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Caudilhismo

O caudilhismo é um modelo de governo exercido por líderes autoritários com grande influência sobre suas terras. Foi comum na América Latina a partir do século XIX.

Conceito de caudilhismo e três pinturas que retratam líderes caudilhistas.
Na imagem, os líderes caudilhos Manuel Oribe, Juan Manuel de Rosas e Porfírio Díaz.
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Caudilhismo é um modelo de governo exercido por líderes autoritários e personalistas que ascenderam após a obtenção da independência de países colonizados ou de profundas crises políticas.

Esses líderes, chamados de caudilhos, eram grandes latifundiários ou empresários que utilizavam da coerção e manipulação para alcançarem seus objetivos próprios ou defenderem os interesses de seus aliados.

Na América Latina, o caudilhismo foi mais comum a partir do século XIX, principalmente devido à ausência de estruturas políticas definidas após suas conquistas de independência sobre países europeus.

Leia também: O que é mandonismo?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre caudilhismo

  • O caudilhismo é um modelo de governo baseado no uso de violência, carisma e manipulação.
  • Surgiu na América Latina do século XIX após as conquistas de independência dos países colonizados sobre os europeus, principalmente devido à instabilidade sociopolítica das novas repúblicas e à influência de oficiais de alta patente, latifundiários e empresários.
  • No Brasil, os caudilhos eram representados pelos coronéis, que se emanciparam politicamente a partir da declaração da República, em 1889.
  • O principal objetivo dos caudilhos era assegurar os interesses das elites por meio do clientelismo, persuasão e coerção.
  • O primeiro caudilho da América Latina foi, possivelmente, o argentino Juan Manuel de Rosas.
  • O modelo caudilhista impediu a modernização de diversos setores cívicos, econômicos e políticos dos países em que esteve presente.
  • Apesar de se tornar mais evidente na América Latina, o caudilhismo também ascendeu em outros lugares do mundo.
  • O uso do conceito de “caudilhismo” é problemático: ele foi elaborado ainda durante o período da ascensão dos líderes militares pós-independência e tende a reduzir a complexa história da América Latina, causando generalizações e anacronismos.

O que é o caudilhismo?

O caudilhismo é um modelo de governo que se tornou comum na América Latina após a independência de seus países sobre suas nações colonizadoras. O motivo desse modelo é proveniente da falta de estabilidade política, oriunda da fragilidade social e econômica de cada país recém-independente ou, ainda, que tenha sofrido uma mudança radical em sua estrutura de governo.

O líder caudilhista tende a cumprir o seu mandato de maneira autoritária, e muitas vezes permanece no poder por meio de apoio popular. Baseia-se no uso de violência, carisma e manipulação. Apesar de haver exemplos de caudilhismo por todo o mundo, o seu principal palco foi a América Latina, especialmente entre os séculos XIX e XX.

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Contexto histórico do caudilhismo

Durante os séculos XVIII e XIX, a América Latina passou por profundas mudanças. Os movimentos de independência de seus países, incentivados pelo Iluminismo e a Revolução Francesa, iniciada em 1789, foram marcados por lideranças que lutaram contra a opressão das potências europeias colonizadoras da América, entre as quais Espanha, Portugal e França.

O primeiro país a conquistar a independência foi o Haiti, em 1804, enquanto o último, o Panamá, só a alcançou em 1903. Em países não latinos, as independências foram ainda mais tardias, e muitos só as obtiveram na segunda metade do século XX (a grande maioria sobre a Inglaterra).

A instabilidade política e social dos períodos pós-independência dos países latino-americanos se mostrou inevitável: os séculos de extração irrestrita de seus recursos bem como a escravização de milhões de pessoas tornaram cada uma dessas nações urgentes por prosperidade.

Não é coincidência que, em diversos lugares da América Latina, surgiram figuras que procurariam preencher as regiões politicamente menos estáveis por meio de coerção e autoritarismo. Em cada país latino-americano desse contexto, houve um ou mais líderes caudilhistas que ascenderam pelo abuso de autoridade.

Veja também: Colonização espanhola — processo de conquista e dominação do território americano

Características do caudilhismo

O caudilhismo tem aspectos fundamentais que o atribuem a um método único de governo. Apesar de haver características únicas associadas ao caudilhismo em cada contexto ou país, ainda assim, ele tem elementos que podem ser percebidos de maneira homogênea. Um desses elementos é a influência que o líder caudilhista detém em relação a funcionários da administração e aos magistrados das províncias de sua autoridade.

Outra característica é o controle sobre milícias ou outros grupos armados, o que significa que os caudilhos tinham também a postura de chefes militares. No Brasil isso se deu por meio de práticas como o coronelismo e o clientelismo (conceitos que veremos adiante), apesar de elas não serem exclusividades do caudilhismo.

Fotografia de Pancho Villa e os membros de sua tropa armados.
No centro da fotografia, o líder caudilho mexicano Pancho Villa (de bigode) cercado por membros de sua tropa.

Ao contrário do que muito se pensou outrora, o caudilhismo não foi um fenômeno exclusivo das zonas rurais, mas também das urbanas. Em alguns casos, a influência dos caudilhos ultrapassava o âmbito local e nacional, chegando até mesmo a outros países. Por muito também se associou o modelo à violência gratuita, quando na verdade o discurso político era uma das ferramentas mais importantes dos caudilhos.

Objetivos do caudilhismo

Os objetivos do caudilhismo podem ser resumidos em um único aspecto: influência política. É necessário apontar, por sua vez, os mecanismos de controle que permitiram que essa influência fosse exercida de maneira segura por parte dos líderes caudilhistas.

O primeiro ponto alcançado por esse modelo político foi o asseguramento dos interesses das elites locais, a exemplo dos grandes latifundiários e empresários. Para tanto, o líder caudilhista tendia a manipular as classes mais baixas, muitas vezes por meio de um teor populista, que na política significa a disseminação de uma imagem de líder popular, que finge também fazer parte “do povo”.

Não menos comum era também o uso do clientelismo, ou seja, a prática de trocar apoio popular por favores em específico, fossem econômicos, fossem políticos. Por isso, no Brasil, caudilhismo, clientelismo e coronelismo eram muitos próximos, já que este último conceito dizia respeito ao controle dos ricos coronéis sobre a população que vivia dentro e nos arredores de suas terras.

Dessa forma, outro objetivo importante entre os caudilhos consistiu na emancipação militar, que pôde ser obtida por eles por diversos meios, desde a conexão com instituições militares até a influência sobre grupos rebeldes simpatizantes com suas causas.

Conflitos do caudilhismo

Os conflitos do caudilhismo ocorreram por meio de guerras civis, tanto entre um Estado e o grupo caudilhista quanto entre facções caudilhistas rivais. No entanto, determinados conflitos se destacaram pelo seu grau de violência.

Pintura de Carlos Descalzo da Batalha de Arroyo Grande, conflito travado no contexto do caudilhismo.
Pintura de Carlos Descalzo da Batalha de Arroyo Grande, travada entre colorados e blancos.

→ Conflitos do caudilhismo no Uruguai

Entre eles, podemos citar o conturbado Uruguai de quase todo o século XIX, fomentado por conflitos travados entre os conservadores blancos e os liberais colorados, principalmente no evento que ficou conhecido como Guerra Grande (1839-1851). Após a independência sobre o Brasil, em 1825, o Uruguai (antes conhecido como província da Cisplatina) encontrou-se política e socialmente fragilizado, algo que permitiu a ascensão política do blanco Manuel Oribe, que se tornaria presidente do Uruguai.

Essa inconstância de estrutura se reforçou ainda mais poucas décadas além, com o advento da Guerra do Paraguai (1864-1870), que facilitou o uso do país como palco de usufruto dos caudilhos, representados por ricos latifundiários que lutaram uns contra os outros por meio da prática do clientelismo e do recrutamento de seus próprios trabalhadores.

→ Conflitos do caudilhismo na Argentina

Igualmente problemático foi o contexto provocado pelo autoritário Juan Manuel de Rosas, governador da província de Buenos Aires, na Argentina, entre 1829 e 1832 e, mais tarde, entre 1835 e 1852. No ano de 1816, os argentinos haviam acabado de conquistar sua independência sobre a Espanha.

Entretanto, Rosas foi responsável por conduzir o seu país a diversos conflitos internos e externos, entre os quais a Guerra da Confederação, em que reuniu tropas de sua província para combater os unitários a favor da centralização do poder. Nesse contexto, a Argentina ainda não era um Estado unificado, algo que só ocorreria em 1862.

→ Outros conflitos na América Latina

Os caudilhos também estiveram presentes em diversos países da América Latina, em conflitos de grandes ou pequenas proporções, que perduraram desde os processos de independência desses países até o século XX. Entre eles, podemos citar o México, o Peru, o Paraguai, a Venezuela e a Colômbia, estes dois últimos resultantes da dissolução do Vice-Reino de Nova Granada.

Muitos desses caudilhos, inclusive, foram veteranos de guerra do alto escalão durante os conflitos contra as potências colonizadoras, algo que lhes angariou influência militar e política em seus respectivos Estados pós-independência.

→ Caudilhismo em outros continentes

Moeda espanhola de 1949 que faz referência ao líder caudilhista Francisco Franco.
Moeda espanhola de 5 pesetas (1949) em que se vê a seguinte inscrição: “Francisco Franco, Caudilho da Espanha”.[1]

É importante lembrar que o caudilhismo não é um conceito exclusivo de modelo político latino-americano. Ele também se fez presente em contextos temporal e geograficamente distantes dos ocorridos em nosso continente, a exemplo do ditador fascista Francisco Franco na Espanha do século XX. Ele se autointitulou, aliás, Caudillo de España (Caudilho da Espanha).

Caudilhismo na América Latina

Na América Latina, o caudilhismo ascendeu em diversos pontos no decorrer do século XIX. O motivo não era aleatório ou coincidente: esse modelo de governo provém de momentos de fragilidade política, social e econômica comuns a países que foram, por muito tempo, explorados por potências conquistadoras. A partir do momento em que esses países adquiriram suas independências, automaticamente, as figuras financeiramente mais poderosas estabeleceram controle sobre diversas áreas de influência e sobre as camadas populares.

Geralmente, essas figuras ascenderam por meio do prestígio adquirido nas campanhas pela independência de seus países. Oficiais da alta hierarquia militar, como coronéis e generais, se apropriaram de latifúndios e zonas urbanas, adquirindo ainda mais influência por meio da política e, consequentemente, do clientelismo.

No entanto, cada caudilho tinha interesses próprios. Em nações não unificadas, a disputa por poder sobre as províncias resultou em sangrentos conflitos, como os ocorridos na Argentina e no Uruguai. Os caudilhos, em tempos de violência, eram convertidos em comandantes de milícias recrutadas nas áreas de suas respectivas influências. Muitos deles eram heroicizados pelas populações que controlavam, como no caso de Juan Manuel de Rosas, na Argentina, e de Antonio Guzmán Blanco, na Venezuela.

Estátua de Guzmán Blanco, líder caudilhista tido como herói na Venezuela.
Estátua de Guzmán Blanco, líder caudilhista tido como herói na Venezuela.

Apesar de ideais sobre a liberdade já terem se disseminado em grande parte do mundo, principalmente originados do Iluminismo, as parcelas analfabetas e não intelectuais das populações ainda tinham uma compreensão feudalista de dever e trabalho (semelhante à prática da corveia), como no caso das diversas nações latino-americanas recém-independentes e substancialmente agrárias.

Líderes caudilhos

Na história da América Latina e do mundo, houve diversos líderes caudilhos que emergiram conforme as possibilidades do contexto em que se inseriam, muitos deles, inclusive, são objetos de discussão sobre se, de fato, enquadravam-se ou não nas características dos caudilhos, devido à amplitude do conceito.

Vários dos nomes encontrados, aliás, podem ser considerados líderes com características caudilhescas, mas sem exercerem, precisamente, um modelo caudilhista de governo. Entre os mais importantes (e alguns potenciais) caudilhos da história, destacam-se:

  • Juan Manuel de Rosas (1793-1877) – Argentina
  • Facundo Quiroga (1788-1835) – Argentina
  • Antonio Guzmán Blanco (1829-1899) – Venezuela
  • Porfírio Díaz (1830-1915) – México
  • Pancho Villa (1878-1923) – México
  • Juan Antonio Lavalleja (1784-1853) – Uruguai
  • Manuel Oribe (1792-1857) – Uruguai
  • Francisco Solano López (1827-1870) – Paraguai
  • Getúlio Vargas (1882-1954) – Brasil
  • Francisco Franco (1892-1975) – Espanha
  • Fulgêncio Batista (1901-1973) – Cuba
  • Jean-Claude Duvalier (1951-2014) – Haiti

Consequências do caudilhismo

As consequências do caudilhismo, em âmbito geral, foram negativas. O controle centralizado nas mãos de grandes donos de terra, tanto nos setores rurais quanto nos urbanos, significava uma massiva manipulação política que ocasionava, muitas vezes, em regimes autoritários. Os mais marcantes desses regimes foi possivelmente o estipulado por Rosas e Quiroga, na Argentina.

Indissociável a esse abuso do poder encontravam-se as desigualdades sociais, já que os principais interesses dos líderes caudilhistas se voltavam na constante manutenção das elites agrícolas e urbanas.

→ Consequências do caudilhismo no Brasil

No Brasil, desde a consolidação da República Oligárquica, entre o final do século XIX e os primeiros 30 anos do século XX, os coronéis, muitos dos quais haviam servido na Guarda Nacional e participado da Guerra do Paraguai, aproveitaram-se da instabilidade política brasileira oriunda dos primeiros momentos de uma República pós-regime monarquista.

Nesse sentido, não apenas o clientelismo se fez presente em várias regiões do país como também o voto de cabresto, nome dado à prática dos coronéis em “guiar”, obrigatoriamente, os votos das populações que controlavam (na época, o voto ainda não era secreto).

Nesse contexto, o caudilhismo significou também um atraso na modernização econômica do país, refletida principalmente no mercado do café desde meados do século XIX. Os coronéis controlavam a economia do café e representavam o caudilhismo em favor dos interesses das oligarquias.

  • Getúlio Vargas e o caudilhismo

Muitos apontam que, apesar de romper com a República das oligarquias no Brasil, Getúlio Vargas havia ascendido politicamente em um contexto marcado pelo caudilhismo, modelo que era ainda muito comum no âmbito político gaúcho do início daquele século. Apesar das controvérsias relacionadas ao perfil de Vargas em relação ao caudilhismo, a influência causada por sua figura sobre os militares e as camadas populares na Revolução de 1930 são características que o aproximam do modelo em questão.

Getúlio Vargas, citado como um líder caudilhista, cercado por seus apoiadores em 1930.
Getúlio Vargas ascendeu politicamente em um contexto marcado pelo caudilhismo.

Direta ou indiretamente, o caudilhismo no Brasil haveria de tornar Vargas o presidente que trouxe as mudanças mais profundas da história da República do país, principalmente ao romper com a política de café com leite, exercida pelos oligarcas mineiros e paulistas. Entretanto, o seu exercício na política acabou acarretando uma ditadura militar, marcada pelo regime do Estado Novo, entre 1937 e 1945.

Conceito de caudilhismo na atualidade

Apesar de ser possível identificar consequências políticas, econômicas e sociais do caudilhismo, é de grande relevância apontar que esse conceito tem sido cada vez menos utilizado para compreender os fenômenos resultantes dos contextos pós-independência ou de grandes mudanças nos tipos de governo.

O ápice da utilização do conceito, proveniente da obra lançada em 1845 pelo intelectual argentino Domingo Faustino Sarmiento, Facundo: civilização e barbárie, compreendia o caudilhismo como um significado repleto de antônimos. O próprio título sugere essa oposição, de forma que o caudilho era o bárbaro perante o civilizado. Igualmente problemática, para os dias de hoje, é a pressuposição de que os caudilhos estiveram presentes apenas nos ambientes rurais, em oposição aos cenários urbanos.

É possível que, até o século XX, esses conceitos opostos tenham sido úteis para ilustrar as nuances políticas do caudilhismo. Afinal, a data da escrita de Sarmiento remete aos tempos do positivismo, algo que não se adapta bem à atual realidade, cujas pesquisas redescobrem as pluralidades de causas e efeitos que, outrora, reduziram os fenômenos sociopolíticos conduzidos, principalmente, pela América Latina.

Origem e história do caudilhismo

Na América Latina colonial, o caudilho era inicialmente designado a líderes de milícias locais convocadas para apoiar os exércitos dos espanhóis colonizadores, geralmente proprietários de terras que detinham influência sobre a população. Os recrutados populares eram agraciados com abonos de impostos e trabalhos.

Enquanto movimento político, o caudilhismo foi primeiramente identificado por veteranos e testemunhas da Guerra da Confederação, contra Juan Manuel de Rosas na Argentina, a exemplo de intelectuais como Domingo Faustino Sarmiento e Juan Bautista Alberdi.

Provavelmente, o termo deriva do latim capitellum, diminutivo de caput, que significa “cabeça”. “Caudilho”, por sua vez, passou a ser utilizado cada vez mais a partir do século XIX, quando se designava algum líder militar ou de Estado, principalmente quando exercia um governo autoritário.

Ideais sobre liberdade social, econômica e política já haviam sido disseminados em grande parte do mundo, mas esses conceitos muitas vezes não saíam do âmbito intelectual. Na prática, significou que pessoas sem alfabetização, principalmente nas regiões rurais, acreditavam que oferecer serviços em troca de proteção dos proprietários de terra era o único meio de exercer suas funções na qualidade de trabalhadores.

Por meio de carisma, manipulação e, consequentemente, da omissão de direitos, os proprietários de terras e negócios (tanto no cenário rural quanto no urbano) passaram a configurar suas posses e as pessoas sob seus domínios conforme seus próprios interesses.

O caudilhismo se tornou um modelo mais comum na América Latina devido às diversas conquistas de independência, que trouxeram consigo figuras proeminentes que já detinham poder econômico, como oficiais de alta patente, empresários e latifundiários.

Ao se livrarem da influência direta de seus colonizadores, as populações dos países agora libertados não se emanciparam politicamente, já que, para defender os interesses de suas repúblicas, os caudilhos se apropriaram das imensas áreas que eram consideradas politicamente “selvagens”, ou seja, tomáveis pela suposta ausência de influência política.

Uma exceção foi o Brasil, que, apesar de adquirir sua independência em 1822, adotou o regime monarquista, por isso o caudilhismo por aqui só surgiu décadas depois, a partir de 1889, quando o Império deu lugar à República.

Os caudilhos podiam contar com dois tipos de força de coerção: militares, quando tinham vínculo com as Forças Armadas de suas nações; ou milícias, recrutadas entre as pessoas comuns que viviam dentro de suas áreas de influência. Por isso, era comum que os caudilhos abusassem da violência quando procuravam atingir seus próprios objetivos e interesses ou, ainda, interesses de figuras hierarquicamente superiores, como deputados, governadores e presidentes.

Saiba mais: República Velha — tudo sobre o primeiro período republicano da história brasileira

Exercícios resolvidos sobre caudilhismo

1. (Urca) Para as elites agrárias, a política era a extensão de seus negócios, o que favoreceu o aparecimento de líderes regionais, civis ou militares, conhecidos como caudilhos, que assumiam o poder para defender os interesses de um determinado grupo oligárquico, governando geralmente de forma autoritária. Portanto, o caudilhismo é um fenômeno característico da América Latina após a independência, relacionado à manutenção do latifúndio e da economia agroexportadora.

Neste sentido assinale a alternativa correta:

a) Na Argentina, Juan Domingo Perón foi o maior representante desse tipo de Estado. Fenômeno urbano, o peronismo seduziu as massas populares com propostas nacionalistas e modernizadoras.

b) No Brasil, o caudilhismo foi representado pelos dois Imperadores que usaram o próprio carisma para exercerem o poder como líderes autoritários que, ao mesmo tempo, estabeleciam estreitas relações pessoais com a população com base em apelos emocionais.

c) O surgimento de caudilhos foi favorecido pela estrutura social das ex-colônias espanholas e portuguesas, nas quais latifundiários detinham grande poder político a exemplo do coronelismo no Brasil.

d) O caudilhismo na América Latina ocorreu porque as estruturas políticas eram fundamentalmente democráticas em contraposição às estruturas oligárquicas, a maioria da população era alfabetizada e participava pelo voto das definições do poder.

e) O caudilhismo iniciou sua queda em meados do século XX, devido ao processo de industrialização, à imigração europeia e à reforma eleitoral, somado à decadência dos exércitos, que passaram a combater as ditaduras militares, no Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai, Chile, Haiti e Peru.

Resposta: c) Os caudilhos detinham grande prestígio econômico e político, obtidos principalmente por meio das campanhas contra os países colonizadores da América Latina, ou, no caso do Brasil, da implementação de uma República Oligárquica. Por meio do clientelismo e do “voto de cabresto”, os caudilhos brasileiros defendiam a manutenção da “política do café com leite” e seus interesses próprios.

2. Assinale a alternativa que não corresponde às características do caudilhismo latino-americano.

a) Influência política sobre grupos urbanos e rurais.

b) Usufruto do clientelismo.

c) Estabilidade política, social e econômica após a ruptura com os países colonizadores.

d) Centralização em uma figura autoritária e personalista.

e) Abuso de autoridade, coerção e troca de favores.

Resposta: c) Uma das consequências imediatas dos processos de independência dos países latino-americanos, na ausência de uma estrutura de governo bem-definida, foi a ascensão de diversos caudilhos, que controlavam as populações de maneira violenta e manipuladora.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

FLORES, Elio C. O caudilhismo. FTD: Rio de Janeiro, 1999.

GUAZELLI, Cesar A. B. Sarmiento e seus monstros: caudilhos, deserto e violência na Argentina do século XIX. História da historiografia. Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia: Ouro Preto, n.7, p.29-55, 2011.

POLITIZE! Disponível em: https://www.politize.com.br.

RECKZIEGEL, Ana L. S. Blancos Caudilhos x Blancos Doutores: um partido dividido entre fronteira e porto, no Uruguai de 1890. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre: PUCRS, v.34, n.1, p.65-75, 2008.

SÊGA, Rafael A. Getúlio Vargas e o Caudilhismo. Fronteiras: Revista de História: Dourados, v.18, n.32, p.307-324, 2016.

TELES, Luciano E.C. Caudilhismo e clientelismo na América Latina: uma discussão conceitual. Faces de Clio. Juiz de Fora: Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História (UFJF), v.1, n.2, p.100-114, 2015.

Escritor do artigo
Escrito por: Cassio Remus de Paula Cássio é doutor em História pela UFPR, mestre e bacharel em História pela UEPG. Atua como professor de História, Filosofia e Sociologia.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PAULA, Cassio Remus de. "Caudilhismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/caudilhismo.htm. Acesso em 26 de março de 2025.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

O caudilhismo é um conceito aplicado a uma forma de organização social baseada no poder político e econômico pessoal de oligarquias rurais. Assinale a alternativa que indica corretamente o continente em que se manifestou o caudilhismo.

  1. África.
  2. América do Norte.
  3. Ásia.
  4. América Latina.
  5. Europa.

Exercício 2

Sobre o caudilhismo aponte a alternativa que indica uma característica incorreta desse fenômeno social latino-americano.

  1. Descende da elite colonial crioulla.
  2. Não utilizava o poder econômico pessoal para o alcance das instituições políticas.
  3. Criava milícias destacadas dos corpos militares institucionais.
  4. Eram grandes proprietários de terras.
  5. Seus interesses estavam acima das leis, das constituições e dos Estados.

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