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Caio Fernando Abreu

Temática transgressora, linguagem peculiar e o gosto pelo não literário são marcas que permeiam a obra do escritor, jornalista e dramaturgo Caio Fernando Abreu.

Caio Fernando Abreu
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Caio Fernando Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago, Rio Grande do Sul, cidade próxima à fronteira com a Argentina. Sua relação com a Literatura aconteceu precocemente: aos seis anos de idade escreveu seus primeiros textos, dando início a uma vida dedicada às letras.

Caio viria a ser um dos escritores mais populares e queridos da Literatura brasileira: sua linguagem e temática transgressoras, além do interesse pelo não literário (sua produção literária passa longe dos cânones da Academia e foge às regras da chamada “Literatura convencional”), tornaram a obra do escritor atemporal.

Leia também: Millôr Fernandes – autor identificado com a comédia, ironia e crítica de costumes

Tópicos deste artigo

Juventude e vida adulta de Caio Fernando Abreu

Ainda no colegial, cursado em Porto Alegre, Caio teve um de seus contos, “O príncipe sapo”, publicado pela revista Cláudia. Nessa mesma época escreveu também seu primeiro romance, Limite Branco. Ingressou nas faculdades de Letras e Artes Dramáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, não tendo concluído nenhuma das graduações.

Em São Paulo, e posteriormente na cidade do Rio de Janeiro, Caio trabalhou como jornalista e redator para as revistas Veja, Manchete e Pais e Filhos. Retornou em 1971 para Porto Alegre, onde escreveu para publicações locais, com destaque para o jornal Zero Hora, com o qual manteve uma duradoura relação de trabalho ao longo de sua vida.

Durante o período dedicado ao jornalismo, a Literatura não foi abandonada: Caio priorizava o trabalho como escritor e, como relatou em uma carta ao amigo José Márcio Penido, pediria, pela vida afora, demissão de todos os empregos quando sentisse que a Literatura estivesse sendo ameaçada.

Em 1973, deu início a uma viagem pela Europa, passando por cidades como Estocolmo e Londres. De volta ao Brasil, em 1974, escreveu, paralelamente à Literatura, para grandes publicações, ofício desempenhado até o final de sua vida.

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Morte de Caio Fernando Abreu

Caio, nascido com o Sol em Virgem e Ascendente em Libra (a Astrologia era uma de suas grandes paixões), às 8h17 min de um domingo, faleceu em Porto Alegre, no dia 25 de fevereiro de 1996, aos 47 anos, vítima de complicações decorrentes do vírus HIV.

Características da obra de Caio Fernando Abreu

Capa do livro Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, da jornalista Paula Dip
Capa do livro Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, da jornalista Paula Dip.

Sobre os aspectos da obra de Caio, fala-nos Lara Souto Santana, dona do blog Letras Partilhadas, Mestre em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo e autora de dissertação sobre o escritor:

Falar sobre Caio Fernando Abreu é sinônimo de não encontrar fios soltos porque acerca de sua obra é possível dizer que se trata de uma teia com diversos fios que se cruzam e se entremeiam. Num primeiro momento, duas palavras podem nos ajudar a pensar sua vida e obra, afinal, elas se entrelaçam o tempo todo: a primeira seria intensidade e a segunda; hibridismo. Caio Fernando Abreu teve uma vida intensa: morou em diversas cidades no Brasil e na Europa, teve empregos convencionais e, ao mesmo tempo, excêntricos para um escritor, conheceu muita gente e, sobretudo, viveu para escrever. Escrever os mais diversos tipos de textos: contos, cartas, romances, poemas, peças teatrais, crônicas e crítica - teatral e literária. Seus textos são híbridos, porque ali encontram-se elementos da poesia na prosa, da prosa na poesia, do teatro no conto, das músicas que ouvia, dos filmes a que assistia, das experiências que vivia, para citar apenas alguns, porque a lista se estenderia por mais algumas linhas. A literatura do autor gaúcho traz ecos de diversas manifestações artísticas e os conflitos internos pelos quais todos passamos, motivo que a aproxima de tantos jovens ávidos por suas palavras.”

A narrativa psicológica e o hibridismo de linguagens denotam em sua obra suas principais influências literárias: Clarice Lispector (representante da Geração de 1945 e uma das maiores vozes femininas da Literatura brasileira), Hilda Hilst, Gabriel García Márquez e Julio Cortázar, autores de quem Caio era leitor voraz.

Foi justamente por romper com os padrões literários, empregando uma linguagem acessível e mais próxima ao coloquialismo, que o escritor angariou uma legião de fãs e leitores, que compartilham frases e trechos de sua obra à exaustão nas redes sociais. Isso contribuiu para a disseminação e popularização do gaúcho que encontrou na cultura pop (o escritor dizia ter encontrado mais influências para sua Literatura na música de Cazuza e Rita Lee do que na obra de Graciliano Ramos) uma de suas maiores inspirações.

Leia também: 5 poemas de Caio Fernando Abreu

Homenagem a Caio Fernando Abreu

Em 2014, ano em que se completaram dezoito anos de sua morte, foi organizada a exposição “Caio Fernando Abreu: Doces Memórias”, realizada em Porto Alegre nos dias 02 de julho a 13 de setembro, com curadoria de Márcia de Abreu Jacintho, irmã do escritor, pesquisa de Lara Souto Santana e fotografias de Luciane Pires Ferreira.

Fotografias da exposição “Caio Fernando Abreu: Doces Memórias”.
Fotografias da exposição “Caio Fernando Abreu: Doces Memórias”, realizada no Centro Cultural Érico Veríssimo. Imagens de Márcia de Abreu Jacintho.

Obras de Caio Fernando Abreu

  • Inventário do irremediável
  • Limite Branco
  • O ovo apunhalado
  • Pedras de Calcutá
  • Morangos mofados
  • Triângulo das Águas
  • Os dragões não conhecem o paraíso
  • Mel & Girassóis
  • A maldição do Vale Negro
  • As frangas
  • Onde andará Dulce Veiga?
  • Ovelhas Negras
  • Estranhos estrangeiros
  • Pequenas epifanias
  • A Vida Gritando nos Cantos
  • Teatro completo
  • Girassóis
  • Fragmentos: 8 histórias e um conto inédito
  • Cartas
  • Caio 3 D: O Essencial da Década de 70
  • Caio 3 D: O Essencial da Década de 80
  • Caio 3 D: O Essencial da Década de 90
  • Melhores contos
  • Além do ponto e outros contos
  • A comunidade do arco-íris
  • # Caio Fernando Abreu de A a Z.

Citação de Caio Fernando Abreu

Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso.”

(Caio Fernando Abreu – Fragmento do conto “Os sobreviventes”, do livro Morangos mofados).

 

*As imagens do artigo foram gentilmente cedidas por Márcia de Abreu Jacintho, irmã do escritor

 

Por Luana Castro
Professora de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Caio Fernando Abreu"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/caio-fernando-abreu.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

UFRGS - 2013

Leia o trecho abaixo, retirado do conto Os sobreviventes, do livro Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu.

[…] que aconteça alguma coisa bem bonita para você, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em todos de novo, que leve para longe da minha boca esse gosto podre de fracasso, que derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando.

(ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Círculo do Livro, sd. p. 20.)

Considere as seguintes afirmações sobre o trecho.

I. O fragmento aponta características marcantes da prosa de Caio Fernando Abreu: perspectiva intimista, tom confessional e coloquial.

II. O trecho refere-se ao conflito de gerações e propõe como solução a viagem e o exílio.

III. Os sobreviventes do título são aqueles que saem de um casamento fracassado, mas que não cansam de lutar pela retomada da relação.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

Exercício 2

UEL - 2010

Observe as imagens, leia o texto a seguir e responda à questão:

Nova Iorque celebrando a rendição do Japão ao final da 2ª Guerra Mundial. 14 de agosto de 1945
Nova Iorque celebrando a rendição do Japão ao final da 2ª Guerra Mundial. 14 de agosto de 1945

Parada do Orgulho Gay. Imagem disponível em http://edition.cnn.com/2007/TRAVEL/07/01/daily.snapshot/index.html
Parada do Orgulho Gay. Imagem disponível em http://edition.cnn.com/2007/TRAVEL/07/01/daily.snapshot/index.html

[...]Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora, acompanhando o movimento dele. Assim: quadris, coxas, pés, onda que desce olhar para baixo, voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar sorrindo. [...] Apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também. [...]

(Adaptado de: ABREU, C. F. Terça-feira gorda. In: . Morangos mofados. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 51.)

Consideradas as fotos e o trecho do conto de Caio Fernando Abreu, é correto afirmar:

a) Em cerca de 60 anos, a sociedade perdeu seus valores morais, mas a opressão do homem sobre a mulher mantém-se.

b) A homossexualidade passou recentemente a ter espaço na mídia, condenando comportamentos e incentivando preconceitos.

c) A arte permite a reflexão a respeito das contradições dos valores sociais e das transformações de padrões morais.

d) O amor, hetero ou homossexual, perdeu seu espaço para as perversões sexuais exibidas pela mídia e retratadas na literatura.

e) As interdições sociais são permitidas nas festividades, principalmente no carnaval e sem comemorações cívicas.

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