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Direita e esquerda

Direita e esquerda são orientações políticas que diferem na abordagem em relação à igualdade social.

A Assembleia dos Estados Gerais, origem dos termos “esquerda” e “direita”.
A Assembleia dos Estados Gerais, origem dos termos “esquerda” e “direita”.
Crédito da Imagem: Commons
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Direita e esquerda são orientações políticas que, em sua essência, diferem na abordagem em relação à igualdade social, com a esquerda defendendo maior intervenção estatal para promover igualdade e a direita priorizando a liberdade individual e a preservação das tradições, mesmo que isso resulte em desigualdades. 

Esses termos originaram-se durante a Revolução Francesa, quando os membros da Assembleia Nacional se organizaram de acordo com suas visões políticas, marcando a direita como defensora do status quo e a esquerda como promotora de mudanças radicais.

Leia também: Regimes de governo — quais são e suas características

Tópicos deste artigo

Resumo sobre direita e esquerda

  • Direita e esquerda são orientações políticas que diferem na abordagem em relação à igualdade social, com a esquerda defendendo maior intervenção estatal para promover igualdade e a direita priorizando a liberdade individual e a preservação das tradições, mesmo que isso resulte em desigualdades.
  • Os termos “direita” e “esquerda” surgiram durante a Revolução Francesa, de 1789, quando os membros da Assembleia Nacional se posicionaram fisicamente de acordo com suas opiniões políticas, com a direita defendendo o status quo e a esquerda buscando mudanças radicais.
  • A direita defende a manutenção das hierarquias sociais, a liberdade econômica e a preservação das tradições, enfatizando a ordem, a estabilidade e o nacionalismo como pilares fundamentais.
  • A esquerda promove a igualdade social e econômica, a intervenção estatal para garantir direitos e proteção social, e uma visão progressista que inclui o apoio a minorias e a cooperação internacional.
  • A distribuição de direita e esquerda no mundo varia, com a Europa tradicionalmente inclinada para a social-democracia, enquanto a América Latina historicamente alterna entre governos de esquerda populista e regimes de direita, refletindo tensões locais e tendências globais.
  • No Brasil, a dinâmica entre direita e esquerda reflete uma história de alternância entre regimes autoritários de direita e movimentos populares de esquerda, culminando em uma polarização política acentuada nas últimas décadas, marcada por debates sobre o papel do Estado, os direitos das minorias e a direção futura do país.

O que é direita e esquerda na política?

Os conceitos de direita e esquerda evoluíram desde sua origem, no contexto da Revolução Francesa, até os dias de hoje. Trata-se de uma definição bastante variável, conforme a linha doutrinária, política e ideológica do autor. Por isso, apresentaremos, a seguir, múltiplas visões acerca dessa definição.

  • Direita e esquerda para Norberto Bobbio

Segundo Norberto Bobbio, renomado filósofo e teórico político italiano, as definições de direita e esquerda na política são essencialmente baseadas na atitude em relação à igualdade. Para Bobbio, a distinção fundamental entre direita e esquerda é a posição que cada corrente adota em relação à ideia de igualdade social.

A esquerda, de acordo com essa perspectiva, é caracterizada por um compromisso mais forte com a promoção da igualdade, defendendo políticas que visam a reduzir as disparidades sociais e econômicas. Por outro lado, a direita tende a aceitar, ou até mesmo a justificar, as desigualdades como resultado natural das diferenças individuais, das capacidades e das circunstâncias. Assim, a direita estaria mais inclinada a preservar as hierarquias sociais e a liberdade individual, mesmo que isso signifique aceitar maiores desigualdades.

Bobbio ainda destaca que essa distinção é histórica e contextual, ou seja, pode variar de acordo com o tempo e o lugar, mas a essência da diferenciação entre direita e esquerda permanece ligada à questão da igualdade. Enquanto a esquerda busca mecanismos para reduzir as desigualdades, a direita tende a enfatizar a importância da liberdade, da tradição e da ordem, o que, muitas vezes, resulta na manutenção ou na aceitação das desigualdades existentes.

Essa definição de Bobbio tornou-se uma das mais influentes e amplamente aceitas para entender o espectro político contemporâneo.

  • Direita e esquerda para Raymond Aron

Sociólogo e filósofo político francês, Raymond Aron abordou as diferenças entre direita e esquerda principalmente em termos de atitude em relação à mudança e ao progresso.

Para Aron, a esquerda é caracterizada por um otimismo em relação ao progresso humano, acreditando que mudanças sociais podem levar a uma melhoria significativa da condição humana. A direita, por outro lado, tende a ser mais cética em relação ao progresso, preferindo preservar as tradições e evitar mudanças rápidas e radicais que possam desestabilizar a sociedade.

Aron também destacava que a esquerda, em sua busca por igualdade, está disposta a arriscar a liberdade, enquanto a direita valoriza a liberdade individual mesmo que isso signifique aceitar maiores desigualdades sociais. Para Aron, essas orientações refletem disposições psicológicas diferentes, com a esquerda mais voltada para a justiça social e a direita para a ordem e a estabilidade.

  • Direita e esquerda para Giovanni Sartori

Cientista político italiano, Giovanni Sartori argumentava que a distinção entre direita e esquerda pode ser compreendida em termos de prioridades valorativas. Para Sartori, a esquerda valoriza a igualdade acima de tudo, enquanto a direita valoriza a liberdade e a ordem. Sartori também enfatiza que a direita tende a defender o mercado e a propriedade privada como meios para garantir a liberdade individual, enquanto a esquerda busca limitar essas liberdades em favor da igualdade.

Sartori acrescenta que essa distinção não é absoluta e que há uma ampla gama de posições intermediárias, mas que a ideia de igualdade versus liberdade continua a ser uma linha divisória fundamental entre direita e esquerda.

  • Direita e esquerda para Maurice Duverger

Cientista político francês, Maurice Duverger oferece uma perspectiva mais histórica sobre a divisão entre direita e esquerda. Para Duverger, a direita é associada ao conservadorismo, ou seja, a defesa da ordem estabelecida e das tradições. A esquerda, por sua vez, é ligada ao progressismo, à luta por mudanças sociais e à defesa dos oprimidos.

Ele argumenta que a esquerda tende a se aliar com movimentos populares e trabalhadores, enquanto a direita tradicionalmente representa as elites econômicas e sociais. Duverger também observa que, historicamente, a direita tem sido mais nacionalista, enquanto a esquerda tende a adotar uma perspectiva internacionalista, buscando solidariedade entre diferentes nações e grupos sociais.

  • Direita e esquerda para Erik von Kuehnelt-Leddihn

Filósofo e historiador político austríaco, Erik von Kuehnelt-Leddihn apresenta uma visão crítica da distinção entre direita e esquerda, argumentando que essa dicotomia pode ser simplista e enganosa.

Kuehnelt-Leddihn sugere que a esquerda é caracterizada por um desejo de homogeneidade e uniformidade, buscando criar uma sociedade igualitária e padronizada. Ele vê a direita como mais diversa e individualista, defendendo a liberdade e a variedade de formas de vida, mesmo que isso leve a desigualdades.

Segundo Kuehnelt-Leddihn, a esquerda tende a ser mais ideológica e utópica, enquanto a direita é mais pragmática e realista, preocupada com a preservação da ordem natural e das tradições.

  • Direita e esquerda para Anthony Giddens

Sociólogo britânico e criador da teoria da terceira via, Giddens argumenta que as distinções tradicionais entre direita e esquerda estão se tornando cada vez menos relevantes no mundo contemporâneo.

Giddens acredita que, na era da globalização, questões como identidade, meio ambiente e tecnologia estão reformulando o espectro político. No entanto, ele ainda reconhece que a esquerda continua associada à busca por igualdade social e a direita à defesa da liberdade individual.

Giddens propõe que as novas políticas devem transcender a dicotomia tradicional entre direita e esquerda, adotando uma abordagem que combine eficiência econômica com justiça social, o que ele chamou de “terceira via”, um caminho intermediário entre o neoliberalismo e o socialismo.

Origem e história dos termos direita e esquerda

Os termos “direita” e “esquerda” na política têm sua origem na Revolução Francesa, de 1789. Durante as sessões da Assembleia Nacional Constituinte, os membros se organizaram fisicamente de acordo com suas opiniões políticas: aqueles que apoiavam o rei e a ordem estabelecida sentavam-se à direita do presidente da Assembleia, enquanto os que defendiam mudanças radicais e uma nova ordem, sentavam-se à esquerda.

Com o tempo, essa disposição espacial foi adotada como uma metáfora para descrever as orientações políticas em geral. A direita passou a representar aqueles que defendem a manutenção do status quo, a preservação das tradições e a ordem social existente; enquanto a esquerda passou a ser associada aos que buscam mudanças sociais, econômicas e políticas, frequentemente em direção à maior igualdade e justiça social.

Essa categorização tornou-se amplamente aceita e foi adotada em vários países, mesmo aqueles sem uma tradição direta ligada à Revolução Francesa. Ao longo do século XIX, com o surgimento de novas ideologias, como o socialismo e o liberalismo, os termos foram sendo adaptados e adquiriram novos significados, mas a divisão fundamental permaneceu: a esquerda foi associada a ideias progressistas, reformas sociais e políticas igualitárias, enquanto a direita foi relacionada à conservação das tradições, da autoridade e das hierarquias sociais.

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Diferenças entre direita e esquerda

As diferenças entre direita e esquerda na política são diversas, envolvendo aspectos econômicos, sociais, culturais e morais. Em termos econômicos, a esquerda tende a defender a intervenção do Estado na economia a fim de promover a redistribuição de renda e garantir serviços públicos como saúde, educação e previdência social. Já a direita geralmente promove o livre mercado, a propriedade privada e a redução do papel do Estado na economia, acreditando que isso leva à maior eficiência e liberdade individual.

No campo social e cultural, a esquerda costuma apoiar políticas progressistas em temas como direitos das minorias, igualdade de gênero, direitos LGBTQIA+ e laicidade do Estado. Em contraste, a direita frequentemente se alinha com valores mais conservadores, defendendo a preservação das tradições, a família nuclear e, em muitos casos, a religião como base moral da sociedade.

Do ponto de vista moral, a esquerda geralmente adota uma postura mais relativista, aceitando a diversidade cultural e as mudanças nos costumes como naturais e desejáveis. A direita, por sua vez, tende a se apegar a valores morais absolutos e atemporais, defendendo a ordem e a disciplina como pilares da sociedade.

Essas diferenças, contudo, não são absolutas, e há muita variação dentro de cada espectro político. Por exemplo, existem correntes de direita que defendem um papel mais ativo do Estado em determinadas áreas, assim como há grupos de esquerda que adotam posições conservadoras em questões culturais.

Leia também: Diferenças entre os republicanos e democratas na política estadunidense

O que a direita e a esquerda defendem?

  • Direita: a direita política, em sua forma mais tradicional, defende a manutenção das hierarquias sociais e econômicas, a liberdade individual e o respeito às tradições. Economicamente, a direita promove o capitalismo de mercado livre, a propriedade privada e a limitação da intervenção estatal na economia. Acredita-se que o mercado, quando deixado relativamente livre, conduz a uma distribuição eficiente dos recursos, incentivando a inovação e a prosperidade. No campo social, a direita frequentemente valoriza a estabilidade, a ordem e a continuidade das instituições tradicionais, como a família e a religião. Muitas vezes, defende uma abordagem mais dura em questões de segurança e justiça, acreditando na importância da lei e da ordem como fundamentos para uma sociedade funcional. A direita também tende a ser nacionalista, enfatizando a importância da soberania nacional e a defesa dos interesses do país em primeiro lugar. Em questões de política externa, é comum que a direita adote uma postura mais assertiva ou militarista, em contraste com a esquerda, que geralmente prefere soluções diplomáticas e a cooperação internacional.
  • Esquerda: a esquerda política, por sua vez, defende a igualdade social e econômica, acreditando que o Estado deve desempenhar um papel ativo na redistribuição de recursos para garantir uma sociedade mais justa. Isso inclui a defesa de políticas como a taxação progressiva, a ampliação dos serviços públicos e a proteção dos direitos dos trabalhadores. Socialmente, a esquerda costuma apoiar o progresso social, defendendo direitos para grupos historicamente marginalizados, como minorias étnicas, mulheres e a comunidade LGBTQIA+. A esquerda também tende a ser internacionalista, apoiando a cooperação global e a solidariedade entre os povos, em oposição ao nacionalismo muitas vezes promovido pela direita. Em termos culturais, a esquerda é geralmente mais aberta a mudanças e à diversidade, defendendo a pluralidade de estilos de vida e a relatividade dos valores culturais. A liberdade individual é importante para a esquerda, mas é vista em conjunto com a igualdade, de forma que uma não pode ser garantida plenamente sem a outra.

Quadro explicativo com as principais diferenças entre esquerda e direita.

Partidos de direita e esquerda

Os partidos políticos ao redor do mundo se organizam de acordo com as orientações ideológicas da direita ou da esquerda, embora as posições específicas possam variar significativamente de país para país.

Partidos de direita, como o Partido Republicano nos Estados Unidos, o Partido Conservador no Reino Unido e o Partido Popular na Espanha, tendem a promover políticas econômicas liberais, uma visão conservadora dos valores sociais e uma abordagem nacionalista nas relações internacionais.

Por outro lado, partidos de esquerda, como o Partido Democrata nos Estados Unidos, o Partido Trabalhista no Reino Unido e o Partido Socialista na Espanha, defendem uma maior intervenção estatal na economia, políticas sociais progressistas e uma visão mais internacionalista e cooperativa na política externa.

No entanto, existem também partidos que não se enquadram perfeitamente nessa dicotomia, como os partidos verdes, que, embora geralmente alinhados com a esquerda em termos sociais, colocam uma ênfase particular nas questões ambientais; ou partidos de extrema-direita, que combinam políticas econômicas protecionistas com uma retórica nacionalista e xenófoba.

Espectro político dividido em mais do que direita e esquerda, representando melhor a realidade política atual.
Espectro político dividido em mais do que direita e esquerda, representando melhor a realidade política atual.

Direita e esquerda no mundo

A distribuição da direita e da esquerda pelo mundo varia consideravelmente, com algumas regiões sendo historicamente mais inclinadas para uma orientação ou outra. Na Europa, por exemplo, a social-democracia e outras formas de esquerda moderada têm sido tradicionalmente fortes, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o Estado de bem-estar social se consolidou em muitos países. No entanto, em anos recentes, partidos de direita populista têm ganhado força em resposta a questões como imigração e crise econômica.

Na América Latina, a esquerda tem uma longa história, frequentemente associada a movimentos de libertação e à luta contra ditaduras militares. No entanto, a região também viu a ascensão de governos de direita, especialmente nas últimas décadas, com a implementação de políticas neoliberais em muitos países.

Nos Estados Unidos, a política tem sido historicamente dominada por dois grandes partidos, o Democrata (centro-esquerda) e o Republicano (centro-direita), mas, nas últimas décadas, a polarização aumentou, com cada vez mais divergências entre as visões de mundo representadas por esses partidos.

Na Ásia, a situação é igualmente diversa. Enquanto alguns países, como a China e o Vietnã, são governados por partidos comunistas, que se alinham com a esquerda em termos econômicos, muitos outros países asiáticos têm governos de direita, como o Japão e a Índia, que promovem políticas mais conservadoras e pró-mercado.

Direita e esquerda no Brasil

Lula e Bolsonaro em debate, em alusão à direita e esquerda no Brasil.
A disputa entre Lula e Bolsonaro pela presidência resulta da crescente polarização da política brasileira.[1]

No Brasil, a dicotomia entre direita e esquerda também é evidente, embora o contexto histórico e social local tenha moldado as particularidades dessas orientações. Durante o século XX, o Brasil experimentou tanto governos de direita quanto de esquerda, com a direita tradicionalmente associada aos regimes militares e a esquerda aos movimentos populares e de resistência.

Após o fim da Ditadura Militar, em 1985, o Brasil viu a consolidação de partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores (PT), que chegou ao poder em 2003 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. O PT implementou políticas voltadas para a redução da pobreza e a inclusão social, mas enfrentou críticas por escândalos de corrupção e desafios econômicos.

Nos últimos anos, o cenário político brasileiro tem sido marcado por uma polarização crescente, com o crescimento de movimentos e partidos de direita, como o Partido Social Liberal (PSL), que levou Jair Bolsonaro à presidência em 2018. Bolsonaro representou uma virada à direita na política brasileira, com uma agenda conservadora em questões sociais e uma política econômica liberal.

Atualmente, a política brasileira continua a ser marcada pela tensão entre essas duas orientações, com debates acirrados sobre o papel do Estado na economia, os direitos das minorias e a direção futura do país. A dinâmica entre direita e esquerda no Brasil reflete não apenas as tendências globais como também as especificidades do contexto social, econômico e histórico do país.

Créditos da imagem

[1] Isaac Fontana / Shutterstock

Fontes

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.

BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1997.

BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. 8. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Direita e esquerda"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/politica/direita-esquerda.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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