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Capoeira

A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira composta por elementos musicais e por movimentos corporais da dança e das artes marciais.

A capoeira contém uma diversidade de tipos de movimentos corporais em sua prática.
A capoeira contém uma diversidade de tipos de movimentos corporais em sua prática.
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A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que envolve elementos de dança, arte marcial, música, jogo e religiosidade.

O surgimento da expressão foi protagonizado pelos negros escravizados como forma de resistência à opressão dos senhores e de preservação de suas identidades culturais. A roda, os instrumentos musicais, o canto e os movimentos corporais compõem a performance em capoeira.

Por meio das contribuições de mestres da capoeira, como Bimba e Pastinha, a prática é dividida em duas principais categorias: Angola e regional. Enquanto a primeira, mais tradicional, busca resgatar a herança africana, a segunda recebe influências de artes marciais e ocupa os espaços das academias.

Leia também: Frevo — uma dança folclórica que utiliza alguns dos movimentos da capoeira

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a capoeira

  • A capoeira começou a ser praticada no Brasil Colônia, durante o período da escravidão no Brasil.

  • Os protagonistas dessa prática foram os negros escravizados, que criaram a capoeira como mecanismo de autodefesa e preservação de suas identidades culturais.

  • A capoeira é composta pela roda de praticantes e tocadores, os instrumentos, os cantos e os movimentos corporais.

  • Os tipos de capoeira são Angola e regional.

  • Os mestres Bimba e Pastinha são personalidades importantes no desenvolvimento da capoeira.

  • Movimentos de fuga, ataque, contra-ataque, balões e esquiva e movimentos acrobáticos são alguns dos golpes de capoeira.

  • A música também é um elemento essencial da capoeira e pode possuir diferentes toques e temas.

  • Entre os instrumentos da capoeira estão o berimbau, atabaque, agogô, reco-reco, pandeiro, ganzá e caxixi.

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Origem e história da capoeira

A origem da capoeira está associada ao contexto da escravidão no Brasil, e os primeiros registros históricos são do século XVIII. Os negros africanos escravizados desenvolveram a prática como forma de autodefesa e resistência à opressão dos senhores.

Pesquisadores apontam que o início da expressão se deu no período de formação dos quilombos, comunidades de escravizados que fugiam das violências a que eram submetidos.

O termo capoeira significa “o mato que nasce depois do desmatamento”. O nome está relacionado à forma como se dava a prática em seu início, realizada nas regiões de mato. O surgimento da expressão ocorreu na zona rural, e somente depois ela chegou aos espaços urbanos.

Além da intenção de desenvolver algo como defesa corporal, a capoeira foi criada como mecanismo de resistência cultural, em um processo de manutenção da identidade dos povos africanos que foram submetidos à escravidão.

John Moritz Rugendas é autor de um dos primeiros registros da capoeira, o quadro Jogar capoeira ou Danse de la guerre, de 1835.

Quadro “Jogar capoeira” ou “Danse de la guerre”, de John Moritz Rugendas, de 1835, um dos primeiros registros da capoeira.
Quadro Jogar capoeira ou Danse de la guerre, de John Moritz Rugendas, de 1835.

A capoeira era considerada proibida, pois não era bem-vista pelos senhores. Nesse sentido, as práticas no mato eram formas de manter a expressão viva sem que os proprietários das fazendas descobrissem.

As cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife foram os principais centros urbanos que se tornaram palco da difusão da capoeira.

Antônio Moraes da Silva menciona em sua obra Dicionário da Língua Portuguesa, de 1823, que a luta da capoeira havia sido praticada nesse período também por pessoas mestiças e indígenas.

A repressão a quem fazia capoeira se estendeu por muito tempo na história brasileira. Após a Proclamação da República, o Código Penal de 1890 incluiu a capoeiragem em ruas e praças públicas como uma prática proibida.

Houve também o fenômeno da formação das maltas de capoeira. Elas eram caracterizadas por grupos organizados de pessoas que utilizavam a capoeira para promover desordem com diferentes objetivos, incluindo ações políticas.

As autoridades consideravam a modalidade como desordem, violência e baderna. Além das maltas, houve uma perseguição racista contra a capoeira que se uniu ao processo de repressão contra outras manifestações, como o candomblé e o samba.

Já no século XIX, em sua primeira metade, a capoeira passou a ser praticada por outros grupos, tais como escravizados libertos, militares, portugueses, imigrantes europeus e membros da elite social.

Praticantes de capoeira no Rio de Janeiro, retratados em pintura do artista Augustus Earle.
Praticantes de capoeira no Rio de Janeiro, retratados em pintura do artista Augustus Earle.

A esportivização da capoeira enquanto luta brasileira foi impulsionada pelas obras O Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira (1907) e Ginástica Nacional (Capoeiragem): metodizada e regrada (1928).

Tendo permanecido como uma prática proibida por muito tempo, a legalização da capoeira ocorreu na década de 1930.

Mestre Bimba e a capoeira

Nesse contexto da descriminalização da capoeira, Manoel do Reis Machado, o mestre Bimba, surgiu como uma personagem histórica da capoeira baiana.

Ele foi responsável por realizar mudanças na forma como se praticava a capoeira. Bimba incorporou técnicas e movimentos de outras modalidades de luta.

Entre suas contribuições está a criação do ritual da formatura, a aproximação da capoeira com a linguagem acadêmica, bem como a sistematização do ensino da capoeira. A prática deixou de ser majoritariamente realizada na rua e passou a ocupar as academias.

Um dos marcos da legalização da capoeira no Brasil foi a autorização que Bimba teve no ano de 1937 para ensinar a capoeira no Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia.

Foi com o trabalho do mestre que a capoeira se dividiu em duas principais modalidades, a regional, criada por Bimba, e a Angola, tipo mais tradicional.

Importante: Além de Bimba, entre grandes nomes baianos da capoeira estão: Pastinha, Traíra, Cobrinha Verde, Onça Preta, Pivô, Nagé, Samuel Preto e Daniel Noronha.

Tipos de capoeira

Os dois principais tipos de capoeira são Angola e regional.

Capoeira Angola

A capoeira Angola é uma modalidade da prática que objetiva resgatar a herança africana. Ela foi caracterizada por meio dos trabalhos de mestres baianos como Pastinha.

Apesar de ser expressa tal como a capoeira era praticada originalmente, ela foi reconhecida enquanto um tipo específico assim que mestre Bimba criou a regional.

Com isso, enquanto uma atua na preservação de elementos tradicionais das identidades africanas, a outra se associa à sistematização do ensino da capoeira e sua relação com as artes marciais.

Dois homens lutando capoeira Angola em uma roda de capoeira na praia.
Os movimentos em planos baixos e mais lentos fazem parte da capoeira Angola. [1]

A forma de jogar esse tipo de capoeira é mais lenta e feita próximo ao chão. A música nesse tipo também é caracterizada por toques lentos e originários da prática da capoeira.

Capoeira regional

A capoeira regional foi criada por Mestre Bimba na Bahia. Essa modalidade começou a ser desenvolvida em 1918.

Foi por meio da capoeira regional que a prática corporal da capoeira passou a ocupar outros espaços, como as academias, e ter novas percepções sociais além da marginalização.

Os movimentos desse tipo são mais acrobáticos, realizados em pé e com a definição de regras específicas. Isto é, passa a ser consolidado um processo de “esportivização” da capoeira com o desenvolvimento desse estilo.

Veja também: Caratê — uma arte marcial tradicionalmente japonesa

Características da capoeira

A capoeira reúne diferentes tipos de elementos do campo da musicalidade, luta, religiosidade, dança e costumes. Ela se consolidou enquanto forma de preservar as culturas ancestrais de seus praticantes, bem como de resistir à opressão vivenciada no contexto da escravidão. A capoeira é caracterizada pela da roda de praticantes e tocadores, pelos cantos, pelos instrumentos e pelos movimentos corporais.

Dois homens lutando capoeira em um espaço público de Salvador, na Bahia.
Prática de capoeira em um espaço público de Salvador, na Bahia. [2]

Fundamentos da capoeira

Entre os fundamentos da capoeira, estão:

  • disciplina e respeito à tradição;

  • ritmo do berimbau;

  • preservação da calma e da vigilância durante a prática.

Grupo de capoeira em performance durante festival na cidade de Salvador, na Bahia. [3]
Grupo de capoeira em performance durante festival na cidade de Salvador, na Bahia. [3]

Golpes de capoeira

Os golpes de capoeira são formados pelos seguintes movimentos, que são caracterizadas pelo uso dos membros e da cabeça:

  • movimentos simples e de manobra;

  • movimentos de fuga, ataque, contra-ataque, balões e esquiva;

  • floreios e defesas;

  • movimentos de entrada, saída, de pedido e chamadas;

  • movimentos acrobáticos.

Música de capoeira

A música de capoeira é um elemento essencial para a construção da prática corporal e de seu desenvolvimento. Os diferentes toques executados nos diversos instrumentos, junto ao coro e o compasso das palmas, compõem a musicalidade dessa manifestação cultural.

Toques das músicas de capoeira

Os toques se distinguem a depender do mestre e tipo de capoeira. Entre os toques da capoeira regional estão:

  • Hino da Capoeira Regional;

  • Benguela;

  • Cavalaria;

  • Santa Maria;

  • Pequeno;

  • Idalina;

  • Amazonas.

No estilo regional, os toques são mais rápidos, ao contrário da categoria Angola, que conta com um ritmo mais lento.

Temas das músicas de capoeira

Entre os temas das letras musicais cantadas na capoeira estão as vivências das pessoas escravizadas e as divindades do candomblé. Veja exemplos:

  • “Eu vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou/A manteiga não é minha/A manteiga é de ioiô” (ladainha de cotidiano, lembrando dos escravos que trabalhavam na cozinha).

  • “Oi sim sim sim/Oi não não não” (ladainha de roda, cantada para quando a luta está empatada).

  • “Salomé, Salomé/Eu já vi homem barbado apanhar de mulher” (ladainha de roda, cantada para quando tem algum homem perdendo de uma mulher).

  • “Sai sai Catarina/Saia do mar, venha ver Idalina” (ladainha religiosa em homenagem a Iemanjá).

Instrumentos da capoeira

A prática da capoeira pode ser realizada com diversos instrumentos. Veja sobre alguns deles a seguir:

 Ilustração representando alguns exemplos de instrumentos da capoeira.
 Exemplos de instrumentos da capoeira. (Créditos: Paulo José Soares Braga | Brasil Escola)
  • Berimbau: é um instrumento essencial da capoeira, composto por um arco de madeira com uma corda de aço, verga e cabaça. O dobrão e a baqueta são responsáveis pelo toque do berimbau, junto ao caxixi. Os tipos de berimbau da capoeira Angola são: gunga (grave), médio e viola (agudo). Esse instrumento é de origem dos povos bantos, que habitavam a região central do continente africano.

  • Caxixi: consiste em um pequeno cesto de vime com sementes ou pequenas conchas do mar. Elas criam um efeito sonoro de chocalho. O tocador o utiliza preso ao seu dedo junto ao berimbau.

  • Agogô: é formado por um arco pequeno e uma alça. Ao final deles há dois cones metálicos de diferentes tamanhos, responsáveis por dois sons distintos ao serem tocados por uma vareta de ferro.

  • Atabaque: é um tambor cilíndrico baixo de origem africana muito comum no candomblé. O ritmo do jogo é marcado por esse instrumento, que acompanha o berimbau gunga.

  • Pandeiro: é um instrumento de percussão que acompanha o caxixi e possui um som mais agudo do que o atabaque. Uma de suas funções é marcar o compasso.

  • Ganzá: é composto por um tubo feito de metal ou de plástico que forma um chocalho. Seu som é produzido por grãos de cereais ou areia colocados no compartimento interno.

  • Reco-reco: é caracterizado por um cano composto por metal. Ele é tocado por uma espécie de palito também de metal. Há também a variação feita com bambu.

Créditos de imagem

[1] Andre Silva Pinto / Shutterstock

[2] martina.abba / Shutterstock

[3] lazyllama / Shutterstock

 

Por Lucas Afonso
Jornalista

Escritor do artigo
Escrito por: Lucas Afonso Jornalista pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e bacharel em Educação Física pelo Centro Universitário Internacional (Uninter).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

AFONSO, Lucas. "Capoeira"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/capoeira.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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