O candomblé é uma religião de matriz africana que busca conectar seus praticantes com divindades chamadas orixás, voduns e inquices, representando forças naturais e aspectos da vida humana, promovendo harmonia entre os mundos físico e espiritual. Suas crenças incluem a continuidade da vida após a morte, a reencarnação e o conceito de "axé", uma energia vital cultivada nos rituais e oferendas. Esses rituais, realizados em terreiros e liderados por sacerdotes, incluem danças, oferendas e cantos que evocam os orixás, celebram eventos importantes e marcam a iniciação de novos membros.
Cada orixá possui características específicas, como cores, danças e alimentos, simbolizando poderes e aspectos naturais e humanos, enquanto outros espíritos, como os eguns, também integram a cosmologia da religião. As nações do candomblé refletem a diversidade africana, sendo as principais Ketu, Jeje e Angola, cada uma com rituais e práticas próprias, evidenciando a riqueza cultural da religião.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o candomblé
- 2 - O que é candomblé?
- 3 - Crenças do candomblé
- 4 - Rituais do candomblé
- 5 - Orixás e entidades do candomblé
- 6 - Nações do candomblé
- 7 - Origem e história do candomblé
- 8 - Diferenças entre candomblé e umbanda
- 9 - Dia Nacional do Candomblé
- 10 - Curiosidades sobre o candomblé
Resumo sobre o candomblé
- Candomblé é uma religião de matriz africana que busca a conexão com divindades chamadas orixás, voduns e inquices, representando forças naturais e elementos da vida humana, promovendo harmonia entre os mundos físico e espiritual.
- As crenças do candomblé incluem a presença dos orixás em todas as forças naturais, a continuidade da vida após a morte e a reencarnação, além do conceito de "axé", uma energia vital que é cultivada nos rituais e oferendas.
- Os rituais do candomblé, realizados em terreiros e liderados por sacerdotes, incluem danças, oferendas e cantos para evocar a presença dos orixás, celebrar eventos importantes e realizar iniciações para novos membros da religião.
- Os orixás representam elementos naturais e aspectos humanos; cada um possui características específicas, como cores, danças e alimentos, simbolizando poderes e funções, além de outros espíritos, como os eguns.
- As nações do candomblé refletem a diversidade africana, com três principais divisões — Ketu, Jeje e Angola —, cada uma com línguas, práticas e rituais próprios, destacando a riqueza cultural que compõe a religião.
- O candomblé tem origem nas tradições da África Ocidental, trazidas pelos escravizados e adaptadas no Brasil, onde a religião enfrentou perseguições e preconceito, consolidando-se como uma religião própria e marcada pela resistência cultural.
- Embora candomblé e umbanda compartilhem raízes africanas, o candomblé preserva tradições africanas puras, enquanto a umbanda é um sincretismo que inclui influências católicas, indígenas e espíritas, com diferentes divindades e práticas.
- O Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé é celebrado no dia 21 de março.
O que é candomblé?
O candomblé é uma religião de matriz africana, marcada por uma complexa estrutura de rituais, crenças e práticas, que se mantém viva principalmente no Brasil, embora também seja praticada em outros países. Fundamentado em uma cosmologia e filosofia próprias, o candomblé busca compreender o universo e a existência humana por meio da conexão com entidades espirituais chamadas orixás, voduns e inquices, que representam diferentes aspectos da natureza e das forças vitais.
O termo "candomblé" originalmente referia-se a celebrações de dança e música, mas com o tempo passou a ser sinônimo da própria religião. A prática religiosa inclui oferendas, danças e cantos que visam manter o equilíbrio entre os mundos físico e espiritual, buscando harmonia, proteção e orientação espiritual.
Crenças do candomblé
No candomblé, acredita-se que tudo no universo está interligado, sendo que cada elemento natural — água, fogo, ar, terra, plantas, animais e seres humanos — está associado a uma força espiritual ou orixá. Os praticantes acreditam que essas divindades se manifestam para oferecer proteção, cura e equilíbrio aos indivíduos e à comunidade.
Além disso, o candomblé é caracterizado pela crença na reencarnação e, portanto, na continuidade da vida após a morte, onde o espírito retorna ao plano espiritual e pode eventualmente reencarnar. Outra crença fundamental é o conceito de "axé", uma energia vital que é cultivada através de rituais, oferendas e a conexão com os orixás.
A tradição oral é a principal forma de transmissão do conhecimento religioso, sendo que os mitos e histórias dos orixás explicam suas origens, poderes e personalidades, orientando a conduta dos fiéis.
Rituais do candomblé

Os rituais no candomblé são formas de conexão com os orixás e servem para celebrar, honrar e obter proteção das divindades. Entre os principais rituais estão as festas para os orixás, que envolvem cantos, danças e toques de tambores. Essas cerimônias costumam ocorrer em terreiros, lugares sagrados onde os rituais são realizados, e são lideradas por sacerdotes e sacerdotisas, conhecidos como pais e mães de santo.
Outro ritual importante é a oferenda, na qual são oferecidos alimentos, bebidas e outros elementos aos orixás em troca de proteção ou favores. Além disso, há ritos de iniciação, que marcam o vínculo de um novo membro com um orixá específico, e o ritual do padê, realizado em homenagem a Exu, orixá mensageiro e guardião dos caminhos.
As danças e os trajes são partes fundamentais dos rituais, pois cada orixá tem um ritmo e uma coreografia específica que evocam suas características e simbolizam a sua presença.
Orixás e entidades do candomblé
Os orixás são divindades que representam forças da natureza e aspectos da vida humana. Cada orixá tem sua própria personalidade, símbolos, cores, comidas preferidas e rituais específicos. Alguns dos orixás mais conhecidos são:
- Oxalá: o orixá da criação e da paz, associado ao branco e às pombas.
- Iemanjá: a rainha do mar, associada às águas salgadas e à maternidade.
- Xangô: o orixá da justiça e dos raios, associado ao trovão e às pedras.
- Ogum: o orixá da guerra e do ferro, associado às armas e às batalhas.
- Oxum: a deusa do amor e da fertilidade, associada às águas doces e ao ouro.
Além dos orixás, o candomblé também cultua outras entidades, como os ancestrais e espíritos conhecidos como eguns, e possui categorias de espíritos que representam diferentes energias e arquétipos humanos, que também se manifestam nas cerimônias.
Para saber mais sobre os orixás, clique aqui.
Nações do candomblé
As "nações" do candomblé são divisões dentro da religião que refletem as diferentes culturas e etnias africanas trazidas ao Brasil durante o período da escravidão. Cada nação possui suas próprias tradições, línguas e rituais específicos, embora todas compartilhem a veneração aos orixás e a estrutura básica de culto. As principais nações são:
- Ketu: originária do grupo iorubá, é uma das nações mais difundidas no Brasil. Seus rituais são caracterizados pelo uso de cânticos em iorubá e a veneração dos orixás.
- Jeje: baseada nas tradições do povo ewe-fon, do atual Benim. Seus rituais são conhecidos pela invocação dos voduns, que são entidades semelhantes aos orixás.
- Angola: baseada nas tradições dos povos bantu, principalmente de Angola e Congo. Seus rituais utilizam cânticos em línguas bantu e veneram os inkices, que são equivalentes aos orixás.
Origem e história do candomblé
O candomblé tem suas origens na África Ocidental, especialmente nas regiões correspondentes à Nigéria, Benim, e Angola, de onde vieram muitos dos escravizados levados ao Brasil. Durante o período da escravidão, os africanos mantiveram suas tradições religiosas, apesar da opressão e da tentativa de conversão ao catolicismo.
No Brasil, os africanos de diferentes etnias reuniram-se e adaptaram seus cultos para manter vivas suas práticas, dando origem ao que hoje se conhece como candomblé. No século XIX, a prática do candomblé ganhou força na Bahia, onde os primeiros terreiros foram fundados, como o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, considerado um dos mais antigos.
A religião enfrentou perseguições ao longo de sua história e foi associada a práticas "primitivas" e "fetichistas" por pesquisadores do século XIX, como Nina Rodrigues, que, apesar de interessado em estudar a cultura afro-brasileira, refletia os preconceitos de seu tempo. Somente ao longo do século XX, com pesquisadores como Pierre Verger e Roger Bastide, o candomblé começou a ser visto com mais respeito e a receber um tratamento acadêmico mais sensível.
Leia também: Intolerância religiosa — forma de preconceito por conta da religião.
Diferenças entre candomblé e umbanda
Embora o candomblé e a umbanda compartilhem raízes africanas, são religiões distintas com práticas e doutrinas próprias. O candomblé tem uma estrutura mais rígida e é diretamente baseado nas tradições africanas, sem incorporar elementos de outras religiões. A umbanda, por outro lado, é um sincretismo que mistura influências africanas, indígenas, espíritas e católicas, sendo mais flexível em sua prática e em sua adaptação ao contexto brasileiro.
Outra diferença é a forma de contato com as entidades espirituais: enquanto no candomblé o culto é direcionado principalmente aos orixás, na umbanda há uma diversidade de espíritos, incluindo guias como caboclos, pretos-velhos e crianças, que se manifestam nos médiuns. Na umbanda, a incorporação de elementos do espiritismo kardecista também influencia a visão sobre a reencarnação e a evolução espiritual, enquanto o candomblé se mantém mais fiel às crenças africanas.
Para saber mais detalhes sobre a diferença entre candomblé e umbanda, clique aqui.
Dia Nacional do Candomblé
Em 2023, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.519/2023, que criou o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, celebrado no dia 21 de março.
Curiosidades sobre o candomblé
O candomblé tem características únicas que despertam curiosidade e fascínio. Por exemplo, cada orixá possui um dia da semana específico em que é celebrado, com cores e comidas associadas a ele. Exu, por exemplo, é homenageado às segundas-feiras, e suas cores são o vermelho e o preto.
Outro aspecto interessante é o uso dos búzios para a leitura do oráculo, através do qual se busca a orientação dos orixás. No candomblé, o transe é uma prática importante: os filhos de santo entram em transe durante os rituais e “recebem” os orixás, sendo guiados pelos movimentos e sons que expressam a presença divina.
Crédito de imagem
[1] Clara Angeleas / Ministério da Cultura / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
LARA, Larissa Michelle. As danças no candomblé: corpo, rito e educação. Maringá: Eduem, 2008.
PARIZI, Vicente Galvão. O livro dos Orixás: África e Brasil. Porto Alegre: Editora Fi, 2020. 268 p.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (Rito Nagô). Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961. (Coleção Brasiliana, v. 313).