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Hamas

O Hamas é uma organização nacionalista e islamista que se coloca como grupo de resistência palestino contra Israel. Alguns entendem o Hamas como uma organização terrorista.

Soldados do Hamas.
O Hamas é uma organização islamista que luta contra Israel. [1]
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O Hamas é uma organização nacionalista e islamista que surgiu na Palestina, na década de 1980, e tem como foco a luta contra Israel. Essa organização possui um braço armado, mas também atua politicamente, possuindo grande parte das cadeiras do Legislativo palestino desde 2006, além de realizar trabalhos sociais. Israel, Estados Unidos e a União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.

Leia também: Nações sem Estado — nações que não possuem um território autônomo

Tópicos deste artigo

O que é o Hamas?

O Hamas é entendido como uma organização nacionalista palestina e islamista que está sediada na Faixa de Gaza desde a década de 1980, quando surgiu. O termo Hamas é oriundo de Ḥarakat al-Muqāwamat al-Islāmiyyah, que significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Trata-se de uma das organizações mais ativas na questão que envolve a Palestina.

O Hamas surgiu como uma organização de orientação sunita e atualmente possui diferentes formas de atuação na Faixa de Gaza. Assim, apresenta um serviço social, que procura dar apoio a palestinos em necessidade, e um braço político, que governa a Faixa de Gaza. Também possui um braço armado, o qual realiza ações militares contra Israel.

Algumas nações, como Israel, Estados Unidos, além da União Europeia, consideram o Hamas uma organização terrorista, mas outras nações, como Rússia e Egito, não entendem o Hamas como tal. Além disso, analistas internacionais denunciam a forma autoritária pela qual o Hamas governa a Faixa de Gaza, apontando a perseguição que os opositores políticos desse grupo sofrem.

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Surgimento do Hamas

O surgimento do Hamas remonta à criação da Irmandade Muçulmana, no Egito, em 1928. A Irmandade Muçulmana surgiu da preocupação de Hassan al-Banna com a crescente secularização das sociedades islâmicas. Ele acredita que as sociedades islâmicas deveriam passar por reformas profundas para reforçar a importância dos valores islâmicos.

Assim, al-Banna desejava aplicar os valores do islamismo ao mundo moderno, iniciando uma reforma, primeiro no Egito, mas que depois se espalhasse pelos outros países muçulmanos. Um dos objetivos da Irmandade Muçulmana era garantir que os países muçulmanos fossem governados com base na sharia, a lei islâmica, que estabelece uma série de normas para a vida dos fiéis.

No final da década de 1930, a Irmandade Muçulmana já era uma força política no Egito e, na década de 1940, chegou oficialmente à Palestina, introduzida por Hassan Youssef com o mesmo objetivo da Irmandade Muçulmana no Egito: promover a islamização da sociedade. Na Palestina, assim como no Egito, a Irmandade Muçulmana passou a realizar uma série de trabalhos sociais, investindo na construção de escolas e hospitais, por exemplo.

A partir de 1967, quando Israel ocupou toda a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, uma série de ideais mais radicais começou a ganhar força no interior da Irmandade Muçulmana como forma de resistência. Assim, começou a ganhar espaço a ideia de que a construção de uma sociedade mais islamizada passaria pela jihad, a guerra santa.

A década de 1960 também presenciou o fortalecimento dos movimentos de resistência na Palestina contra a ocupação de seu território por Israel. Em 1964, por exemplo, surgiu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob a liderança de Mahmoud Abbas. Esse grupo era secular, portanto sem influências islamistas, e possuía orientação socialista, atuando por meio de táticas de guerrilha contra Israel.

Na década de 1980, a resistência palestina era liderada pela OLP. Havia um desejo do governo israelense de dividir a resistência palestina, financiando um movimento que pudesse se contrapor à OLP. Esse movimento foi a Irmandade Muçulmana, uma vez que os israelenses esperavam que ela se mantivesse mais ligada às causas sociais e religiosas.

Entretanto, na década de 1980, uma mudança ideológica aconteceu entre os membros da Irmandade Muçulmana na Palestina, levando-os a decidir pelo seu envolvimento com a política. Os acontecimentos no final de 1987, conhecidos como Primeira Intifada, foram decisivos para que o Hamas surgisse enquanto organização desvinculada da Irmandade Muçulmana.

Em 14 de dezembro de 1987, foi emitido um comunicado, conhecido como Estatuto do Hamas. A posição dos membros do Hamas, perante a existência de Israel e os crescentes assentamentos israelenses em territórios palestinos, tornou-se mais intransigente. O estatuto mencionava que|1|:

O Movimento de Resistência Islâmica sustenta que a Palestina é um território de Wakf, (legado hereditário) para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição. Ninguém pode negligenciar essa terra, nem mesmo uma parte dela, nem abandoná-la, ou parte dela. Nenhum Estado Árabe, ou mesmo todos os Estados Árabes (juntos) têm o direito de fazê-lo; nenhum Rei ou Presidente tem esse direito, nem tampouco todos os Reis ou Presidentes juntos, nenhuma organização, ou todas as organizações juntas – sejam elas palestinas ou árabes – têm o direito de fazê-lo, porque a Palestina é território Wakf, dado para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição.

Quanto a Israel, a postura do Hamas se tornou a seguinte|1|:

Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.

O surgimento do Hamas fez com que ele passasse a rivalizar com outras organizações que lutavam pela causa palestina, como o Fatah, um dos grupos que existem no interior da OLP. Um dos principais nomes do Hamas nesse período foi Sheik Ahmed Yassin, que defendia que o Hamas tinha como propósito garantir a libertação da Palestina e formar um Estado islâmico na região.

Assim, o Hamas se colocou como a principal organização que atuava por meio das armas na luta contra a ocupação da Palestina. A atuação militar do Hamas contra Israel se deu a partir da Primeira Intifada, os protestos populares de palestinos contra Israel em 1987. A ala militar do Hamas é conhecida como Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.

Leia também: Guerras árabe-israelenses — conflitos entre Israel e nações árabes ao longo do século XX

Hamas na atualidade

Atualmente, o Hamas é o principal grupo político a atuar na Autoridade Nacional Palestina, a entidade responsável por administrar os territórios que são povoados por palestinos, a Faixa de Gaza e parte da Cisjordânia. Desde 2006, o Conselho Legislativo da Palestina é ocupado, em sua maioria, por políticos do Hamas.

Isso se deu por meio de uma eleição, e a própria população palestina votou, em sua maioria, para o Hamas. Essa eleição foi realizada em 2006 e nela a organização recebeu quase 45% dos votos, permitindo que ela conquistasse 74 das 132 cadeiras disponíveis. Em 2021, estava previsto que uma nova eleição legislativa acontecesse, mas ela foi adiada pelo presidente palestino Mahmoud Abbas.

Embora o Hamas seja visto por muitos países ocidentais como uma organização terrorista, uma parte considerável da população palestina os apoia, sobretudo pela atuação deles na luta contra Israel. Segundo o jornalista Mohammed Omer, isso acontece por conta das péssimas condições de vida em que a população palestina é obrigada a viver e pelos frequentes ataques israelenses na região, causando a morte de muitos inocentes|2|.

Destruição na faixa de Gaza em referência ao Hamas.
Atualmente, o Hamas é a principal força presente na Faixa de Gaza.[1]

Analistas internacionais também registram que o arsenal de armamentos do Hamas é consideravelmente poderoso, incluindo diferentes tipos de mísseis que têm capacidade de alcance de até 160 km, o que ameaça todo o território de Israel. Acredita-se que o arsenal do Hamas tenha cerca de cinco mil mísseis. Além disso, estima-se que o grupo tenha cerca de 40 mil soldados|3|.

Confira o nosso podcast: O que é o Hamas?

Questão Palestina

A disputa travada entre Israel e Hamas é mais um capítulo da Questão Palestina, que se iniciou no começo do século XX e que se mantém até hoje. Essa questão se iniciou no começo do século quando o movimento sionista passou a defender o retorno dos judeus para a Palestina e o direito da comunidade judia de possuir o seu Estado.

O crescimento da população judia na Palestina gerou atritos entre as comunidades árabes, habitantes da região havia séculos. A questão permaneceu sem resolução entre as décadas de 1920 e 1940, até que foi entregue à Organização das Nações Unidas, a ONU, que decidiu, no final da década de 1940, realizar a divisão da Palestina entre judeus e palestinos.

A divisão da Palestina não foi aceita pelos árabes porque — alegou-se na época — os palestinos tinham ficado com as terras menos férteis e com menos mananciais de água|4|. A oficialização do Estado de Israel deu início a um conflito: a Primeira Guerra Árabe-Israelense. Esse conflito e outros conflitos travados (Guerra dos Seis Dias e Guerra do Yom Kippur) foram consideradas desastrosos para os palestinos, que perderam uma série de territórios.

Até hoje, o Estado da Palestina não existe oficialmente, e analistas internacionais denunciam a forma como o Estado de Israel trata os palestinos. Muitos defendem a ideia de que Israel impõe uma política discriminatória parecida com o Apartheid, o regime segregacionista que existiu na África do Sul, na segunda metade do século XX.

Mohammed Omer, por exemplo, denuncia uma série de ações contra as populações palestinas na Faixa de Gaza. Ele fala de execuções sumárias de cidadãos inocentes, de saques promovidos em propriedades palestinas por tropas de Israel, dos bombardeios que resultam na morte de civis, da falta de energia elétrica e de água potável, etc.|2|

Por outro lado, muitos, incluindo o Estado de Israel, criticam o Hamas pelos bombardeios promovidos contra cidades israelenses e acusam o Hamas de promover ações terroristas. Além disso, como mencionado, muitos questionam a forma como o Hamas trata seus opositores e denunciam que até práticas de torturas são realizadas pela organização. Para saber mais sobre o assunto, leia: Questão Palestina.

Notas

|1| Estatuto do Hamas. Para acessar, clique aqui.

|2| OMER, Mohammed. Shell-Shocked: on the ground under Israel’s Gaza Assault. Chicago: Haymart Books, 2015.

|3| What do Hamas and PIJ have in their rocket arsenals? Para acessar, clique aqui [em inglês].

|4| COLLARES, Valdeli Coelho. Ascensão do Hamas na Palestina: pobreza e assistência social (1987-2006). Para acessar, clique aqui.

Crédito das imagens

[1] Abed Rahim Khatib e Shutterstock

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Hamas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/hamas.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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