UOL - O melhor conteúdo

Polarização política

A polarização política é um fenômeno social que divide uma ou mais populações em dois grupos politicamente opostos.

Representação do conceito de polarização política: dois grupos de pessoas se opondo radicalmente sobre algo.
Na polarização política, a população tende a se opor radicalmente em dois nichos.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
Imprimir
A+
A-
Escutar texto
Compartilhar
Facebook
X
WhatsApp
Play
Ouça o texto abaixo!
1x
PUBLICIDADE

A polarização política é um conceito utilizado para explicar dois grupos extremamente opostos em relação a um contexto sociopolítico. Apesar de ter se tornado comum no decorrer do século XX adiante, esse fenômeno pode ser compreendido em diversos momentos da história da humanidade, principalmente com o advento da Idade Contemporânea. A polarização política, apesar de trazer benefícios a longo prazo para as sociedades, constantemente traz consequências negativas tanto para os adeptos a um dos polos políticos quanto para o contexto da nação em que esse conceito passa a existir.

Leia também: Direita e esquerda: qual a diferença?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre polarização política

  • A polarização geralmente divide a população em dois grupos que se opõem ideologicamente, como esquerda/direita, progressismo/conservadorismo, socialismo/capitalismo etc.
  • Na história da contemporaneidade, é possível que o primeiro exemplo de polarização política tenha ocorrido na Assembleia Constituinte francesa, originada em 1789, que se dividiu principalmente entre jacobinos e girondinos.
  • A polarização política mais impactante da história foi possivelmente oriunda da Guerra Fria, que dividiu praticamente o mundo todo nos blocos capitalista e socialista.
  • O processo de polarização pode surgir a partir da impopularidade de grupos políticos menos influentes ou de maneira inorgânica, causada pelo populismo ou disseminação de fake news.
  • Entre as consequências negativas da polarização política, podem-se citar a ascensão de governos ou grupos intolerantes, as generalizações, os discursos de ódio e as crises interpessoais.
  • No entanto, também há consequências positivas, como a abolição de sistemas sociopolíticos opressores e o fortalecimento de políticas inclusivas.
  • Atualmente, no Brasil, a polarização política é fortemente baseada em partidos ou figuras políticas, representadas por esquerda/direita, petismo/antipetismo, bolsonarismo/antibolsonarismo etc.

O que é a polarização política?

Polarização política é o nome dado a um fenômeno social que consiste em dividir uma ou mais populações em dois grupos politicamente opostos. O nome do fenômeno se associa ao conceito de polos, isto é, duas extremidades que se opõem completamente — exatamente como em um ímã ou nos eixos dos planetas.

No âmbito da história e da política, esses conceitos opostos são fornecidos por diversos exemplos, como esquerda/direita, socialista/capitalista, democrata/republicano, nacionalista/liberal etc. No entanto, podem significar também grupos favoráveis em oposição a grupos que são contra algum regime, partido ou figura política, como getulistas/antigetulistas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Origem da polarização política

O uso do conceito de polarização política parece remeter mais aos fenômenos da sociopolítica do século XX adiante, mas o seu significado diz respeito a tempos ainda mais antigos.

Levando-se em consideração a história da democracia contemporânea — um sistema político que revisitou nações da Antiguidade, em especial a ateniense —, pode-se afirmar que a polarização política remete primeiramente ao século XVIII. A “voz do povo” já era utilizada em modelos políticos de muitas sociedades americanas antes das invasões europeias, mas foi necessário que revoluções e guerras de independência rompessem com antigos modelos de governo para que esse modelo se consolidasse no Ocidente.

Não é coincidência, portanto, que o final do século XVIII tenha “resgatado” o uso da democracia — afinal, foi por meio da disseminação de teorias políticas iluministas que o Ocidente passou por profundas transformações, refletidas em eventos históricos como a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. Por isso, pode-se compreender por que as origens da polarização política remetam ao final daquele século: a participação popular ganhou força nos primeiros países a romperem com modelos absolutistas convencionais à Idade Moderna.

A França foi provavelmente uma das primeiras nações a se depararem com a polarização política de grandes proporções: durante a Assembleia Constituinte de 1789, os jacobinos, compostos por camadas mais pobres da sociedade, reclamavam uma ruptura radical com o modelo absolutista a fim de consolidar um regime republicano e democrático e debateram com os girondinos, representados por uma alta burguesia que procurava entrar em consenso com a realeza para que não perdesse os seus privilégios (nota-se, aliás, que foi essa polarização que originou os conceitos de “esquerda” e “direita” políticos; os jacobinos sentavam-se nas cadeira à esquerda da assembleia, e os girondinos, à direita).

O resultado das oposições na opinião sobre o que viria a ser a Constituição da França de 1791 ultrapassou os meros debates: em 1794, o líder jacobino Maximilien Robespierre ordenou o aprisionamento e a execução de milhares de opositores, formados por girondinos, monarquistas e conservadores do clero ou nobreza. O evento ficou conhecido como Período do Terror.

Execução de Robespierre no contexto da Revolução Francesa, um fato histórico ligado à polarização política.
Execução de Robespierre no contexto da Revolução Francesa, um fato histórico ligado à polarização política.

Apesar de esse ter sido possivelmente o primeiro exemplo de polarização política da Idade Contemporânea, os exemplos ocorridos no decorrer do século XX parecem mais compreensíveis aos olhos de hoje —  afinal, a maior parte da atual humanidade foi influenciada, direta ou indiretamente, por atritos resultantes da polarização. Um dos maiores exemplos, nesse contexto, é a Guerra Fria, cuja polarização veremos a seguir.

Leia também: Extrema-esquerda — espectro político que defende a derrubada do Estado democrático e do capitalismo

Exemplos de polarização política

A maior influência da história, em termos de polarização política, possivelmente se originou da Guerra Fria. De 1947 a 1991, o mundo passou por grandes modificações sociais e políticas originadas da influência de duas potências opostas: os Estados Unidos e a União Soviética. Respectivamente, esses dois países foram responsáveis pela polarização capitalismo/socialismo, e, no Brasil, essa guerra foi refletida por meio do financiamento norte-americano da Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 e 1985, sob o pretexto de “combater a influência comunista” da URSS.

Diversos outros países do mundo foram influenciados diretamente por uma dessas potências, o que resultou em consequências complexas de se reparar até os dias de hoje, como o extremismo político, a pobreza e as guerras civis.

Ainda no Brasil, pode-se dizer que o exemplo mais recorrente e recente seja a polarização petismo/antipetismo, também relacionado à oposição esquerda/direita. O fenômeno diz respeito ora à aprovação, ora à reprovação direcionada ao Partido dos Trabalhadores (PT), cuja polarização se acirrou principalmente a partir dos escândalos de corrupção que se iniciaram no ano de 2005.

A oposição ao governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que exercia o seu então primeiro mandato, angariou milhões de adeptos a partidos conservadores e liberais, algo que ocasionou, da década de 2010 adiante, em diversas campanhas de intensa rivalidade política entre “petistas” e “antipetistas”.

Processo de polarização política

Há diversos motivos que podem levar ao fenômeno da polarização política, mas o mais comum advém da supressão de popularidade de grupos políticos menos influentes. A impopularidade de tais grupos, representados por ideologias, partidos ou ideias, podem resultar da falta de representatividade política, do índice de reprovação, da demanda popular por medidas radicais, entre outras razões.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a polarização política entre democratas/republicanos é baseada em um sistema bipartidarista de governo, ou seja, ocorre por meio de apenas dois grupos opostos. Desde meados do século XIX, o Partido Democrata (progressista e intervencionista) e o Partido Republicano (conservador e neoliberal) são os únicos a elegerem presidentes no país, apesar da existência de outros partidos. A origem desse fenômeno, por lá, advém do contexto histórico, já que cada um deles reivindicava soluções geralmente opostas em relação à consolidação de sua sociedade e identidade.

Muitas vezes, o processo de polarização política é forjado para angariar adeptos a um partido, grupo ou ideologia. Ela pode ocorrer por diversos meios, como a adoção de uma postura populista, por parte de um líder, ou da desinformação — adotada atualmente como fake news — que procura, por meio da distorção dos fatos ou da disseminação deliberada de inverdades, gerar fobias nas massas populares contra um grupo em oposição.

Problemas da polarização política

Entre os problemas oriundos da polarização política, podemos destacar:

►Governos ou grupos intolerantes: Uma das consequências mais perigosas da polarização política é a ascensão de governos ou facções intolerantes com outros grupos. Um exemplo pode ser encontrado em nossa história, quando, no ano de 1964, a polarização entre esquerda (que defendia um governo democrático e nacionalista sob a presidência de João Goulart) e direita (liberais, grandes latifundiários e empresários a favor de uma intervenção militar) resultou em um golpe militar. Mesmo após décadas desse período no Brasil, a polarização extrema gerou tentativas de se abrandar a violência causada pelo regime.

►Generalização: Inevitavelmente, a polarização leva um grupo a generalizar os seus opostos. Em momentos de polarização, não é incomum que um grande número de pessoas simpatize com um dos grupos, sem que necessariamente se identifique como parte de tal. Ocorre geralmente em contextos de disputa pró/anti alguma figura, ideologia ou partido político.

Fake news: O radicalismo proveniente da polarização, na política, é constantemente favorável a incitar desinformações, inverdades históricas e sociais, e, nos tempos atuais, fake news. Esse método de propagação de inverdades ou distorções dos fatos, por não possuir ainda regulamentos eficientes de fiscalização, tende a convencer os públicos mais incautos e desinformados a alimentarem fobias geralmente ilusórias acerca do grupo oposto.

Manifestação estudantil contra a Ditadura Militar, fato histórico que foi consequência da polarização política no Brasil.
Manifestação estudantil contra a Ditadura Militar, fato histórico que foi consequência da polarização política no Brasil.

►Distorção da história: Associado às fake news, a distorção da história provém muitas vezes de um caráter revisionista e negacionista, como o abrandamento de regimes autoritários e totalitários, ou ainda, incursões militares de nações imperialistas sobre outras nações.

►Discursos de ódio: A polarização política constantemente nutre sentimentos de ódio contra o grupo oposto. Esse sentimento é constantemente carregado de discursos criminosos, como a xenofobia e a homofobia, e se relaciona com outras das consequências negativas do fenômeno, como as fake news e a generalização.

►Crises sociais e familiares: Uma das consequências mais comuns entre pessoas que adotam um “polo” político é a exclusão, ruptura ou distanciamento de pessoas nos ambientes de trabalho, estudo, família ou círculo de amizades. Em alguns casos, apesar de configurar ilegalidade, a polarização política leva até mesmo a demissões massivas ou rebaixamentos em cargos no trabalho.

Leia também: Extrema-direita — espectro político que defende valores conservadores, nacionalistas e autoritários

Vantagens da polarização política

A polarização política pode ser vantajosa para a sociedade quando ocorre de maneira orgânica, ou seja, sem o intuito de conquistar adeptos a um grupo de maneira perniciosa. As maiores mudanças da História advêm da polarização política, sem a qual a humanidade não progrediria em seus aspectos cívicos, sociais e políticos.

Movimentos de independência e revoluções são oriundas da polarização política orgânica; entre eles, podemos citar a Revolução Francesa, a Revolução Russa, a contracultura, os movimentos feministas, os movimentos de libertação de nações sobre países colonialistas, entre muitos outros.

Como combater a polarização política?

O principal instrumento de combate à polarização política é a educação. Por polarização, compreende-se que a grande parte de adeptos a um dos grupos beligerantes muitas vezes crê em manipulações históricas ou fake news — algo que deve ser evitado por meio da compreensão lógica dos fatos, bem como o exercício do raciocínio histórico e social (como a consciência de classe, por exemplo).

É essencial, também, que haja discursos transparentes e diplomáticos em cada um dos polos. A polarização é geralmente alimentada pelo ódio recíproco, algo que ocasiona, cada vez mais, a repulsa de um grupo contra o outro. Para que isso seja evitado, tanto os seus representantes oficiais quanto o público que o apoia devem procurar por mediações inclusivas, tanto por meio do esclarecimento dos fatos quanto pela demonstração de fontes históricas. Apesar de não significar efeitos imediatos, esse exercício pode, ao longo do tempo, dissolver o radicalismo oriundo das polarizações.

Polarização política no Brasil

A polarização política no Brasil não é um fenômeno recente. Desde as primeiras transformações políticas profundas de nossa história, como a Independência do Brasil ou a Proclamação da República, a população do país procurou se vincular em um dos polos em atrito a fim de assegurar os seus direitos ou privilégios. Não foi à toa, portanto, que diversos movimentos sociopolíticos tenham marcado a nossa história a favor de uma identidade nacional no decorrer do século XIX, como a Revolta dos Malês ou a Guerra de Canudos, por exemplo.

O século XX foi igualmente conturbado: a polarização política entre oligarquistas e revolucionários, por exemplo, levou à Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas; conforme já citamos, os eventos que antecederam o Golpe de 1964 também foram marcados por um profundo contexto de polarização política, dividido entre esquerda e direita.

Invasão ao Congresso Nacional em 2023, outro fato histórico ligado ao contexto de polarização política no Brasil.[1]
Invasão ao Congresso Nacional em 2023, outro fato histórico ligado ao contexto de polarização política no Brasil.[1]

Em um contexto mais atual, a polarização entre esquerda e direita, no Brasil, ainda é muito nítida, e pode ser percebida por meio de nuances como petismo/antipetismo ou bolsonarismo/antibolsonarismo. A intensa divisão política no país é oriunda de um complexo processo histórico que advém ainda dos primeiros anos da Nova República brasileira, apesar de ter se reascendido com grande força a partir dos escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores e o primeiro mandato presidencial de Luís Inácio Lula de Silva, iniciado em 2003.

No entanto, atualmente, essa polarização chegou a pontos extremos, percebidos por meio da execução de diversos crimes políticos, como uma tentativa de golpe de Estado no ano de 2022, organizados pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e militares do alto escalão das Forças Armadas Brasileiras, ou ainda, a invasão e depredação do Congresso Nacional (por populares insatisfeitos com a candidatura de Lula) no início de 2023.

Consequências da polarização política

As consequências da polarização política podem parecer, em um primeiro momento, apenas maléficas para a sociedade. Apesar de haver muitos pontos negativos nesse fenômeno, ainda assim, ele se revela como uma das forças motrizes da história, ao menos quando ocorre de maneira natural e procura transformar a sociedade de maneira positiva.

O fenômeno da polarização, portanto, pode trazer tanto consequências libertadoras quanto repressoras. Tanto as revoluções quanto os golpes militares podem ser descritos como consequências da polaridade. Conforme teorizou Karl Marx, sociólogo e filósofo alemão, a história é construída por meio do materialismo dialético: em uma sociedade, duas forças opostas (a tese e a antítese) resultam no desenvolvimento de uma síntese; em outras palavras, pode-se compreender que a história ocorre, inevitavelmente, a partir de duas ideologias que se contradizem.

A oposição ideológica, portanto, pode trazer grandes consequências para o mundo; a maior delas foi possivelmente resultante da disputa entre os blocos socialista e capitalista durante o século XX, que trouxe consequências que influenciaram a realidade de quase todas as nações, tanto ocidentais quanto orientais. Movimentos e eventos históricos como revoluções, independências e ascensão de grupo sociais são oriundos de momentos de polarização política orgânica, enquanto a dualidade proveniente de discursos que incitam a divisão de sociedades tende a propagar desinformações, principalmente quando é possível manipular as massas populares por meio de meios de comunicação e informação. Atualmente, nesse sentido, a polarização política é um dos maiores motivos de disseminação de fake news, além da tendência em alterar negativamente as relações entre os indivíduos.

Créditos da imagem

[1] TV BrasilGov / Wikimedia Commons

Fontes:

BBC NEWS BRASIL. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese>.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco (Orgs). Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.

FUKS, Mario; MARQUES, Pedro H. Polarização e contexto: medindo e explicando a polarização política no Brasil. Opinião Pública. Campinas: Unicamp, v.28, n.3, p.560-593, 2022.

KLEIN, Ezra. Why we’re polarized. Nova York: Avid Reader Press, 2020.

MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Moraes, 1991.

NUNES, Felipe; TRAUMANN, Thomas. Biografia do abismo: Como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2023.

Escritor do artigo
Escrito por: Cassio Remus de Paula Cássio é doutor em História pela UFPR, mestre e bacharel em História pela UEPG. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PAULA, Cassio Remus de. "Polarização política"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/politica/polarizacao-politica.htm. Acesso em 07 de abril de 2025.

De estudante para estudante