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O movimento antropofágico é uma vertente da primeira fase do modernismo brasileiro (1922 a 1930). A tela Abaporu, de Tarsila do Amaral, foi a grande inspiração para que o escritor Oswald de Andrade idealizasse o movimento. Assim, ele publicou o “Manifesto antropófago” em 1928, na Revista de Antropofagia, dando início ao movimento.
De caráter nacionalista e antilusitano, o movimento antropofágico valoriza a cultura e a língua brasileiras. E conta com obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Libertinagem, de Manuel Bandeira. Oficialmente, o movimento chegou ao fim em 1929, mas continuou a inspirar vários artistas brasileiros.
Leia também: Vanguardas europeias — os movimentos estéticos que influenciaram o modernismo brasileiro
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o movimento antropofágico
- 2 - O que foi o movimento antropofágico?
- 3 - Quais são as características do movimento antropofágico?
- 4 - Contexto histórico e origem do movimento antropofágico
- 5 - Principais artistas e obras do movimento antropofágico
- 6 - Fim do movimento antropofágico
- 7 - Modernismo no Brasil
Resumo sobre o movimento antropofágico
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O movimento antropofágico faz parte da primeira fase do modernismo brasileiro.
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O movimento surgiu, em 1928, com a publicação da Revista de Antropofagia.
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Ele apresenta características como nacionalismo e enaltecimento da cultura brasileira.
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O “Manifesto antropófago” fundou e apresentou os princípios do movimento antropofágico.
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Oswald de Andrade é o principal nome do movimento antropofágico, que chegou ao fim em 1929.
O que foi o movimento antropofágico?
O movimento antropofágico foi uma vertente da primeira fase do modernismo brasileiro. Seus fundadores foram a pintora Tarsila do Amaral e os escritores Oswald de Andrade e Raul Bopp. A ideia surgiu quando Tarsila pintou o quadro Abaporu, que serviu de inspiração para o marido, Oswald, idealizar o movimento.
Condizente com os ideais do nascente modernismo, o movimento antropofágico objetivava agitar o meio cultural e provocar reflexão acerca da verdadeira identidade nacional. Era uma forma irônica de fomentar a inovação sem perder de vista a tradição literária e artística do país.
Quais são as características do movimento antropofágico?
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Nacionalismo
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Ironia
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Reflexão sobre a identidade brasileira
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Antiacademicismo
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Caráter renovador
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Folclorismo
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Linguagem simples
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Humor
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Realismo
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Poesia de caráter popular
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Temas do cotidiano
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Afirmação da língua brasileira
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Teor antilusitano
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Valorização da economia linguística
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Respeito à linguagem coloquial
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Enaltecimento da cultura brasileira
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Oposição entre estrangeiro e nacional
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Defesa da diversidade cultural
Contexto histórico e origem do movimento antropofágico
O movimento antropofágico surgiu, em 1928, com a criação da Revista de Antropofagia, onde, no mesmo ano, foi publicado o “Manifesto antropófago”. Assim, o movimento teve início no final da chamada República Velha e precedeu a Era Vargas. Tal período, portanto, foi marcado por mudanças políticas e culturais no Brasil.
→ “Manifesto antropófago”
O “Manifesto antropófago” foi publicado no número 1 da Revista de Antropofagia e inaugurou o movimento antropofágico. No entanto, o manifesto não é claro, de forma que ele tem caráter mais artístico do que funcional. No mais, ele foi escrito em fragmentos, sem uma sequência lógica. Nele, há referências históricas, sociais e até científicas.
De qualquer modo, o manifesto defende a supremacia da cultura nacional. O antropófago é sinônimo de brasileiro. Nessa perspectiva, nosso povo “comeria” a cultura estrangeira de forma a ressignificar tal cultura, ao acrescentar ao empréstimo cultural elementos unicamente nossos, identitários portanto.
Afinal, a cultura brasileira é fruto da diversidade e, de nenhuma forma, inferior às culturas europeias. Mas, para reafirmar nossa identidade, era preciso impedir a dominação cultural portuguesa. O manifesto é assinado por Oswald de Andrade e termina com a irônica data: “Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha”.
A seguir, vamos ler alguns fragmentos desse histórico manifesto |1|:
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
[...]
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
[...]
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
[...]
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
[...]
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
[...]
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade prelógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
[...]
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
[...]
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
[...]
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
[...]
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: — É a mentira muitas vezes repetida.
[...]
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
[...]
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: — Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Principais artistas e obras do movimento antropofágico
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Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral (1886-1973).
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Manifesto antropófago (1928), de Oswald de Andrade (1890-1954).
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Macunaíma (1928), de Mário de Andrade (1893-1945).
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Laranja da China (1928), de Antônio de Alcântara Machado (1901-1935).
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Libertinagem (1930), de Manuel Bandeira (1886-1968).
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Cobra Norato (1931), de Raul Bopp (1898-1984).
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Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald de Andrade.
Veja também: Quais foram os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna?
Fim do movimento antropofágico
O movimento antropofágico teve vida curta. Esteve ativo durante os dez meses de existência da Revista de Antropofagia e mais cinco meses de publicações periódicas de textos do movimento no Diário de São Paulo. A última publicação foi em 1º de agosto de 1929. Assim, o movimento antropofágico chegou oficialmente ao fim em 1929. No entanto, os ideais antropofágicos não morreram.
Modernismo no Brasil
O modernismo no Brasil teve início com a Semana de Arte Moderna de 1922 e possui três fases.
A primeira fase do modernismo brasileiro (1922 a 1930) apresenta estas características:
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inovação;
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nacionalismo crítico;
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antiacademicismo;
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antirromantismo;
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uso do verso livre.
Os principais autores da primeira fase são:
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Manuel Bandeira (1886-1968);
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Mário de Andrade (1893-1945);
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Oswald de Andrade (1890-1954).
A segunda fase do modernismo brasileiro (1930 a 1945) apresenta uma poesia marcada pelo conflito existencial e temática sociopolítica. Os poetas utilizam tanto versos livres quanto regulares e brancos. Os autores mais conhecidos dessa fase são:
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Jorge de Lima (1893-1953);
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Cecília Meireles (1901-1964);
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Murilo Mendes (1901-1975);
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Carlos Drummond de Andrade (1902-1987);
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Vinicius de Moraes (1913-1980).
A prosa da segunda fase apresenta as seguintes características:
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regionalismo;
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realismo;
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crítica social;
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linguagem simples.
Os principais autores do romance de 1930 são:
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Graciliano Ramos (1892-1953);
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José Lins do Rego (1901-1957);
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Erico Verissimo (1905-1975);
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Rachel de Queiroz (1910-2003);
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Jorge Amado (1912-2001).
Por fim, a terceira fase do modernismo brasileiro (1945 a 1978), também conhecida como pós-modernismo, apresenta a poesia da chamada Geração de 1945. Tal poesia possui estes elementos:
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rigor formal;
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temática sociopolítica.
Os principais poetas dessa geração são:
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João Cabral de Melo Neto (1920-1999);
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Ferreira Gullar (1930-2016).
A poesia concreta também está inserida nessa fase. O concretismo é marcado pelo experimentalismo. Tal estética está centrada no aspecto verbivocovisual, ou seja, o trabalho artístico com a palavra, o som e a imagem. Os três principais concretistas brasileiros são os poetas:
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Décio Pignatari (1927-2012);
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Haroldo de Campos (1929-2003);
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Augusto de Campos (1931-).
A prosa da terceira fase apresenta estas características:
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experimentação linguística;
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estrutura não convencional;
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fragmentação;
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metalinguagem;
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fluxo de consciência.
E seus principais representantes são:
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João Guimarães Rosa (1908-1967);
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Clarice Lispector (1920-1977).
Notas
|1| ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. Revista de Antropofagia, São Paulo, ano 1, n. 1, maio 1928.
Créditos de imagem
[1] César Cardoso / Wikimedia Commons (reprodução)
[2] Mrwildeson / Wikimedia Commons (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura