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Movimento verde-amarelo ou a escola da anta é como ficou conhecida uma corrente literária ultranacionalista do modernismo brasileiro. Seus criadores foram os autores Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado. Surgido em 1926, o movimento teve seu auge em 1929, com a publicação do Manifesto nhengaçu verde-amarelo.
Além do teor nacionalista, o movimento verde-amarelo era contra a arte acadêmica e os movimentos de vanguarda europeus. Nesse contexto, produziu obras como o romance O estrangeiro, de Plínio Salgado; o épico Martim Cererê, de Cassiano Ricardo; e República dos Estados Unidos do Brasil, poemas de Menotti del Picchia.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o movimento verde-amarelo ou a escola da anta
- 2 - O que foi o movimento verde-amarelo?
- 3 - Contexto histórico do movimento verde-amarelo
- 4 - Movimento verde-amarelo ou escola da anta?
- 5 - Características do movimento verde-amarelo
- 6 - Quem participou do movimento verde-amarelo?
- 7 - Principais obras do movimento verde-amarelo
- 8 - O que dizia o Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta?
Resumo sobre o movimento verde-amarelo ou a escola da anta
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O movimento verde-amarelo faz parte da primeira fase do modernismo brasileiro.
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Ele surgiu em 1926 e chegou ao seu ápice em 1929, com a publicação do Manifesto do verde-amarelismo.
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O movimento também é chamado de escola da anta, animal símbolo dessa corrente literária.
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O verde-amarelo apresenta nacionalismo ufanista e critica a arte acadêmica.
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Seus fundadores e principais representantes são os escritores Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado.
O que foi o movimento verde-amarelo?
O movimento verde-amarelo fez parte da primeira fase do modernismo brasileiro. Assim, ele surgiu, oficialmente, em 25 de julho de 1926, no jornal Correio Paulistano. E seus criadores foram os escritores modernistas Cassiano Ricardo, Plínio Salgado e Menotti del Picchia.
O movimento atingiu seu auge com a publicação, em 17 de maio de 1929, do Manifesto nhengaçu verde-amarelo, também conhecido como Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta, assinado pelo Grupo da Anta. O manifesto foi publicado no jornal Correio Paulistano.
Essa corrente literária defendia o nacionalismo ufanista, radical e conservador. Ideologicamente, prenunciava o integralismo, um movimento político de cunho fascista. No entanto, assim como os movimentos pau-brasil e antropofágico, o movimento verde-amarelo também valorizava o primitivismo indígena.
Contexto histórico do movimento verde-amarelo
O movimento verde-amarelo se consolidou, em 1929, com a publicação do Manifesto nhengaçu verde-amarelo, ou Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta. Tal movimento modernista apareceu às vésperas da Era Vargas, iniciada em 1930. Esse período da história brasileira foi marcado pelo autoritarismo e por uma aproximação ao fascismo, que surgiu na Itália no ano de 1919.
Veja também: Segunda fase do modernismo no Brasil — a arte no contexto da ditadura e da guerra
Movimento verde-amarelo ou escola da anta?
A anta era o símbolo do movimento verde-amarelo. Isso porque o animal faz parte da tradição tupi, como totem. Por esse motivo, em 1927, o movimento verde-amarelo, criado um ano antes, passou a ser chamado de escola da anta. Portanto, o movimento verde-amarelo e a escola da anta são uma coisa só.
É preciso destacar que tal movimento literário precedeu (ou prenunciou) o integralismo ou Ação Integralista Brasileira. Esse movimento político de extrema-direita, de caráter fascista, era liderado pelo escritor Plínio Salgado. E foi fundado no ano de 1932, ou seja, depois da criação do movimento verde-amarelo.
Características do movimento verde-amarelo
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Valorização do primitivismo brasileiro.
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Rejeição à tradição de caráter europeu.
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Nacionalismo ufanista.
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Antiacademicismo.
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Crítica aos movimentos de vanguarda europeus.
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Análise da realidade brasileira.
Quem participou do movimento verde-amarelo?
Os principais integrantes do movimento são os autores:
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Menotti del Picchia (1892–1988);
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Cassiano Ricardo (1895–1974);
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Plínio Salgado (1895–1975).
Principais obras do movimento verde-amarelo
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O estrangeiro (1926), romance de Plínio Salgado
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A anta e o curupira (1927), manifesto de Plínio Salgado
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Martim Cererê (1928), poema épico de Cassiano Ricardo
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República dos Estados Unidos do Brasil (1928), poemas de Menotti del Picchia
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A República 3000 (1930), romance de Menotti del Picchia
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O que dizia o Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta?
O Manifesto nhengaçu verde-amarelo, ou Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta, foi publicado em 1929. Nesse documento, o indígena não é considerado como um povo independente, mas como parte diluída do processo de miscigenação brasileira:
Os tupis desceram para serem absorvidos. Para se diluírem no sangue da gente nova. Para viver subjetivamente e transformar numa prodigiosa força a bondade do brasileiro e o seu grande sentimento de humanidade. Seu totem não é carnívoro: Anta. É este um animal que abre caminhos, e aí parece estar indicada a predestinação da gente tupi.
Dessa forma, os tupis só existiriam “subjetivamente” na “gente nova”, ou seja, os brasileiros. Afinal, como diz o manifesto: “Toda a história desta raça corresponde [...] a um lento desaparecer de formas objetivas e a um crescente aparecimento de forças subjetivas nacionais.”
Assim, o manifesto não vê como algo negativo a aculturação indígena: “O jesuíta pensou que havia conquistado o tupi, e o tupi é que havia conquistado para si a religião do jesuíta.” E considera uma influência abstrata desse povo sobre o português: “[...]; e o português transformou-se, e ergueu-se com fisionomia de nação nova contra metrópole: porque o tupi venceu dentro da alma e do sangue do português”.
Está evidente, no manifesto, a ideia de que o tupi fez uma contribuição para o surgimento da raça brasileira, mas a partir da aceitação do domínio estrangeiro: “O tapuia isolou-se na selva, para viver; e foi morto pelos arcabuzes e pelas flechas inimigas. O tupi socializou-se sem temor da morte; e ficou eternizado no sangue da nossa raça. O tapuia é morto, o tupi é vivo.”
Não há crítica ao processo de colonização, mas a aceitação do processo “civilizatório” como sendo algo positivo:
O nacionalismo tupi não é intelectual. É sentimental. E de ação prática, sem desvios da corrente histórica. Pode aceitar as formas de civilização, mas impõe a essência do sentimento, a fisionomia irradiadora da sua alma. Sente Tupã, Taniandaré ou Aricuta através mesmo do catolicismo. Tem horror instintivo pelas lutas religiosas, diante das quais sorri sinceramente: pra quê?
No manifesto, o tupi faz parte da nacionalidade brasileira, mas apenas como mais um integrante do processo de formação do povo brasileiro:
A Nação é uma resultante de agentes históricos. O índio, o negro, o espadachim, o jesuíta, o tropeiro, o poeta, o fazendeiro, o político, o holandês, o português, o índio, o francês, os rios, as montanhas, a mineração, a pecuária, a agricultura, o sol, as léguas imensas, o Cruzeiro do Sul, o café, a literatura francesa, as políticas inglesa e americana, os oito milhões de quilômetros quadrados...
A questão subjetiva do tupi, segundo o manifesto, está relacionada ao desaparecimento desse indivíduo, de forma que a raça tupi teria sobrevivido subjetivamente na cultura brasileira. Dessa forma, o indígena é apenas símbolo, mas desconsiderado enquanto povo independente:
O movimento da Anta baseava-se nesse princípio. Tomava-se o índio como símbolo nacional, justamente porque ele significa a ausência de preconceito. Entre todas as raças que formaram o Brasil, a autóctone foi a única que desapareceu objetivamente. Em uma população de 34 milhões não contamos meio milhão de selvagens. Entretanto, é a única das raças que exerce subjetivamente sobre todas as outras a ação destruidora de traços caracterizantes; [...]; é a raça transformadora das raças, e isso porque não declara guerra, porque não oferece a nenhuma das outras o elemento vitalizante da resistência.
O manifesto também apresenta caráter idealizador ou negacionista, já que não reconhece a existência de preconceito racial e religioso no Brasil:
Não há entre nós preconceitos de raças. Quando foi o 13 de Maio, havia negros ocupando já altas posições no país. E antes, como depois disso, os filhos de estrangeiros de todas as procedências nunca viram os seus passos tolhidos.
Também não conhecemos preconceitos religiosos. O nosso catolicismo é demasiadamente tolerante, e tão tolerante, que os próprios defensores extremados dele acusam a Igreja Brasileira de ser uma organização sem força combativa (v. Jackson Figueiredo ou Tristão de Athayde).
Todo o momento, o manifesto repete o fato de o indígena estar “subjetivamente” no povo brasileiro e reforça a aceitação acerca da dominação desse povo:
Assim, também o índio é um termo constante na progressão étnica e social brasileira; mas um termo não é tudo. Ele já foi dominado, quando se agitou entre nós a bandeira nacionalista, — o denominador comum das raças adventícias. Colocá-lo como numerador seria diminuí-lo. Sobrepô-lo será fadá-lo ao desaparecimento. Porque ele ainda vive, subjetivamente, e viverá sempre como um elemento de harmonia entre todos os que, antes de desembarcar em Santos, atiraram ao mar, como o cadáver de Zaratustra, os preconceitos e filosofias de origem.
No entanto, o grupo da escola da anta, que assina o manifesto, insiste em falar em igualdade e liberdade:
O grupo “verdamarelo”, cuja regra é a liberdade plena de cada um ser brasileiro como quiser e puder; cuja condição é cada um interpretar o seu país e o seu povo através de si mesmo, da própria determinação instintiva; — o grupo “verdamarelo”, à tirania das sistematizações ideológicas, responde com a sua alforria e a amplitude sem obstáculo de sua ação brasileira. Nosso nacionalismo é de afirmação, de colaboração coletiva, de igualdade dos povos e das raças, de liberdade do pensamento, de crença na predestinação do Brasil na humanidade, de fé em nosso valor de construção nacional.
Créditos da imagem
[1] Wikimedia Commons (adaptado)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura brasileira: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.
CARVALHO, Alexandre Douglas Zaidan de. O fascismo e o populismo entre a história global e a teoria política. Sociedade e Estado, v. 36, n. 1, jan./ abr. 2021.
CRUZ, Natalia dos Reis. O governo Vargas e o fascismo: aproximação e repressão. Boletim do Tempo Presente, n. 4, 2013.
PICCHIA, Menotti del et al. Nhengaçu verde-amarelo (Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta). Disponível em: https://icaa.mfah.org/s/es/item/781033#?c=&m=&s=&cv=&xywh=-2001%2C-1102%2C6551%2C3666.
REISS, Regina Weinfield. Integralismo (o fascismo brasileiro na década de 30). Revista de Administração de Empresas, v. 14, n. 6, dez. 1974.
ZEM EL-DINE, Lorenna Ribeiro. A alma e a forma do Brasil: o modernismo paulista em verde-amarelo (anos 1920). 2017. 220 f. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2017.
ZEM EL-DINE, Lorenna Ribeiro. Ensaio e interpretação do Brasil no modernismo verde-amarelo (1926-1929). Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 32, n. 67, 2019.
Por Warley Souza
Professor de Literatura