PUBLICIDADE
Coesão textual se refere à articulação entre os componentes de um texto. Ela pode ser referencial (retomada de algum item do texto) ou sequencial (relação semântica entre enunciados).
Os mecanismos coesivos estão restritos à estrutura do texto. Já a coerência textual considera não só tais mecanismos, mas também o contexto.
Leia também: Textualidade – características capazes de garantir que algo seja percebido como um texto
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre coesão textual
- 2 - Videoaula sobre coesão textual
- 3 - O que é coesão textual?
- 4 - Tipos de coesão textual
- 5 - Diferenças entre coesão e coerência
- 6 - Exercícios resolvidos sobre coesão textual
Resumo sobre coesão textual
-
A coesão textual é um fenômeno linguístico caracterizado pela articulação entre elementos de um texto.
-
Na coesão referencial, um elemento do texto retoma outro.
-
Na coesão sequencial, há uma relação semântica entre partes de enunciados durante o sequenciamento de ideias.
-
A coerência textual está relacionada ao(s) sentido(s) do texto e depende não só de elementos linguísticos mas também de extralinguísticos.
Videoaula sobre coesão textual
O que é coesão textual?
Chamamos de “coesão” a relação entre elementos de um texto de forma a auxiliar na sua compreensão. Desse modo, a coesão textual é um dos elementos responsáveis pela coerência textual. Contudo, ela está limitada à estrutura do texto, pois não considera os elementos extralinguísticos.
Como exemplo, vamos analisar o seguinte trecho do conto A nova Califórnia, de Lima Barreto (1881-1922):
“Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do Correio pudera apenas informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel, pois assim era subscrita a correspondência que recebia. E era grande. Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos extremos da cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado de cartas vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas arrevesadas, livros, pacotes...”
Observe que os elementos destacados promovem a coesão do texto:
-
Em “acudia”, está implícita a expressão “aquele homem”, mencionada anteriormente.
-
“Pois” indica uma explicação para o fato de o agente do Correio informar que o homem se chamava Raimundo Flamel.
-
O pronome “que” se refere à correspondência.
-
Em “recebia”, está implícito o pronome “ele”, referente a Raimundo Flamel, já mencionado.
-
Em “era”, está implícita a palavra “correspondência”, já mencionada.
-
O advérbio “lá” se refere a “um dos extremos da cidade”, bem como o pronome relativo “onde”.
Leia também: Como tornar um texto coeso?
Tipos de coesão textual
-
Coesão referencial
É quando um elemento do texto alude a outro. Essa relação pode ocorrer, por exemplo, por meio de:
-
Artigo
Uma chaga da cultura brasileira é a corrupção.
Nesse caso, o artigo indefinido “uma” se refere a uma informação subsequente, isto é, a corrupção. Já os artigos definidos, normalmente, fazem referência a um elemento anterior:
Ao perceber a aproximação de um homem, fiquei com medo. Mas o homem passou por mim sem sequer me olhar.
-
Pronome
Dilermando tirou férias. Ele não suportava mais a sua rotina.
Nesse exemplo, o pronome “ele” faz referência a “Dilermando”. Outros pronomes também podem fazer retomadas em um texto, sejam eles:
- indefinidos
- interrogativos
-
Numeral
As caixas de morango estão sobre a mesa. Duas são para o seu avô.
Nesse enunciado, o numeral “duas” se refere às caixas de morango.
-
Elipse
Minha amiga viajou no fim de semana. Não queria se encontrar comigo.
Nesse caso, o pronome “ela”, que faz referência à “minha amiga”, está implícito: “[Ela] não queria se encontrar comigo”.
-
Advérbio
Ficou encolhido no cantinho do quarto. Ali se sentia um pouco mais seguro.
Nesse exemplo, o advérbio “ali” se refere ao “cantinho do quarto”.
-
Coesão sequencial
Tem a ver com a relação semântica entre (partes de) enunciados durante um sequenciamento de ideias no texto, e pode ocorrer, por exemplo, por meio de:
- repetição lexical:
As horas passavam, passavam, passavam.
- repetição da estrutura sintática:
O menino pede água. A menina pede comida. E o avô pede descanso.
- paráfrase:
Não se pode permitir o uso ilícito dessa tecnologia, ou seja, é preciso criar leis que limitem o uso dela.
- conexão:
- Se comprarmos uma casa, podemos nos livrar do aluguel.
- Júlio chorou porque o filme era triste.
- Ela não quer sair, então, precisamos chamar a polícia.
- Quando a chuva começou, eu estava no meio do caminho.
- Vou à farmácia enquanto você faz o almoço.
- Conforme o médico, nosso filho tem uma doença rara.
- Irina está com febre alta, além disso, está se queixando de dor de cabeça.
- Eles foram educados comigo, mas deixaram transparecer a raiva.
- Não tenho tempo, portanto, não posso ajudar você agora.
Diferenças entre coesão e coerência
A coesão se refere aos mecanismos gramaticais ou lexicais que permitem a ligação entre elementos da estrutura linguística de um texto. Já a coerência tem relação com o(s) sentido(s) desse texto. Portanto, os mecanismos de coesão podem auxiliar na formação do(s) sentido(s).
No entanto, a coesão está restrita à estrutura linguística, enquanto a coerência depende, também, dos elementos extralinguísticos. Desse modo, aspectos cognitivos e socioculturais, por exemplo, podem interferir na construção de sentido(s) durante a recepção de um texto, que pode ser verbal, não verbal, escrito ou oral. Para saber mais sobre esse outro elemento importante para os textos, leia: Coerência textual.
Exercícios resolvidos sobre coesão textual
Questão 1 - (Enem)
Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES, S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
A) “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
B) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...].”
C) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”
D) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...].”
E) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”
Resolução
Alternativa E. A coesão por elipse ocorre no trecho “Supõe-se que [ele/o segundo] fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado”. Assim, está implícita a expressão “o segundo” (que também pode ser substituída por “ele”), mencionada na oração anterior e retomada, implicitamente, no fragmento em questão.
Questão 2 - (Enem)
O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade?
Não. O riso básico — o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da vocalização — nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas vocalizações ultrassônicas — que nós não somos capazes de perceber — e que eles emitem quando estão brincando de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a parte superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada.
Disponível em: http://globonews.globo.com (Adaptado)
A coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto. Analisando o trecho “Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que ele estabelece com a oração seguinte uma relação de
A) finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a falta de vocalização dos ratos.
B) oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é contrário à vocalização dos ratos.
C) condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não haja vocalização dos ratos.
D) consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o dano causado no cérebro.
E) proporção, já que à medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que haja vocalização dos ratos.
Resolução
Alternativa C. O trecho destacado aponta uma condição, pois “o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria” SE “o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro” do animal.
Por Warley Souza
Professor de Português