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O paralelismo é a relação de simetria no texto, seja em seu aspecto morfossintático, seja semântico. Ele estabelece nexo entre textos no plano linguístico, isto é, por meio dos elementos de coesão e coerência formalizados na escrita. Não se trata necessariamente de uma regra da gramática, e sim de uma diretriz de ordem estilística.
Leia também: Textualidade — conjunto das características capazes de garantir que algo seja percebido como texto
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre paralelismo
- 2 - O que é paralelismo?
- 3 - Tipos de paralelismo
- 4 - Alguns casos frequentes de paralelismo
- 5 - Paralelismo na literatura e nas produções artísticas
Resumo sobre paralelismo
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O paralelismo é a diretriz estética que promove simetria de ideias, estruturas verbais ou segmentos textuais.
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As relações simétricas no texto podem ocorrer no âmbito da função (morfossintaxe) ou no sentido (semântica).
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Alguns dos problemas mais comuns envolvendo o paralelismo se dão quanto à utilização de termos de uso duplo e quanto ao uso de tempos verbais.
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O paralelismo não constitui propriamente uma regra gramatical. Assim, na literatura e nas artes, por exemplo, o seu uso/não uso visa produzir determinados efeitos de sentido no texto.
O que é paralelismo?
Segundo a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, paralelismo é a relação de correspondência ou simetria no texto feita entre ideias, estruturas verbais ou segmentos textuais que funcionam de maneira coordenada na composição de um enunciado.
Em outras palavras, o paralelismo estabelece uma relação de simetria no texto, podendo ocorrer em sua composição morfossintática ou semântica. Vejamos os exemplos a seguir:
É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito e em determinados momentos parece cercear as escolhas de cada um.
É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito ora ela parece cercear as escolhas de cada um.
Nesse exemplo, a quebra na estrutura da oração ocorre quando, ao estabelecer um elo de coordenação com ideia de alternância, usam-se dois elementos distintos (“ora” e “em determinados momentos”) em vez da repetição da coordenada alternativa (“ora… ora…”), que promove simetria.
Meu sonho é: estudar, trabalhar e descanso.
Meu sonho é: estudar, trabalhar e descansar.
Nesse segundo exemplo, ao enumerar os sonhos em questão, temos uma perda da simetria a partir do uso de classes gramaticais distintas — verbo (estudar e trabalhar) e substantivo (descanso). O ideal seria que todas as palavras na enumeração fossem verbos, como se verifica no segundo caso.
Veja também: O que é um período composto por coordenação?
Tipos de paralelismo
De acordo com o gramático Cegalla, o paralelismo pode ser classificado nos seguintes tipos:
→ Paralelismo sintático
Paralelismo sintático é entendido como a perfeita correlação na estruturação sintática da frase em uma sequência de enumeração ou exemplificação.
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Exemplos:
O formulário está disponível no endereço eletrônico e sede da loja.
Acima, a construção apresenta-se sem paralelismo sintático, visto que a preposição no é utilizada em um determinado momento e não em outro, provocando assimetria.
O formulário está disponível no endereço eletrônico e na sede da loja.
Ao adequar a sentença acima, percebe-se uma organização simétrica dentro dos aspectos coesivos que formulam o trecho.
→ Paralelismo morfológico
Paralelismo morfológico é entendido como o perfeito uso de classes gramaticais na frase em uma sequência de enumeração ou exemplificação.
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Exemplos:
Proibido fumar e comida no local.
O exemplo acima apresenta uma sentença com duas classes gramaticais diferentes (verbo e substantivo, respectivamente), não havendo um paralelismo morfológico.
Proibido fumar e comer no local.
O paralelismo pode ser obtido ao transformar o substantivo em verbo (comida — comer). Há ainda uma segunda possibilidade:
Proibido fumar e entrar com comida no local.
→ Paralelismo semântico
Paralelismo semântico é a correlação entre um conjunto de ideias considerando a composição lógico-semântica na frase.
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Exemplos:
Amo Beatles, Legião Urbana e Machado de Assis.
O enunciador da frase acima estabelece um campo de significação que envolve o universo de gostos musicais (Beatles e Legião Urbana), mas acrescenta um elemento estranho e ausente ao grupo semântico, o escritor Machado de Assis.
Amo Beatles, Legião Urbana e Pink Floyd.
Uma alternativa seria trocar o termo destoante (Machado de Assis) por outro que componha a associação de significados estabelecidos (Pink Floyd), mantendo a ligação com o universo musical. Porém, outra possibilidade seria marcar, por meio do uso de verbos, a diferença entre os elementos, o que passaria a ser um paralelismo morfológico:
Amo ouvir Beatles e Legião Urbana e ler Machado de Assis.
Vejamos a seguir outra situação de paralelismo semântico:
Eles ganharam o jogo e perderam a cabeça.
Na oração acima, há uma quebra no sentido ao estabelecer uma relação física (jogar uma partida de futebol) e psicológica (perder a concentração e brigar). Portanto, não há igualdade entre os termos da sentença.
Eles ganharam o jogo e levantaram a taça.
De forma distinta do exemplo anterior, as ideias de vencer uma partida e uma competição estão semanticamente conectadas.
→ Videoaula sobre paralelismo sintático, morfológico e semântico
Alguns casos frequentes de paralelismo
Abaixo, listamos uma série de casos comuns em que ocorre ausência de paralelismo e sua substituição por meio de uma relação de simetria nas frases.
→ Casos envolvendo termos
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tanto… quanto
O curso foi direcionado tanto aos jovens e aos mais velhos. (sem paralelismo)
O curso foi direcionado tanto aos jovens quanto aos mais velhos. (com paralelismo)
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quer… quer
Quer o governo queira ou não, a população vai às ruas em protesto. (sem paralelismo)
Quer o governo queira, quer ele não queira, a população vai às ruas em protesto. (com paralelismo)
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por um lado… por outro
Por um lado, venceram a competição, mas perderam a amizade. (sem paralelismo)
Por um lado, venceram a competição, por outro, perderam a amizade. (com paralelismo)
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não… nem
A audiência não ocorrerá na próxima semana e na outra. (sem paralelismo)
A audiência não ocorrerá na próxima semana, nem na outra. (com paralelismo)
→ Casos envolvendo tempos verbais
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Pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do pretérito do indicativo
O pretérito imperfeito do subjuntivo (contasse, pensasse, ajudasse) tem o seu uso adequado quando junto do futuro do pretérito do indicativo (contaria, pensaria, ajudaria). Em algumas situações, a relação pretérito imperfeito do subjuntivo — futuro do pretérito do indicativo não é utilizada, provocando assimetria.
Se eu te contasse, você não acredita. (sem paralelismo)
Se eu te contasse, você não acreditaria. (com paralelismo)
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Futuro do subjuntivo e futuro do presente
Seguindo a mesma lógica, o futuro do subjuntivo (estudarmos, pensarmos) estabelece um paralelo com o futuro do presente (estudarei, pensarei).
Quando nós estudarmos, passamos na prova. (sem paralelismo)
Quando nós estudarmos, passaremos na prova. (com paralelismo)
Paralelismo na literatura e nas produções artísticas
O paralelismo não constitui propriamente uma regra gramatical rígida. Na verdade, ele é uma diretriz de ordem estilística. Há, portanto, uma série de usos/não usos propositais a fim de se obter determinado efeito de sentido com o enunciado.
Assim, a literatura e as artes fazem lançam mão (ou não) do paralelismo a fim atingir certas reações de seu receptor. A música e a poesia, por exemplo, fazem associações rítmicas e repetições entre palavras produzindo efeitos de sequencialidade e dando tons de musicalidade ao texto.
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
(“Canção do vento e da minha vida”, Manuel Bandeira)
No poema de Manuel Bandeira há uma série de repetições:
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de termos (vento, varria, frutos, folhas e flores);
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de estrutura (O vento varria…);
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de conteúdos fônicos (-ava, -eia, -as, -os);
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de tempos verbais (varria, ficava, cheia).
No trecho acima, percebemos que o uso proposital da repetição de estruturas sugere uma ideia de ciclo. Assim, à medida que o tempo se esvai no poema, mais a plenitude da vida é evidenciada.
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
(“E agora, José?”, Carlos Drummond de Andrade)
No poema de Carlos Drummond de Andrade, há a construção de uma sequência rítmica por meio da terminação dos verbos no subjuntivo em -sse. Seu uso sequencial transmite uma ideia de compasso.
O exemplo acima, junto do anterior, corresponde ao uso do paralelismo a partir dos seus elementos morfossintáticos para a produção de novos efeitos. Há, ainda, o uso semântico, que proporciona uma assimetria proposital. Vejamos o exemplo do trecho abaixo:
Eduardo e Mônica era nada parecido
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
(“Eduardo e Mônica”, Legião Urbana)
A canção, ao tratar das diferenças de cada uma das partes, evidencia que Mônica era do signo de leão e Eduardo tinha 16 anos. A sentença trata de conceitos distintos; sendo assim, do ponto de vista semântico, deveria ser considerada incorreta.
Porém, como dito anteriormente, o paralelismo é de ordem estilística. Nesse contexto, portanto, a música citou conteúdos diferentes para evidenciar a assimetria entre os personagens.
Por Rafael Camargo de Oliveira
Professor de Redação