Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Mensagem — Fernando Pessoa

“Mensagem” é um livro de poemas do escritor português Fernando Pessoa. A principal característica dessa obra modernista, publicada em 1934, é seu evidente nacionalismo.

Capa do livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, publicado pela editora FTD. [1]
Capa do livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, publicado pela editora FTD. [1]
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Mensagem é um livro do poeta português Fernando Pessoa e foi publicado, pela primeira vez, em 1934. Apesar de ser uma obra modernista, contém poemas compostos por versos regulares, isto é, com métrica e rimas. Sua principal característica é o nacionalismo, que leva o eu lírico a ressaltar o heroísmo e a grandeza de Portugal.

O evidente patriotismo da obra condiz com a época em que foi escrita, ou seja, o período entreguerras. Nesse tempo, o nacionalismo tomou conta da Europa e propiciou o surgimento e fortalecimento de regimes de extrema-direita, como o nazismo alemão, o fascismo italiano e o Estado Novo em Portugal.

Leia também: O marinheiro – Fernando Pessoa

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Mensagem

  • Mensagem é um livro de poemas do escritor português Fernando Pessoa.

  • A obra é dividida em três partes: “Brasão”, “Mar português” e “O encoberto”.

  • A principal característica de Mensagem é seu caráter nacionalista.

  • Esse livro, publicado em 1934, faz parte do modernismo português.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Videoaula da obra Mensagem

Análise da obra Mensagem

  • Estrutura da obra Mensagem

Primeira parte

Com o título de “Brasão”, essa parte da obra traz personagens e fatos históricos de Portugal associados às origens do país. Essas figuras heroicas são:

- Viriato

- Conde D. Henrique

- D. Tareja (Teresa de Leão),

- D. Afonso Henriques

- D. Dinis

- D. João I

- D. Filipa de Lencastre

- D. Duarte

- D. Fernando

- D. Pedro

- D. Sebastião

- Nuno Álvares Pereira

- D. Henrique

- D. João II

- Afonso de Albuquerque

Portanto, como D. Sebastião (1554-1578) é uma figura política de extrema importância para a história portuguesa, vamos ler, a seguir, o poema “D. Sebastião, rei de Portugal”:

Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Qual a Sorte a não dá.

Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal está

Ficou meu ser que houve, não o que há.

 

Minha loucura, outros que me a tomem

Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem

Mais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

O jovem rei “louco, porque quis grandeza”, lançou-se em uma guerra santa, onde faleceu durante a batalha de Alcácer-Quibir, o que ameaçou a soberania portuguesa. Entretanto, ele se transformou em uma lenda, de forma que muitos portugueses passaram a acreditar que ele um dia retornaria para salvar a todos.

Leia também: 5 melhores poemas de Fernando Pessoa

Segunda parte

Com o título de “Mar português”, essa parte da obra traz personagens e fatos históricos referentes às conquistas marítimas da nação portuguesa. Assim, o eu lírico anuncia:

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

[...]

Com a justificativa de que Deus quis que o mar unisse, em vez de separar, o eu lírico defende que, por meio do mar, os portugueses puderam expandir, disseminar, sua cultura. Então, a voz poética coloca estas palavras na boca do famoso navegador português Diogo Cão (1450-1486):

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.

Dessa forma, é evidenciada a superioridade portuguesa em relação até mesmo aos gregos e romanos. Em seguida, a voz poética homenageia D. João II, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama, e não se esquece de celebrar também o mar, no poema “Mar português”:

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

“Retrato do rei D. Sebastião”, obra de Cristóvão de Morais.
“Retrato do rei D. Sebastião”, obra de Cristóvão de Morais.

Após mencionar mais uma vez a figura de D. Sebastião, a segunda parte do livro Mensagem termina com um misto de saudosismo e esperança:

Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!

Restam-nos hoje, no silêncio hostil,

O mar universal e a saudade.

[...]

Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —

Com que a chama do esforço se remoça,

E outra vez conquistaremos a Distância —

Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Terceira parte

Na terceira parte, intitulada “O encoberto”, novamente o eu lírico focaliza a figura lendária de D. Sebastião. Assim, mostra a essência do sebastianismo, isto é, a mística volta do rei:

Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É O que eu me sonhei que eterno dura

É Esse que regressarei.

Em seguida, fala do quinto império, uma crença que afirma que Portugal se tornaria o quinto e último império do mundo, responsável por levar a fé cristã para outras partes do planeta. Obviamente, essa tarefa caberia a D. Sebastião, o qual, quando regressasse, transformaria a “noite” em “dia claro”:

E assim, passados os quatro

Tempos do ser que sonhou,

A terra será teatro

Do dia claro, que no atro

Da erma noite começou.

Por fim, a voz poética homenageia o padre António Vieira (1608-1697), um dos responsáveis por reforçar o mito sebastianista. Assim, o eu lírico declara sobre ele: “Este, que teve a fama e a glória tem,/ Imperador da língua portuguesa,/ Foi-nos um céu também”.

Leia também: Fernando Pessoa e seus heterônimos

  • Temas abordados na obra Mensagem

- Heroísmo

- Sebastianismo

- Soberania portuguesa

- Nacionalismo

- Quinto império

- Grandes navegações

  • Características da obra Mensagem

Mensagem é, sobretudo, uma obra de aspecto nacionalista que busca resgatar o sentimento patriótico do povo português. Apesar de fazer parte do modernismo, não recorre aos versos livres. Assim, seus poemas (tanto os líricos quanto os narrativos) possuem versos regulares (com métrica e rimas). Tal opção é condizente com o caráter de formalidade associado às temáticas do livro.

  • Estilo literário da obra Mensagem

Mensagem é uma obra do modernismo português. Seu autor faz parte da geração de Orpheu, caracterizada por sua oposição à arte acadêmica. Escritores dessa geração valorizam o experimentalismo, em oposição às formas artísticas tradicionais. Apesar disso, Mensagem não recorre à ironia nem aos versos livres, mas se concentra no enaltecimento da pátria.

  • Intertextualidade com Os lusíadas

Os lusíadas, de Luís Vaz de Camões (1524-1580), é um clássico da literatura portuguesa. Esse poema épico considera o personagem histórico Vasco de Gama (1469-1524) um herói nacional. Desse modo, a obra, de cunho nacionalista, enaltece a pátria portuguesa e tem como elemento central a viagem de Vasco da Gama à Índia.

Portanto, a obra Mensagem, de 1934, dialoga com Os lusíadas, de 1572, já que ambas têm caráter nacionalista e enaltecem os heróis e o povo português. Entretanto, a epopeia de Camões, pertencente ao classicismo, é dividida em longos cantos. Já Mensagem, por ser modernista, apresenta poemas mais curtos, condizentes com o espírito de urgência do século XX.

Fernando Pessoa, autor de Mensagem

Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, em Lisboa, cidade portuguesa. Mais tarde, em 1896, com a mãe e o padrasto, foi viver na África do Sul. Só voltou definitivamente ao país natal em 1905. Dez anos depois, em 1915, publicou textos na revista Orpheu, introdutora do modernismo em Portugal.

Já seus dois primeiros livros — Antinous e 35 sonnets — foram publicados em 1918. Além de escritor, o poeta também foi editor, tradutor e criador do Anuário Comercial Sintético, invenção patenteada em 1925. Publicou o livro Mensagem em 1934, antes de morrer em 30 de novembro de 1935, em Lisboa. Para saber mais sobre a vida e obra desse autor português, leia: Fernando Pessoa.

Contexto histórico da obra Mensagem

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa foi tomada por uma onda de nacionalismo, que levou ao surgimento de movimentos extremistas de direita, como o nazismo e o fascismo. Essa situação acabou fazendo com que os países se envolvessem em mais um grande conflito bélico, isto é, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Já em Portugal, esse contexto político deu forças para o surgimento do Estado Novo, a partir de 1933. Mais exatamente, esse regime autoritário foi uma consequência do golpe de Estado de 28 de maio de 1926, protagonizado pelo marechal Gomes da Costa (1863-1929), que instaurou uma ditadura militar no país, a qual encerrou a Primeira República, que vigorava desde 1910.

Crédito da imagem

[1] Editora FTD (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Mensagem — Fernando Pessoa"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/mensagem.htm. Acesso em 12 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante