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Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) é um escritor angolano nascido em 29 de outubro de 1941. Fez parte do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) durante os anos de 1969 a 1974, quando participou da luta armada em prol da independência de seu país, ocorrida em 1975. Formado em sociologia, além de escritor, é também professor. É o primeiro angolano a ganhar o Prêmio Camões.
As obras do autor fazem parte da literatura contemporânea angolana e são caracterizadas por:
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engajamento político
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anticolonialismo
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crítica sociocultural
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valorização da identidade nacional
Tudo isso pode ser observado em seu romance mais conhecido — Mayombe —, que narra as aventuras de guerrilheiros do MPLA durante a luta pela independência de Angola.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Biografia de Pepetela
- 2 - Prêmios de Pepetela
- 3 - Estilo literário de Pepetela
- 4 - Obras de Pepetela
- 5 - Mayombe
Biografia de Pepetela
Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em 29 de outubro de 1941, em Benguela, cidade angolana. Com 15 anos de idade, foi para a cidade de Lubango, onde iniciou seu engajamento político.
Em 1958, mudou-se para Portugal, onde estudou no Instituto Superior Técnico e na Universidade de Lisboa. Durante os quatro anos que viveu nesse país, participou de discussões na Casa dos Estudantes do Império, uma espécie de albergue para estudantes das colônias portuguesas, onde grupos de estudantes anticolonialistas e antifascistas refletiam sobre política e cultura.
O escritor não aceitou a obrigação de alistar-se no exército português e, por isso, exilou-se em Paris, na França, onde viveu por seis meses. Depois, foi para a Argélia e, ali, formou-se em sociologia.
Também fez parte do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), além de ter sido um dos fundadores do Centro de Estudos Angolanos. Assim, de 1969 a 1974, tomou parte na luta armada. Como guerrilheiro, era chamado de Pepetela (“pestana”, em umbundo, uma língua bantu), nome de guerra que se transformou em seu pseudônimo literário.
Durante a guerrilha, Pepetela também foi responsável pela propaganda a favor da luta armada pela independência, ocorrida em novembro de 1975, quando se tornou o vice-ministro da Educação (cargo que ocupou até 1982) e participou da fundação da União dos Escritores Angolanos (UEA). Então, passou a trabalhar como professor de Sociologia na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, além de dedicar-se à escrita literária e tornar-se o primeiro escritor angolano a receber o Prêmio Camões.
Prêmios de Pepetela
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Prêmio Nacional de Literatura (1980 e 1985) — Angola.
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Prêmio Especial dos Críticos de São Paulo (1993) — Brasil.
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Camões (1997) — Brasil/Portugal.
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Prinz Claus (1999) — Holanda.
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Prêmio Nacional de Cultura (2002) — Angola.
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Escritor Galego Universal (2007) — Espanha.
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Rosalía de Castro (2014) — Espanha.
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Fonlon-Nichols (2015) — Associação de Literatura Africana (ALA).
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Casino da Póvoa (2020) — Portugal.
Estilo literário de Pepetela
Pepetela é um autor da literatura contemporânea angolana, e suas obras apresentam as seguintes características:
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Engajamento político
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Crítica sociocultural
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Nacionalismo crítico
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Ficção histórica
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Utopia versus distopia
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Anticolonialismo
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Realismo social
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Crítica à corrupção
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Valorização da identidade nacional
Veja também: José Saramago – autor português vencedor do Nobel de Literatura
Obras de Pepetela
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As aventuras de Ngunga (1973) — romance
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Muana Puó (1978) — romance
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A corda (1978) — teatro
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A revolta da casa dos ídolos (1979) — teatro
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Mayombe (1980) — romance
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O cão e os caluandas (1985) — romance
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Yaka (1985) — romance
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Lueji, o nascimento de um império (1989) — romance
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A geração da utopia (1992) — romance
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O desejo de Kianda (1995) — romance
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Parábola do cágado velho (1996) — romance
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A gloriosa família (1997) — romance
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A montanha da água lilás (2000) — romance
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Jaime Bunda, agente secreto (2001) — romance
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Jaime Bunda e a morte do americano (2003) — romance
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Predadores (2005) — romance
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O terrorista de Berkeley, Califórnia (2007) — romance
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O quase fim do mundo (2008) — romance
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Contos de morte (2008) — contos
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O planalto e a estepe (2009) — romance
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Crônicas com fundo de guerra (2011) — crônicas
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A sul. O sombreiro (2011) — romance
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O tímido e as mulheres (2013) — romance
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Crônicas maldispostas (2015) — crônicas
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Se o passado não tivesse asas (2016) — romance
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Sua Excelência de corpo presente (2018) — romance
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Mayombe
Mayombe é o romance mais famoso de Pepetela e conta a história de Sem Medo, comandante de um grupo de guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Dessa maneira, o livro configura-se em uma ficção histórica, pois mescla elementos ficcionais com fatos históricos. O herói luta pela independência de Angola, colônia portuguesa, e seu grupo combate a extração de madeira da floresta do Mayombe, realizada por trabalhadores angolanos a serviço dos colonizadores:
“— Vocês ganham vinte escudos por dia, para abaterem as árvores a machado, marcharem, marcharem, carregarem pesos. [...]. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. [...]. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas, porque estão na terra angolana. [...]. O suor do trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. [...]. Isso é exploração colonialista. O que trabalha está a arranjar riqueza para o estrangeiro, que não trabalha. O patrão tem a força do lado dele, tem o exército, a polícia, a administração. É com essa força que ele vos obriga a trabalhar, para ele enriquecer.”
O grupo tenta conscientizar os angolanos sobre os males da dominação colonialista; porém, nem todos os trabalhadores veem o MPLA com bons olhos. Além disso, os guerrilheiros precisam lidar com as diferenças étnicas, que impedem a união do povo angolano, e a escassez de comida.
Contudo, paralelamente à luta armada, há uma história de amor entre os personagens Comissário e Ondina, que acaba se envolvendo também com André, formando, assim, um triângulo amoroso:
“André era kikongo e Ondina noiva dum kimbundo. Não é preciso ser feiticeiro para adivinhar o clima que reinará em Dolisie, pensou Sem Medo. O André enterrou-se definitivamente. Enquanto tinha amantes congolesas, as pessoas murmuravam, mas não ousavam agir. Agora era diferente. O dramático é que o inevitável sucedesse para André à custa do Comissário, isso era injusto. Vamos lá nós saber o que é justo ou injusto, quando há mulheres no meio!”
Sem Medo também se apaixona por Ondina. No entanto, no combate entre os guerrilheiros e os “tugas” (portugueses), ele é gravemente ferido:
“[...]. O pl
ano de Sem Medo era o de passar ao assalto do talude, à granada, para lançar a confusão no inimigo e salvar o Comissário.
Estava a dez metros do talude, quando a rajada da Breda o apanhou em pleno ventre, lá onde lhe nascia o formigueiro. Caiu de joelhos, apertando o ventre. Teoria abaixou-se para ele.
— Ao ataque! — gritou ainda Sem Medo, ajoelhado, apertando o ventre.”
Créditos das imagens
[1] Jmendez~commonswiki/ Commons
[2] Editora Leya (reprodução)
Warley Souza
Professor de Literatura