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A ambiguidade ocorre quando um enunciado é construído de modo a ter mais de uma interpretação possível, o que pode gerar prejuízo na comunicação. Assim, a ambiguidade pode ser considerada um desvio linguístico ou um recurso estilístico, dependendo da intenção do enunciador.
Confira nosso podcast: Vícios de linguagem
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre ambiguidade
- 2 - Videoaula sobre ambiguidade
- 3 - O que é a ambiguidade?
- 4 - Quais são os tipos de ambiguidade?
- 5 - Ambiguidade como vício de linguagem e como recurso estilístico
- 6 - Diferenças entre ambiguidade e polissemia
- 7 - Exercícios resolvidos sobre ambiguidade
Resumo sobre ambiguidade
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A ambiguidade é um fenômeno linguístico em que um enunciado pode ser interpretado de mais de uma maneira, gerando ruídos de comunicação.
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Há alguns tipos mais recorrentes de ambiguidade, como aqueles envolvendo o uso de pronomes possessivos, sintaxe inadequada, formas nominais de verbos ou a conjunção “que”.
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A ambiguidade pode ser tanto um recurso estilístico quanto um desvio de linguagem, dependendo da intenção que se tem.
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A polissemia é a propriedade de uma palavra de ter mais de um significado, diferentemente da ambiguidade, que se manifesta em um enunciado com mais de uma interpretação possível por questões estruturais.
Videoaula sobre ambiguidade
O que é a ambiguidade?
A ambiguidade é um fenômeno que ocorre na língua quando o enunciado é estruturado de maneira a gerar mais de uma interpretação possível. Assim, costuma-se haver confusão e dificuldade para entender a mensagem que se quis passar.
Quais são os tipos de ambiguidade?
Enunciados ambíguos são mais comuns do que se pode imaginar. No entanto, algumas construções na língua portuguesa são mais recorrentes, trazendo certos tipos de ambiguidade mais comuns. Veja alguns deles.
→ Ambiguidade pelo uso de pronomes possessivos na terceira pessoa
Em determinados contextos, certos pronomes possessivos podem gerar confusão. Os pronomes “seu”/“sua” podem ser usados para a 3ª pessoa do singular (“ele”/“ela”) e para o pronome de tratamento “você”. Veja:
“Milena perguntou se você pegou sua mochila.”
Afinal, a mochila é de quem? De “Milena” ou de “você”? Caso a mochila seja de “Milena”, uma solução para evitar a ambiguidade seria usar um pronome possessivo exclusivo do pronome “ela”: “dela”.
“Milena perguntou se você pegou a mochila dela.”
Isso também vale para quando há dois sujeitos de gêneros diferentes:
“Edgar perguntou se Milena pegou sua mochila.”
Seria possível evitar a ambiguidade usando o pronome “dele” (caso a bolsa seja do “Edgar”) ou “dela” (caso a bolsa seja da “Milena”). Observe:
“Edgar perguntou se Milena pegou a mochila dele.”
“Edgar perguntou se Milena pegou a mochila dela.”
→ Ambiguidade por sintaxe inadequada
A sintaxe diz respeito à estrutura da oração, à ordem em que os elementos aparecem nela. Muitas vezes, a sintaxe de um enunciado pode ser construída de maneira a gerar ambiguidade, o que poderia ser corrigido invertendo algumas palavras. Observe:
A mãe cansada saiu apressada do trabalho.
Nesse enunciado, pode-se entender que a mãe está cansada ou que ela vive cansada. Se a mãe apenas está cansada, uma possível solução seria mudar a sintaxe da oração:
Cansada, a mãe saiu apressada do trabalho.
Caso a mãe esteja sempre cansada, a solução seria tornar isso mais explícito no enunciado:
A mãe, sempre cansada, saiu apressada do trabalho.
→ Ambiguidade relacionada ao uso de formas nominais
Os verbos têm três formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. O uso dessas formas nominais, associado ao problema de sintaxe, também pode causar ambiguidade em alguns contextos. Veja:
Eu vi muitos peixes nadando.
Nesse enunciado, pode-se entender que apenas os peixes foram vistos nadando ou que a pessoa que nadava viu muitos peixes. Uma solução para tornar essa oração menos ambígua seria alterar a forma nominal ou ser mais específico, complementando o enunciado com mais informações.
Quando eu nadei, vi muitos peixes.
Eu vi que muitos peixes nadavam.
→ Ambiguidade entre pronome relativo e conjunção integrante
O pronome “que” pode ser usado como pronome relativo ou como conjunção integrante, dependendo do contexto. Como pronome relativo, esse pronome retoma um termo anterior no enunciado. Como conjunção integrante, esse pronome introduz uma oração subordinada. Entender a função desse pronome ajuda a entender o sentido do enunciado. Observe:
Peguei emprestada a roupa da minha amiga que é muito bonita.
Nesse enunciado, não se sabe exatamente se o trecho “que é muito bonita” refere-se à roupa ou à amiga. Esse problema poderia ser sanado trocando a posição de “muito bonita” para imediatamente após o termo a que se refere:
Peguei emprestada a roupa muito bonita da minha amiga.
Peguei emprestada a roupa da minha amiga muito bonita.
Ambiguidade como vício de linguagem e como recurso estilístico
A ambiguidade pode ser um vício de linguagem ou um recurso estilístico, dependendo da intenção de quem enuncia. Observe:
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Vício de linguagem: se a ambiguidade não for intencional, ocorre um vício de linguagem, já que resulta em um enunciado confuso e que não será facilmente compreendido pelo interlocutor.
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Recurso estilístico: se a ambiguidade for intencional, trata-se de um recurso estilístico, em que o objetivo é justamente manter a dupla interpretação ou causar estranhamento e confusão no interlocutor.
Veja também: Os cinco erros mais cometidos por redatores
Diferenças entre ambiguidade e polissemia
A ambiguidade está relacionada ao sentido do enunciado como um todo, que é confuso e dúbio, enquanto a polissemia é a propriedade de uma mesma palavra de ter diferentes sentidos, sendo identificados pelo contexto em que ela é aplicada.
Por exemplo, a palavra “manga” pode assumir diferentes significados dependendo do contexto. Observe:
“A manga da camiseta está descosturando.”
“Minha fruta preferida é a manga.”
Exercícios resolvidos sobre ambiguidade
Questão 1
(Fuvest — adaptado) Leia o texto e responda à questão proposta.
Ditadura / Democracia
A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar.”
Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos.
Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta.
Resolução:
Sim.
No enunciado “Não posso me queixar”, há ambiguidade pelo contexto, já que pode ser interpretado como um cidadão satisfeito, que não tem do que se queixar, ou um cidadão que não tem autorização para se queixar, visto que vive sob uma ditadura.
Questão 2
(FCC) A frase em que NÃO há ambiguidade de sentido é:
A) Esse é o tipo de técnico de um time que ninguém deseja que se torne campeão.
B) Ele é o autor do romance que faz enorme sucesso junto ao público feminino.
C) A razão que ela me deu para ingressar em sua associação só me fez desconfiar ainda mais dela.
D) Gostaria que você consultasse sua mãe, antes de ceder sua chácara por ocasião da nossa formatura.
E) Quando ela me entregou a carta, percebi logo que as notícias não deviam ser as mais alvissareiras.
Resolução:
Alternativa E
Na alternativa A, não se sabe o que “ninguém deseja que se torne campeão”: o tipo de técnico ou o time.
Na alternativa B, não se sabe o que faz enorme sucesso: o autor ou o romance.
Na alternativa C, não se sabe do que a pessoa desconfia mais: da razão ou da associação.
Na alternativa D, não se sabe de quem é a chácara: de “você” ou da mãe.
Por Guilherme Viana
Professor de Português