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A pobreza menstrual corresponde à falta de condições de realização da higiene menstrual de forma adequada, o que se deve à ausência de itens básicos, como absorventes, a falta de acesso à infraestrutura e serviços de saneamento básico e também à falta de informações e conhecimento a respeito do tema. Ela atinge pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, como moradoras de rua e mulheres em privação de liberdade. Entre as adolescentes, uma das consequências da pobreza menstrual é a evasão escolar. Além disso, essa escassez afeta diretamente a saúde mental e física daquelas que se encontram nessa condição.
Leia também: O que é desigualdade social?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre pobreza menstrual
- 2 - O que é pobreza menstrual?
- 3 - Causas da pobreza menstrual
- 4 - Índices da pobreza menstrual no Brasil
- 5 - Pobreza menstrual e saneamento básico
- 6 - Pobreza menstrual e saúde
- 7 - Pobreza menstrual e evasão escolar
- 8 - Possíveis soluções para a pobreza menstrual
Resumo sobre pobreza menstrual
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A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de acesso a itens de higiene menstrual, falta de acesso a redes de saneamento (água e esgoto, principalmente) e falta de informações a respeito da menstruação e do ciclo menstrual.
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A ONU descreve a pobreza menstrual como um problema de saúde pública e de direitos humanos.
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Esse problema atinge pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, em situação de risco e vulnerabilidade e pessoas em privação de liberdade.
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Na impossibilidade de adquirir itens como absorventes, por exemplo, as pessoas buscam alternativas baratas e que podem trazer sérios danos à saúde física, como irritações, alergias e até infecções graves. Como alternativa, faz-se o uso de panos, jornais, papel higiênico ou miolo de pão.
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A pobreza menstrual afeta também a saúde mental, em função do estresse, desconforto e discriminação.
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Essa questão é uma das causadoras da evasão escolar de jovens na faixa etária dos 13 aos 19 anos, principalmente, que são as mais atingidas pela pobreza menstrual.
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Dentre as soluções para o problema estão a educação menstrual, acesso à informação, garantia de um sistema de saúde de qualidade, ampliação das redes de saneamento e políticas públicas que garantam o fornecimento de itens de higiene.
O que é pobreza menstrual?
A pobreza menstrual é um problema de ordem socioeconômica, infraestrutural e de saúde pública que corresponde à falta de acesso aos itens adequados de higiene menstrual, bem como à estrutura básica necessária para que se tenha todos os cuidados requeridos durante esse período. Além disso, a pobreza menstrual abrange a falta de informação a respeito da saúde menstrual e o conhecimento deficitário sobre o ciclo de menstruação a nível pessoal, o que pode acarretar no cuidado inapropriado e gerar problemas de saúde graves.
Levando esses fatores em consideração, desde o ano de 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) trata a pobreza menstrual como uma questão tanto de saúde pública quanto de direitos humanos.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, ou Unicef (sigla em inglês), no relatório intitulado “A Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violação de Direitos”, que foi lançado no ano de 2021, define a pobreza menstrual como um “fenômeno complexo, multidisciplinar e transdimensional”|1|, uma vez que envolve todas as esferas que mencionamos: social, econômica, infraestrutural e educacional. Não se trata, portanto, de uma questão unicamente econômica, no que se pode acreditar à primeira vista.
A pobreza menstrual atinge pessoas em condição de pobreza econômica, que não dispõem de recursos suficientes para a aquisição de produtos de higiene menstrual e/ou pessoas em situação de vulnerabilidade e risco, como é o caso das moradoras de rua e das mulheres privadas de liberdade.
De acordo com o recente relatório do Unicef, essa condição atinge de forma mais contundente as adolescentes (a partir dos 12 anos, principalmente) que já estão na fase menstrual quando comparado às mulheres adultas, o que se deve principalmente à ocorrência de ciclos ainda irregulares aliada à falta dos recursos para o autocuidado|2|.
Causas da pobreza menstrual
Diversas causas estão associadas à condição de pobreza menstrual. Uma das principais delas é a desigualdade social traduzida na pobreza econômica, que diz respeito à escassez de recursos financeiros suficientes para aquisição de itens de higiene menstrual, como absorventes descartáveis ou reutilizáveis, coletores e calcinhas absorventes.
Para as pessoas de baixa renda, a aquisição mensal desses produtos pode ter um impacto significativo no orçamento familiar, o que faz com que muitas mulheres busquem alternativas menos onerosas e de mais fácil acesso. Atualmente, calcula-se que uma pessoa gaste uma média de R$ 12 ao mês com absorventes descartáveis, considerando o valor de R$ 0,60 por unidade, o que leva a um custo anual de R$ 144 e quase R$ 6 mil durante toda a idade fértil da mulher. Sabe-se que hoje, no Brasil, ao menos 13% da população vive com menos de R$ 246 por mês, o que configura uma situação de pobreza extrema.
Ainda levando em consideração o quesito econômico, o relatório do Unicef indica que em alguns casos, apesar da disponibilidade de recursos para a compra dos itens de cuidado menstrual, há a ideia de que eles são supérfluos, isto é, não são itens de primeira necessidade. Esse problema está diretamente associado a outra causa da pobreza menstrual, que é a ausência de informações a respeito dos cuidados a serem tomados durante esse período, bem como maior conhecimento sobre os produtos que podem ou não ser usados e as suas vantagens e desvantagens.
O entendimento do próprio corpo, do funcionamento do ciclo menstrual pessoal, também faz parte do rol de informações que mencionamos, o que facilita o manejo da menstruação e dá maior autonomia para a mulher, auxiliando assim no cuidado com a sua saúde menstrual.
Uma das causas de maior impacto na geração e agravamento da pobreza menstrual é a rede infraestrutural deficitária, que não atende a toda a população de um território — e aqui não se trata necessariamente do Brasil, uma vez que essa é uma dificuldade observada em inúmeros países. Muitas pessoas no mundo, principalmente as mais pobres e em situação de vulnerabilidade, não são atendidas pelos serviços de saneamento, como água potável, além de não possuírem banheiro em suas habitações.
Leia também: Pobreza no Brasil — um problema que remonta ao período colonial
Índices da pobreza menstrual no Brasil
A pobreza menstrual afeta, no Brasil, 28% das pessoas de baixa renda na faixa etária entre os 14 e os 45 anos, o equivalente a uma população de 11,3 milhões de habitantes. Uma parcela de 40% dessas mulheres se encontra na faixa etária entre os 14 e os 24 anos. Ressalta-se ainda que a maior parte delas não têm conhecimento de estarem vivendo uma realidade de pobreza menstrual. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Johnson & Johnson Consumer Health em conjunto com os institutos Kyra e Mosaiclab, divulgados em reportagem do UOL Saúde|3|.
O relatório do Unicef nos mostra ainda um retrato da pobreza menstrual entre as adolescentes e de que forma esse fenômeno afeta a vida escolar e o dia a dia das jovens que menstruam e se encontram na faixa etária que vai dos 13 aos 19 anos.
Uma das principais constatações do documento é a ausência de instalações básicas para a higiene, tanto em residências particulares quanto nas escolas. Aproximadamente 713 mil adolescentes não possuem banheiro ou chuveiro em suas casas, e para 88,4% delas não há sequer um banheiro compartilhado na propriedade/terreno em que vivem. Em relação aos serviços de saneamento, a pesquisa mostra que 900 mil jovens não têm acesso à rede de água, enquanto que para 6,5 milhões não há ligação entre suas habitações e a rede de esgoto|4|.
Quando o tema é a higiene no ambiente escolar, o relatório indica que 4 milhões de adolescentes não dispõem de algum meio para realizar a higiene adequada durante o período menstrual na escola, o que abrange ausência de banheiros, sabonete, papel higiênico e absorventes. Há ainda um recorte regional que evidencia maior incidência de problemas estruturais nas escolas das regiões Norte e Nordeste do país, seguidas do Centro-Oeste. As regiões Sul e Sudeste aparecem respectivamente em quarta e quinta posição.
Pobreza menstrual e saneamento básico
O acesso à rede de saneamento básico, que compreende os serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto, é fundamental para a realização da higiene íntima e pessoal, e esse é um dos principais pontos da discussão acerca da pobreza menstrual no Brasil e no mundo.
Pensando no âmbito nacional, é de 35 milhões a cifra de brasileiros sem acesso a água potável. Já a população que não é atendida por redes de esgoto chega a 100 milhões, quase metade de todos os habitantes do país|5|.
A água é utilizada para a limpeza pessoal e para a higiene dos itens como absorventes reutilizáveis, coletores, roupas e toalhas. Já a rede de esgoto é essencial para o descarte adequado do lixo sanitário. A ausência de água e esgotos traz problemas ao meio ambiente e, sobretudo, à saúde física e mental das pessoas que menstruam e são privadas desses recursos. A impossibilidade de realizar os cuidados adequados afeta ainda a vida social e as relações cotidianas das pessoas em situação de pobreza menstrual.
Confira no nosso podcast: A problemática do saneamento básico no Brasil
Pobreza menstrual e saúde
Pobreza menstrual é uma questão de saúde pública. Quando nessa condição, as pessoas que menstruam procuram improvisar e substituem os itens de higiene que mencionamos por outros mais acessíveis, na tentativa de conter a menstruação. Entre os mais comuns estão papel higiênico, pedaços de pano, miolo de pão e jornais.
Tais elementos trazem grande risco à saúde, podendo causar alergia, irritação, infecções (urinária, vaginal ou até mesmo no útero) e outros problemas mais severos, como a Síndrome do Choque Tóxico, uma infecção bacteriana que pode levar a óbito. O Unicef ressalta ainda que a pobreza menstrual está ligada à falta de acesso a medicamentos e cuidados médicos.
O bem-estar das pessoas que se encontram em situação de pobreza menstrual é prejudicado, uma vez que elas precisam abdicar de determinadas atividades coletivas/de socialização e têm toda a sua rotina modificada. Com isso, a autoestima e a saúde mental são igualmente afetadas, devido ao desconforto, estresse, humilhação e discriminação de que podem ser alvo, principalmente as jovens em idade escolar.
Pobreza menstrual e evasão escolar
A pobreza menstrual é uma das causas da evasão escolar, que é a abstenção durante as aulas ou o abandono da escola. A evasão escolar associada à pobreza menstrual acontece por duas razões principais: a primeira delas diz respeito à ausência de instalações nas escolas para que as meninas possam fazer a sua higiene de forma segura e completa. Isso decorre da falta de banheiros ou ainda da existência somente de banheiros compartilhados, da falta de sabonete, absorventes, papel higiênico, água e outras questões de ordem estrutural.
A segunda razão está associada à estigmatização da menstruação, que faz com que haja desconforto por parte da pessoa, discriminação e uma série de situações que podem causar constrangimento advindas de outrens. Na impossibilidade de adquirir os itens básicos de higiene menstrual, muitas jovens preferem deixar de frequentar a escola, o que pode levar à ausência de até 45 dias ao final do ano letivo.
Possíveis soluções para a pobreza menstrual
Sendo um fenômeno multidisciplinar, existem diversas medidas que podem ser tomadas a fim de erradicar ou diminuir a incidência da pobreza menstrual. Algumas delas estão, inclusive, presentes nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável previstos na Agenda 2030 da ONU, já que se trata de uma questão de garantia da dignidade humana.
São possíveis soluções para a pobreza menstrual:
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educação menstrual para promoção do autoconhecimento e melhor manejo da menstruação;
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ampliar o acesso à informação de qualidade a respeito do tema;
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assegurar o acesso aos sistemas públicos de saúde, com profissionais especializados;
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ampliação das redes de saneamento básico, com garantia de fornecimento de água tratada e acesso às cadeias de coleta e tratamento de esgoto;
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desenvolvimento e aplicação de políticas públicas que visem a garantia do fornecimento de itens de higiene menstrual para as pessoas em situação de pobreza menstrual;
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investimento na melhoria da infraestrutura das escolas (reforma e construção de banheiros, por exemplo);
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participação em projetos sociais voltados à arrecadação e distribuição de produtos de higiene menstrual.
Notas
|1| |2| |4| UNFPA; UNICEF. Pobreza menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos. UNFPA/UNICEF, maio 2021. Disponível aqui. Acesso em 09 out. 2021.
|3| VIVA BEM. Pesquisa: pobreza menstrual afeta saúde física e mental de quem menstrua. UOL VivaBem, 15 set. 2021. Disponível aqui. Acesso em 09 out. 2021.
|5| MARTINS, Leandro. Brasil tem 35 milhões de pessoas sem acesso à água potável. Radioagência Nacional, 22 mar. 2021. Disponível aqui. Acesso em 09 out. 2021.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia