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O que é função metalinguística?

A função metalinguística é uma das seis funções da linguagem identificadas por Roman Jakobson. É a função que tem como foco o próprio código usado para transmitir a mensagem.

Definição de função metalinguística ou metalinguagem escrita em quadro-negro.
A função metalinguística é muito utilizada nos verbetes de dicionários
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A função metalinguística é uma das seis funções da linguagem pensadas pelo linguista Roman Jakobson. Essa função se caracteriza por dar enfoque ao código usado para expressar a mensagem.

Leia também: Elementos da comunicação e sua relação com as funções da linguagem

Tópicos deste artigo

Resumo sobre função metalinguística

  • A função metalinguística é uma das seis funções da linguagem descritas pelo linguista Roman Jakobson.

  • Na função metalinguística, o foco é o código usado na transmissão da mensagem.

  • Além da função metalinguística, as outras funções da linguagem são: a conativa, a emotiva, a fática, a poética e a referencial.

Videoaula sobre função metalinguística

Características da função metalinguística

Na função metalinguística, o foco está no código usado para transmitir a mensagem, podendo ser esse código o gênero textual, o idioma ou a própria linguagem em si, que fica explícito na mensagem.

Por exemplo, veja a pintura a seguir:

“As meninas”, de Diego Velázquez (1656), um exemplo de função metalinguística.
“As meninas”, de Diego Velázquez (1656), um exemplo de função metalinguística.

Nessa pintura, à esquerda, podemos ver o próprio artista pintando o quadro, ou seja, há um quadro dentro de um quadro. Assim, a função metalinguística é ilustrada nessa obra do pintor Diego Velázquez. O mesmo ocorre na escrita, quando enfatizamos o próprio texto na mensagem.

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Exemplos de função metalinguística

Veja, a seguir, alguns exemplos de função metalinguística em diferentes gêneros.

→ Função metalinguística na poesia

Muitas poesias usam a função metalinguística para refletir sobre o próprio fazer poético ou sobre a função da poesia. Veja neste exemplo de Carlos Drummond de Andrade:

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.

Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade

Outro exemplo clássico está nesta poesia de Fernando Pessoa:

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

→ Função metalinguística na prosa

Não só na poesia é comum encontrarmos exemplos de função metalinguística. A prosa também se vale muito da metalinguagem. O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, é um que se utiliza da função metalinguística em sua estrutura: trata-se de um narrador-personagem que decide escrever um livro para contar sua própria história:

“Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove quilos e completei cinquenta anos pelo São Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo, têm-me rendido muita consideração. Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era menor.”

Machado de Assis também se apropriou da função metalinguística ao escrever Memórias póstumas de Brás Cubas, romance em que um “autor defunto”, apesar de morto, resolve escrever um livro de memórias.

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.”

→ Função metalinguística na crônica

A crônica é um gênero textual que também pode usar a função metalinguística. Tomando Machado de Assis novamente como exemplo, o escritor faz isso em sua crônica intitulada “O nascimento da crônica”:

“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.”

Carlos Drummond de Andrade foi outro autor que usou da função metalinguística para escrever a crônica “Ciao”:

“Crônica tem essa vantagem: não obriga ao paletó-e-gravata do editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos grandes problemas; não exige de quem a faz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar se possa. Sei bem que existem o cronista político, o esportivo, o religioso, o econômico etc., mas a crônica de que estou falando é aquela que não precisa entender de nada ao falar de tudo.”

→ Função metalinguística na música

A música também pode se inspirar bastante na função metalinguística em alguns casos. Observe a primeira estrofe da música intitulada “Essa canção começa assim (metalinguagem)”, da banda Claustrofonia:

Essa canção começa assim (metalinguagem)

Essa canção começa assim
Sem sentido, sem pé nem coração
Sem cabeça, sem jeito ou direção
Sem que exista motivo pra ouvir
Sem que haja razão para parar
E prestar atenção no que se diz

Claustrofonia

Ao descrever a própria música sendo tocada e refletir sobre ela, a função metalinguística é explorada nessa obra.

Já neste outro caso a seguir, da banda Raimundos, no meio da letra surge um refrão com um apelo para que locutores de rádio toquem a música “A mais pedida”, exemplo de função metalinguística sendo usada. O próprio título da canção também faz uso da função metalinguística:

A mais pedida

Por favor, seu locutor
Ao menos uma vez, melhor se fossem três
Toca o nosso som aí que tu me faz feliz
Se não tocar eu quebro o seu nariz

Raimundos (part. Érika Martins)

Lulu Santos também já explorou a função metalinguística ao explicar o motivo para criar uma música:

Esta canção

Eu lhe fiz esta canção
Para lhe pedir perdão
Tenho sido tão vão

Lulu Santos

→ Função metalinguística no cinema

Quando o filme usa o próprio cinema como tema, a função metalinguística está sendo utilizada. No filme “O show de Truman — O show da vida” (1998, direção de Peter Weir), por exemplo, o enredo conta sobre Truman, um homem cuja vida desde o seu nascimento sempre foi televisionada em rede nacional sem que ele soubesse. Todas as pessoas com quem ele interage são atores contratados. Em diversos momentos do filme, vemos câmeras e os “bastidores” da produção, sendo uma obra que usa a própria linguagem cinematográfica em sua narrativa.

Pôster inspirado no filme “O show de Truman — O show da vida”, o qual é um exemplo de função metalinguística no cinema. [1]
Pôster inspirado no filme “O show de Truman — O show da vida”, o qual é um exemplo de função metalinguística no cinema. [1]

Outros filmes de sucesso que usam a função metalinguística ao falar do cinema em seu enredo são:

  • Cinema Paradiso (1988, direção de Giuseppe Tornatore);

  • Saneamento básico, o filme (2007, direção de Jorge Furtado);

  • Era uma vez em... Hollywood (2019, direção de Quentin Tarantino).

→ Função metalinguística no dicionário

O dicionário também é um exemplo da função metalinguística: é uma compilação que se propõe a explicar o possível significado das palavras no enunciado usando a própria linguagem escrita.

Veja o que diz o Dicionário Priberam sobre o verbete “dicionário”:|1|

nome masculino

1. Coleção organizada, geralmente de forma alfabética, de palavras ou outras unidades lexicais de uma língua ou de qualquer ramo do saber humano, seguidas da sua significação, da sua tradução ou de outras informações sobre as unidades lexicais.

2. Coleção de palavras usadas habitualmente por uma pessoa, por um grupo social ou profissional, num domínio técnico, etc. = GLOSSÁRIO, VOCABULÁRIO

3. [Linguística] Conjunto de unidades lexicais identificadas, organizadas e codificadas.

Outras funções da linguagem

Além da função metalinguística, há cinco outras funções de linguagem:

  • Função conativa: foco no interlocutor, caracterizada por linguagem apelativa.
  • Função emotiva: foco no emissor, caracterizada por linguagem centrada nas emoções de quem emite a mensagem.
  • Função fática: foco no canal de transmissão, usada para testar o canal de comunicação e para estabelecer o início e o fim da comunicação.
  • Função poética: foco na própria mensagem, caracterizada por forte uso de linguagem conotativa (ou seja, figurada).
  • Função referencial: foco no contexto (ou referente), caracterizada por forte uso de linguagem denotativa e objetiva.

Leia também: Figuras de linguagem — recursos que contribuem para a expressividade da linguagem

Exercícios resolvidos sobre função metalinguística

Questão 1

(FCC)

De acordo com o linguista Roman Jakobson, praticamos a metalinguagem sem nos dar conta do caráter metalinguístico de nossas operações. Sempre que o remetente e/ou o destinatário têm necessidade de verificar se estão usando o mesmo código, o discurso focaliza o CÓDIGO; desempenha uma função metalinguística (isto é, de glosa).

(JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, s/d, p. 127)

Levando em consideração o que propõe Jakobson, identifique o excerto que exemplifica o predomínio da metalinguagem.

A) — O sophomore foi ao pau.
Mas que quer dizer ir ao pau?
A mesma coisa que levar bomba.
E levar bomba?
Levar bomba é ser reprovado no exame.
E o que é sophomore?
Insiste o interrogador ignorante do vocabulário escolar em inglês.
Um sophomore é (ou quer dizer) um estudante do segundo ano.

B) — Bem — disse o rapaz.
Bem! — respondeu ela.
Bem, cá estamos — disse ele.
Cá estamos — confirmou ela, — não estamos?
Pois estamos mesmo — disse ele, — Upa! Cá estamos.
Bem! — disse ela.
Bem! — confirmou ele — bem!

C) Siga corretamente o modo de usar. Em caso de dúvidas sobre este medicamento, procure orientação do farmacêutico. Não desaparecendo os sintomas, procure orientação de seu médico ou cirurgião-dentista. Este medicamento não deve ser partido, aberto ou mastigado.

D) Mais de 17% dos lares são compostos por casais sem filhos, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de pessoas que moram sozinhas já representa 14,6% das residências, e a proporção de mulheres que vivem sem cônjuges com filhos já atinge quase 13%. Esses percentuais têm aumentado nos últimos anos, enquanto a quantidade de famílias tradicionais, com casal e filhos, já representa menos da metade das residências.

E) Um dia, fui levar uma pessoa para ser internada no hospital. Eu tenho problemas de coluna, já a operei três vezes. Nesse dia estava tenso, preocupado e fiquei curvado durante quinze minutos, preenchendo uma ficha e conversando com a enfermeira. Na hora de sair, estava tortinho. Sabia que no dia seguinte teria de tomar anti-inflamatório, ansiolítico, etc.

Resposta

Alternativa A. A presença de metalinguagem ocorre nas explicações sobre o significado das expressões e dos vocabulários utilizados no próprio discurso.

Questão 2

(Cespe/Cebraspe)

No processo educacional, o professor é um mediador que direciona as fontes de pesquisas para recursos já existentes, jornais, revistas, enciclopédias, vídeos, e que agora pode optar por mais um, o computador, por meio do qual os alunos se tornam mais curiosos, se auto-ajudam, desenvolvem a maior parte das atividades sozinhos e aumentam a capacidade de concentração. O computador estimula o aprendizado de novos idiomas e contribui para o desenvolvimento das habilidades de comunicação e de estrutura lógica do pensamento.

A função da linguagem predominante no texto é a metalinguística.

( ) Certo

( ) Errado

Resposta

Errado. O texto não tem como foco o código, isto é, a própria linguagem. Por se tratar de um texto informativo, a linguagem predominante é a referencial.

Notas

|1| Fonte: "dicionário", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/dicion%C3%A1rio.

Crédito de imagem

[1] Viktor Lanimart / Shutterstock

Fontes

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

Escritor do artigo
Escrito por: Guilherme Viana Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

VIANA, Guilherme. "O que é função metalinguística?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-funcao-metalinguistica.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

De estudante para estudante


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