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O movimento pau-brasil foi um projeto artístico-literário inserido na primeira fase do modernismo brasileiro (1922-1930). Seu criador foi o escritor Oswald de Andrade. Ele publicou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, em 1924, no jornal Correio da Manhã. As conversas que teve com o autor francês Blaise Cendrars foram a principal inspiração para a criação do movimento.
De cunho nacionalista, o movimento pau-brasil valorizou a herança étnica e cultural brasileira e levou à produção de obras como o livro de poesias Pau-brasil, de Oswald de Andrade; a tela Morro da favela, de Tarsila do Amaral; e o livro de poemas Clã do jabuti, de Mário de Andrade.
Leia também: Modernismo brasileiro — o estilo de época que rompeu com toda a tradição estética proposta até então
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o movimento pau-brasil
- 2 - O que foi o movimento pau-brasil?
- 3 - Contexto histórico do movimento pau-brasil
- 4 - Características do movimento pau-brasil
- 5 - Quem participou do movimento pau-brasil?
- 6 - Principais obras do movimento pau-brasil
- 7 - Manifesto da poesia pau-brasil, de Oswald de Andrade
- 8 - Movimento pau-brasil e movimento antropofágico
Resumo sobre o movimento pau-brasil
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O movimento pau-brasil foi um projeto artístico-literário que fez parte da primeira fase do modernismo brasileiro.
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Surgiu, em 1924, com a publicação do Manifesto da Poesia Pau-Brasil.
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Apresentou cunho nacionalista e defendeu a produção de uma poesia de exportação.
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O poeta modernista Oswald de Andrade foi o seu criador.
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O movimento antropofágico, também criado por Oswald de Andrade, pode ser visto como uma evolução do movimento pau-brasil.
O que foi o movimento pau-brasil?
O movimento pau-brasil foi um projeto artístico-literário que fez parte da primeira fase do modernismo brasileiro (1922-1930). Seu criador foi o autor Oswald de Andrade, inspirado pelo escritor francês Blaise Cendrars (1887-1961). Assim, o movimento surgiu com a publicação, em 1924, do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, escrito por Oswald de Andrade.
Em seguida, esse poeta publicou, em 1925, o livro Pau-brasil, em que colocou em prática as ideias desse movimento de caráter nacionalista. Tal corrente artística tinha como principal objetivo refletir sobre a primitividade nacional. O nome do movimento se deve ao pau-brasil, árvore de exportação no início da colonização brasileira.
Contexto histórico do movimento pau-brasil
O movimento pau-brasil surgiu em 1924, com a publicação do Manifesto da Poesia Pau-Brasil. Esse movimento modernista apareceu nos últimos anos da República Velha, período histórico caracterizado pelo tradicionalismo.
Em 1930, teria início a Era Vargas, um período politicamente conturbado, marcado pelo autoritarismo. O modernismo é, portanto, um movimento artístico-literário que se opõe tanto ao tradicionalismo quanto ao autoritarismo.
Características do movimento pau-brasil
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Caráter nativista ou primitivista
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Foco em elementos nacionais
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Enaltecimento do exotismo primitivo
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Busca da brasilidade ou identidade nacional
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Valorização das raízes étnicas e culturais brasileiras
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Incentivo a uma poesia de exportação, com características brasileiras
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Liberdade formal modernista
Quem participou do movimento pau-brasil?
O movimento pau-brasil gerou muita discussão entre artistas e intelectuais da época e recebeu o apoio de poetas como Manuel Bandeira (1886-1968) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Contudo, na prática, estes três artistas se destacaram:
Principais obras do movimento pau-brasil
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Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), de Oswald de Andrade
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Morro da favela (1924), pintura de Tarsila do Amaral
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Carnaval em madureira (1924), pintura de Tarsila do Amaral
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Pau-brasil (1925), poemas de Oswald de Andrade
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Clã do jabuti (1927), poemas de Mário de Andrade
Manifesto da poesia pau-brasil, de Oswald de Andrade
O Manifesto da Poesia Pau-Brasil foi publicado em 18 de março de 1924, no Correio da Manhã. Nesse texto, o poeta Oswald de Andrade, que assina o documento, expõe as ideias do movimento pau-brasil de forma apaixonada. Assim, o manifesto valoriza os fatos, a realidade, como matéria da poesia, e enaltece a cultura e as riquezas do Brasil:
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
O escritor começa a caracterizar a poesia pau-brasil:
[...]
A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.
Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Agil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.
A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.
Menciona Cendrars, autor francês que foi inspiração para Oswald criar o movimento. Além disso, ataca o academicismo e valoriza a linguagem popular, a oralidade:
Uma sugestão de Blaise Cendrars: — Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das ideias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Então defende que a poesia deve ser produto de exportação, já que ela também é uma das riquezas do Brasil: “Uma única luta — a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação”. Ainda, ao falar do passado, critica o naturalismo e ironiza o parnasianismo:
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado — o artista fotógrafo.
[...]
Só não se inventou uma máquina de fazer versos — já havia o poeta parnasiano.
Expõe mais características da poesia pau-brasil:
[...]
A síntese
O equilíbrio
O acabamento de carrosserie
A invenção
A surpresa
Uma nova perspectiva
Uma nova escala
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.
O trabalho contra o detalhe naturalista — pela síntese; contra a morbidez romântica — pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.
Uma nova perspectiva.
[...]
Por fim, enaltece a arte do seu tempo e, portanto, o momento presente:
Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
[...]
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
[...]
Veja também: Vanguardas europeias — movimentos artísticos que exerceram influência sobre o modernismo brasileiro
Movimento pau-brasil e movimento antropofágico
Tanto o movimento pau-brasil (1924) quanto o movimento antropofágico (1928) tiveram cunho nacionalista. Ambos os movimentos foram idealizados pelo escritor modernista Oswald de Andrade. É possível dizer que a antropofagia modernista é uma evolução da poesia pau-brasil.
No Manifesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald lança a proposta de se fazer uma poesia de exportação, em que os elementos da cultura brasileira são valorizados. Nesse contexto, o movimento pau-brasil busca ressaltar as nossas características étnicas e culturais. Já no Manifesto Antropófago, Oswald amplia sua ideia de nacionalismo.
Isso porque ele passa a considerar a histórica influência estrangeira como parte de nossa cultura. Sua proposta é que os artistas modernistas “comam” a cultura estrangeira, ou seja, assimilem o que ela tem de bom, de forma a transformar o “empréstimo” em algo com uma identidade brasileira.
Crédito de imagem
[1] Acervo Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura brasileira: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2015.
ANDRADE, Oswald de. Manifesto da poesia pau-brasil. Disponível em: https://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf.
ASSUNÇÃO, Isac Teixeira de. Historiografia linguística do movimento antropofágico: por uma literatura popular para a firmação da língua e da identidade brasileiras. 2010. 87 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2010.
BOAVENTURA, Maria Eugenia. O projeto pau brasil: nacionalismo e inventividade. Remate de Males, Campinas, v. 6, 2012.
JACQUES, Paola Berenstein. Pensamentos selvagens: montagem de uma outra herança. v. 2. Salvador: EDUFBA, 2021.
Por Warley Souza
Professor de Literatura