Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Cinco poemas de Mario Quintana

No dia 05 de maio de 1994, aos 87 anos, falecia, em Porto Alegre, Mario Quintana. Autor de mais de vinte livros, o poeta deixou uma marca indelével na Literatura brasileira.

Poeta das coisas simples, a poesia de Mario Quintana é permeada por seu inconfundível lirismo *
Poeta das coisas simples, a poesia de Mario Quintana é permeada por seu inconfundível lirismo *
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Mario Quintana faleceu no dia 05 de maio de 1994. Nascido em Alegrete, no interior do estado do Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906, Mario certamente é um dos melhores e maiores poetas da literatura brasileira.

Sua poesia é marcada por uma simplicidade e lirismo inconfundíveis, pois era da vida cotidiana que Mario extraía sua matéria-prima. Sua obra é composta por mais de vinte livros, sendo A Rua dos Cataventos o primeiro, publicado quando o poeta já contava com seus trinta e quatro anos. Entre seus vários títulos, muitos foram dedicados à literatura infantojuvenil, universo onde Mario transitava com delicadeza e propriedade típicos de quem aprecia as coisas simples da vida.

Brasil Escola selecionou cinco poemas definitivos do poeta para você apreciar e encantar-se pelo lirismo contagiante de seus versos. Boa leitura!

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

A Rua dos Cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Em 1990, após três anos de restauração do antigo Hotel Majestic, foi inaugurada, em Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quinana
Em 1990, após três anos de restauração do antigo Hotel Majestic, foi inaugurada, em Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quinana

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E — ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Eu escrevi um poema triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

*A imagem que ilustra o artigo é capa do livro Mario Quintana – Poeta, caminhante e sonhador, da coleção Autores Gaúchos, do Instituto Estadual do Livro, Rio Grande do Sul.
**Créditos da imagem da Casa de Cultura Mario Quintana: Ricardo André Frantz.


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Cinco poemas de Mario Quintana"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mario-quintana.htm. Acesso em 02 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(PUC-PR) Na seguinte narrativa curta de Mário Quintana, podemos observar algumas características da obra do escritor:

História

“Era um desrecalcado, pensavam todos. Pois já assassinara uma bem-amada, um crítico e um amigo. Mas nunca mais encontrou amada, nem crítico, nem amigo. Ninguém mais que lhe mentisse, ninguém mais que o incompreendesse, nem nunca mais um inimigo íntimo...
E vai daí ele se enforcou.”

Selecione a alternativa que melhor descreve as características da obra de Mário Quintana:

a) A destruição indiscriminada, cega e desumana do mundo circundante.

b) Individualismo autêntico e generoso, mas carregado de crítica social.

c) Desconfiança diante das convenções sociais estabelecidas.

d) Visão desencantada, irônica e crítica da humanidade, materializada pela força da palavra poética.

e) Nostalgia e saudade dos objetos antigos e do passado.

Exercício 2

(UFRJ)

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto;

alimentam-se um instante em cada

par de mãos e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

QUINTANA, M. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2005. p. 469.

Eles não têm pouso
nem porto (v. 6-7)

Os versos acima podem ser lidos como uma pressuposição do autor sobre o texto literário. Essa pressuposição está ligada ao fato de que a obra literária, como texto público, apresenta o seguinte traço:

a) é aberta a várias leituras

b) provoca desejo de transformação

c) integra experiências de contestação

d) expressa sentimentos contraditórios