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A Primeira Guerra Árabe-israelense foi um conflito que aconteceu entre 1948 e 1949 como retaliação das nações árabes pela criação do Estado de Israel, que foi oficialmente fundado em 14 de maio de 1948. Essa foi a primeira de quatro guerras travadas entre árabes e israelenses ao longo do século XX.
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Antecedentes
A guerra de 1948 e 1949 foi resultado de um longo processo que se iniciou no final do século XIX e que, em teoria, concretizou-se em 1948. A instalação do Estado de Israel na Palestina foi o resultado do fortalecimento do projeto político sionista. O sionismo surgiu no final do século XIX e foi criado oficialmente por um jornalista húngaro que se chamava Theodor Herzl.
O sionismo basicamente defendia a ideia de criação de um Estado nacional para os judeus em resposta ao antissemitismo que crescia consideravelmente no continente europeu. Após o I Congresso Sionista, realizado na Suíça, decidiu-se que esse Estado judeu seria criado na Palestina, o local onde os judeus haviam habitado na Antiguidade.
A partir desse momento, os judeus sionistas realizaram todo um esforço para fortalecer a causa sionista nos meios políticos e diplomáticos, internacionalmente falando. A primeira grande conquista diplomática dos sionistas ocorreu em 1917 durante a Primeira Guerra Mundial. Nesse ano, foi emitida pelo governo britânico a Declaração Balfour, na qual os britânicos apoiavam o projeto sionista.
O grande entrave para os sionistas era o fato de que a Palestina já estava habitada: os árabes palestinos moravam lá. Assim, à medida que o projeto sionista e a quantidade de judeus na Palestina aumentavam, o desgaste com os árabes também crescia na mesma proporção. Essa situação só se agravou quando a Palestina passou para o controle britânico.
Por causa da influência de um grupo do corpo diplomático britânico, a Liga das Nações também passou a apoiar a Declaração de Balfour. À medida que os britânicos estendiam sua colonização sobre a Palestina, o número de judeus lá instalados também aumentava. O resultado disso foi o fortalecimento do movimento nacionalista árabe, destacando-se a liderança de Hajj Amin al-Husseini, que rejeitava manter negociações com os judeus, assim como os judeus não aceitavam negociar com os árabes.
O crescimento da tensão na Palestina levou os britânicos a propor a divisão da Palestina entre judeus e árabes, mas a proposta foi rejeitada por ambos. A continuidade da tensão levou os judeus a formar milícias armadas para garantir sua defesa e para lutar contra os árabes, caso fosse necessário. Disso nasceu a Haganá, que no futuro transformou-se nas Forças de Defesa de Israel (FDI).
Além da Haganá, surgiram também milícias de extrema-direita como o Irgun e o Stern. Essas milícias lutavam principalmente contra o mandato britânico na Palestina, mas também concentravam sua ação contra vilas de palestinos. Elas ficaram conhecidas por realizarem ataques terroristas.
Com o início da Segunda Guerra Mundial e a intensificação da perseguição aos judeus na Europa, a migração da população judaica para a Palestina aumentou consideravelmente. Depois que a Segunda Guerra Mundial avabou e os horrores do Holocausto foram divulgados internacionalmente, as condições políticas para a criação de um Estado nacional judeu estavam estabelecidas.
Veja também: Solução Final e o plano nazista para exterminar os judeus da Europa
Como os sionistas não aceitavam mais a continuidade do mandato britânico na Palestina e a violência pela disputa da terra entre judeus e árabes aumentou, a situação da Palestina foi levada à ONU pelos britânicos em 1947. A decisão tomada pela ONU foi determinante para que uma guerra estourasse na região a partir de 1948.
Criação do Estado de Israel
A criação do Estado de Israel foi debatida pela Organização das Nações Unidas em Assembleia Geral realizada em novembro de 1947. Essa assembleia votou a Resolução 181, que decidiu pela aprovação acerca da criação de um Estado judeu na Palestina. Da votação participaram os representantes de 56 nações. 33 votaram a favor, 13 votaram contra e 10 abstiveram-se.
Com essa decisão, houve a partilha do território total da Palestina entre judeus e árabes. Assim, 53,5% foram atribuídos aos judeus e 45,4% seriam atribuídos aos palestinos. Jerusalém, em teoria, ficaria sob controle internacional. Essa decisão, naturalmente, foi aceita pela Organização Sionista Mundial e rejeitada pelos árabes.
Sobre a questão da Palestina, os judeus chegaram a negociar com o monarca da Transjordânia (atual Jordânia) a divisão do território palestino com as duas nações, mas esse acordo não prosperou porque a relação de Israel com o bloco árabe azedou de vez a partir de 1947-48. O Estado de Israel foi proclamado no dia 14 de maio de 1948, e isso foi o estopim para o início da guerra.
Primeira Guerra Árabe-israelense
A guerra iniciou-se como resposta de uma junção de diferentes nações árabes contra a criação do Estado de Israel. As forças árabes contavam com contingentes militares do Egito, Síria, Líbano, Transjordânia, Iraque, além, é claro, de forças árabes palestinas. Esse conflito estendeu-se até o começo de 1949.
As tropas árabes eram compostas por cerca de 40 mil homens com pouco treinamento militar. Já as tropas israelenses foram formadas a partir da junção das forças da Haganá e de outros grupos, como o Irgun e o Stern. As forças israelenses contavam com aproximadamente 30 mil homens, mas possuíam amplo treinamento militar1.
Os árabes atacaram inicialmente Tel Aviv, capital de Israel. Esse ataque foi realizado a partir da força aérea egípcia e logo novos ataques aéreos aconteceram em novas regiões dominadas por Israel. Os ataques por terra pelas forças árabes aconteceram em diferentes locais.
Essa primeira parte do conflito estendeu-se até o dia 11 de junho de 1948, quando, pela influência da ONU, foi assinado um cessar-fogo, que foi rompido em 9 de julho. Nesse segundo momento da guerra, as forças israelenses conseguiram impor sua força sobre os exércitos árabes e conquistaram uma série de novas posições.
Os esforços do Conselho de Segurança da ONU levaram à assinatura de um armísticio em 7 de janeiro de 1949 que colocou fim à guerra. Ao final desse conflito, Israel saiu como grande vitorioso, pois conseguiu conquistar novas terras. Ao todo, Israel conseguiu aumentar seu território em cerca de 1/3. Toda essa conquista veio com um baixo número de israelenses mortos: 5 mil aproximadamente2.
Para os palestinos, o conflito foi um verdadeiro desastre. Na guerra, os palestinos perderam grande parte do território atribuído a eles pela ONU. Além disso, essa guerra gerou um episódio que é conhecido pelos palestinos como “nakba” (tragédia, em português). O nakba consiste na expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas terras.
A expulsão desses palestinos ocorreu a partir da ação das forças israelenses, que atacavam e destruíam vilas árabes. Estima-se que essa ação deliberada tenha causado a destruição de cerca de 530 vilas palestinas durante os meses da guerra3. Essa população de palestinos refugiados espalhou-se por diferentes partes do mundo. Atualmente, com os descendentes daquela geração de 1948, estima-se que sete milhões de palestinos estão refugiados de sua terra4. Israel até hoje não aceita o retorno dessas pessoas para a Palestina.
O fim da guerra não colocou fim na tensão existente entre árabes e israelenses. Ao longo do século XX, novos conflitos aconteceram em 1956, 1967 e 1973.
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Notas
1CAMARGO, Cláudio, Guerras Árabe-israelenses. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, p. 432-33.
2Idem, p. 434.
3Esta informação foi retirada do vídeo “Sobre a Palestina: Poder militar e limpeza étnica”, da autoria de Sabrina Fernandes. Para acessar o vídeo, clique aqui.
4Idem a nota 3.
Por Daniel Neves Silva
Graduado em História