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O marinheiro é um texto dramático escrito pelo poeta português Fernando Pessoa. Conta a história de três donzelas que velam uma donzela vestida de branco. O espaço cênico é um quarto de um velho castelo, e a ação se passa durante uma noite, em que as personagens falam do passado e questionam a existência da própria realidade.
A peça é uma obra do modernismo e, portanto, tem algo de transgressor tanto na sua forma como no seu conteúdo, centrado na reflexão em vez da ação. Além disso, possui traços simbolistas, já que apresenta um caráter filosófico, sombrio, misterioso, além de colocar em xeque a própria realidade.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo da obra O marinheiro
- 2 - Análise da obra O marinheiro
- 3 - Fernando Pessoa
- 4 - Contexto histórico
Resumo da obra O marinheiro
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O marinheiro é um texto dramático do poeta português Fernando Pessoa.
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A obra, apesar de estar associada ao modernismo, apresenta traços do simbolismo.
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O texto fala de três donzelas que velam uma donzela morta, vestida de branco.
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Toda a ação se passa no quarto de um velho castelo, durante uma noite.
Análise da obra O marinheiro
→ Personagens da obra O marinheiro
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Donzela de branco
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Primeira veladora
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Segunda veladora
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Terceira veladora
→ Tempo da obra O marinheiro
Não há indicação precisa da época em que transcorre o drama. Sabemos apenas que é a noite de um tempo antigo, possivelmente da Idade Média.
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→ Espaço da obra O marinheiro
Um quarto em um castelo antigo.
→ Enredo da obra O marinheiro
Três donzelas (as veladoras) estão em um quarto e esperam o dia nascer. Enquanto isso, para se entreterem, pensam em falar de suas próprias histórias de vida. No entanto, resistem, parecem querer fugir do passado. Além disso, não há nenhum relógio no quarto, portanto, elas não podem saber a hora exata da noite.
Mesmo sem querer falar do passado, elas, inevitavelmente, acabam expondo recordações, além de questionamentos existenciais, como: “O que é qualquer coisa? Como é que ela passa?”. Desse modo, a primeira revela que viveu a infância em uma floresta, onde havia um lago.
A segunda, quando criança, morava perto do mar e entre rochedos. Já a terceira viveu entre ramos, fontes e lagos. No entanto, não há certeza se essas memórias são reais ou imaginárias. Assim, a primeira sugere que, em vez de falar, elas devem cantar, pois está mais frio ali. Diante da sugestão, a terceira comenta:
“Não vale a pena, minha irmã... quando alguém canta, eu não posso estar comigo. Tenho que não poder recordar-me. E depois todo o meu passado torna-se outro e eu choro uma vida morta que trago comigo e que não vivi nunca. É sempre tarde demais para cantar, assim como é sempre tarde demais para não cantar...”
A primeira e a segunda falam mais do que a terceira, que permanece em silêncio em grande parte do drama. Então, a segunda conta que um dia viu uma inesquecível vela de um navio distante no mar. Nesse ponto, a primeira diz ver um navio pela janela do quarto.
Entretanto, a segunda tem certeza de que não é o mesmo navio, quando diz: “Não, minha irmã; esse que vedes busca sem dúvida um porto qualquer... Não podia ser que aquele que eu vi buscasse qualquer porto...”. A segunda, então, conta que sonhava com um marinheiro que estava perdido em uma ilha distante.
Enquanto conta o seu sonho, ela olha para o caixão e estremece. Nele está uma donzela de branco. A terceira pergunta o que sonhava o marinheiro. A segunda diz que o marinheiro, perdido na ilha, criou um mundo inteiro em sua imaginação e reconstruiu também o seu passado.
Cansado de sonhar, quis recordar a sua vida verdadeira, mas já não se lembrava mais do passado. Dessa forma, o sonho passou a ser sua vida real. Quando um barco chegou à ilha, o marinheiro já não estava mais lá. Assim, após essa história, elas percebem que o dia está amanhecendo.
De qualquer forma, não sabemos se elas estão acordadas ou se tudo é um sonho, como se estivessem além do tempo. Então, quando a primeira pergunta por que a segunda contou a história, a segunda diz que: “Já mal me lembro que a contei... Parece ter sido já há tanto tempo!...”.
Tudo fica ainda mais confuso quando a segunda diz: “Quem é a quinta pessoa neste quarto que estende o braço e nos interrompe sempre que vamos a sentir?”. Possivelmente, ela se refere ao dramaturgo, de forma a indicar que vivem em um sonho chamado “ficção”, criado por Fernando Pessoa, que, portanto, assemelha-se ao marinheiro.
Por fim, a peça termina: “Um galo canta. A luz, como que subitamente, aumenta. As três veladoras quedam-se silenciosas e sem olharem umas para as outras. Não muito longe, por uma estrada, um vago carro geme e chia”.
→ Características da obra O marinheiro
A peça teatral O marinheiro foi escrita por Fernando Pessoa, em 1913. Por ser um texto dramático, apresenta falas e rubricas. No entanto, não possui atos, pois é um “drama estático em um quadro”, segundo o autor, nem é dividida em cenas. Já em relação ao seu estilo literário, ela possui traços do simbolismo, apesar de fazer parte do modernismo.
Desse modo, o texto, além de filosófico, é também poético, misterioso, sombrio e, sobretudo, experimental. A peça foi classificada, por alguns críticos, como sendo um poema dramático. Não está centrada na ação, mas na reflexão e no devaneio. Assim, há um questionamento sobre a existência da própria realidade e uma valorização de coisas imateriais.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, na cidade de Lisboa, em Portugal. Seu pai morreu quando ele tinha apenas cinco anos de idade. Sua mãe, então, casou-se com um cônsul. Dessa forma, em 1896, Pessoa foi morar na África do Sul, e só voltou ao país natal em 1905.
Quatro anos depois, recebeu a herança de sua avó paterna e se tornou proprietário da tipografia e editora Íbis, que faliu pouco tempo depois. Passou, então, a se dedicar à escrita de seus textos literários e à criação de seus heterônimos. A partir de 1915, tornou-se um dos principais nomes do modernismo português.
Em 1918, publicou, com recursos próprios, dois livros em inglês — Antinous e 35 sonnets. Seu livro mais famoso — Mensagem — só foi publicado em 1934 e ganhou o Prémio de Poesia Antero de Quental. Em 30 de novembro de 1935, o poeta faleceu em Lisboa.
Veja também: Fernando Pessoa e seus heterônimos
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Videoaula sobre Fernando Pessoa
Contexto histórico
A peça O marinheiro foi escrita às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Tal conflito foi resultante da expansão imperialista, que teve início no século XIX, caracterizada pela disputa pelo poder entre as grandes potências europeias. No entanto, nesse período, também houve grande avanço científico, além de inovações nas artes plásticas.
Nesse contexto, Fernando Pessoa, como crítico de teatro da revista Teatro, trazia a proposta modernista de “destruição” do teatro tradicional. Sob essa perspectiva, ele escreve, em 1913, O marinheiro, peça que vai ser publicada na revista Orpheu, grande porta-voz do modernismo português, em 1915.
Já a ação da peça se passa, possivelmente, durante a Idade Média, período histórico que durou de 476 a 1453. Nessa época, a Igreja Católica exerceu grande domínio em toda a Europa, de forma a se tornar não só uma força religiosa, mas também política. Assim, o teocentrismo influenciou as ações das pessoas que viveram nesse tempo.
Crédito da imagem
[1] Editora Unicamp (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura