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Menotti del Picchia

Menotti del Picchia foi um escritor brasileiro. Ele é integrante da primeira geração modernista e autor do longo poema “Juca Mulato”, uma de suas obras mais conhecidas.

Foto de Menotti del Picchia, por M. Nogueira da Silva, em 1913.
Foto de Menotti del Picchia, por M. Nogueira da Silva, em 1913.
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Menotti del Picchia (Paulo Menotti del Picchia) nasceu em 20 de março de 1892, na cidade de São Paulo. Ele fez faculdade de Direito e atuou como advogado, além de ter sido deputado estadual e federal. O autor também foi um dos principais participantes da Semana de Arte Moderna de 1922.

O escritor, que faleceu em 23 de agosto de 1988, em São Paulo, faz parte da primeira geração modernista. Suas obras são caracterizadas, portanto, pela liberdade de criação, além da presença do nacionalismo crítico. Tais elementos podem ser observados em seu longo poema Juca Mulato.

Leia também: Oswald de Andrade um dos precursores do modernismo no Brasil

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Menotti del Picchia

  • O escritor brasileiro Menotti del Picchia nasceu em 1892 e faleceu em 1988.

  • Além de escritor, foi advogado, redator, empresário e deputado.

  • Ele faz parte da primeira geração do modernismo brasileiro.

  • Seus livros são caracterizados pela liberdade de criação e antiacademicismo.

  • Uma de suas obras mais famosas é o poema Juca Mulato.

Biografia de Menotti del Picchia

Menotti del Picchia (Paulo Menotti del Picchia) nasceu em 20 de março de 1892, em São Paulo. Seus pais eram italianos. Cinco anos depois do seu nascimento, a família se mudou para a cidade de Itapira, onde o escritor iniciou sua educação formal na escola Dr. Júlio Mesquita, em 1900. Já em 1904, passou a estudar no colégio Culto à Ciência, em Campinas.

Nesse ano, publicou uma crônica no jornal Cidade de Itapira. Em 1906, começou a estudar no ginásio diocesano São José, em Pouso Alegre, no estado de Minas Gerais. Ele se formou três anos depois, no início de 1909, ano em que iniciou a faculdade de Direito em São Paulo e, ao mesmo tempo, trabalhou no Seminário Episcopal.

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No ano de 1912, se casou com Francisca da Cunha Rocha Sales. No ano seguinte, publicou seu primeiro livro — Poemas do vício e da virtude — e terminou o curso de Direito. Já em 1914, começou a trabalhar como advogado em Itapira. Nessa cidade, fundou o jornal O Grito, em 1915.

Três anos depois, em 1918, se tornou redator do periódico A Tribuna, em Santos. Em 1920, foi morar em São Paulo, onde trabalhou como diretor de redação do jornal A Gazeta e como redator do Correio Paulistano. Além disso, foi um dos fundadores da produtora de filmes Independência Filme e também de uma fábrica de relógios.

Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna. Já em 12 de julho de 1926, assumiu o cargo de deputado estadual, sendo reeleito dois anos depois, com mandato finalizado em 1930. Em 1932, passou a trabalhar como secretário do governador Pedro de Toledo (1860–1935).

Posteriormente, em 1942, recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras pelo seu romance Salomé e passou a dirigir o jornal A Noite. Ele só retornou à carreira política em 1950, quando se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro e se elegeu deputado federal, sendo reeleito em 1954.

Em 1959, recebeu os títulos de Cidadão Carioca e Cidadão Jundiaiense. No ano seguinte, como suplente de Coutinho Cavalcanti (1906–1960), assumiu o cargo de deputado federal. Em 1962, recebeu o título de Cidadão Itapirense. Mais tarde, em 1967, recebeu o título de Cidadão Emérito de São Paulo.

No ano de 1968, então viúvo, se casou com a pianista Antonieta Rudge Miller (1885–1974). No ano seguinte, ganhou o troféu Juca Pato. Em 1974, ficou viúvo pela segunda vez. Cinco anos depois, em 1979, ganhou o Prêmio Brasília. Já em 1984, ganhou o Prêmio Moinho Santista. Ele faleceu em 23 de agosto de 1988, em São Paulo.

  • Academia Brasileira de Letras

Menotti del Picchia se candidatou a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras em 1940. Ele desistiu da eleição para beneficiar o escritor Manuel Bandeira (1886–1968).

Entretanto, voltou a se candidatar em 1943, quando foi finalmente eleito. Sua posse aconteceu em 20 de dezembro, quando ocupou a cadeira de número 28.

Leia também: Tarsila do Amaral — um dos grandes ícones do modernismo brasileiro

Características da obra de Menotti del Picchia

Menotti del Picchia faz parte da primeira geração modernista, que apresenta as seguintes características:

  • visão crítica dos símbolos nacionais;

  • liberdade de criação;

  • uso de versos livres;

  • aproximação entre fala e escrita;

  • ironia;

  • busca da identidade nacional;

  • antiacademicismo.

Videoaula sobre a primeira geração modernista

Obras de Menotti del Picchia

Poesia

  • Poemas do vício e da virtude (1913)

  • Moisés (1917)

  • Juca Mulato (1917)

  • Máscaras (1919)

  • A angústia de D. João (1922)

  • Chuva de pedra (1925)

  • O amor de Dulcineia (1926)

  • República dos Estados Unidos do Brasil (1928)

  • Jesus, tragédia sacra (1958)

  • O deus sem rosto (1968)

Romances

  • Flama e argila (1920)

  • Laís (1921)

  • O homem e a morte (1922)

  • Dente de ouro (1923)

  • A filha do inca (1930)

  • A tormenta (1932)

  • Kalum, o mistério do sertão (1936)

  • Kummunká (1938)

  • Salomé (1940)

  • O árbitro (1958)

Contos e novelas

  • A mulher que pecou (1922)

  • O crime daquela noite (1924)

  • Toda nua (1926)

  • A outra perna do saci (1926)

  • O despertar de S. Paulo (1933)

Crônicas

  • O pão de Moloch (1921)

  • O nariz de Cleópatra (1922)

Teatro

  • Suprema conquista (1921)

  • A fronteira (1955)

  • Jesus: tragédia sacra (1958)

Memórias

  • A longa viagem (1970-1972)

Poemas

  • Juca Mulato

Juca Mulato é uma das obras mais conhecidas de Menotti del Picchia e consiste em um longo poema, dividido em nove partes, das quais apresentamos os seguintes trechos:

Germinal

Apresenta o protagonista e seu sofrimento amoroso:

[...]

E, como de costume, um cálice de pinga,

um cigarro de palha, uma jantinha à toa,

um olhar dirigido à filha da patroa?

Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada...

Uns alqueires de chão, o cabo de uma enxada,

um cavalo pigarço, uma pinga da boa,

o cafezal verdoengo, o sol quente e inclemente...

Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente

o olhar indiferente

da filha da patroa...

[...]

A serenata

O protagonista canta a sua mágoa de amor:

Canta, Juca Mulato...

Ele pega na viola:

seu dedo nervoso os machetes esfrola.

Solta um gemido o aço vibrado

como um grito de dor de um peito esfaqueado.

[...]

Alma alheia

Juca Mulato faz confissões ao cavalo pigarço e se compadece do animal:

[...]

Da cocheira, um nitrir, de intervalo a intervalo,

vibra no ar... É o pigarço. Esse pobre cavalo

anda esquecido e há muito que, sozinho,

sente a falta que faz o calor de um carinho.

[...]

Juca Mulato, então, numa voz doce e calma,

dizia-lhe baixinho o que ele tinha n’alma.

[...]

Fascinação

O protagonista se encanta com o amor:

Tudo ama!

As estrelas no azul, os insetos na lama,

a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,

num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,

tudo ama! tudo ama!

[...]

Lamentação

Juca Mulato encontra a desilusão amorosa:

Amor?

Receios, desejos,

promessas de paraísos,

depois sonhos, depois risos,

depois beijos!

Depois...

E depois, amada?

Depois dores sem remédio,

depois pranto, depois tédio,

depois... nada!

[...]

Presságios

Juca Mulato continua a sofrer de amor:

[...]

Só sabe que, em seu peito, o olhar amado e langue,

deixa um rastro de luz como um rastro de sangue...

Tornou-o, pouco a pouco, a imensa dor que o oprime,

pálido como a cera e magro como um vime.

[...]

A mandinga

O protagonista vai até a tapera do Roque em busca de uma cura para o mal de amor:

Juca Mulato apeia.

É macabro o pardieiro.

Junto à porta cochila o negro feiticeiro.

A pele molambenta o esqueleto disfarça.

Há uma faísca má nessa pupila garça,

quieta, dormente, como as águas estagnadas.

[...]

A voz das coisas

O protagonista ouve a voz das coisas:

[...]

Queres tu nos deixar, filho desnaturado?”

E um cedro o escarneceu: “Tu não sabes, perverso,

que foi de um galho meu que fizeram teu berço?”

E a torrente que ia rolar no abismo:

Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo”.

[...]

Ressurreição

Juca Mulato aceita a sua sina:

[...]

Consolou-se depois: “O Senhor jamais erra...

Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua.

Juca Mulato volta outra vez para a terra,

procura o teu amor numa alma irmã da tua.

Esquece calmo e forte. O destino que impera

um recíproco amor às almas todas deu.

Em vez de desejar o olhar que te exaspera,

procura esse outro olhar que te espreita e te espera,

que há, por certo, um olhar que espera pelo teu...”

Merecem destaque dois outros poemas de Menotti del Picchia. O primeiro deles é “A paz”, em que o eu lírico, em versos livres, mostra como a guerra parece mais forte do que a paz, ignorada pelos seres humanos:

A alva pomba da paz voou aos céus serenos.

Embaixo homens se agitavam

entre gritos e tiros.

Paquidermes mecânicos

sulcavam fossos

rasgando trincheiras.

Cansada de librar-se nas alturas

a pomba da paz

buscou na terra um pouso

e flechou

num voo reto

rumo a uma coisa imóvel

hirta e muda no raso campo verde.

E pousou

calma e triste

sobre as mãos cruzadas de um cadáver.

Já o poema “O voo”, também composto em versos livres, traz uma mensagem de esperança:

Goza a euforia do voo do anjo perdido em ti.

Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,

desabam no abismo.

Que sabes tu do fim?

Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o

de estrelas.

Conserva a ilusão de que teu voo te leva sempre

para o mais alto.

[...]

Talvez as canções adormeçam as feras

que esperam devorar o pássaro.

Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo.

Rumo do céu?

Que importa a rota.

Voa e canta enquanto resistirem as asas.

Frases de Menotti del Picchia

A seguir, vamos ler algumas frases de Menotti del Picchia, retiradas de sua obra Juca Mulato. Para isso, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

“A alma é como uma planta, os sonhos como os brotos, vão rebentando nela e se abrindo em floradas...”

“A mágoa que ronda a alegria de perto entra no coração sempre que o encontra aberto...”

“Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida...”

“Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito é o mesmo que cravar uma faca no peito.”

“Esta vida é um punhal com dois gumes fatais: não amar é sofrer; amar é sofrer mais!”

“No mundo inclemente, só não chora quem não sofre, só não sofre quem não sente...”

“O amor quer a morte.”

“Não há cura para o amor impossível.”

“Só por meio da dor se alcança o esquecimento.”

Nota

Os poemas do autor foram retirados da página web CASA MENOTTI.

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Menotti del Picchia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/paulo-menotti.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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