que habitavam a região central do continente africano.
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Caxixi: consiste em um pequeno cesto de vime com sementes ou pequenas conchas do mar. Elas criam um efeito sonoro de chocalho. O tocador o utiliza preso ao seu dedo junto ao berimbau.
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Agogô: é formado por um arco pequeno e uma alça. Ao final deles há dois cones metálicos de diferentes tamanhos, responsáveis por dois sons distintos ao serem tocados por uma vareta de ferro.
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Atabaque: é um tambor cilíndrico baixo de origem africana muito comum no candomblé. O ritmo do jogo é marcado por esse instrumento, que acompanha o berimbau gunga.
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Pandeiro: é um instrumento de percussão que acompanha o caxixi e possui um som mais agudo do que o atabaque. Uma de suas funções é marcar o compasso.
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Ganzá: é composto por um tubo feito de metal ou de plástico que forma um chocalho. Seu som é produzido por grãos de cereais ou areia colocados no compartimento interno.
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Reco-reco: é caracterizado por um cano composto por metal. Ele é tocado por uma espécie de palito também de metal. Há também a variação feita com bambu.
Créditos de imagem
[1] Andre Silva Pinto / Shutterstock
[2] martina.abba / Shutterstock
[3] lazyllama / Shutterstock
Por Lucas Afonso
Jornalista