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Carta pessoal

A carta pessoal é um gênero textual usado para construir diálogo entre pessoas íntimas. Sua principal característica é a presença de marcas de pessoalidade.

Escrevemos uma carta pessoal quando queremos nos comunicar com alguém próximo de nós, como amigos ou familiares.
Escrevemos uma carta pessoal quando queremos nos comunicar com alguém próximo de nós, como amigos ou familiares.
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A carta pessoal é um gênero discursivo muito antigo e, ao mesmo tempo, ainda muito usado na sociedade contemporânea. Cumprindo a função básica de conectar pessoas distantes, a carta virtualizou-se, transformando-se em e-mail ou em outras tantas formas de comunicação instantânea, continuando a ser um dos gêneros mais fundamentais da humanidade.  

Leia também: Carta argumentativa: estrutura, características e exemplo

Tópicos deste artigo

Características

A carta pessoal, para além da estrutura básica de todas as epístolas (outro nome para carta), também tem algumas características particulares. Dentre elas, vale destacar:

  • Marcas de pessoalidade na linguagem 

Quando conversamos com amigos ou pessoas íntimas, costumamos usar uma linguagem descontraída e, em alguns casos, confidencial. Isso ocorre porque nossa língua reflete o grau de envolvimento que possuímos com nossos interlocutores. Nesse sentido, há expressões que só usamos com amigos ou assuntos que só discutimos com quem confiamos. Esse nível de linguagem, com alguma intimidade, é comum em cartas pessoais.

  • Interlocução direta

Falar diretamente com o leitor da carta, por meio de verbos na segunda pessoa do discurso, é algo comum nas cartas pessoais.

  • Discussão de temas íntimos

Uma carta pessoal, normalmente, é escrita para tratar de assuntos que circulam em redes restritas de intimidade. Por isso, assuntos íntimos são muito presentes nesse tipo de texto.

Leia também: Como melhorar a escrita?

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Estrutura

Apesar das diversas transformações que o gênero carta tem sofrido na atualidade, tradicionalmente, sua estrutura possui alguns elementos relativamente fixos, os quais são:

  • Data;
  • Destinatário (para quem é remetida a carta);
  • Corpo do texto;
  • Saudação e assinatura.

É importante ressaltar que essa estrutura fixa costuma ser exigida em vestibulares, mas, em outros espaços de produção, é comum que algumas das partes listadas não apareçam.

Leia também: Hipertexto

Exemplo

O livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe, é considerado um romance epistolar — ou seja, trata-se de uma narrativa cujos capítulos são cartas. A obra é considerada fundadora do Romantismo  na Literatura. Veja, a seguir, uma das cartas que Werther envia ao seu amigo:

Aos 04 de maio de 1771.

Como estou contente de ter partido! Ah, meu amigo, o que é o coração humano! Deixar-te, a ti que eu tanto amo, de quem eu era inseparável, e estar contente! Sei que me perdoarás. Não estavam todas as minhas demais relações como que escolhidas pelo destino a fim de afligir um coração como o meu? A pobre Leonor! E, contudo, eu era inocente! Podia eu fazer algo se, enquanto o encanto teimoso de sua irmã me proporcionava tão agradável companhia, uma paixão se acendia em meu pobre coração? E todavia... serei eu totalmente inocente? Não alimentei seus sentimentos? Não me deleitei com as sinceras expressões daquela criatura, expressões que tantas vezes nos fizeram rir, embora na realidade fossem tão pouco dignas de riso? Não fiz eu... Oh, o que é o homem, para se atrever a lamentar-se sobre si mesmo! Eu quero, dileto amigo, eu te prometo que quero corrigir-me, nunca mais haverei de, como sempre fiz, beber até a última gota os males que o destino nos reserva. Quero gozar o presente e o passado será passado para mim. É claro, caríssimo, que tu tens razão. As dores dos homens seriam menos agudas se eles não... Deus sabe por que eles são feitos assim! Se ocupar com tanta assiduidade da fantasia, chamar de volta a lembrança dos males passados, ao invés de tornar o presente suportável...

Tu és tão bom para comigo que, com certeza, não verás problema em dizer a minha mãe que estou tentando me ocupar da melhor forma possível dos negócios dela e que, em breve, haverei de lhe dar notícias a respeito de seu andamento. Falei com minha tia e nem de longe encontrei a mulher má que as pessoas tentam fazer dela. Ela é viva e impetuosa, dona do melhor dos corações. Expus-lhe as queixas de minha mãe sobre o fato de ficar com parte da herança, ela me deu suas razões, seus motivos e as condições segundo as quais está pronta a entregar-nos tudo, e inclusive mais do que nós reclamamos... Resumindo, não me agrada continuar escrevendo acerca disso; diga a minha mãe que tudo haverá de acabar bem. Neste insignificante negócio só fiz comprovar mais uma vez, meu caro, que os mal-entendidos e a indolência talvez causem mais enganos no mundo do que a esperteza e a maldade. De qualquer modo, as duas últimas são, por certo, mais raras.

De resto, estou me sentindo muito bem por aqui. A solidão destas campinas paradisíacas é um bálsamo delicioso para o meu peito, e essa época de juventude aquenta com toda plenitude meu coração tantas vezes tiritante. Cada árvore, cada moita é um ramo de flores, e a gente faria gosto em se transformar num besouro para esvoaçar nesse mar de perfumes e poder sugar todos os seus alimentos.

A cidade em si é desagradável, mas nos arrabaldes a natureza é de uma beleza indizível. Foi o que levou o falecido Conde de M... a plantar um jardim sobre uma daquelas colinas, que se sucedem umas às outras com tanta variedade, formando vales plenos de delícia. O jardim é simples, e logo à entrada a gente sente que o seu esboço não foi elaborado por um jardineiro que domina a ciência, mas por um coração sensível, que ali queria deleitar-se e gozar-se a si mesmo. Alguma lágrima já consagrei a sua memória, num pavilhão arruinado que foi o seu lugarejo favorito e hoje é também o meu. Em breve serei o senhor do jardim; o jardineiro já simpatiza comigo tão-só pela convivência destes poucos dias e não achará mal se eu ficar por ali em definitivo.

Os sofrimentos do jovem Werther,

Goethe.


Por Me. Fernando Marinho


Escritor do artigo
Escrito por: Fernando Marinho Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MARINHO, Fernando. "Carta pessoal"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/carta-pessoal.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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