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Voto de cabresto

Voto de cabresto é o nome dado ao controle e à manipulação das eleições, feita pelos coronéis durante a Primeira República, por meio de fraudes e da coerção dos eleitores.

Texto sobre o que é voto de cabresto.
O voto de cabresto foi muito utilizado no Brasil durante a República Velha.
Crédito da Imagem: Brasil Escola
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O voto de cabresto foi uma prática comum na Primeira República que consistia no controle do voto de eleitores por coronéis, grandes proprietários de terra que exerciam poder político ao manipular e coagir os trabalhadores rurais, assegurando a eleição de candidatos que favorecessem seus interesses. Esse fenômeno surgiu em um contexto agrário em que a estrutura oligárquica predominava, consolidando o coronelismo como sistema de poder local. As eleições eram marcadas por fraudes e coerção, com os eleitores frequentemente intimidados ou recompensados para votar conforme a vontade dos coronéis.

Leia também: O que foi a “política do café com leite” na República Velha?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre voto de cabresto

  • O voto de cabresto foi uma prática eleitoral comum na Primeira República, na qual coronéis controlavam o voto de eleitores, especialmente trabalhadores rurais, através de coerção e manipulação.
  • Na Primeira República, o Brasil era predominantemente agrário, e os grandes latifundiários exerciam poder político ao controlar os votos em suas regiões.
  • Coronelismo era um sistema de poder em que os coronéis, grandes proprietários de terra, controlavam politicamente suas regiões através do voto de cabresto.
  • As eleições na Primeira República eram marcadas por fraudes, como votos fictícios e manipulação de resultados, coerção direta, intimidação ou troca de recompensas para votar conforme os interesses dos coronéis.
  • O voto de cabresto envolve coerção direta dos eleitores pelos coronéis, enquanto o clientelismo é uma relação de troca de favores, menos coercitiva, entre políticos e eleitores.
  • Tanto o voto de cabresto quanto o clientelismo distorcem o processo democrático ao priorizar interesses particulares.
  • O voto de cabresto ainda persiste em formas sutis, como práticas clientelistas e a manipulação da opinião pública, especialmente em regiões onde relações de poder desiguais permanecem fortes.

O que foi o voto de cabresto?

O voto de cabresto foi uma prática eleitoral extremamente comum no Brasil durante o período da Primeira República (1889-1930), caracterizada pela manipulação e controle do voto dos eleitores por parte dos coronéis, que eram grandes proprietários de terra e líderes locais com imenso poder econômico e político. A expressão "voto de cabresto" faz referência à ideia de controle, como o cabresto usado para guiar animais, simbolizando a maneira pela qual os coronéis dirigiam os votos de seus subordinados, especialmente os trabalhadores rurais.

Essa prática se baseava em uma relação de poder desigual, na qual os eleitores, muitas vezes, dependiam diretamente dos coronéis para sua sobrevivência, seja por meio de emprego, acesso a terras para cultivo ou outros tipos de benefícios. Essa dependência econômica e social tornava difícil para o eleitor resistir às pressões ou recompensas oferecidas para votar conforme o desejo dos coronéis.

Além disso, o voto não era secreto, o que facilitava o controle sobre as escolhas dos eleitores. Como consequência, o voto de cabresto resultava em uma representação política que não refletia a verdadeira vontade da população, mas sim os interesses de uma elite econômica e política que mantinha o poder local e nacional.

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Contexto histórico do voto de cabresto

O voto de cabresto surgiu em um contexto histórico marcado pela transição do Brasil do Império para a República, período em que a estrutura agrária e o poder dos grandes latifundiários continuaram a ser elementos centrais na organização social e política do país. A Primeira República, também conhecida como República Velha, foi marcada por uma política extremamente elitista, na qual o poder estava concentrado nas mãos de uma pequena oligarquia.

Nesse período, o Brasil era predominantemente agrário, e a economia estava fortemente baseada na exportação de produtos como café, açúcar e algodão. Os grandes proprietários de terra, ou coronéis, tinham controle sobre vastas regiões rurais e, consequentemente, sobre a vida das pessoas que ali viviam. Esses coronéis formavam a base do sistema político conhecido como coronelismo, no qual o poder político estava diretamente ligado ao controle da terra e das pessoas que nela trabalhavam.

Veja também: Cangaço: movimento de banditismo ou de luta contra a opressão dos coronéis?

Voto de cabresto e o coronelismo

O coronelismo foi um fenômeno político típico da Primeira República, caracterizado pela influência dos coronéis sobre as decisões políticas locais e, por extensão, sobre o cenário nacional. O coronelismo e o voto de cabresto estavam intimamente ligados, uma vez que o poder dos coronéis se baseava em sua capacidade de controlar os votos dos eleitores em suas regiões.

Os coronéis utilizavam o voto de cabresto para garantir a eleição de candidatos que lhes eram favoráveis, tanto em nível local quanto em nível nacional. Esse sistema permitia que eles mantivessem seu poder e influência, mesmo em um contexto de aparente democracia. Além disso, os coronéis formavam alianças com líderes políticos em outras regiões e com o governo central, criando uma rede de apoio mútuo que reforçava o poder oligárquico.

Fraudes nas eleições e formas de coerção

O voto de cabresto era sustentado por uma série de práticas fraudulentas e coercitivas que garantiam o controle dos resultados eleitorais. Entre as fraudes mais comuns estavam a manipulação das listas de eleitores, o "voto fantasma" (votos registrados em nome de pessoas falecidas ou inexistentes) e a falsificação de resultados.

Uma das formas mais comuns de coerção era a intimidação direta dos eleitores. Como o voto não era secreto, o coronel e seus capangas podiam monitorar como cada pessoa votava, garantindo que o eleitor seguisse suas ordens. Em alguns casos, os eleitores eram ameaçados de perder o emprego, a terra ou outros benefícios se não votassem conforme as instruções do coronel.

Além da intimidação, havia também o uso de recompensas para garantir votos. Eleitores podiam receber dinheiro, alimentos ou favores em troca de seu voto. Essa prática criava uma relação de troca que, embora coercitiva, era vista por muitos eleitores como uma forma de obter benefícios imediatos em um contexto de extrema necessidade.

Voto de cabresto x clientelismo

O voto de cabresto é frequentemente comparado ao clientelismo, embora os dois conceitos não sejam idênticos. Enquanto o voto de cabresto está diretamente associado à coerção e à manipulação por meio do controle direto dos eleitores por parte dos coronéis, o clientelismo refere-se a uma relação mais ampla e menos coercitiva, na qual políticos oferecem bens, serviços ou favores em troca de apoio eleitoral.

No clientelismo, a relação entre o eleitor e o político é baseada em um acordo implícito de troca de favores, que pode ou não envolver coerção direta. O clientelismo é um fenômeno mais flexível e pode ocorrer tanto em contextos urbanos quanto rurais, envolvendo eleitores de diferentes classes sociais. No entanto, assim como o voto de cabresto, o clientelismo também distorce o processo democrático ao priorizar interesses particulares sobre o bem comum.

Embora o clientelismo tenha evoluído e adaptado-se aos novos contextos políticos e sociais, suas raízes podem ser traçadas até práticas como o voto de cabresto, que demonstram como as relações de poder podem influenciar o processo eleitoral e a representação política.

Saiba mais: Resumo sobre as principais revoltas que ocorreram na Primeira República

Voto de cabresto na atualidade

Embora o voto de cabresto tenha sido uma prática típica da Primeira República, suas influências ainda podem ser observadas em algumas regiões do Brasil, especialmente em áreas rurais e menos desenvolvidas, onde as relações de poder e dependência econômica continuam a ser significativas. O avanço da legislação eleitoral, a introdução do voto secreto e a urbanização contribuíram para a diminuição dessa prática, mas não a eliminaram completamente.

Mãos trocando dinheiro por voto em urna, em alusão ao voto de cabresto.
O voto de cabresto ainda ocorre de formas mais sutis, como pela troca de benefícios por votos.

Na atualidade, o voto de cabresto se manifesta de maneiras mais sutis e disfarçadas. A manipulação eleitoral pode ocorrer por meio de práticas clientelistas, por meio das quais políticos oferecem benefícios em troca de votos, ou através de formas modernas de coerção, como a disseminação de informações falsas e o uso de redes sociais para manipular a opinião pública.

Além disso, em algumas regiões, líderes locais ainda exercem forte influência sobre os eleitores, utilizando-se de sua posição de poder para orientar o voto de comunidades inteiras. Esses líderes podem não ter o título de coronéis, mas exercem uma função similar, controlando o acesso a recursos e benefícios essenciais para a população.

Portanto, embora o Brasil tenha avançado em termos de democratização e modernização de seu sistema eleitoral, os resquícios do voto de cabresto ainda estão presentes, adaptados às novas realidades sociais e políticas. Isso evidencia a persistência de relações de poder desiguais que continuam a desafiar a plena realização de uma democracia representativa no país.

Fontes

CAMPOS, T. Compêndio de História do Brasil – Volume III: República. São Paulo: Cosenza, 2024.

LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Voto de cabresto"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/voto-de-cabresto.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

De estudante para estudante


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