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Moscou é a maior e mais importante cidade da Rússia, além de ser a capital do país. Com uma população de aproximadamente 12,3 milhões de habitantes, a cidade é o centro econômico e político do país. Fundada, segundo a tradição russa, no ano de 1147, Moscou cresceu como uma das principais cidades dos diferentes reinos que existiram na região que hoje corresponde à Rússia.
Fundação e crescimento de Moscou
Considera-se 1147 como o ano de fundação da cidade de Moscou, pois o primeiro registro a respeito dessa cidade remonta especificamente a essa data. As crônicas da história russa que citam a cidade de Moscou pela primeira vez nessa data foram utilizadas pelos historiadores como o marco fundador de Moscou.
De acordo com as crônicas russas, a fundação de Moscou é creditada a Yury Dolgoruky, um príncipe da Dinastia Rurik, do Principado de Kiev. Dolgoruky era o governante de uma pequena província conhecida como Vladimir-Suzdal, localizada na região nordeste do Principado de Kiev. A palavra “Dolgoruky” é uma alcunha do eslavo que fazia menção a diversas guerras travadas por ele.
Segundo as crônicas, o marco que é utilizado pelos historiadores para estabelecer a fundação de Moscou ocorreu quando, em 1147, Yuri Dolgoruky convidou Svyatoslav Olgovich, um aliado seu, para ir a Moscou encontrar-se com ele. Os relatos falam que uma grande festa foi organizada por Dolgoruky para receber o convidado e toda sua comitiva.
Atualmente, existe um debate entre os historiadores russos questionando se, de fato, 1147 foi ou não a data de fundação da cidade. Os historiadores argumentam que, se Dolgoruky estava pronto para abrigar Olgovich e seus convidados e apto para realizar uma grande festa, a citada Moscou já era uma cidade bem estruturada e, portanto, provavelmente havia sido fundada antes de 1147.
De qualquer forma, após esses acontecimentos, Yury Dolgoruky ordenou que um forte de madeira fosse construído ao redor do centro de Moscou. A construção desse forte a mando de Dolgoruky foi iniciada em 1156 e visava a proteger a cidade de ataques de povos estrangeiros. Sua construção só foi concluída anos depois por seu filho, Andrey Bogolyubsky. Assim, surgiu o Kremlin, o centro administrativo de Moscou (e de toda a Rússia) e casa atual dos presidentes russos.
A respeito da origem do termo Moscou, existe toda uma discussão entre historiadores e linguistas acerca disso. A tese mais aceita atualmente afirma que o termo “Moscou” tem origem nos idiomas fino-úgricos de povos que habitavam aquela região antes do estabelecimento dos eslavos. Outra corrente afirma que o termo tem origem no idioma dos eslavos que se estabeleceram no local a partir do século IX d.C.
O crescimento de Moscou está diretamente ligado com o longo e complexo processo de formação da Rússia. Ao longo de sua evolução, uma série de principados e reinos russos formaram-se, muitas vezes entrando em guerra entre si, além de muitas vezes lidarem com ameaças de invasão de povos estrangeiros.
O crescimento da influência de Moscou ocorreu a partir da virada do século XIII para o século XIV. Nessa época, os mongóis invadiram toda a região correspondente à Rússia e transformaram-na em seu domínio. O domínio dos mongóis influenciou diretamente o enfraquecimento do principal poder da região: Kiev. Com a decadência de Kiev, a cidade de Moscou ganhou importância e transformou-se ao longo do tempo em uma cidade poderosa.
O crescimento de Moscou consolidou-se a partir dos seguintes eventos: em 1240, os mongóis atacaram, conquistaram e arrasaram com a cidade de Kiev. Assim, a hegemonia de Kiev teve fim e foi estabelecido um canato (império) dos mongóis ali. O crescimento da cidade de Moscou nesse cenário de domínio dos mongóis só aconteceu a partir de 1320, durante o reinado de Ivan I.
Na década de 1320, Ivan conquistou o direito de governar a cidade de Moscou a partir de determinação do khan (título dado ao governante dos mongóis). Enquanto esteve no poder, Ivan I tomou ações que contribuíram para o fortalecimento da cidade. A primeira grande ação de Ivan I foi a de trazer para a cidade de Moscou o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o que transformou Moscou em um centro espiritual e religioso da região de Rus (nome como era chamada aquela região da Rússia na época).
Ao longo da década de 1320, Ivan I conquistou a confiança dos mongóis e isso lhe trouxe poder e influência sobre outros governantes russos. Além disso, Ivan I obteve dos mongóis o direito de realizar a cobrança dos outros reinos dominados, o que lhe rendeu a alcunha de “kalita”, que significa “saco de dinheiro”. Ivan utilizou-se desses recursos para investir no crescimento e no desenvolvimento do Principado de Moscou.
A partir disso, Ivan I passou a ampliar o seu poder a partir da conquista de novas regiões e foi fundamental para pacificar a região de Rus que havia se rebelado contra o domínio dos mongóis. Foi durante o governo de Ivan I que se iniciou o processo de consolidação territorial da região de Rus sobre a administração de Moscou. Esse processo, ao longo dos anos, causou a expansão territorial e o surgimento do Império Russo.
O domínio dos mongóis sobre Moscou e a região de Rus estendeu-se até por volta de 1480, quando Ivan III colocou em prática uma política de enfrentamento, na qual os russos passaram a se recusar a pagar os tributos exigidos. Isso originou uma guerra na qual as forças de Ivan III saíram vitoriosas e iniciaram o processo de formação do Czarado da Rússia (1547-1721) e, depois, do Império Russo (1721-1917).
Moscou nos tempos contemporâneos
De Ivan III (século XV) até o século XIX, a cidade de Moscou, bem como toda a Rússia, passou por um longo processo de evolução. Moscou consolidou-se como força política e econômica da região, e o Império Russo formou-se a partir de vários conflitos liderados pelos czares (imperadores). A partir de 1712, Moscou deixou de ser a capital do Império Russo por determinação do czar Pedro I, que transferiu a capital para a recém-fundada São Petersburgo.
Museu da Guerra Patriótica de 1812 que se localiza na Praça Vermelha, em Moscou*
Um momento marcante da história de Moscou no século XIX foi a guerra contra as forças napoleônicas em 1812. A conhecida Campanha da Rússia, iniciada por Napoleão Bonaparte, ocorreu após a Rússia decidir realizar a quebra do Bloqueio Continental e por entrar em divergências com a França sobre o domínio da região correspondente à atual Polônia.
Com isso, a França declarou guerra contra a Rússia, governada pelo czar Alexandre I. Os franceses mobilizaram quase 700 mil soldados para conquistar o país. Avançaram sem grandes obstáculos, pois os russos impuseram a tática da “terra arrasada”. Quando chegaram em Moscou, a cidade que possuía aproximadamente 270 mil habitantes estava praticamente vazia.
A estratégia dos russos impôs graves dificuldades aos franceses, e Napoleão, sem obter os recursos necessários para manter seu exército e ameaçado por um incêndio que destruiu cerca de 80% da cidade de Moscou, optou pela retirada e abandonou Moscou. Durante o seu retorno, o exército francês foi aniquilado pela fome e pelos ataques russos. Os russos referem-se a esse conflito como Guerra Patriótica de 1812.
Moscou voltou a ser nomeada como capital da Rússia a partir de 1918, quando aconteceu a Revolução de Outubro, que colocou os bolcheviques no poder. Anos depois, a partir de 1941, Moscou foi novamente ameaçada por forças estrangeiras: os alemães. O ataque alemão sobre Moscou foi um desdobramento da Operação Barbarossa durante a Segunda Guerra Mundial.
O ataque alemão iniciou-se de maneira fulminante, e diversos locais foram conquistados rapidamente. Os alemães envolveram a cidade de Leningrado, em um cerco de quase 900 dias, e iniciaram o assédio sobre Moscou. O historiador Max Hastings afirma que os alemães chegaram a 40 quilômetros do Kremlin, sede do governo soviético, e a 15 quilômetros de regiões periféricas de Moscou |1|. A resistência realizada pelos soviéticos era desesperada, e Stalin (líder da URSS) conclamava a defesa da cidade a todo custo.
A Catedral de São Basílio é um dos principais pontos turísticos de Moscou e foi inaugurada em 1561
No dia 5 de dezembro de 1941, os soviéticos iniciaram um ataque contra as forças alemãs que assediavam Moscou. Os soviéticos exploraram posições enfraquecidas dos alemães que cercavam as regiões norte e sul de Moscou. Esse ataque iniciou a retirada dos alemães e, após o dia 5 de janeiro de 1942, os alemães já haviam recuado de 90 a 240 quilômetros |2|. Moscou havia sido salva.
No ano de 1980, Moscou foi a cidade-sede das Olimpíadas daquele ano. Essas olimpíadas ficaram caracterizadas pelo boicote de parte dos países ocidentais (os Estados Unidos não participaram e muitas nações europeias competiram sob a bandeira olímpica). Esse boicote aconteceu como represália das nações ocidentais pela guerra que a União Soviética travava com o Afeganistão na época. Essa Olimpíadas ficaram marcadas pela lágrima que escorreu dos olhos do mascote Misha durante a cerimônia de encerramento.
Após a desintegração da União Soviética em 1991, Moscou permaneceu como capital da Federação Russa, a maior nação entre quinze que surgiram do fim da União Soviética. A abertura de Moscou ao capitalismo trouxe uma série de mudanças para a cidade, tais como a modernização com a construção de prédios modernos, ampliação do sistema de metrô etc. Porém, alguns problemas, como a desigualdade e a existência do crime organizado, também se intensificaram.
|1| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 180.
|2| Idem, p. 181.
*Créditos da imagem: Photoucher e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História